Jornada pela NZ em busca de uma geleira

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E la fomos nós atravessar a ilha sul toda da Nova Zelândia só pra andar sobre uma geleira! Desde quando conhecemos um rapaz no meio da viagem ficávamos pensando em qual iríamos. Muitos meses atrás ele nos recomendou ir nas duas que há no país, Fox e Franz Josef, mas só teríamos tempo e dinheiro pra uma delas e não sabíamos qual escolher.

Problema resolvido, visitamos a geleira Fox :-)

Problema resolvido, visitamos a geleira Fox :-)

O ruim da Franz Josef é que pra andar no gelo você precisa aterrisar nele de helicóptero, não dá pra ir andando, então ficou proibitivo pra dois mochileiros com fome. Fomos pra Fox mesmo, e a vila que serve de base pra quem vai lá é tão pequena que é só uma “avenida” e por acaso essa “avenida” é a rodovia nacional deles. Mas é bem fofinha :-)

Nossa saída com a única empresa licenciada pra operar na geleira era de manhã bem cedo, mas acordamos com o tempo incrivelmente feio, chovendo, frio etc. Na hora nos deram a opção de remarcar pro dia seguinte, e assim fizemos depois da super Dani checar no celular com o resto de bateria que tinha que a manhã seguinte seria de sol forte. Era isso, prometendo bem até, ou ir na chuva mesmo e com risco de não entrar no gelo. Foi uma correria conciliar todas as mudanças de horários e datas, não tínhamos onde dormir no dia seguinte, o albergue em Queenstown pra volta teve que ser cancelado etc, uma zona, mas deu certo e compensou.

Como a saída pra geleira seria agora à tarde, aproveitamos o novo tempo livre que surgiu e fomos pela manhã fazer uma caminhada até o Lago Matheson, de onde dá pra ver o Monte Cook todo com neve. Foram 12 km de ida-e-volta e quando chegamos não achamos tão espetacular a vista porque tinha brisa e a água do lago se movia muito. Cinco minutos depois parou tudo e fez um espelho na água pra se ver as montanhas que foi demais!

Vista do primeiro mirante no Lago Matheson

Vista do primeiro mirante no Lago Matheson, e Monte Cook no fundo

Engraçado que em nenhum lugar achamos dica pra ir no lago, ninguém se importa muito, é uma caminhada bem tranquila mas todos que até vão lá vão de carro e não se importam muito não. Isso faz pensar no quanto perdemos pela Nova Zelândia por não haver informação decente e acessível sobre como ir e ver e fazer coisas sem automóvel.

Já indo pra gelo gostamos bastante da organização e preparo do pessoal que cuida das trilhas e passeios na geleira Fox. São todos engraçados, emprestam todo tipo de equipamento e roupas, e até mochilas impermeáveis te dão pra levar suas coisas já que ali é onde mais chove no país todo, por isso as geleiras são tão grandes e se movem tanto. Falando nisso, há nas paredes deles fotos da geleira de vários anos, e hoje está bem menor que há 10 anos atrás, mas dizem que no topo ela tá em uma época de crescimento, mas o gelo demora pra descer. Dizem que daqui 10 ou 15 anos ela estará imensa novamente.

Pra eles isso é pouquinho gelo...

Pra eles isso é pouquinho gelo…

Foram só 15 minutos de ônibus até a entrada do parque. Originalmente onde hoje é o estacionamento é onde o gelo terminava, mas agora se tem que andar um pouco até o terminus, como chamam. Na concentração pra começar a caminhada a guia com picareta na mão explicava que ali é uma área de desabamentos e quais cuidados deveríamos ter etc e na mesma hora ouvimos um estrondo altíssimo. Na borda da montanha atrás da gente, do outro lado do rio, começou a desabar e rolar pedras e algumas eram enormes! Resquícios do gelo que sustentava as montanhas antigamente e que não está mais ali! Teve bastante poeira e foi animal de ver, principalmente por não ter sido nas nossas cabeças, e deu pra entender a seriedade do aviso da guia que também ficou impressionada.

Parece pequena né? Ache as pessoas pra ver a escala...

Parece pequena né? Ache as pessoas pra ver a escala…

Leva-se 1 hora andando pela base do vale onde tinha gelo até o terminus atual, e na entrada pra parte congelada te emprestam bastões de caminhada e grampos de metal pras botas. Pra quem andou sozinho no Nepal por lugar bem mais perigosos, é bem estranho alguém segurar sua mão pra atravessar três pedras sobre uma poça d’água :-)

Quando se finalmente pisa no gelo, dentro da geleira mesmo, é que se dá conta do tamanho do lugar. É bem maior que parece. A geleira Fox da NZ, pra terem idéia, tem 13km e é alimentada por outras quatro geleiras até chegar praticamente “na praia” em termos de geleiras. É muito baixa, incrível. O tal Lago Matheson que visitamos antes de ir lá, foi formado no final da última era glacial quando a geleira retrocedeu, e é muito longe dali! A velocidade com que ela se desloca é bem rápida, avançando mais de um metro por semana. Ela e a geleira Franz Josef são umas das geleiras mais rápidas que tem, às vezes 10x mais rápidas que geleiras normais, por isso foi tão incrível andarmos sobre a Fox :-D

Uma rocha monitorada que vem rolando geleira abaixo 9 metros por ano

Rocha enorme monitorada, rola geleira abaixo 9 metros por ano

As bordas do gelo são meio sujas pelo pó resultante do atrito entre pedras e dos desabamentos. É bem legal o padrão de poeira que deixam no gelo, às vezes se amontoam e o sol vai derretendo o gelo em volta do monte de pó cinza de pedra. Como ele não derrete porque o pó protege o gelo abaixo, a geleira tem regiões de “formigueiros” de pó e gelo, bem curioso.

Andamos por cerca de 1h30min no gelo, a guia até reforçava degraus com a picareta dela, já que segundo ela em 2 dias os degraus somem pelo movimento do gelo se não fizerem isso todo dia. Vimos muitos buracos de azul cintilante e profundos demais, com água caindo pra dentro até a base da geleira e por onde escoa até virar o rio que acompanhamos andando na trilha inicial. E ah, até tomamos dessa água! Absurdamente gelada, tanto quanto nas montanhas da Suíça e Nepal quando experimentamos, bem refrescante.

Na borda do gelo com a "trim line" pra fazer um vídeo

Na borda do gelo com a “trim line” pra fazer um vídeo

As pessoas do nosso grupo de trilha pela geleira não pareciam estar se divertindo muito pela falta de perguntas pra guia ou sorrisos ou até empolgação em andar por ali. Todo mundo com cara meio de cú. Nós dois estávamos achando o máximo tudo o que viamos, e eu, Caio, sorria sozinho o tempo todo. Devo ter sido a alegria da guia já que ninguém interagia com a empolgação dela hahah. Dani tava maravilhada, se sentia na muralha de gelo do Game of Thrones até, tirou foto em todos os cantos possíveis e falava “the winter is coming” de tempos em tempos :-)

Dani num dos buracos azuis sem fundo

Dani na entrada de um dos buracos azuis sem fundo

De volta no albergue no fim do dia conhecemos um alemão que tava sem grana e foi até lá só pra fazer uma trilha de graça e ver a geleira de longe. Tentamos explicar o que fizemos e convencer ele a não perder a oportunidade, que gastasse o que pudesse. É muito emocionante andar por cima e por dentro de uma maravilha natural como essa. Compensa com folga os 100 dólares por pessoa que pagamos na trilha de apenas algumas horas, a mais baratinha e simples de todas. Se tivéssemos mais dinheiro pra rasgar certamente faríamos um passeio de mais horas com direito a pousar de helicóptero quase na origem da geleira lá no alto. Foram 3 longos dias seguidos em ônibus até chegar na geleira Fox, mas valeu a pena demais, demais mesmo.