Dia 15: Shree Kharka → Tilicho Base Camp, 4150 metros

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Prêmio turistas folgados vai para: israelenses e americanos. Prêmio turistas discretos para alemães e franceses. Totalmente sem noção e mal educados? Coreanos e chineses. Misantropia ajustada no nível máximo. A trilha hoje foi “mais mais” em vários sentidos. A mais perigosa: sem sombra de dúvidas. Trechos de dar medo mesmo, fotos pra não mostrar para os pais. Uma americana caiu do desfiladeiro duas vezes, começou a chorar e voltou pra trás parece. Pedras rolaram sobre a gente, do tamanho de um punho fechado, mas quando pegam velocidade parecem balas! A mais bonita: dia e céu abriram bem. Deu até pra ver os picos mais distantes, neve, tudo, pacote completo, foda! A mais puxada: de ter que ficar com o cérebro ligado o tempo todo, não só andando no automático. Ou não… já que não sinto absolutamente nada de AMS, mas também não dá pra respirar fundo mais. Pulmões não enchem, não importa a força que faça, então cansa subir e descer e subir de novo. A mais autêntica: vila inóspita, isolada. Sem energia elétrica, nem mesmo solar, paredes de barro e troncos com casca. Já dá pra ver a bordinha do lago no topo das montanhas, no fim da trilha saindo daqui. Ela parece bem marcada apesar de pesada. As fotos de hoje prometem. Um local riu ao ver eu penteando a minha barba :-) — Caio

O caminho de Shree Kharka até o campo base do Tilicho não tem muitas elevações e leva só 3 horas, mas cara… foram as 3 horas mais “close to death” desde o começo da trilha! Os alertas dos outros trilheiros e o cara com a perna machucada que encontramos outro dia fizeram muito sentido! A primeira hora de trilha é um sobe-desce até que simples, com alguns trechos mais íngremes mas nada de inesperado. Até que avistamos de longe o vilão, um paredão diagonal, aparentemente bem liso, e uma linhazinha no meio dele. Essa linhazinha é a trilha. Pânico nas colinas!!! Chegando perto, foi dando pra ver melhor do que se tratava: o paredão é formado por pedrinhas bem pequenas, quase uma areia vulcânica, e algumas pedras maiores. A trilha é estreita, inclinada, escorregadia pra caramba, e se você cair o paredão faz um escorregador até lá embaixo, terminando no rio. Legal né? Mas não acaba por aí! Como o paredão é um escorregador, quando bate um ventinho começa a cair umas pedras lá de cima até lá em baixo, e eventualmente caem umas pedras maiores, que se atingirem você, já era. Elas não são pedras enormes, mas acredite, vimos algumas cairem e a velocidade que elas alcançam é suficiente para fazer qualquer um perder o equilíbrio ou no mínimo machucar. Me senti em uma fase de jogo de videogame, na última (ou no caso, única) vida! Foram duas horas cautelosamente andando nesse terreno, mais pra frente a areia vai dando lugar a pedras maiores, o risco de deslizar diminui mas o de ser atingido aumenta, e finalmente entendemos o que aconteceu com o menino do pé machucado de ontem. Quando nos despedimos ele nos disse “cuidado com as cabras!”, e nós pensamos “ué, mas não foi uma pedra?”. Foi os dois! Na parte final encontramos umas cabras lá no alto, que por sorte estavam quietinhas, mas se decidissem andar derrubariam uma chuva de pedras em nós… foi o que houve com ele! Depois dessas horas de tensão finalmente chegamos ao Tilicho Base Camp! O lugar fica à 4.165m de altitude e logicamente não tem muitos lodges. O que ficamos não tem energia elétrica, o quarto é de parede de barro (gelado!) e o banho será de canequinha novamente! A única coisa ruim é que já estamos sem bateria em tudo, então não dá nem pra ver um filminho nesse frio. Daqui do BC dá pra ver parte da trilha que seguiremos amanhã até o lago, que fica a 4.900m. Ansiosa! :-) — Dani