Egito costa a costa: Hurghada e Alexandria

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Depois de quase duas semanas de deserto visitando as tumbas e ruínas de Giza, Aswan e Luxor, estávamos ansiosos por um pouco de sombra e água fresca. Queríamos muito conhecer o mar vermelho e tentamos de várias formas descobrir um jeito barato de chegar a Dahab, na região do Sinai, mas infelizmente a logísitca pra lá pareceu cansativa demais (se fosse de ônibus) ou cara demais (se fosse de avião). Acabamos decidindo ir para Hurghada, destino bem turístico mas que “dava pro gasto”, considerando que o nosso objetivo era uma passadinha pelo mar vermelho.

Pegamos o ônibus da Super Jet saindo de Luxor às 8h da manhã, junto com um australiano que estava hospedado no mesmo albergue que a gente. Pagamos 35 libras por pessoa (uns 5 dólares), e não conseguimos comprar o bilhete com antecedência, pois disseram que a compra só era possível no dia do embarque (mentira, pois os locais chegaram e foram direto pro ônibus, não compraram passagem), mas chegamos 1 hora antes do horário do ônibus e deu tudo certo.

Caio diz... aparentemente fazem isso, segundo fontes online, porque turistas entrangeiros são problema de segurança pra eles, e assim correm o risco de nem embarcarem, o que é bom pra empresa (!), por falta de assento

Ficamos com um pé atrás com o ônibus da Super Jet quando vimos o naipe da bilheteria e do ônibus por fora, mas acabou que o ônibus é espaçoso, confortável e com um ar condicionado decente (acredite, no Egito isso é mais importante do que qualquer coisa), achei melhor do que o padrão brasileiro pelo mesmo preço. A viagem durou 4 horas e 90% do tempo a única paisagem que se vê é deserto, mas acaba sendo um cenário bonito. Só no finalzinho da viagem, quase chegando, é que conseguimos ver montanhas de rochas cinza e o mar vermelho pela janela, bem azulzinho.

Mandamos uns couch requests para Hurghada uns dias antes de embarcarmos, já que decidimos meio que em cima da hora, e surpreendentemente recebemos um sim! Como a gente já tinha se ligado que couchsurfing no Egito é um negócio, pois a maioria deles querem te hospedar para te vender alguma coisa, chegamos na cidade com um pouco de receio de como seria a estadia. Estávamos muito enganados! Os dois amigos que nos hospedaram são de Cairo e estão morando em Hurghada por causa do trabalho, e são couchsurfers como todos deveriam ser: estão atrás de boas experiências, não do seu dinheiro :-)

A cidade de Hurghada é bem turística, como já esperávamos, e definitivamente não é um lugar para mochileiros. Primeiro que o lugar é uma mini Moscou, tem mais russo que egípcio (sério, não estou exagerando), a ponto de todas as lojas e lugares terem informações em russo e letreiros em cirílico, algumas antes mesmo de ter em inglês. Ser um turista em Hurghada para eles significa que você é russo, espere falar muitas vezes “I’m not russian”, pois nos restaurantes, táxis, ruas e em qualquer outro lugar que você esteja, falarão com você em russo. Segundo porque a cidade não tem estrutura nenhuma para pedestres, ninguém anda na rua a pé, só de carro, e se você pretende fazer uma caminhada pela cidade é bom se preparar para um táxi parar ao seu lado a cada 30 segundos (“táxi? táxi?”).

Bom, mas o que a gente foi fazer em Hurghada foi ver o mar vermelho, e cara… essa porra é bonita mesmo! No nosso primeiro dia na cidade os couchsurfers nos levaram para um tipo de mirante em uma parte mais alta da cidade, de onde dava pra ver quase toda a orla da praia e as ilhas próximas, onde a água fica daquele azul clarinho por ser mais raso, coisa de outro mundo!

Alto da cidade, olhando pras ilhas

Alto da cidade, olhando pras ilhas

As praias de lá não são lá essas coisas, conhecemos uma praia em El Gouna, numa área mais afastada de Hurghada, e a Dream Beach, perto de onde estávamos ficando. Nas duas praias a areia é bem expessa e tem bastante pedras, mas depois que você entra no mar e começa a flutuar naquela água cristalina, vale muito a pena! A “vibe” também é bem diferente do que estamos acostumados, pois sempre tem que pagar pra entrar e tem uma estrutura montada com cadeiras, música de puteiro (haha) e várias pessoas indo atrás de você para oferecer serviços de spa ou massagem com peixes que te mordem (!). Chique demais pro casal alfanumérico :-)

Depois de 4 dias relaxantes em Hurghada, voltamos para Cairo de Go Bus, apenas para um pit stop antes de ir para Alexandria. A passagem do ônibus deluxe custou 75 libras (uns 10 dólares) por pessoa, e o serviço que eles pareciam oferecer, pela qualidade do website e da bilheteria, prometia ser bem melhor do que o Super Jet que usamos para chegar na cidade. Mas as aparências enganam, o ônibus é apertado e sujo, o motorista mal educado e ainda vimos um outro dar defeito no meio da estrada e tivemos que socorrer eles. No final, o ônibus ficou lotado e um bando de gente em pé para umas duas horas até Cairo. Se esse era o deluxe, não consigo imaginar como seria o serviço standard deles!

O pior de tudo da nossa viagem de Hurghada a Cairo foi a hora de pegar as mochilas quando chegamos. Por causa de um vazamento de água no bagageiro, a minha mochila ficou enxarcada de uma água preta e fedida. Tudo o que eu tinha dentro dela estava molhado e sujo, sem contar os papéis e meu livro que desmancharam dentro dela. A sorte é que a mochila do Caio estava por cima da minha, então não molhou, dor de cabeça a menos!

Caio diz... além do que como sou chato ia ficar reclamando disso pra sempre, que bom :-)

Passado o mal humor por causa do incidente com a mochila, seguimos no dia seguinte para Alexandria de trem, saindo da estação de Cairo. A estação é bem bonita, mas eu diria bem despreparada para turistas. As placas, quando existem, são todas em árabe e é difícil até de localizar a bilheteria. Fomos no Tourist Center pedir informação e a moça não entendeu o que queríamos pois não falava inglês… idas e vindas depois conseguimos comprar os bilhetes e embarcamos na segunda classe do trem, junto com os locais. Recomendamos, por 35 libras por pessoa (5 dólares) o trem é muito bom, espaçoso, confortável e limpo.

Caio diz... online sempre recomendam ir de primeira classe por isso e aquilo, porque é Egito e tal… bobagem, segunda classe dá pra encarar, meio termo entre avião e ônibus

Fomos recebidos em Alexandria por uma família egípcio-armênia, o que foi uma experiência de couchsurfing diferente para a gente. O dono do perfil é o filho que acabou de voltar de um mochilão de 4 meses e convenceu os pais a receber pessoas em casa depois de ter se hospedado na casa de várias pessoas durante a sua própria viagem. A mãe dele é muito querida, cozinhou pra gente e se ofereceu para lavar todas as minhas roupas, que ainda tavam sujas depois do incidente com o ônibus de Hurghada. Experiência de família durante uma viagem como essa é revigorante!

Dividimos uma cama se solteiro em um quarto onde estavam também um casal de franceses que estavam mais usando a casa deles como hotel: não saíram conosco nos passeios que fizemos e quase nunca estavam com o dono da casa, sempre fazendo atividades separadas e voltando pra casa tarde. Eu nunca vou entender como as pessoas tem cara de pau de fazer isso, couchcurfing não é hotel barato, é experiência local!

Nós elegemos Alexandria a melhor cidade de todas as que conhecemos no Egito. Apesar de ser caótica como as outras, e não ter ruínas históricas, as coisas lá funcionam. O trânsito é insano mas é possível usar transporte público, o clima é quente mas a brisa do mar ajuda a tornar mais suportável e as pessoas, apesar de não falarem inglês, se esforçam o máximo para entender você.

Para uma cidade historicamente importante, o número de turistas é baixíssimo, não encontramos nenhum na rua. Até mesmo na biblioteca de Alexandria, onde esperávamos ver uma fila de gringos, só haviam locais! Diferentemente das outras cidades, quando viam que você era de fora os locais queriam saber quem você era, te viam como uma curiosidade, e não uma nota de euro ou dólar ambulante.

Dividimos nossa estadia lá em um dia para conhecer a cidade andando, um dia de praia e um dia para conhecer a biblioteca de Alexandria. No nosso passeio caminhando, fomos pela orla da praia até a Stanley Bridge, uma ponte elevada que conecta as duas pontas de uma prainha abaixo do nível da cidade em quase 2 andares de um prédio… difícil explicar, mas é bonito e diferente de se ver. O contraste do mediterrâneo com os prédios caindo aos pedaços típicos do Egito é bem particular da cidade também.

Stanley Bridge, Alexandria

Stanley Bridge, Alexandria

No dia seguinte, o nosso host nos levou até uma praia em El Agamy. Fomos de transporte público, mais ou menos uma hora de ônibus mais uma mini-van para chegar até o mar. Essa praia é mais isolada, mas é bem bonita e privada, então eu poderia ficar de biquini sem restrições. A areia da praia é mais parecida com a do Brasil, apesar de ser suja e um pouco mais grossa. A cor do mar é muito bonita, um verde claro, e bem mais refrescante que a água do mar vermelho. Passamos o dia por lá e depois fomos com o host matar mais um item da nossa todo list: comer peixe e frutos do mar mediterrâneo! Ele nos levou em um restaurante local bem movimentado mas isolado, e nem tão caro, onde escolhemos em uma peixaria interna nosso próprio peixe ainda fresco para assarem, mais camarão e lula. Excelente!

Dia de sol na praia em Alexandria :-)

Dia de sol na praia em Alexandria :-)

No último dia fomos caminhando até a biblioteca de Alexandria, debaixo de um sol escaldante. Chegando lá, fomos surpreendidos por uma fila gigantesca (não tanto para a compra dos bilhetes, mas para o guarda-volumes) de locais querendo entrar, acho que gastamos uma meia hora só na fila. Entrando lá, fiquei admirada com o tamanho e a modernidade da biblioteca, o prédio é super organizado e muito bonito, mas o que eu mais gostei de ver foi como estava lotado de estudantes, quase nenhuma mesinha vazia.

Caio diz... eu fiquei bem impressionado, achava que a biblioteca hoje era mais museu que outra coisa, mas os locais usam ela pra valer, muito legal

Infelizmente perdemos o último horário do planetário e não pudemos conhecer, mas os museus da biblioteca compensam a visita. O primeiro deles é o museu de antiguidades, que além de itens da época do Egito antigo (que já tínhamos visto aos montes nas outras cidades do Egito) tinha vários itens do período greco-romano, bom pra deixar a gente empolgado com nossos próximos destinos (Grécia e Itália). O outro museu é o museu de manuscritos, que não tem muita indicação da época ou do que se trata o manuscrito, então acaba sendo apenas um museu bonito de se ver.

Dentro do setor de sarcófagos do museu de antiguidades encontramos um grupo de umas 5 meninas entre 10 a 12 anos, que acharam o máximo ter turistas lá e se esforçavam ao máximo para tentar conversar com a gente em inglês. Uma delas estava tentando nos avisar pra ter cuidado porque havia uma múmia viva dentro de um dos sarcófagos, hehe.

Depois de Alexandria, voltamos ao Cairo para mais 3 dias para terminarmos de visitar a cidade antes de irmos para a Grécia. O problema é que assim que voltamos eu comecei a passar mal e passei 3 dias de rainha, mal conseguia levantar da cama de fraqueza… o máximo que pudemos fazer foi visitar o Museu Egípcio no último dia, pois não podíamos ir embora sem passar por lá!

A dica para quem quer visitar o museu do Cairo e também pretende passar por Luxor e Aswan é deixar o museu por último. A coleção deles é realmente impressionante, mas são deixadas nas salas como se fosse um depósito, sem indicação do que se trata…

Caio diz... me lembrou um almoxarifado gigante com caixas tipo em um Indiana Jones, sério

A única organização que se vê é a separação por período, então quem já foi para Aswan e Luxor e visitou os templos consegue entender alguma coisa. Se não for assim fica difícil, eu indicaria uma visita guiada para aproveitar melhor!

Caio diz... eu não indico visita guiada porque é uma forma de perpetuar o esquema de guias escroto do Egito, estude você mesmo!

Agora, a parte que nos deixou mais impressionados foi a sala de múmias. O preço para entrar lá é mais caro do que a visita do museu em si (9 dólares para o museu e 15 dólares para a sala de múmias), mas vale cada centavo! Nós passamos quase um mês visitando os templos e tumbas em Aswan e Luxor para, no último dia, ver as múmias de cada um dos faraós, foi muito legal! A conservação do corpo é impressionante, dá pra ver bem os traços, a idade, cabelos e unhas intactos… foi definitivamente a parte que mais gostamos!

Caio diz... simplesmente vá ver as múmias, sériováverasmúmiasdfghasdfgh caralho que animal que são!

Finalmente (pelas dificuldades, não por alguma falta de diversão!) nossos dias no Egito chegaram ao fim. Dali partimos pra Europa, mais especificamente pra Grécia, nossa primeira parada de “lua de mel” no continente :-)