Dia 3: Ngadi → Bahundanda → Ghermu → Syange → Jagat, 1329 metros

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Dia também longo, bastante duro, chegamos quase à exaustão e a trilha mal começou. Dia de batismo acho. Comemos só chá e um omelete de manhã, saímos às 7 da manhã e só chegamos 4 da tarde em Jagat. Foda. Trilha sob-e-desce demais, infernal, mas muito bonita de qualquer forma. Tempo tava bom no primeiro terço do trajeto, calor com sol forte no segundo e chuva ininterrupta no final, pra castigar mesmo. Encontramos uma caravana de burros na trilha e paramos antes da hora em Bahundanda. A vista lá no topo é ótima e parecia uma ótima opção de parada intermediária pelos lugares perto da árvore grande no meio da vila. Dica hein. De lá até Syange todos sofreram. As vistas dos terraços enormes de arroz compensa. Continuamos na região de floresta verde tropical ainda. Pouca novidade pra quem é do Brasil. Todas as placas e caminhos apontam pra Manang já. Dani tremia de cansaço, eu me arrastei com a coluna dobrada e ensopado. A chegada em Jagat é espetacular. Vista de uma vila encrustada na lateral da montanha estilo Indiana Jones. Comi dal bhat até explodir. Sono. Tem wifi de novo aqui! Nuvens passam por dentro da vila, muito legal! — Caio

A noite passada foi bem boa, ficamos horas conversando com o Kedam (israelense) e o Micha (alemão) e dormimos muito bem devido ao cansaço. Hoje pela manhã comemos omelete com chá e partimos os 4 juntos em direção à Jagat (de onde os dois meninos seguiriam viagem mais adiante). Choveu bastante a noite e estávamos preocupados com segurança na trilha, mas não encontramos nenuhum lugar realmente perigoso. O caminho de Ngadi a Bahundanda seria uma subida, elevação total de 420m, então já esperávamos que seria pesado. O caminho é espetacular, cheio de plantações de arroz e tivemos nossa primeira vista de um dos Annapurnas coberto de neve, muito lindo! Mas o que era pra ser uma subida pesada se tornou ainda pior, pois fomos zigue-zagueando nas montanhas entre subidas e descidas, super cansativo. Apesar disso, foi a primeira vez que escapamos da estrada e fizemos trilha de verdade, passamos por cachoeiras, alagamentos, muitas pedras e pegamos nosso primeiro congestionamento de burros em um desfiladeiro, super emocionante! Hehe. Chegamos em Bahundanda bem cansados devido a todo o sobe-desce de 2 horas e fizemos uma pausa para descansar e comer um biscoito. Segundo nosso guia de bolso estávamos em 1 terço do caminho e a ida até Ghermu e depois Jagat deveria ser mais tranquila e levar mais 3 horas. Great! Seguimos viagem até Ghermu e o sol resolveu dar o ar da graça para atrapalhar um pouco e o sobe-desce não diminuiu. A paisagem continuou igualmente linda, mas quando alcançamos Ghermu já estávamos sentindo bastante dor na planta dos pés por causa das pedras, nas costas por ficar inclinados nas subidas e a fome começava a chegar. Mesmo assim, nada de desânimo, pois o guia de bolso dizia que faltava somente uma hora e meia de caminhada até Jagat! Acho que essa foi a pior parte do caminho, pois eram degraus de pedra que não acabavam mais, e continuamos indo pra cima, pra baixo, pra cima, pra baixo… Jagat deveria ser mais alto que Ghermu, e não ganhávamos altitude nunca, começou a ficar estranho. Passamos por mais 3 vilarejos pequenos e os 3 se chamavam “Ghermu”. Ok, se tem mais de um Ghermu, de qual deles o guia está falando? Chegou um momento em que as pernas já tremiam, as costas estavam duras e eu comecei a sentir tontura de fome, pois já passava de meio dia… Mas seguimos andando, Jagat já devia estar próximo e iríamos almoçar, tomar banho e relaxar. Andamos, andamos, andamos… até que avistamos um vilarejo lá longe. Nessa hora já deu vontade de tirar a mochila das costas e correr pro abraço! Ufa! Até que nos aproximamos e passamos uma placa que dizia “Welcome to… SYANGE”. Oi??? Syange? WTF é Syange? O nosso guia de bolso nem sequer citava esse vilarejo! Abrimos nosso mapa grande e estava lá, Syange, entre Ghermu e Jagat. E o pior: o mapa dizia que o tempo de caminhada entre Syange e Jagat seria de 2 horas! Tiramos as mochilas, exaustos, e eu decidi: “vou dormir aqui. não aguento caminhar mais 2 horas até Jagat”. Tivemos que esperar 1 hora até o nosso almoço chegar, todos famintos. Durante a espera, olhamos com calma e detalhes o mapa e o guia de bolso e descobrimos que as distâncias, altitudes e tempo citados neles eram totalmente diferentes e que o guia de bolso não fazia sentido nenhum. Lição do dia: nunca mais confiar no guia de bolso! Depois do almoço e mais descansada, decidimos seguir viagem hoje mesmo, não seria bom dormir em Syange, isso atrapalharia muito nosso roteiro. Os 3 meninos fizeram um bom trabalho em me convencer disso. O que poderia piorar? Em 5 minutos, encontrei a resposta: começou a chover!!! Sem muita escolha, com dor no corpo inteiro e encharcados, seguimos caminho. Descemos até o nível do rio para cruzar uma ponte e começamos a longa subida, que é um interminável zigue-zague montanha acima, e uma vista que fazia a dor diminuir um pouquinho. Trinta minutos antes de chegarmos em Jagat chegamos em um ponto onde era possível ver o vilarejo ao fundo: um vale com cachoeiras descendo até o rio e lá, no meio das montanhas, o vilarejo. “Foi exatamente isso que eu vim buscar aqui”, pensei. A chuva engrossou, tivemos que tirar as botas para passar por algumas cachoeiras, até que finalmente chegamos a Jagat! Pra fechar o longo dia com chave de ouro encontramos uma pousada com chuveiro quente e uma vista maravilhosa, que ofereceu o quarto de graça se jantássemos e tomássemos café da manhã aqui. Perfeito! Agora, depois de um banho tomado e um dal bhat devorado, consigo fazer o balanço do dia: 1) não confiar no guia de bolso. Ele é bom para ter noção das altitudes por vilarejo, mas parece que faz o trajeto e estima os tempos pela estrada, e não pelas trilhas 2) comer mais carboidratos, pois só o omelete não segurou nada e a fraqueza bateu forte. Por aqui a chuva continua… estamos com nossas melhores roupas de trilha e nossas botas molhadas. Amanhã decidiremos o caminho que iremos fazer, pois as 7 horas de hoje foram tensas demais e seguir molhado vai ser bem chato. No fim do dia conhecemos um casal de americanos que também estão dando a volta ao mundo e ficamos um tempão conversando com eles e trocando ideias sobre destinos futuros. Boa noite! — Dani