Planejando gastos e despesas em uma RTW

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Se desprender da vida rotineira e sair por aí viajando é o sonho de muita gente. Mas paisagens e fotografias à parte, esta decisão precisa ser muito bem planejada e pensada, pois na maioria das vezes ela vem acompanhada de um pedido de demissão. Se você for um ser humano comum como o casal alfanumérico e não nasceu em berço de ouro nem ganhou na loteria, isso implica em muito, muito, muito planejamento para se gastar o mínimo possível e aproveitar o máximo.

Se você fizer uma busca rápida pela internet (e se este é seu sonho você já deve ter feito isso), vai descobrir que não existe resposta exata para quanto custa uma volta ao mundo, e isso é o que faz muita gente não tirar a viagem do papel. Como se preparar para ficar sem trabalhar por alguns meses, se não anos, sem mesmo ter certeza de quanto você irá gastar neste período? É realmente uma pergunta muito difícil. Mas, queridos leitores e amigos, no que depender da gente vocês jamais ficarão sem resposta! :-)

Vamos escrever dois posts procurando ajudar quem pretende iniciar ou está no meio do planejamento de uma volta ao mundo. Neste primeiro post vamos falar de como planejamos o quanto gastar na viagem, a ferramenta que criamos e de onde vêm as informações que usamos. Na segunda parte a gente vai falar sobre o resultado de tudo isso, o controle que estamos fazendo durante a viagem e basicamente escancarar nossa base de gastos e comentá-la (finalmente, um número para a famosa pergunta “quanto custa uma RTW?”).

Planejamento

Quando se fala de um plano de viagem longo como o nosso, a única certeza que eu posso te dar é que você vai errar. A diferença entre errar muito e errar pouco é o tamanho do seu planejamento! Para estruturar melhor o nosso planejamento financeiro, eu, Dani, dividi os nossos gastos durante a viagem entre custos e despesas.

Custos são os gastos mínimos, a manutenção dos mochileiros, que vão acontecer independente da nossa vontade: comida, locomoção e hospedagem. Despesas são gastos da viagem que vão depender de quão profundamente pretendemos conhecer o país ou quanto estamos dispostos a gastar pra tornar a estadia naquele local mais interessante: transporte entre cidades, passeios turísticos, atividades especiais, almoços ou jantares em restaurantes bacanas, etc.

Dica #1: monte uma base de dados. Qualquer análise vai ficar muito mais simples se você juntar todos os custos em uma mesma planilha.

Ok, mas e as informações? Como saber quanto custa tudo isso? Para a parte dos custos, os dados que usamos foram do Cost of Living, um projeto colaborativo online que contém informações atualizadas sobre o custo de vida em diversas cidades do mundo. Com a nossa listinha de cidades em mãos, o meu nerd preferido, o Caio, montou uma base de dados só com as informações que precisávamos para alimentar a nossa Planilha Master (você vai entender mais pra frente do que se trata).

Caio diz... o CoL tem muita coisa, e em várias moedas, então escrevi um script que pega só custos chaves do lugar, sempre em dólar, e gera uma planilha automaticamente em segundos, pra Dani manipular como quiser

Antes de embarcarmos eu não sabia se o Cost of Living ia funcionar muito bem, mas o que eu posso dizer até agora, depois de 3 meses de viagem, é que o negócio é muito próximo da realidade!

Caio diz... eu sabia, eu acreditava, eu queria crer! :-)

A parte das despesas é um pouco mais complicada, pois não vai existir base de dados pronta pra isso, as informações vão surgindo a partir de muita pesquisa online. Wikitravel, Lonely Planet e blogs de outros viajantes serão seus principais aliados para essa tarefa. Se quiser, dê uma olhada nas nossas dicas e truques sobre sites úteis. Caso a informação for muito difícil de encontrar, faça uso do bom e velho chutômetro!

Planilha Master, uma planilha para todas as outras governar!

Piadinha a parte, com a base de dados montada, era preciso criar uma ferramenta de viagem que fosse rápida de consultar, flexível com datas e que tivesse informações úteis sempre à mão. O resultado foi uma planilha com uma aba por cidade puxando informações de uma base de dados de custos e de uma base de datas e destinos.

Dica #2: deixe uma coisa linkada com a outra. Faça links entre as informações de maneira que, mudando o número de dias de estadia em uma cidade, por exemplo, ele já atualize todos os dados de forma automática.

Demorou muito, mas muito tempo pra batermos o martelo no número de dias que ficaríamos em cada cidade e agora temos percebido como foi a melhor decisão fazer assim. Se tivéssemos que ir atualizando manualmente o orçamento a cada mudança, eu teria ficado louca!

Nosso modelo é o seguinte: uma aba com a lista de todas as cidades por onde iríamos passar, data de chegada e partida, uma aba com as informações úteis do Cost of Living destas cidades, uma aba com dados climáticos e uma aba por cidade juntando tudo isso.

Parece complicado? Segue um exemplo de aba pra uma cidade que puxa os dados dessas bases todas e consolida num lugar só pra consulta:

Exemplo da nossa Planilha Master, clica pra abrir!

Exemplo da nossa Planilha Master, clica pra abrir!

Esse é um exemplo de aba da planilha. As datas, temperaturas, custos de alimentação, transporte etc, são atualizadas automaticamente de acordo com a data de chegada e saída na cidade, puxando as informações da nossa base de custos e da base de datas. O saldo inicial da cidade é final da outra. Se decidirmos ficar 3 dias a mais na cidade mudamos na lista principal e plim! Tudo se atualiza. Mais simples, né? Com isso dá até pra brincar com o planejamento, mudando um dia da Suíça pra França você vê dinheiro aparecer magicamente na planilha devido a diferença de custos.

Dica #3: Defina seus parâmetros. No Cost of Living você vai encontrar o custo de tudo o que precisa para se sutentar durante a viagem, mas você já parou para pensar no que você precisa?

Se vocês repararem na planilha, a nossa alimentação durante a viagem consiste em uma refeição barata em restaurante, pão, leite, ovos e arroz. Logicamente, não estamos comendo só isso durante a viagem, mas esses foram os parâmetros que escolhemos como base para o nosso custo de alimentação. Para higiene pessoal, decidimos que iríamos gastar 20 dólares a cada 20 dias. Isso inclui sabonete que dura dias, papel higiênico, shampoo etc. Às vezes estamos gastando mais, às vezes menos, mas esse é o parâmetro que decidimos para termos como base durante a viagem.

Outro parâmetro importante é a hospedagem. Como nossa viagem tem como objetivo mochilar mesmo, estamos tentando couchsurfar o máximo possível pra ver a vida local, mas observando o número de perfis de pessoas no site é possível saber com antecedência quais são as chances de conseguir um sofá em um determinado lugar. Com base nisso, definimos quantos dias iríamos couchsurfar e quantos dias iríamos nos hospedar em albergues. O valor de hospedagem médio na cidade nós definimos com base no Hostel World.

Caio diz... o Hostel World é faca de dois gumes, sugiro ordernar pelos mais baratos mas jamais pegar o preço médio de lugares com menos de 60% de aprovação… senão é roubada, acredite

A parte de Turismo & Logística é a parte que não tem como ser automática! Aqui é onde entraram aquelas despesas com atividades específicas, definidas com base em uma pesquisa minusciosa, cidade a cidade. Pra ter uma idéia do que fazer se se sentir perdido, procure em sites como Wikitravel na seção See & Do, os tais “must see” no TripAdvisor e o Spotted By Locals. Quando não sabíamos direito o que queríamos fazer na cidade, jogávamos um valor no chutômetro mesmo… em resumo, é daqui que você vai cortar os gastos caso perceba que o dinheiro que você tem não é suficiente, heheh.

Caio diz... nunca é suficiente, nunca! Puta mundo injusto…

A segunda parte é mais informativa e bem manual, fui procurando as informações uma a uma e colocando lá: endereço da embaixada ou consulado para emergência você encontra em documentos do Itamaraty, número de couchsurfers na cidade em uma busca rápida e melhores acomodações no Hostel World a depender do seu critério pra albergues. É sempre bom ter estas informações na mão. Pronto! Tudo o que a gente precisava estava a mão em uma ferramenta flexível, fácil de atualizar e consultar. Parece complicado, mas por isso damos a dica a seguir…

Dica #4: Não desista. Eu não consigo nem contar o número de horas que passei debruçada nessa planilha desde 6 meses antes da viagem. Dá trabalho, mas vale muito a pena!

Hoje conseguimos viajar com segurança financeira, já que nosso dinheiro não dá em árvore e precisamos controlá-lo bem, e sabemos que podemos mudar os planos o quanto quisermos e em alguns minutos vamos ter uma resposta simples: cabe ou não cabe no orçamento?

Quando voltarmos pretendemos transformar nossas planilhas em uma coisa só unificada e, quem sabe, usável online por outras pessoas. No pior caso ainda como planilha mais genérica pra você montar sua volta ao mundo. Dependendo do interesse vai que acabamos fazendo isso antes do nosso retorno pra casa ;-)

No post seguinte mostramos os custos em detalhes cidade a cidade por cada país que já passamos e comentamos nosso orçamento total pro ano e pro casal na viagem!