Dec 06 2013
danihabkostasia, cambodia, rtw
A idéia toda de ir pro Cambodia girava em torno dos templos que eles tem no noroeste do país, em Siem Reap, e finalmente visitamos tudo por lá! Compramos o bilhete de ônibus de Phnom Penh para Siem Reap por 12 dólares por pessoa no hotel onde estávamos hospedados. A viagem durou 7 horas e foi terrível! Pela primeira vez pegamos um ônibus apertado e desconfortável (até pra mim, Dani, que sou pequena, pro Caio então nem se fale). Pra completar o super evento, um local no banco da nossa frente vomitou a viagem toda. E na parada que o ônibus fez, depois de já ter passado mal, o cidadão foi almoçar ainda. Lógico que deu merda. Foi foda, coloquei meus fones de ouvido com uma música alta, joguei a jaqueta na cabeça e fui meditando a viagem toda pra não ouvir a sinfonia.
Primeira noite em Siem Reap? Ruas bonitinhas
Viajando é que deu pra ver como o Cambodia é plano, não tem ladeira nenhuma em parte alguma, nada de colinas. As estradas que ligam uma cidade a outra são uma linha reta só com plantações de arroz em volta, nada mais, e quando você olha pra frente não consegue ver o fim da estrada! É uma paisagem bonita, e em alguns momentos a vegetação se parece muito com o Brasil.
Devido ao Parque Arqueológico de Angkor Wat, Siem Reap é uma cidade muito mais turística do que a capital Phnom Penh. Dá pra ver que é disso que a cidade vive. O fato de ter um aeroporto em uma cidade tão pequena e de ter uma avenida em linha reta que liga o aeroporto ao templo de Angkor Wat mostra que eles pelo menos estão tirando algum proveito disso, o que é bem bacana. O centrinho da cidade tem uma atmosfera legal que lembra muito a Khao San Road de Bangkok, com sua feirinha noturna bem movimentada e cheia de boas opções pra comer comida local barata e repleta de lojinhas e hospedagem camarada. Por ter mais vegetação os insetos incomodam mais e até o clima por lá muda, faz frio de madrugada e de manhã. Até assustamos acordando na madrugada quase congelando sem cobertor.
Quando planejamos nossa ida a Siem Reap, nosso principal interesse era visitar o templo de Angkor Wat, o mais famoso lá, mas não fazíamos ideia da imensidão do parque todo. Não se trata apenas de um templo, mas sim de um parque arqueológico mesmo, de uns 400km quadrados, patrimônio da UNESCO e tudo. Lá é onde estão concentradas as ruínas dos grandes e mais importantes templos do Império Khmer, que dominou a região do Cambodia do século 9 ao século 15.
Quer ruínas, toma ruínas! Essa é Bayon, acho…
O bilhete para entrar no local custa 20 dólares por 1 dia, 40 dólares para 3 dias ou 60 dólares para 1 semana. Conhecer os templos andando é um ato de coragem, considerando que o menor circuito, passando somente pelos templos mais importantes, tem 17km (fora a caminhada a ser feita dentro dos templos). E lembrando que o sol que faz na região é de matar. Mas ok, é possível!
Caio diz... é totalmente possível, mas dobra o tempo de visitação fácil, e tem que ter um bom mapa offline do lugar
Uma ruína (dentro ou do lado) do complexo do palácio real
Nós escolhemos visitar o parque em 1 dia apenas, com um tuk tuk que cobrou 12 dólares a diária para fazer o circuito pequeno passando pelos templos de Bayon, Royal Palace, Elephants Terrace, Angkor Wat, Ta Prohm, Banteay Kdei e deveria também ter incluído ver o pôr-do-sol em Phnom Bakeng mas o motorista inventou uma história estranha sobre ter número limitado de pessoas e termos perdido a hora, o que nos pareceu uma desculpa esfarrapada, mas como estávamos mega cansados depois do dia inteiro andando sem parar no sol aceitamos terminar o passeio por ali mesmo. Já visitamos muito pôr-do-sol e nascer de outros tantos por aí pra não ficarmos muito tristes com a perda :-)
Coisa de turista, mas bonitinhos pra aparecerem nas nossas fotos :-)
A estrutura do parque é impressionante, tudo muito organizado, fazem até uma carteirinha impressa com foto que tem que ser mostrada na entrada de todos os templos. Nos templos maiores tem alguns painéis informativos com informações sobre o templo e às vezes fotos de antes e depois de restaurações que eles fizeram. Por todo o parque é possível encontrar lugares para comer, não somente lanche, mas restaurantes a céu aberto vendendo todo o tipo de comida. E o preço é muito normal, o que para um local turístico desse porte é surpreendente! Óbvio que tem os restaurantes com cara de mais chiques vendendo a mesma comida por três vezes o valor normal, mas por esses passamos reto. Ah, e a cada esquina tem gente vendendo frutas fresquinhas! Compramos um abacaxi inteiro descascado por 1 dólar como lanche da tarde!
Caio diz... um parque lindo e enorme, cheio de natureza, com templos no meio do nada, eu esperava ser uma zona, mas é incrível como aguentam o tranco com turistas
Angkor Wat por dentro
A visita aos templos é realmente espetacular. Angkor Wat é o templo mais famoso deles, mas nenhum dos outros deixa a desejar. Nosso favorito, inclusive, é o templo de Bayon. Ele tem uma fachada linda e é animal por dentro, achamos o mais bonito de todos. Só não é legal pra quem não gosta de ser observado, pois Bayon é marcado por rostos esculpidos por todo o templo, desde as torres até as paredes! Os muros externos são todos decorados com relevos retratando as guerras do povo Khmer.
Todo mundo que visita Angkor tem uma foto ali, então…
Outro local que chama atenção é o Ta Prohm, cujas ruínas foram tomadas pelas grandes raízes de árvores em volta do local, tornando o cenário lindo! Em alguns locais tem uma raiz de árvore saindo pela janela do templo ou atravessando um muro, em outros parece que a árvore está escorrendo por cima da janela. É nesse templo que realmente cai a ficha de quanto tempo faz que essas construções estão ali.
Detalhe das paredes com relevos nas ruínas
A cereja do bolo, Angkor Wat, tem uma fachada cinematográfica e imponente.
Caio diz... se você imaginar que os tapumes de restaurações não estão ali ajuda um bocado :-P
Seguimos uma dica de visitá-lo entre 13h e 14h, quando a luz é a melhor pra fotografia, e o resultado foi bem bacana. Ele é o mais alto de todos os templos, mas para subir lá no alto tem que estar de calça comprida e não pode usar chapéu, pois apesar de ser apenas ruínas ainda é um templo budista respeitado.
Angkor Wat por fora, já indo embora
Uma curiosidade sobre isso é que ele foi construído originalmente como um templo hindu em homenagem a Vishnu (além de ser um mausoléu para o rei), mas quando o império se converteu para o budismo todas as estátuas de Vishnu foram substituídas pelas de Buda, que estão lá até hoje. O que não está mais lá é o ouro e as pedras preciosas que dizem que ornamentavam os templos há milhares de anos atrás. Hoje eles são só pedras e ainda são magníficos, imagine quando foram construídos!
Crianças brincando nas ruínas (enquanto os pais trabalham)
Angkor Wat foi especial porque finalmente o Caio pode fazer o que ele veio até o Cambodia fazer: brincar de Rayden com chapéu estilo indochina e tudo, em frente ao Angkor Wat, o cenário do filme do Mortal Kombat. Fizemos um videozinho desse momento tão importante e ficou sensacional! :-)
Caio diz... sério, ser arrastado pra uma ditadura no sudeste asiático e ir pra ruínas de templos? tinha que compensar! :-D
Rayden wins!
Só uma coisa nos deixou chateados no parque: ao chegar lá, descobrimos que naquele dia estava acontecendo a meia maratona anual de Angkor, uma corrida dentro dos parques que passa pelos templos. E a gente não sabia… não sei se estaríamos preparados para correr 21km, mas participar de uma corrida em um lugar desses teria sido inesquecível. Mais uma vez ficamos com aquela saudade incontrolável de nossas corridinhas!
Caio diz... como ruínas não sei, mas o parque é muito bonito e absurdamente grande, uma meia maratona de manhã cedo ali deve ter sido incrível… perdemos
Uma das entradas no Mercado Noturno
Após a visita ao parque, ficamos mais uns dias por ali pra aproveitar um pouco mais a cidade. O Caio passou o aniversário na cidade, que rendeu até um café da manhã surpresa com os cookies preferidos dele, frappuccino da Starbucks que eu encontrei em um mercadinho daqui, um Skittles e um cartãozinho. Estando longe de casa é o que eu podia oferecer.
Caio diz... cookies com dobro de chocolate amargo da Pepperidge Farm, nham nham
Ah, e pra aliviar o peso da idade, ele aproveitou o preço baixo (3 dólares por meia hora), e experimentou a massagem aqui do Cambodia, que segundo ele é muito diferente da massagem tailandesa que experimentamos em Koh Phi Phi, mas igualmente boa. Eu fiz meia hora de massagem nos pés e saí de lá flutuando!
Caio diz... peso da idade é a sua bunda!
Uma avenida paralela ao rio, bem arborizada e limpa
No nosso último dia na cidade encontramos um restaurante em um shopping, super por acaso, que era um buffet livre daqueles de esteira, tipo alguns que tem no Brasil servindo comida japonesa. Era barato, 6.5 dólares por pessoa, e resolvemos experimentar. Só que é um negócio muito diferente, em vez da comida pronta a esteira traz ingredientes crus (incluindo carnes e frutos do mar)! Cada pessoa escolhe o caldo que quer: normal, agridoce ou apimentado. Na sua frente fica uma panela em um fogãozinho e os ingredientes vão vindo na esteira, pra montar a própria sopa. Genial!
Tinha de tudo, vários tipo de peixe, camarão, lula, porco e carne vermelha, vegetais de todos os tipos, ovos, uns três tipos de cogumelos, macarrão, bolinhas de carne e peixe, sushi, folhas de tempero etc. E refrigerante, frutas e saladas à vontade! O limite de horário é de 80 minutos, mas depois de 1 hora já estávamos redondos de tanta sopa e nem usamos nosso tempo até o final. Uma delícia e diversão garantida! :-)
Caio diz... estou a salivar lembrando…
Em tempo, vale dividir a nossa percepção sobre negociação de preços no Cambodia. De longe aqui é o país que mais reduz o preço quando se negocia. Nos outros países da Ásia a gente jogava o preço pra 50% e no final acabava pagando 80%. Aqui, a gente joga o preço pra 50% e acaba pagando 60%. Em alguns casos a gente joga pra 50% e o cara já vende. Negocie, negocie muito, que dá pra conseguir baixar bastante os preços de tudo no Cambodia!
“Que diabos ela tá fazendo dentro do meu chapéu?!”
O Cambodia foi massa! Até o Caio, que não estava muito empolgado de início, disse ter gostado do país e ter ficado positivamente surpreso pela qualidade do turismo e estrutura que eles tem hoje já. Agora era hora de se mexer e voltar pra Bangkok, curtir nossos últimos dias em território asiático.
Caio diz... tá… dou o braço a torcer: visite o Cambodia, é da hora!
Dec 02 2013
danihabkostasia, cambodia, rtw
E vai chegando ao fim nossa jornada pelo sudeste asiático. Estamos no último país da Ásia antes de partirmos para a Oceania (ou somente Nova Zelândia, pra ser específico).
Não, não. Cambodia é bem diferente hoje, vamos tentar de novo.
A vontade de conhecer o Cambodia era principalmente pelos templos do Parque Arqueológico de Angkor, em Siem Reap. O plano era viajar diretamente pra lá, partindo de ônibus via Bangkok, porém encontramos um vôo super barato saindo de Singapura por 40 dólares por pessoa já com taxas, só que parando na capital Phnom Penh. Barato, evitando uma volta enorme no mapa, pra conhecer uma cidade a mais… por que não?
Tiramos o visto na chegada ao aeroporto, sem crise, 20 dólares por pessoa válido por um mês. O Caio estava sem foto e teve que pagar mais 2 dólares pra tirarem uma foto dele na hora. O aeroporto é pequeno e do lado de fora está o usual mar de taxistas e motoristas de tuk tuk te esperando pra te levar pro hotel do “primo” deles, que é sempre o melhor da cidade.
É bem assim, no sudeste asiático todo mundo tem um primo que tem um hotel, um primo que tem uma agência de viagens, um primo que é motorista e um outro primo que é guia. Incrível, tudo o que você precisa tem um primo que faz. Às vezes quando é um serviço que precisa de mais credibilidade, não é primo, é irmão. Que família grande eles tem!
Fugimos do mar de taxistas na porta e pegamos um tuk tuk do lado de fora do aeroporto mesmo. O preço para a cidade é de 7 USD por tuk tuk, e isso não adianta negociar porque é tabelado. Se você pegar o primeiro motorista que se apresentar eles podem querer cobrar 9 dólares, mas aí é só negociar. Mas menos que 7 não vai rolar a não ser que o hotel tenha mandado alguém te esperar lá (por 5 ou 6 dólares).
Frente do palácio no fim do dia.
A primeira impressão de Phnom Penh como cidade foi muito boa, avenidonas largas e relativamente limpas e, apesar do trânsito caótico característico das cidades asiáticas, eles pelo menos respeitam a mão da via, que no Cambodia é do lado direito como no Brasil. O que não é tão bom é a poeira, pois o ambiente ali é bem seco e todos os locais usam máscaras para andar na rua, porque incomoda bastante. É bom sempre andar com um lenço e, no pior dos casos, óculos escuros. Saindo das avenidonas principais a coisa fica mais confusa e caótica, nem as ruas sequencialmente numeradas ajudam a se encontrar por lá! Melhor ir devagar pra não se perder.
Não tínhamos reserva de hospedagem quando chegamos na cidade, mas já tínhamos feito uma pesquisa prévia e pedimos para o tuk tuk nos levar ao Happy Backpacker, que custava 10 dólares por dia e tinha ótimas referências no Hostel World. Chegando lá, cansados da viagem e sem banho há mais de 24 horas, pediram pra gente esperar 1 hora até o quarto ficar pronto. Ficamos esperando no terraço do hotel, onde tinha um bar cheio de gringos bebendo cerveja, jogando sinuca e tocava músicas da baladinha jovem. Não é muito a nossa cara. Uma hora de espera virou duas horas, e mais tarde, quando já estávamos instalados no quarto, pediram pra gente mudar pra outro porque no dormitório ao lado estava um grande grupo de excursão de uma galera bem novinha e eles não se sentiam confortáveis conosco dormindo no quarto ao lado! Gringos cuzões! Tudo bem que a gente tava sem banho, mas jamais esperaria que a nossa aparência de mochileiros cansados e suados seria ameaçadora. Deve estar feia a coisa mesmo!
Caio diz... o grupo era maioria meninas européias com cara de enjoadas, deve ser por isso
O ambiente muito ocidental, festinha, bebedeira e a nossa expulsão do quarto fez a gente decidir mudar de mala e cuia para outro lugar na manhã seguinte, umas quadras mais pra frente. Pratna Guesthouse, recomendamos! O ambiente que encontramos lá é bem diferente e pagamos os mesmos 10 dólares por um quarto bem fresquinho com banheiro próprio e até TV a cabo. O pessoal que trabalha no hotel são a simpatia em pessoa.
Uma das milhares de ruas movimentadíssimas de Phnom Penh
Aliás, taí uma coisa que encontramos no Cambodia e que gostamos muito: o povo é muito simpático! Eles são tímidos, chegam até a ser ingênuos em alguns casos, dão risada de tudo e te tratam muito bem! Tudo lá se paga depois, bem depois, eles confiam em você de olhos fechados. Na rua, mesmo com a onda de motoristas de tuk tuk e vendedores vindo te abordar, a gente sempre respondia com um “não, obrigado”, ao invés de simplesmente ignorá-los, dada a simpatia com que eles chegavam na gente. Ao menos na Ásia, as pessoas do Cambodia ganharam o prêmio de simpatia.
Na beiradinha do famoso rio Mekong
Esse jeito de ser dos cambodianos não é visto só no jeito que eles tratam você, mas no jeito que eles vivem mesmo. Um dos passeios mais legais que fizemos todos os dias na nossa passagem por Phnom Penh foi simplesmente caminhar pela orla do Mekong à noite, e lá é onde se encontram muitos locais após o pôr-do-sol. No primeiro dia vimos uma multidão mais à frente da orla, e pensamos que era uma festa ou algo assim. Chegando mais perto vimos que era um grupo enorme de senhoras fazendo ginástica ao som de música eletrônica bem animadas. Todos dançando sincronizados (alguns nem tanto) os passos ditados pelo professor lá na frente. Tinha umas senhorinhas que dançavam super desengonçadas, mas não tavam nem aí, era uma graça de ver. Por toda a orla se vê gente jogando petecas com raquetes, muito populares por lá, e outros apenas de bobeira curtindo um ventinho, já de pijama.
Nos programas de TV, que são para a gente muito engraçados, toda hora passa um programa de calouros cantando muito desafinados, acompanhados de dançarinos fora de sincronia, contentes de estar lá. Mas ninguém liga, porque eles são assim mesmo!
Caio diz... dado que são inocentes e vivem numa ditadura, acho melhor dizer que eles não tem muitas opções de mídia de massa heheh
Passeio na orla do rio
Essa impressão do povo cambodiano faz a gente esquecer um pouco a triste realidade pela qual o país passou na década de 70, quando o regime comunista torturou e matou milhões de pessoas no país. As principais atrações turísticas da cidade são relacionadas com este período: o museu do genocídio, uma escola que foi transformada em presídio e local de tortura na época e os campos de execução, outro local isolado onde as pessoas contra o regime eram levadas para serem torturadas e mortas. O Caio não quis ir em nenhum dos dois locais e deixou a decisão na minha mão, e eu confesso que fiquei muito dividida. Ao mesmo tempo em que eu acho importante vivenciar isso, essa realidade triste e chocante ia mexer muito comigo e eu não sabia se queria que isso acontecesse. Cheguei a sair na rua pra procurar um tuk tuk pra ir no museu, mas acabei desistindo.
Caio diz... além de dar dinheiro de turismo mórbido pra políticos duvidosos né
Não é preciso visitar esses locais, porém, pra ver a dura realidade do país que vive em regime de ditadura até hoje. A pobreza é visível em todos os cantos, na falta de estrutura geral, pessoas pedindo dinheiro na rua e crianças vendendo coisas para os turistas, de manhã à noite. De longe, isso é o que mais me comove. Comprei uma pulseirinha de uma menina de uns 4 anos, que nem devia saber o que estava fazendo ali, mas essa é a vida que ela conhece e que foi imposta a ela desde o dia que ela nasceu, com pouca ou nenhuma chance de ser diferente, e isso é muito triste. O pior mesmo é ver a quantidade de gringos na rua com suas acompanhantes cambodianas muitos anos mais jovens do que eles, todas arrumadas e sendo ostentadas como um troféu, um acessório pra ser exibido por aí…
Caio diz... acho que essas cenas dos gringos com as locais foram as mais nojentas na viagem toda, dá vontade de socar esses caras, puta que me pariu
Entrada do mercadão
Fugindo das atrações turísticas relacionadas com o genocídio não sobra muito para se conhecer na cidade. Visitamos por fora o Palácio Real, que custava 5 dólares para entrar. Vale a pena a passadinha lá, pois é bem bonito e tem uma arquitetura muito característica do Cambodia. O Mercado Central é bacana pelas lojinhas mas o preço de tudo é BEM turístico, mesmo negociando não conseguimos chegar a um valor nem um pouco parecido com os preços da cidade como um todo, especialmente para comidas. Na saída da cidade passamos pelo Wat Phnom, um templo que não fomos porque tinha que pagar pra entrar, só que por fora o templo é lindo e é rodeado por um jardim bem legal, se soubéssemos teríamos ido pois ali é grátis passear!
Feirinha noturna da cidade
Chegamos em Phnom Penh em uma terça-feira e iríamos ficar até quinta, mas quando pesquisamos sobre a feira noturna que rola na cidade às sextas e sábados, resolvemos extender nossa estadia em dois dias só pra poder participar. Comida, sabe como é. A gente ama feirinhas, são sempre uma das melhores coisas de toda cidade que passamos, e valeu a pena a espera! A feira é numa praça grande, e são várias barraquinhas vendendo de tudo, e depois de escolher o que comer as pessoas sentam em um tapetão enorme pra comer, todo mundo junto no chão, muito legal! Rola até um show ao vivo de calouros pra animar o local, e as comidas todas são muito baratas. Um prato de macarrão local ou arroz frito sai por USD 1.25 e eles vendem uma infinidade de espetinhos (de carne, frango, lula) e empanados variando de USD 0.25 a USD 1.5.
A comida do Cambodia é uma delícia e lembra um pouco a tailandesa, com a diferença que eles comem muito mais coisas fritas e empanadas. Na feirinha noturna encontramos desde o usual frango frito e camarão frito até as bizarrices brócolis frito, vagem frita, milho frito e os curiosos nata de leite frita e sorvete frito! E o pior: a comida já está empanada e frita, e quando eles perguntam se você quer que esquente a maneira de esquentar é… fritar de novo! Haja estômago!
Foi no Cambodia também que pela primeira vez experimentamos formigas e grilos. Jantamos um prato típico cambodiano de carne refogada com formigas vermelhas, que é uma delícia e as formigas dão um tempero, uma crocância, e de sobremesa biscoitos de grilo! O biscoito era doce e os grilhinhos quase não têm gosto dentro dele, é um lance mais de textura mesmo. A gente gostou!
Caio diz... parece coisa de miserável dizer isso mas cara, formigas refogadas com carne é MUITO bom! excelente!
Pra quem curte uma comida mais normal, experimentamos a sopa de frango com folha de bananeira e sopa de repolho com porco, ambas ótimas, e o Loc Lac que é aquele prato básico que em cada país da região tem um nome mas é tudo cópia um do outro: arroz, salada, ovo frito por cima e carne refogada. Ah, e pra acompanhar vale a pena comprar um chopp Angkor, que custa 50 centavos por caneca de meio litro e é uma delícia!
Falando em preços, o país inteiro aceita dólar, uma facilidade muito boa mas também muito perigosa. Eles tem duas moedas oficiais parece, e 1 dólar custa 4000 rieis. Normalmente transações são feitas em dólar, mas não existem moedas, então os centavos são devolvidos sempre em rieis. Se a conta deu USD 1.5, por exemplo, você paga com 2 dólares e recebe de troco 2000 rieis. É prático, mas tem que tomar cuidado, porque alguns lugares inventam a própria conversão de moeda pra poder cobrar diferente dos turistas, é sempre bom ficar de olho no preço em rieis e ver se a conta bate com o preço em dólar. Pelo menos é fácil dividir sempre por 4 o dólar e usar as notas de 1.000 deles como 25 centavos, se acostuma rápido.
Escurecendo em Phnom Penh…
Para uma cidade que caiu de páraquedas no nosso roteiro, Phnom Penh nos surpreendeu e nos ensinou muito. O Caio não tinha vontade de conhecer o Cambodia, foi o primeiro país que visitamos 100% por minha causa e não sabia como seria, mas encontrei em Phnom Penh muito mais do que eu esperava encontrar.
Caio diz... pra um país historicamente turbulento o Cambodia começou bem até, admito
Como estávamos guardando nosso dinheiro para a visita dos templos de Siem Reap, passamos 5 dias fazendo atividades simples, muito mais observação do que turismo, e pra mim isso foi suficiente pra dizer com gosto que eu conheço e vivenciei o Cambodia.
Nada mal hein!
Agora, hora de partir pra Siem Riep pra completar essa experiência que começou muito bem em Phnom Penh!
Dec 01 2013
dani e caioasia, rtw, singapura
Olha… a gente queria ter escrito menos sobre Singapura, mas não deu não. Aperta o cinto e vai com fé.
Singapura fuck yeah!
Uma viagem de 8 horas de trem separa Kuala Lumpur, na Malásia, de Singapura, mas a mudança de ambiente é inacreditável. Apesar de já ter feito parte do território da Malásia, os dois países só têm em comum a presença do mix cultural de malaios, chineses e indianos (sem falar na infinidade de gringos que vão pra lá pra se dar bem), mas em todo o resto entrar no território de Singapura é como entrar em uma bolha.
Pegamos o trem na Kuala Lumpur Sentral pagando só 11 dólares por pessoa pelo assento de segunda classe. E possível fazer o mesmo trajeto à noite por 25 dólares por pessoa em uma cabine com cama. Uma barganha! Até mesmo os locais acharam inacreditável o preço. O casal que nos hospedou em Singapura nem sequer sabia que existia um trem que fazia esse trajeto, ainda mais tão barato, veja só.
Logo na imigração na entrada do país já deu pra sentir o clima tenso de proibições e rédea curta de Singapura. Filas organizadas com muitos seguranças, tudo perfeitamente limpo (vale ressaltar que era uma estação de trem, que normalmente são imundas), regras e multas estampadas pelas paredes do saguão da estação. Todo mundo em silêncio absoluto sem se mexer quase. Deu até medo! Na minha vez, Dani, a atendente da imigração olhou os carimbos no meu passaporte e perguntou a quanto tempo eu estava viajando. Quando respondi, ela perguntou como meu chefe tinha deixado eu viajar por tanto tempo. Gelei! No final das contas era mais curiosidade dela, ela liberou minha entrada numa boa. Mas não sem antes soltar um “nossa, você pediu demissão só para viajar?” com aquele tom de reprovação. Desculpa, moça!
E é assim mesmo por lá, tudo parece girar em torno do trabalho. A população de estrangeiros vivendo pra trabalhar lá é 60% do total, a maioria vindo de outros países asiáticos mesmo, que chegam ao país para trabalhar e juntar uma grana e acabam não voltando mais pra casa. O salário mínimo é altíssimo, perto de 3 mil dólares, mas obviamente os custos de vida também. Segundo um pessoal que conhecemos, o custo de vida para manter uma família com dois filhos por lá é de aproximadamente 12 mil dólares por mês! E pra tirar a licença para dirigir por lá, antes mesmo de comprar o carro, é preciso pagar uma taxinha de 70 mil dólares. Barganha pra eles só se levar em consideração que Singapura tem a maior porcentagemm de milionários do mundo: 1 em cada 6 moradias tem mais de um milhão no banco, mas nem dá pra saber quem é e quem não é, milionários comem em botecos na rua e andam de metrô lá, é bizarro como são mão de vacas mesmo, e não “socialmente conscientes” como aprendemos mais tarde.
Mas não tem como não dizer que a cidade funciona. E funciona muito bem! É impressionante a limpeza do lugar, a boa sinalização e a organização. O transporte público é um dos mais impecáveis que já utilizamos, e com um preço justo pela qualidade que entrega, entre 1 e 2 dólares por viagem dependendo da distância. Para irmos para o aeroporto, que fica a 45 minutos de metrô, pagamos apenas 2 dólares por pessoa. E pra manter toda essa organização, é claro, muitas regras: não pode comer nem beber perto do metrô, não pode atravessar fora da faixa em rua alguma, em alguns lugares tem até regra não escrita de não poder rir alto, não pode nem mascar chicletes em público. E se fizer errado, multa! A multa por comer em local público, por exemplo, é de 1000 doletas. Mascou chicletes e alguém viu… 500 doletas. Ai meu bolso… porque lá multam mesmo, ou multavam e condicionaram bem as pessoas, porque todos andam MUITO na linha.
O que marcou bastante nossa passagem por Singapura foi a interação com os locais. Ficamos hospedados na casa de um casal de vietnamitas que moram lá há 11 anos e que conhecemos durante a trilha no Nepal. Passamos um fim de tarde conversando com eles e eles já nos convidaram para ficar na casa deles, super receptivos! Eles moram em Tiong Bahru, o primeiro bairro planejado da cidade, super tradicional e considerado até meio hipster, mas o que vimos foram só muitos prédios residenciais, grandes poleiros de alto padrão.
Na nossa primeira noite por lá eles nos levaram por um passeio a pé pela Marina Bay, onde tem o circuito de F1. Passamos até pela escultura do Pensador do Rodin que está em exposição no saguão de um prédio, sem proteção nenhuma. Eu, Dani, achei estranho essa ser a escultura original, pois eu tinha certeza que tinha visto a original no museu do Vaticano… pesquisando, descobrimos que a escultura tem 30 réplicas originais!
Caio diz... porra, foi incrível ver essa estátua no meio do vão entre prédios no centro, tocável! Sei lá como justificam ser uma dos originais, mas tá valendo
O tal prédio na esquerda com a ponte “DNA” e o museu de ciências
Na mesma noite, subimos no topo do Marina Sands Resort, aquele prédio famoso como um navio no topo. E o melhor de tudo, de graça! O preço normal para subir é 25 dólares, mas o casal sabia que naquela noite estava rolando um evento por lá e a subida era gratuita, uhul! A vista lá de cima é muito bonita, e é neste prédio que tem aquela piscina que não tem bordas e parece que a água cai na cidade abaixo e as pessoas estão nadando no céu.
O dia seguinte foi dia de encontrar mais locais! Já comentamos em outro post que decidimos ir para Singapura quando estávamos na Suíça e conhecemos um chinês que mora lá. Marcamos de encontrar ele e passamos um dia muito legal juntos! Começamos o passeio dando uma volta por Raffles, o distrito comercial de Singapura. Em seguida eles nos levou para almoçar em Chinatown para experimentarmos o chili crab, um caranguejo apimentado bem típico de lá, e tomar caldo de cana. Achamos o prato muito bom na hora, mas a pimenta quase nos matou no dia seguinte. À tarde fomos com ele no Gardens By The Bay, e fez questão de pagar as entradas caras porque a mãe dele trabalhava não sei onde que dava descontos. Ótimo! Aliás, fantástico!
Dentro de uma estufa do Gardens By The Bay
Gardens By The Bay é simplesmente incrível. Eu, Caio, achei um dos parques mais legais que já visitei. As estufas deles são absurdamente enormes, em formatos de conchas, com plantas separadas por áreas continentais, tudo bem informativo e bem feito. Uma delas inclusive é tão alta que tem uma cachoeira de 7 andares de altura dentro e você passeia por através dela! Do lado de fora eles construíram estruturas tipo árvores do Avatar pra trepadeiras cresceram por elas. Cara, é demais.
Saída dos jardins com estufa e roda gigante (maior do mundo atualmente)
Quando já estávamos indo embora, passamos pela concentração de uma corrida de rua, no fim da ponte da esplanada de lá. Ficamos um tempo vendo a galera e pra nós foi um momento nostálgico, deu muita saudade de correr e vontade de entrar no grupo e sair correndo junto. Saindo de lá, fomos encontrar o pessoal da casa e alguns amigos e irmãos deles em um restaurante onde comemos uma sopa de costelinha de porco muito boa.
Caio diz... pense em um caldo de água quente com tempero de porco e costelas, mais nada, simples porém muito foda… e gordo
O irmão da menina nos hospedando estava na cidade junto com sua “equipe” para competir em um campeonato nacional de dança de rua e durante o jantar eles ficaram encantados com a nossa viagem. No final, acabaram fazendo um video entrevistando a gente para incentivar os jovens vietnamitas a viajarem mais. Foi muito engraçado, eles se divertiram um monte às nossas custas! Das nossas conversas saiu até um bordão que eles adoraram e ficaram repetindo muitas vezes durante a noite: no idea is stupid as long as you make it true. É clichê, mas é verdade.
Nós inventamos bordões nas horas vagas
A noite continuou com a galera toda indo tomar vinho e papear em uma ponte perto do bairro de bares boêmios de lá. “Tomar vinho na ponte” não me pareceu combinar nem um pouco com o estilo de Singapura, mas não é que até isso é organizado? Os bares lá são caríssimos: USD 20 ou mais por uma coquetel, então é uma coisa comum entre eles sentar para beber ali fora na ponte turística mesmo. Mas só ali. Em outros lugares é proibido. Estava lotado de gente, não só locais como turistas também. Ficamos lá até 1 da manhã e voltamos andando pra casa, conversando, todos meio alegres menos o Caio que não bebe, hehe.
Dando continuidade a saga de encontros com locais, reservamos um tempinho para encontrar um couchsurfer nativo de Singapura que tinha mandado uma mensagem pra gente uns dias antes nos convidando para um almoço. Ele embarcando para o Brasil em alguns dias e estava apavorado com questões de segurança, coitado. O pior de tudo é saber que as preocupações dele fazem sentido… conversamos bastante com ele e demos várias dicas, acho que no final conseguimos tranquilizá-lo um pouco! Singapuranos são mais “ingênuos” com segurança pessoal na rua do que europeus, vai vendo só o que dá um deles ir visitar o Brasil.
Fim do dia lindo perto da esplanada em Marina Bay
Saindo um pouquinho sozinhos pela cidade fomos conhecer dois museus. O primeiro deles, o Centro de Ciências, parecia prometer pela idéia geral mas foi uma decepção. Caio quase foi embora assim que viu o que era o lugar: muito infantil, péssima organização das amostras que chega a ser caótico, e uma parte grande demais dedicada à ciência de guerra e destruição, o que foi bastante bizarro pra mim, Caio. Já o segundo, Museu das Civilizações Asiáticas, foi animal! Demos muita sorte, chegamos lá meia hora antes de começar um tour com guia grátis, o que foi muito explicativo e fez valer ainda mais a pena. Imperdível e uma ótima referência histórica pra quem está viajando por outros países da Ásia.
No final da nossa estadia na cidade ainda não havíamos encontrado a pulseirinha da Dani, que é sagrada (uma de cada país, obrigatoriamente). Resolvemos dar uma passada na Arab Street, o bairro com influência árabe que é provavelmente o único lugar onde é possível encontrar essas coisas na cidade. Singapuranos mesmo não gostam de andar com penducarilhos. Acabamos comprando a pulseira numa lojinha com artigos colombianos, de um romeno que morou nos Estados Unidos. Tudo isso em Singapura, com todos falando inglês enrolado.
Haji Lane no bairro árabe
Inglês, inclusive, é uma coisa curiosa lá. Todo mundo fala inglês, e as pessoas que tivemos contato falam inglês muito bem, mas existe um dialeto por lá que é muito curioso, o singlish. Basicamente, é uma mistura de inglês com sotaques e expressões das línguas da região. Por exemplo, em vez de “really?”, com espanto, eles falam “really lé” com entonação e a resposta afirmativa “really!” seria “really má!”.
Caio diz... na verdade singlish tá mais pra crioulo, é uma língua nativa deles e pelo jeito do povão, mistureba violentíssima de inglês com malaio, chinês e vocabulário de outros lugares, super difícil de entender
Como nenhuma visita é completa se não tiver comida envolvida, experimentamos além do tradicional chili crab outras duas sopas que entraram na lista das comidas que precisaremos fazer em casa: double fish e you mian. Double fish é sopa de macarrão asiático com peixe cozido, ervas, alho frito e vegetais e mais peixe, só que frito empanado. A you mian é um macarrão you mian (acho) com vegetais e ovos cozidos na sopa já pronta. Ao contrário do resto da Ásia, é muito difícil encontrar sucos de fruta por lá mas eu, Dani, fiz a festa com os diversos tipos de chá gelado que eles servem. O melhor de todos foi o bubble tea, ou chá com perl jelly como dizem, um chá de origem vietnamita que é servido com bolinhas pretas gelatinosas feitas de tapioca. Curioso e delicioso!
Caio diz... putz, quase vomitei só de lembrar, é escroto!
Prédios lá são sempre cheios de plantas e modernosos
Mesmo sendo rápida, nossa visita a Singapura foi bem completa, como dá pra perceber pelo tamanho do post bem empolgado. Fizemos turismo, conhecemos muita gente local, nascidos no Vietnã ou na China ou em Singapura, experimentamos várias comidas, andamos muito a pé e muito de trem e saímos de lá com a sensação de dever cumprido. Terminamos o último dia andando pelo centro para dar tchau para a “fine city”, onde tudo é perfeito, às vezes até demais e acaba se transformando em multa no seu bolso.
Orla do rio com trocentos restaurantes e bares hipsters
No fim das contas fica esse sentimento meio estranho de Singapura: uma cidade tão certinha que muitas vezes parece artificial demais. Todos só sabem trabalhar 10, 12, 14 horas por dia, só juntam dinheiro, mas tudo funciona bem, e ninguém se lembra de aproveitar a própria cidade. Os nativos até parecem evitar se comportar fora do padrão por pura “pressão” do que tá a sua volta, como se estivesse sempre andando numa loja de cristais. Por outro lado, é o centro financeiro da Ásia, uma das cidades (estado) mais ricas da região e absurdamente diversificada em etnias, línguas e costumes que valeu a pena conhecer. Se quiser saber mais sobre esse sentimento estranho de Singapura, leia sobre o artigo do William Gibson sobre a cidade: uma Disneilândia com pena de morte (sim, é isso mesmo).
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