Dia 31: Ghasa → Tatopani, 1242 metros

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Um dos piores dias de briga da minha vida, mas roupa suja se lava em casa e não em público. Post censurado. — Caio

Nada é tão ruim que não possa piorar. Saímos de Ghasa andando mesmo, o Caio não quis pegar o transporte. Na saída do vilarejo eu fui buscar água, que fica mais pra dentro da vila, não na estrada, e ele não quis esperar. “Você me alcança, estamos indo para o mesmo lugar”. Beleza, peguei as garrafas, busquei a água e voltei pra estrada., apertando bem o passo para alcançá-lo. O que eu não sabia é que a saída para a estrada depois da estação de água é mais pra frente e ele voltou para ver porque eu estava demorando, então eu saí na estrada na frente dele! E saí bem louca, apertando o passo. Meu coração congelou quando eu vi a bifurcação entre a trilha, que era do outro lado do rio, e a estrada. “Ferrou, e agora, por onde ele foi?”. Resolvi seguir o bom senso e ir pela estrada, que é o que estávamos fazendo nos últimos dias, e perguntei para uma mulher sentada em uma guesthouse se ela o tinha visto, e ela confirmou. Ufa, estou no caminho certo. Segui no meu ritmo galopante por uma meia hora e nada de encontrá-lo. Comecei a ficar nervosa e brava por ele não ter me esperado, e depois com muito medo de acontecer alguma coisa comigo, com ele, de não encontrá-lo e não sei mais o que. Comecei a perguntar para as pessoas no caminho se tinham visto ele e para meu desespero começaram a dizer que não. Merda. A única resposta que veio na minha cabeça é: ele só pode ter ido pela trilha! Comecei a procurar pegadas, não achei. Comecei a ficar desesperada, não sabia se ficava na trilha ou seguia pela estrada, se voltava pra trás. Que raiva, raiva, raiva! Decidi que eu precisava procurar uma ponte e entrar na trilha. Pelo número de pessoas que disseram não ter visto ele, ele com certeza tinha ido por ela e eu estava bem avançada, pois a trilha é sabidamente mais difícil do que o caminho pela estrada. Demorou, mas achei uma ponte que ligava a estrada à trilha e eu fui por ela, era a única coisa que fazia sentido! Pensei “perfeito, se ele foi pela trilha ele está atrás de mim, vou entrar aqui e esperar até ele aparecer”. Alcancei a trilha e fiquei ali, esperando, até que que vi ele andando, de longe… PELA ESTRADA! Oi??? Nessa hora fez um nó na minha cabeça, como diabos ele poderia estar atás de mim indo pela estrada?! O foda é que eu tava muito longe, no outro lado do rio… tentei gritar mas não tinha como ele me ouvir, e foi uns 15 minutos até eu descer na trilha, achar a ponte e conseguir voltar pra estrada. Dali pra frente eu praticamente corri (pense na louca correndo pela estrada, suada, com um sol de rachar e uma mochila de 10 kgs nas costas), mas só uma meia hora depois encontrei ele, sentado me esperando em uma venda, obviamente puto. O que aconteceu dali pra frente dispensa relatos, um mais irritado e cansado que o outro, uma baixaria daquelas. Andamos mais uns 40 minutos até Tatopani, em silêncio, não vendo a hora de chegar e acabar com o pior dia de trilha de todos. Estou cansada, triste e com dor no joelho pela correria que foi hoje, um dia pra esquecer. Estou bem preocupada com o dia de amanhã, pois dizem que o caminho de Tatopani a Ghorepani é pesado e meu joelho dói pra caramba. O Caio deve estar mal também, pois se foi difícil pra mim foi muito pior pra ele, minha esperança é ele querer passar o dia descansando amanhã e não ir pra Ghorepani, vou torcer. Dani—