Dia 7: Danaque → Temang → Koto → Chame, 2709 metros

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Depois da noitada dos locais no refeitório da pousada fomos dormir entupidos de carboidratos pra trilha até Chame. Esperávamos algo pior, acho que o corpo já tá bem com a pauleira diária. Foram 4h sem muitos problemas, sem cansaço. Até passamos 8 pessoas hoje! Incluindo um senhor americano de 80 anos super em forma. Era alpinista, os filhos até escalaram o Everest. Ele escalou a cadeia do Annapurna 40 anos atrás, morreu metada do grupo dele e ele acabou virando monge budista. Tava com roupa de monge e tudo pela trilha, barba branca enorme. Ele nos incentivou indiretamente a ir pela trilha superior, via Thanchowk, ao invés pela mais fácil. Nem doeu, chegamos inteiros. Chame nem parece central do distrito. O portal com rodas de oração é bacana, a pousada é de longe a melhor de todas, até melhor que onde ficamos em Kathmandu! Tem uma lan house do lado. Mandamos notícias pra família. Fora novidades de mais uma guerra no horizonte, o mundo fora daqui parece continuar igual. Do quarto vimos as montanhas rapidamente, mas nuvens encobriram tudo, claro. Isso tá me frustrando, a época do ano tá meio ruim ainda pra vistas magnânimas que queríamos e vimos em fotos em todos os lugares. Acho que ficaremos um dia extra aqui, machuquei a virilha, e aproveitamos o clima melhorar um pouco. Temos tempo de sobra. Estamos à 2.700 metros agora, mas as coxas aguentaram bem até aqui! Os mapas não foram nada confiáveis, entretanto. Se não fosse uns carregadores e locais nos perderíamos, altitudes conflitantes, sem sinalização etc. NATT pecou demais hoje. Aqui tá consideravelmente mais seco e mais frio, talvez compremos luvas e gorros de lã pra aguentar. Muitas pessoas com carregadores por aqui… e a Danni arrancou nove pêlos brancos da minha barba, mas o plano de dois meses sem me barbear ainda estão de pé! — Caio

Saímos de Danaque quase 8h, depois de comer um pão Tibetano no café da manhã (muito bom por sinal!). Estávamos preocupados em como seria andar quase 5 horas depois de dois dias de “descanso” andando somente 2,5 horas, mas fiquei orgulhosa da gente! O caminho foi tranquilo, o primeiro trecho até Temang é de matar, trilhas no meio da mata e subidas super íngremes, mas o restante não judiou muito. O que judiou mesmo foi a falta de sinalização. Passamos por vários locais com mais de uma opção de caminho sem indicação nenhuma e tivemos que escolher, não nos perdemos por sorte. Hoje cruzamos com vários trilheiros, entre eles um monge budista de 80 anos e seu filho na casa dos 60, ambos americanos e fazendo a trilha juntos! O senhor manda super bem (melhor que o filho e que a gente) e deixou todos do grupo de queixo caído quando ultrapassou todo mundo em uma parte íngreme da trilha em mata fechada e desapareceu na frente! Acho que vou começar a fazer meditação. Hehe. Quando conseguimos alcançá-lo ele começou a contar que ele é ex-montanhista e esteve no Nepal pela primeira vez há 40 anos, quando metade do grupo que estava com ele morreu em uma avalanche próximo ao Everest. Tenso!!! E por falar em tragédia, parte da trilha de hoje teve uns trechos bem perigosos, se tivesse chovendo hoje eu ficaria preocupada. Muitos deslizamentos de terra no caminho e alguns desvios na trilha que você via que era por que a terra deslizou e a trilha original não existia mais! Já estamos à 2.700m e já está começando a ficar friozinho! Chame é uma vila grandinha e tem umas lojinhas vendendo de tudo, chocolate, biscoito, roupas… Amanhã vamos atrás de umas luvinhas de frio que esquecemos de comprar em Kathmandu. Tomamos a decisão de ficar 2 dias em Chame porque o Caio está com a virilha machucada por causa das caminhadas, e eu é que não vou reclamar, pois vai ser bom pra descansar! Apesar de ficarmos isolados e sem comunicação com o mundo, a rotina que estamos vivendo durante a trilha tem me feito muito bem. Eu gosto da simplicidade disso tudo, a gente cansa pra caramba mas chega no vilarejo e pode escolher uma guesthouse onde você será bem recebido, terá uma cama limpinha, comida fresca e bem preparada, e ainda observa a vida local. Todo o dia a gente respira ar puro, faz exercícios, come bem (tudo da horta da família), dorme cedo, acorda cedo… Não tem muita coisa pra fazer depois de comer, tomar banho e conhecer o vilarejo onde você está (que no geral são bem pequenos). Com isso sobra um tempo danado pra você mesmo, pra pensar na vida, refletir, escrever, ler, conversar com as pessoas. Pra mim está sendo bom fazer um balanço desses 6 primeiros meses da nossa viagem, perceber o quanto eu sou privilegiada por estar vivendo e sentindo tudo isso, e melhor ainda, do lado de uma pessoa que eu amo muito. É uma paz muito boa. Pronto, fim do momento filosófico! Hehe. — Dani