It’s a holiday in Cambodia!
Dec 02 2013
E vai chegando ao fim nossa jornada pelo sudeste asiático. Estamos no último país da Ásia antes de partirmos para a Oceania (ou somente Nova Zelândia, pra ser específico).
Não, não. Cambodia é bem diferente hoje, vamos tentar de novo.
A vontade de conhecer o Cambodia era principalmente pelos templos do Parque Arqueológico de Angkor, em Siem Reap. O plano era viajar diretamente pra lá, partindo de ônibus via Bangkok, porém encontramos um vôo super barato saindo de Singapura por 40 dólares por pessoa já com taxas, só que parando na capital Phnom Penh. Barato, evitando uma volta enorme no mapa, pra conhecer uma cidade a mais… por que não?
Tiramos o visto na chegada ao aeroporto, sem crise, 20 dólares por pessoa válido por um mês. O Caio estava sem foto e teve que pagar mais 2 dólares pra tirarem uma foto dele na hora. O aeroporto é pequeno e do lado de fora está o usual mar de taxistas e motoristas de tuk tuk te esperando pra te levar pro hotel do “primo” deles, que é sempre o melhor da cidade.
É bem assim, no sudeste asiático todo mundo tem um primo que tem um hotel, um primo que tem uma agência de viagens, um primo que é motorista e um outro primo que é guia. Incrível, tudo o que você precisa tem um primo que faz. Às vezes quando é um serviço que precisa de mais credibilidade, não é primo, é irmão. Que família grande eles tem!
Fugimos do mar de taxistas na porta e pegamos um tuk tuk do lado de fora do aeroporto mesmo. O preço para a cidade é de 7 USD por tuk tuk, e isso não adianta negociar porque é tabelado. Se você pegar o primeiro motorista que se apresentar eles podem querer cobrar 9 dólares, mas aí é só negociar. Mas menos que 7 não vai rolar a não ser que o hotel tenha mandado alguém te esperar lá (por 5 ou 6 dólares).
A primeira impressão de Phnom Penh como cidade foi muito boa, avenidonas largas e relativamente limpas e, apesar do trânsito caótico característico das cidades asiáticas, eles pelo menos respeitam a mão da via, que no Cambodia é do lado direito como no Brasil. O que não é tão bom é a poeira, pois o ambiente ali é bem seco e todos os locais usam máscaras para andar na rua, porque incomoda bastante. É bom sempre andar com um lenço e, no pior dos casos, óculos escuros. Saindo das avenidonas principais a coisa fica mais confusa e caótica, nem as ruas sequencialmente numeradas ajudam a se encontrar por lá! Melhor ir devagar pra não se perder.
Não tínhamos reserva de hospedagem quando chegamos na cidade, mas já tínhamos feito uma pesquisa prévia e pedimos para o tuk tuk nos levar ao Happy Backpacker, que custava 10 dólares por dia e tinha ótimas referências no Hostel World. Chegando lá, cansados da viagem e sem banho há mais de 24 horas, pediram pra gente esperar 1 hora até o quarto ficar pronto. Ficamos esperando no terraço do hotel, onde tinha um bar cheio de gringos bebendo cerveja, jogando sinuca e tocava músicas da baladinha jovem. Não é muito a nossa cara. Uma hora de espera virou duas horas, e mais tarde, quando já estávamos instalados no quarto, pediram pra gente mudar pra outro porque no dormitório ao lado estava um grande grupo de excursão de uma galera bem novinha e eles não se sentiam confortáveis conosco dormindo no quarto ao lado! Gringos cuzões! Tudo bem que a gente tava sem banho, mas jamais esperaria que a nossa aparência de mochileiros cansados e suados seria ameaçadora. Deve estar feia a coisa mesmo!
O ambiente muito ocidental, festinha, bebedeira e a nossa expulsão do quarto fez a gente decidir mudar de mala e cuia para outro lugar na manhã seguinte, umas quadras mais pra frente. Pratna Guesthouse, recomendamos! O ambiente que encontramos lá é bem diferente e pagamos os mesmos 10 dólares por um quarto bem fresquinho com banheiro próprio e até TV a cabo. O pessoal que trabalha no hotel são a simpatia em pessoa.
Aliás, taí uma coisa que encontramos no Cambodia e que gostamos muito: o povo é muito simpático! Eles são tímidos, chegam até a ser ingênuos em alguns casos, dão risada de tudo e te tratam muito bem! Tudo lá se paga depois, bem depois, eles confiam em você de olhos fechados. Na rua, mesmo com a onda de motoristas de tuk tuk e vendedores vindo te abordar, a gente sempre respondia com um “não, obrigado”, ao invés de simplesmente ignorá-los, dada a simpatia com que eles chegavam na gente. Ao menos na Ásia, as pessoas do Cambodia ganharam o prêmio de simpatia.
Esse jeito de ser dos cambodianos não é visto só no jeito que eles tratam você, mas no jeito que eles vivem mesmo. Um dos passeios mais legais que fizemos todos os dias na nossa passagem por Phnom Penh foi simplesmente caminhar pela orla do Mekong à noite, e lá é onde se encontram muitos locais após o pôr-do-sol. No primeiro dia vimos uma multidão mais à frente da orla, e pensamos que era uma festa ou algo assim. Chegando mais perto vimos que era um grupo enorme de senhoras fazendo ginástica ao som de música eletrônica bem animadas. Todos dançando sincronizados (alguns nem tanto) os passos ditados pelo professor lá na frente. Tinha umas senhorinhas que dançavam super desengonçadas, mas não tavam nem aí, era uma graça de ver. Por toda a orla se vê gente jogando petecas com raquetes, muito populares por lá, e outros apenas de bobeira curtindo um ventinho, já de pijama.
Nos programas de TV, que são para a gente muito engraçados, toda hora passa um programa de calouros cantando muito desafinados, acompanhados de dançarinos fora de sincronia, contentes de estar lá. Mas ninguém liga, porque eles são assim mesmo!
Essa impressão do povo cambodiano faz a gente esquecer um pouco a triste realidade pela qual o país passou na década de 70, quando o regime comunista torturou e matou milhões de pessoas no país. As principais atrações turísticas da cidade são relacionadas com este período: o museu do genocídio, uma escola que foi transformada em presídio e local de tortura na época e os campos de execução, outro local isolado onde as pessoas contra o regime eram levadas para serem torturadas e mortas. O Caio não quis ir em nenhum dos dois locais e deixou a decisão na minha mão, e eu confesso que fiquei muito dividida. Ao mesmo tempo em que eu acho importante vivenciar isso, essa realidade triste e chocante ia mexer muito comigo e eu não sabia se queria que isso acontecesse. Cheguei a sair na rua pra procurar um tuk tuk pra ir no museu, mas acabei desistindo.
Não é preciso visitar esses locais, porém, pra ver a dura realidade do país que vive em regime de ditadura até hoje. A pobreza é visível em todos os cantos, na falta de estrutura geral, pessoas pedindo dinheiro na rua e crianças vendendo coisas para os turistas, de manhã à noite. De longe, isso é o que mais me comove. Comprei uma pulseirinha de uma menina de uns 4 anos, que nem devia saber o que estava fazendo ali, mas essa é a vida que ela conhece e que foi imposta a ela desde o dia que ela nasceu, com pouca ou nenhuma chance de ser diferente, e isso é muito triste. O pior mesmo é ver a quantidade de gringos na rua com suas acompanhantes cambodianas muitos anos mais jovens do que eles, todas arrumadas e sendo ostentadas como um troféu, um acessório pra ser exibido por aí…
Fugindo das atrações turísticas relacionadas com o genocídio não sobra muito para se conhecer na cidade. Visitamos por fora o Palácio Real, que custava 5 dólares para entrar. Vale a pena a passadinha lá, pois é bem bonito e tem uma arquitetura muito característica do Cambodia. O Mercado Central é bacana pelas lojinhas mas o preço de tudo é BEM turístico, mesmo negociando não conseguimos chegar a um valor nem um pouco parecido com os preços da cidade como um todo, especialmente para comidas. Na saída da cidade passamos pelo Wat Phnom, um templo que não fomos porque tinha que pagar pra entrar, só que por fora o templo é lindo e é rodeado por um jardim bem legal, se soubéssemos teríamos ido pois ali é grátis passear!
Chegamos em Phnom Penh em uma terça-feira e iríamos ficar até quinta, mas quando pesquisamos sobre a feira noturna que rola na cidade às sextas e sábados, resolvemos extender nossa estadia em dois dias só pra poder participar. Comida, sabe como é. A gente ama feirinhas, são sempre uma das melhores coisas de toda cidade que passamos, e valeu a pena a espera! A feira é numa praça grande, e são várias barraquinhas vendendo de tudo, e depois de escolher o que comer as pessoas sentam em um tapetão enorme pra comer, todo mundo junto no chão, muito legal! Rola até um show ao vivo de calouros pra animar o local, e as comidas todas são muito baratas. Um prato de macarrão local ou arroz frito sai por USD 1.25 e eles vendem uma infinidade de espetinhos (de carne, frango, lula) e empanados variando de USD 0.25 a USD 1.5.
A comida do Cambodia é uma delícia e lembra um pouco a tailandesa, com a diferença que eles comem muito mais coisas fritas e empanadas. Na feirinha noturna encontramos desde o usual frango frito e camarão frito até as bizarrices brócolis frito, vagem frita, milho frito e os curiosos nata de leite frita e sorvete frito! E o pior: a comida já está empanada e frita, e quando eles perguntam se você quer que esquente a maneira de esquentar é… fritar de novo! Haja estômago!
Foi no Cambodia também que pela primeira vez experimentamos formigas e grilos. Jantamos um prato típico cambodiano de carne refogada com formigas vermelhas, que é uma delícia e as formigas dão um tempero, uma crocância, e de sobremesa biscoitos de grilo! O biscoito era doce e os grilhinhos quase não têm gosto dentro dele, é um lance mais de textura mesmo. A gente gostou!
Pra quem curte uma comida mais normal, experimentamos a sopa de frango com folha de bananeira e sopa de repolho com porco, ambas ótimas, e o Loc Lac que é aquele prato básico que em cada país da região tem um nome mas é tudo cópia um do outro: arroz, salada, ovo frito por cima e carne refogada. Ah, e pra acompanhar vale a pena comprar um chopp Angkor, que custa 50 centavos por caneca de meio litro e é uma delícia!
Falando em preços, o país inteiro aceita dólar, uma facilidade muito boa mas também muito perigosa. Eles tem duas moedas oficiais parece, e 1 dólar custa 4000 rieis. Normalmente transações são feitas em dólar, mas não existem moedas, então os centavos são devolvidos sempre em rieis. Se a conta deu USD 1.5, por exemplo, você paga com 2 dólares e recebe de troco 2000 rieis. É prático, mas tem que tomar cuidado, porque alguns lugares inventam a própria conversão de moeda pra poder cobrar diferente dos turistas, é sempre bom ficar de olho no preço em rieis e ver se a conta bate com o preço em dólar. Pelo menos é fácil dividir sempre por 4 o dólar e usar as notas de 1.000 deles como 25 centavos, se acostuma rápido.
Para uma cidade que caiu de páraquedas no nosso roteiro, Phnom Penh nos surpreendeu e nos ensinou muito. O Caio não tinha vontade de conhecer o Cambodia, foi o primeiro país que visitamos 100% por minha causa e não sabia como seria, mas encontrei em Phnom Penh muito mais do que eu esperava encontrar.
Como estávamos guardando nosso dinheiro para a visita dos templos de Siem Reap, passamos 5 dias fazendo atividades simples, muito mais observação do que turismo, e pra mim isso foi suficiente pra dizer com gosto que eu conheço e vivenciei o Cambodia.
Agora, hora de partir pra Siem Riep pra completar essa experiência que começou muito bem em Phnom Penh!