Dia 20: Thorung Phedi, 4537 metros

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Que dia e noite de cão tivemos. Achamos que eu que não estaria bem de manhã, mas foi a Dani que acordou com a cabeça explodindo de dores na frente e na nuca. Sinal de AMS. Pena. Tava mal se mexendo de dor quando acordou, um por um foram saindo pra trilha e nós ficando pra trás. Triste. O dia, pra nos castigar mais, estava simplesmente lindo, o melhor da trilha até hoje, sem nuvens alguma até 10 da manhã, céu azul. No caminho pra descer até Thorung Phedi, e aliviar AMS, a Dani ainda caiu. A perna dela parecia ter uma batata dentro da canela onde bateu numa pedra. Se não fosse a dor de cabeça a perna nos atrasaria mesmo assim. Eu deslizei e arrebentei meus chinelos. Chegamos com fome e pagamos caro num prato horrível e tosco de comida. A única coisa boa que nos aconteceu hoje foi que ganhamos chocolates russos de um senhor… mas nós voltaremos! Recuperados. Todos que conhecemos na trilha já foram, mas não tem problema, o que importa é irmos bem para a passagem pelas montanhas e estarmos seguros. Thorung Pheedi é sem graça, mas vai ter que servir de base para uns dois dias. — Caio

Hoje não foi um dia bom. Não mesmo! Fui dormir pensando “tomara que o Caio esteja bem amanhã para fazermos a passagem”, mas na verdade quem não acordou boa fui eu :-( Nosso despertador tocou às 4 da mahã para sairmos às 5h e a primeira coisa que eu senti quando abri os olhos foi a pior dor de cabeça que já tive na vida! Tentei sentar na cama e senti uma pontada que quase me derrubou. Deitei de novo, não conseguia me mexer de tanta dor, parecia um pesadelo! Mantive a calma e pensei “ok, tive uma noite ruim, talvez por causa do frio, mas vou levantar devagar, tomar café da manhã, respirar ar puro e vou melhorar”. Não deu. Consegui levantar e ir comer, mas até para mastigar a dor era intensa. No café da manhã o clima foi triste, uma a uma as pessoas que conhecemos ao longo da trilha iam se despedindo e saindo para o grande dia, preparados e empolgados. Às 5:30 o High Camp estava vazio: restaram só eu, o Caio e os locais trabalhando para preparar o lugar para o novo grupo que chegaria dali a pouco. A sensação era de termos ficado de castigo, coitado do Caio que acordou super bem para a passagem. A minha dor nem sequer diminuiu nesse meio tempo e a decisão foi a mais segura: vamos descer. Descansamos um pouco e começamos a inclinada descina até Thorung Phedi. Aquele caminho foi feito para subir, não para descer, e foi bem difícil manter a concentração para não escorregar em meio a tanta dor de cabeça. O Caio escorregou umas 5 vezes, arrebentou o chinelo dele e eu lá, firme, forte e concentrada. Deu uma meia hora de descida e finalmente conseguimos avistar a vila. Nessa hora a dor de cabeça já estava diminuindo (é incrível como o alívio é instantâneo quando se começa a descer), eu relaxei porque estávamos chegando e… pronto! Tropecei. Não apenas tropecei, mas tropecei e levei o maior pacote de todos os tempos, caí pra frente e dei com a canela em uma pedra! Sério, em minha defesa eu tenho a dizer que não estava no auge do meu estado físico e mental, mas nem eu consegui entender como consegui cair desse jeito a apenas uns metros de Phedi, quando o pior do caminho havia passado. Gênia. Senti a perna latejar mas não imaginei que fosse nada grave, apenas uma batidinha, mas rapaz… Quando chegamos em Phedi eu levantei a calça e parecia que tinha uma batata dentro da minha perna, de tão inchada que estava! Eu não podia estar mais ferrada: dor de cabeça e uma perna que não ia garantir dias de trilha muito promissores. E o Caio não poderia estar mais compreensivo: não sabia se perguntava da dor de cabeça ou se buscava gelo para a perna. Ao longo do dia foram chegando mais pessoas vindas de Yak Kharka e Ledar e acabamos conhecendo um casal de americanos gente finíssima, em lua-de-mel (sem banho nos himalaias, mas ok), que emprestou uma pomada e uma faixa compressora para ajudar com o inchaço. Fiquei com a perna para cima o dia todo e ufa, o inchaço diminuiu e agora tenho na perna só um hematoma e um arranhão. À noite conhecemos uma enfermeira de Zurich e comentamos sobre minha dor de cabeça e se deveria ou não tomar remédio, pois estávamos com medo de esconder os sintomas do AMS, e ela não só ajudou como explicou que é melhor tomar Ibuprofeno do que Paracetamol e de repente apareceu com um comprimido! Fui muito bem cuidada hoje, nao tenho do que reclamar! Amanhã passarei o dia com a perna pra cima, em repouso, e espero estar melhor da dor de cabeça. Lição de hoje: Traga Ibuprofeno e um kit de primeiros socorros, nunca se sabe o que pode acontecer. Quanto à dor de cabeça, além de uma propensão natural eu acho que pequei em não abusar da água, que ajuda pra aclimatar (agora estou fazendo isso), pois no frio dá menos sede, e o que também percebi é que a dor aumenta assim que entro em lugares fechados. Estou passando mais tempo ao ar livre, onde se respira melhor, e prestando atenção para não bloquear a respiração com o cobertor enquanto durmo por causa do frio. Talvez se eu tivesse prestado atenção nisso desde o começo nós estaríamos agora em Muktinath comemorando a nossa passagem com um hamburguer de Yak e uma coca gelada! :-/ — Dani