Mal havíamos começado nossa volta ao mundo e já tínhamos chegado na conclusão mais óbvia a que um mochileiro pode chegar: viajar é se entupir de comida! Claro, quando tem dinheiro, e quando dá, mas sim… basicamente viajar é comer os lugares. Nossas maiores lembranças não são de arquitetura, música, nem mesmo eventos com pessoas. Lembramos dos lugares com a barriga e decidimos matar a saudade da nossa RTW, que terminou meses atrás, com um novo projetinho: Mundo na Panela.
…ou os Grandes Prêmios Voltamundistas! No fim da viagem começaram a nos perguntar que lugares mais gostamos, onde não voltaríamos jamais, o maior problema que enfrentamos, a comida mais gostosa e tal, então numa conversa num barco (acho) fomos brincando de ver se concordávamos nas escolhas e saiu essa lista! Visitamos menos de 10% dos países que existem, mas já dá uma idéia do que se vê no mundo :-)
Certificado de vitória de cada lugar!
Melhor país pra relaxar: Tailândia :-D
Melhor país pra aventuras: Nepal, com uma menção honrosa pra África do Sul
Pior viagem que fizemos: Nepal pra Dani (de Kathmandu até o início do Circuito Annapurna em Besi Sahar) e no Egito (de Hurghada até Cairo de ônibus) pro Caio
Melhor cozinha: Espanha com folga, mas a França não perde muito em qualidade de ingredientes pra cozinhar em casa
Melhor prato que comemos: Moussaka na Grécia, embora um dal bhat nepalês com momos bem feitos dá água na boca!
Melhor transporte público: Suíça, mas a Espanha é páreo duro por ser bem boa e bem mais barata
População mais amigável: Grécia, fácil e sem pensar duas vezes!
Melhor relação de custo e benefício: Tailândia e África do Sul empatadas
Lugar com as melhores paisagens: Nepal em um empate técnico com a Nova Zelândia (dois extremos: um barato e outro caro)
Melhor infraestrutura de hospedagem: África do Sul tem albergues bons e baratos em todo canto, mas países asiáticos só perdem pela qualidade
Lugar mais estressante de todos: Egito
Melhor país pra mochileiros: Tailândia imbatível desde sempre nisso, com menção honrosa pra França por ter muito couchsurfing
Pior país pra mochileiros: Nova Zelândia, sim… contra a opinião geral, a não ser que você tenha muito dinheiro ou muito tempo pode se frustrar a cada curva lá
Maior surpresa no roteiro: Espanha, país incrível que não é muito bom de marketing
Maior decepção: Nova Zelândia, extremamente cara quase a ponto de não valer a visita se a Austrália hoje não fosse ainda mais cara
País pra voltar de novo só se for de graça: Singapura, ou talvez nem de graça
País pra voltar de novo no futuro: Grécia ;-)
Aguardando ansiosamente por uma outra oportunidade de viajar pra distribuir mais “prêmios” voltamundistas pros outros 90% de países que não visitamos :-D
No post sobre quanto custa dar uma volta ao mundo nós mencionamos que na Europa usaríamos um esquema pra mochileiros pegar ônibus e num post específico falaríamos quanto custa mochilar de ônibus pelo continente. Então, este é o post prometido :-)
Pegando nossas mochilas na última parada, afinal
O que é o Busabout?
Surgiu um problema quando procuramos como nos deslocar pelo maior número de países europeus possíveis com nosso orçamento restrito. Transporte entre países na Europa é uma droga, é caro demais. Achávamos que por ser tudo pequeno e perto seria fácil. Bom, de carro é, mas o custo pra alugar um é ridículo. Achamos o Busabout, um esquema próprio pra mochileiros rodando a Europa, de ônibus.
A idéia é você fazer loops pelas regiões do continente (ou mesmo ir 100% custom mas pagando mais). É como um circuito: horários e rotas fixas passando por umas 35 cidades no total, você marca um assento pro dia que quiser, aparece no local e vai junto. Uma beleza, e nada de terminais de ônibus velhos ou sujos. Pra quem é mochileiro ou sabe viajar de forma independente, na Europa não tem coisa melhor na minha opinião.
As cidades por onde o circuito passa são sempre famosas e não famosas, então é sempre uma boa usá-las como bases pra visitas mais longas em vilarejos ou cidades menores ao redor. Pela logística complicada compensa bem.
O custo da brincadeira
Antes de sair do Brasil compramos um loop do circuito deles no estilo hop-on hop-off (passando por 12 cidades) e custou R$ 1.100 por pessoa. Havia uma promoção pra “early birds” começando e ganhamos uns 20% de desconto. Se você dividir o preço do Busabout pelo número de lugares que você passa, no nosso caso, dá uns 37 euros por trecho, o que é um baita negócio pela qualidade do serviço que oferecem e pelas possibilidades de viagem que você ganha na Europa.
Por que ir de ônibus e não trem ou avião?
Simples: dinheiro. Mochileiros não tem o luxo de andar de trem com frequência. Na Europa um passe de trem equivalente em número de locais ao Busabout custaria por volta do dobro segundo nossas contas. Além disso trens dependem de estações, e cidades pequenas nem sempre tem uma internacional. Ou seja, vai fazer um milhão de conexões e ainda ter que ir “à pé” pro seu albergue de regiões nem sempre boa, problema frequente com trem.
Contra ir de avião dinheiro não convence muito, já que hoje em dia com promoções você voa por menos. A questão aqui é a organização de 3 meses por vários países como é o nosso caso. Você fica louco, sério. Além disso, mochileiros tão sempre com bagagem caindo pelas pernas e penduradas com fios como as minhas botas. Companhias de baixo custo na Europa cobram por bagagem, e geralmente só permitem algo do tamanho de mochila escolar… é isso ou paga-se um absurdo! Hmm não, eu passo.
Por tudo isso escolhemos o Busabout. Claro, o serviço tem vários problemas, mas não vamos focar neles nesse post porque achamos que eles são tão bobos perto do nível geral do que oferecem que ia ser exagerado da nossa parte. Só não recomendamos o Busabout com mais vontade porque muitos que usam ele são gringos playboys pagando de mochileiros, e ainda não é algo tão barato quanto viajar 100% por conta própria, ir comprando bilhetes conforme viaja, mas isso inviabiliza a Europa pra brasileiros com limite de 3 meses lá, então…
As coisas boas
Fazem bastante paradas e em lugares bons, uma a cada 2 ou 3 horas em média. Assim nem se sente uma viagem de 10 horas, fica muito tranquilo e suportável.
Preocupação beirando zero com a logística de por onde ir e como chegar, só dar a mochila pro motorista e relaxar assistindo filmes no ônibus.
Organização e horários do esquema é toda britânica, pontual e funcional. Dá pra confiar de olhos fechados.
Se estiver em pânico sem lugar pra dormir e estiver dentro do ônibus, dá pra pagar um wifi lá dentro pra procurar uma cama. Ou agendar e pagar com cartão direto com o guia um lugar no albergue deles. Ganha karma de segurança por isso.
Não importa onde esteja, todos do Busabout falam em inglês na Europa toda. E possuem infos valiosas de cada lugar, sobre história e o que fazer etc. É um ponto precioso pra quem tá perdido por aí.
As coisas mais ou menos ruins
Só tem australianos! Alguns são neozelandeses e uns poucos britânicos e americanos. Não vimos absolutamente ninguém de outra nacionalidade, até ficavam impressionados ao ver que éramos brasileiros. Falta diversidade de mochileiros.
Os albergues com quem eles tem parceria são todos chiques, estilosos e caros. Bom pra pagar em dólar australiano e libra, se é que me entende. Precisa sempre andar além com as mochilas, até um lugar mais barato ou couchsurfar.
O tipo dos guias é tão diferente um do outro que vira roleta russa. A chance de pegar um babacão ou alguém mala é de 50% sempre.
Muitas paradas obrigatórias. Totalmente compreensível pela dificuldade deles em viajar de noite, mas incomoda se você não quer parar em cidades menos conhecidas (não era nosso caso, mas fica o comentário).
O site é um pouco confuso em algumas áreas (como infos básicas de horário e pontos de encontro), mas o sistema pra agendamento de lugares, atividades e assentos funciona bem.
Micro-review do review
Os ônibus são todos muito limpos, mais do que esperávamos. É só chegar com seu passaporte na hora de embarcar, confirmar seu nome, sentar e viajar. Passam filmes e séries em 2 televisões do ônibus o tempo todo. Não tem banheiro dentro, mas param com frequência em estações com restaurantes, mercados e toaletes. Os motoristas são gente boa, vários são de portugal (e pelo menos 2 guias gringos dos ônibus aprenderam português). Não se viaja depois que está escuro, bom ponto positivo pra segurança e cansaço. Os assentos são confortáveis, mas não muito espaçosos pra quem tem mais que 1 metro e 80, como eu. A maioria esmagadora dos viajantes é mulher na casa dos 20 e poucos anos. Não fazem overbooking, nunca vimos os ônibus lotar completamente.
Veredicto
Achamos que vale muito a pena usar o Busabout. Pra nós valeu bastante! Tem seus problemas, claro, mas os benefícios compensam bastante pra quem tá mochilando pelo continente mais caro que tem pela primeira vez. Transporte na Europa é mais complicado que você imagina, mesmo os países sendo tão próximos, então o Busabout te tira essa responsabilidade da cabeça… o único problema é ter que gastar uma grana considerável com isso. Às vezes grana é exatamente o que mochileiros não possuem :-)
Lindonas! Da direita pra esquerda, na ordem que subimos: Lion’s Head (669m), Table Mountain (1086m) e Devil’s Peak (1000m). Essa foto delas tiramos da praia perto de Table View, uma região residencial de Cape Town. Parece que a Devil’s Peak é mais alta que a Table Mountain, mas isso é pelo ângulo da foto e porque ela tá mais na frente mesmo.
Mas vamos lá! Queríamos no mínimo subir de bondinho a Table Mountain pois sabíamos que dava e que lá no topo haviam mais trilhas pra fazer, até um reservatório de água que foi surpresa de ouvir dizer. Os amigos que fizemos na cidade disseram como eram as trilhas pra subir não uma, mas todas as montanhas, quando perguntamos se era possível.
Subimos as três no espaço de uma semana, e isso porque eu fiquei doente, gripado forte, senão daria até pra fazer uma montanha num dia e o seguinte de descanço e ainda assim não sentiria dores nem nada.
Lion’s Head
Como era a primeira pra subir, decidimos fazer tudo andando desde o nível do mar, onde fica o centro da cidade. Subimos a Long Street toda e depois a Kloof Nek, lá no alto ela se divide e pra direita se vai até a Lion’s Head, a trilha começa mesmo depois de uns metros ali. As outras montanhas não tiveram o mesmo mimo, fomos até a base delas com condução mesmo.
Metade da trilha é moleza, tem ponto de salto de paragliding no meio e a vista é pela rota espiral, ou seja, 360° na montanha, dá pra ver o mar até perder de vista, cidade, outras montanhas, o sul do cabo etc. Animal. O trecho final de granito é meio tenso, tava ventando forte e tem trechos de subir segurando em ganchos, escadinha de metal e passagens estreitas que precisavam de mão pra se segurar. E nos falaram que era a trilha mais fácil e rápida!
Sempre tinha alguém descendo ou subindo. Vimos até um velhinho e uma velhinha, em momentos diferentes, subindo CORRENDO aquela porra. Passaram pela gente e depois voltaram correndo também. Se foder! Fizemos ela em 2h lá do centro, 1h da base e depois 1h30m pra voltar pro centro.
A vista da Lion’s Head do alto pode não ser tão foda, mas a subida é incrível porque se vê de tudo. Medo de altura não combina com o trecho final dela.
Table Mountain
A belezoca da cidade. Tínhamos ido antes (ou depois?) no planetário e pudemos aprender um pouco sobre como ela foi formada, foi muito divertido. Além disso, aprendemos que ela é a única formação natural que tem sua própria constelação: Mons Mensae :-)
Eu poderia ficar horas falando sobre como essa montanha é incrivelmente linda de se ver de perto. E de longe. De qualquer lugar! O casal que nos hospedou em Cape Town havia subido ela pela rota por trás dela, bastante verde e não tão cheia de gente. Decidimos ir na humildade pela rota padrão, a garganta Platteklip. Só continuar andando além da estação do bondinho e chegará na trilha. Ela fica exatamente no meio horizontal da montanha.
O começo é íngreme mas dá pra ir sem problemas, seguindo um riacho e com sombra. Depois você sai da face da montanha e começa a subir a garganta em quase zigue-zague. Aí dói. Já estávamos na cidade há tempo suficiente pra saber que na sombra o frio é foda, então fomos subir a trilha com sol. Meio-dia. Tivemos que parar umas 2 ou 3 vezes pra água e descansar do sol forte.
Lá do alto, olhar pra baixo pela garganta, é muito animal. Por causa da posição dela você sobe a montanha meio que “de lado” pra quem a vê, não sei explicar. Vimos crianças e muitos cachorros subindo. Dá pra subir sem problemas, ela só é terrivelmente longa sob sol, mas é ridiculamente fácil. Quase uma escadaria em alguns momentos. Subi ela descalço o tempo todo e não tive problemas nem nos trechos de rochas ou terra, nem pra andar lá no topo.
Lá no alto encontramos um cara tocando um xilofone de madeira cuja melodia ouvíamos pela trilha. Eu ficaria um tempo ouvindo ele, mas tínhamos ainda que ir até o Maclear’s Beacon, o ponto mais alto da Table Mountain, pra dizer que subimos ela mesmo… fizemos a trilha em 2h com pausas e mais 30m até o ponto mais alto da montanha.
Devil’s Peak
Quase sairíamos de Cape Town sem “zerar” as montanhas. No fim de semana eu fiquei bem doente, com uma gripe forte, e a previsão do tempo (100% confiável e certeira) indicava chuva e nuvens pelo resto do nosso tempo lá. Obviamente subir a montanha doente não tava nos planos. Além disso, Devil’s Peak muda de tempo muito rápido, fecha geral com nuvens pesadas.
Mas eu melhorei bem no último dia, e o dia em si por acaso melhorou também! O tempo abriu forte no final da noite e planejamos subir o Devil’s Peak logo cedo, pois pegaríamos o ônibus pra Garden Route após o almoço. Deixamos as mochilas no carro de uma amiga e fomos, pegaríamos elas na volta.
O tempo abriu cedo mas como o sol ainda tava subindo, fizemos tudo pela sombra, congelando. Pode começar a subir ela pela Platteklip, lá no meio ela desvia pra esquerda pra Devil’s Peak, mas decidimos andar mais e subir mais íngrime mas mais perto pra não perder tempo. Siga pela rua da estação do bonde e ande. Ande muito. Bem depois da entrada pra Platteklip vai ver um recuo pra carro e uma plaquinha. É ali, a trilha começa meio que “pra trás”, então não é visível.
Achei a mais técnica de todas. A vista não é das melhores na subida. Se subiu a Table Mountain sabe que o Devil’s Peak é um ladeirão pra dentro da montanha, não pra fora. Mas… tem que subir. O trecho inicial é de degraus de pedra, que viram logo pra mato, aí vem uma série de riachos (até pelo meio da trilha) que podem estar fortes, como estavam pra gente devido as chuvas das noites anteriores. A temperatura da água é congelante, não pise nela pro seu próprio bem :-)
Lá no alto, quando chega numa ravina e acha que tá terminando, começa um trecho cheio de pedras e espinhos, foi um saco, bem desafiador eu diria. Dali dá pra ter uma vista quase didática da Platteklip, ela fica toda exposta e dá pra ver pessoas subindo ela, lá longe. A vista do alto é fenomenal. O casal que nos hospedou não tinha subido ela ainda, e garantimos que pela vista vale cada segundo! Tirando a imensidão da Table Mountain, claro, a vista da Devil’s Peak… malandro… malandro!
Se fosse botar em ordem, faria assim: por cansaço Devil’s Peak, Table Mountain e Lion’s Head; por vista de subida Lion’s Head, Table Mountain e Devil’s Peak; por topo Table Mountain e Devil’s Peak empatadas, e Lion’s Head; pela sensação de isolamento Devil’s Peak, Table Mountain e Lion’s head; pra fotos Lion’s Head, Table Mountain e Devil’s Peak.
Se (quando?) voltarmos pra Cape Town, precisamos agora fazer a trilha pra Chapman’s Peak que tem em Hout Bay, o lugar onde comi a melhor lula da minha vida, um paraíso escondido da região que dizem ser bem legal de subir.
Fim, melhor que isso acho que só no Nepal agora :-)
Desde antes de sabermos o que faríamos nas cidades por onde passaríamos na África do Sul, já tínhamos visto na internet e ficado na vontade de fazer uma viagem de trem por aqui. Achamos o Shosholoza Meyl, que aparentemente nem mesmos sulafricanos conhecem direito. É bem barato pelo que entrega, vale a pena, deu cerca de 70 reais por pessoa.
O trajeto que ele faz é cortando o país na diagonal em pouco mais de 24h, de Johannesburgo até Cape Town, no sudoeste do país. Na verdade eles tem várias rotas, mas essa é a mais comum aparentemente. Talvez na volta façamos Port Elizabeth para Johannesburgo.
Dica: não faça como nós, compre o bilhete online se possível ou com pelo menos 10 dias de antecedência. Fomos comprar na terça pra viajar na sexta, saindo 12:30 pra chegar no outro dia 15:30. Tudo perfeito, só que não tinha mais lugares… em nenhum trem, pra até as duas semanas seguintes! Suamos na hora, acabamos arrumando dois assentos simples, tipo ônibus, no meio do povão. Paciência.
No dia da viagem o animal aqui joga o bilhete no lixo e só descobre isso na estação, com 2h pro embarque. Imagine um cara branco, de camiseta vermelha, correndo que nem louco com botas pelo centro de Johannesburgo atrás de lotação pra voltar até onde estávamos dormindo e caçar o bilhete. Na volta, deu tudo certo, cheguei 30 minutos pro embarque e convencemos o “train manager” de que tava foda com mochilas, sem dormir e que pagaríamos um extra por uma cabine pra duas pessoas. Tinha uminha livre. Deu certo. E nem precisamos pagar o extra!
O trem é animal, coloridão, corre bem entre cidades distantes, é limpo e a cabine tem tamanho bom. Tô digitando isso após 10 horas de viagem e nem sentimos nada, muito melhor que avião (se aproveita mais) e ônibus (não cansa nada). Pra quem não quiser levar comida de mercado como a gente, tem um vagão cozinha e outro restaurante onde servem de tudo um pouco. Preço de fast food no Brasil. Ou pode levar sua comida, pra economizar, como fizemos…
Daqui algum tempo chegamos em Kimberley, metade da viagem, e poderemos dormir um pouco na cabine. Ela tem 2 espelhos grandes, assentos tipo beliche, compartimento pra mochilas, um aquecedor, 4 ganchos pra pendurar coisas, uma tomada 110/220 supostamente só pra barbeadores, uma pia simples com água quente/fria e uma mesa dobrável. Além de uma janela bem legal: de noite não dava pra ver onde terminava o chão e onde começava o céu de tão escuro, lotado de estrelas :-)
O trecho final, que sai da área deserta pra montanhosa, é inacreditável. A paisagem muda absurdamente e as montanhas de rocha e nada de vegetação são gigantescas e bonitas. O trem atrasou um pouco. Foram 29h ao invés das 27h esperadas, eu que achei que fossem só 24h e me enganei. Nem teve problema, com essas montanhas quem é que iria se importar :-)
Quando a notícia de que iríamos dar a volta ao mundo começou a se espalhar, algumas pessoas se espantavam quando eu dizia que estava tudo pronto e que os bilhetes estavam emitidos. “Nossa, mas vocês já emitiram os bilhetes para todos os trechos?”. Sim, e isso só foi possível graças ao bilhete RTW.
Basicamente, existem duas formas de panejar sua viagem de volta ao mundo: comprando os trechos separadamente ou optando por um bilhete RTW, que é um tipo de bilhete emitido por alianças de companhias aéreas que possibilita a compra de todos os trechos da viagem em um só ticket, respeitando algumas regras com relação ao número de países, milhas, direção da viagem etc. As três principais alianças que emitem este tipo de bilhetes são a One World, a SkyTeam e a Star Alliance.
As duas opções têm seus benefícios, mas financeiramente e dor-de-cabeça-mente falando o bilhete RTW da Star Alliance foi a melhor opção pra gente. Ao longo ano, vamos passar por no mínimo 25 cidades em 11 países, e o nosso transporte não vai ser exclusivamente aéreo (pela Europa vamos viajar principalmente de busão, como falaremos em um próximo post). Conciliar tudo isso é uma logística e tanto, por isso optamos por ter o esqueleto da viagem bem engessado e as regras do bilhete não nos incomodaram nem um pouco. A flexibilidade que você quer ter na viagem, o número de países que gostaria de conhecer e quais companhias aéreas voam para estes países são somente alguns dos inúmeros pontos que devem ser levados em consideração na escolha da sua opção. Esperamos que este post possa dar uma ajudinha :-)
Regras
Para se enquadrar na categoria RTW, a sua viagem precisa durar de 10 dias a 1 ano, cruzar o Atlântico e também o Pacífico ao menos uma vez, viajar sempre em um único sentido no globo, leste-oeste ou oeste-leste (a SkyTeam é a única das três alianças que não tem esta exigência) e começar e terminar na mesma cidade (no nosso caso, São Paulo). O limite máximo é de 15 destinos além da sua cidade de origem, mas existem regras específicas de cada aliança que devem ser observadas, como por exemplo o limite de 4 paradas por continente da One World e um número limite de conexões no caso da Star Alliance (à princípio metade do número de destinos).
As escalas contam como dois vôos, por isso vale muito a pena observar se as companhias aéreas que fazem parte da aliança escolhida possuem vôos diretos para os destinos escolhidos, pra não correr o risco de ver o seu limite de destinos cortado pela metade devido a vôos “pinga-pinga” que também contam na distância total da viagem.
Companhias Aéreas
A escolha da aliança pra emitir o bilhete RTW é importante porque, obviamente, nem todas as empresas tem operação em todos os continentes. Logo, se sua RTW vai focar em um continente em particular talvez uma aliança com muitas empresas daquela região sejam uma boa. Pra nós, vôos intercontinentais confortáveis eram prioridade, já que dentro dos continentes daríamos um jeito com vôos menores ou ônibus mesmo. Aparentemente a Star Alliance é a que tem mais companhias primeiro nível com vôos longos e boa reputação. Nela estão, por exemplo, a TAM (até ano que vem, provavelmente), Lufthansa, United e outras menores de países por onde passaremos (como África do Sul, Tailândia e Nova Zelândia).
Quanto custa?
A não ser que você seja um viajante muito experiente, com disposição para buscar sempre os melhores preços de passagem e suficientemente bem planejado e sortudo para conseguir comprar com o timing perfeito, o bilhete RTW será a melhor opção custo/benefício.
No geral, as três alianças têm preços muito parecidos e o que determina quanto vai custar a sua viagem é o número de milhas percorridas. O preço varia de acordo com faixas de milhas (até 26, até 29, até 34 e até 39 mil milhas), e vai de USD 4.000 a USD 6.000 na classe econômica. As alianças não cobram taxas para remarcações de dias e horários, mas alterações no itinerário tem um custo de USD 125. Isso é uma boa notícia caso esteja gostando ou odiando um lugar e querendo ficar mais ou menos tempo, decidindo na última hora, desde que não queira mudar de cidade.
Bom, muito melhor do que ficar imaginando quanto a sua viagem dos sonhos custaria é botar a mão na massa e utilizar os simuladores de cada aliança. Nós usamos e abusamos do simulador da Star Alliance, e na hora de emitir o preço ficou idêntico, então pode confiar. Mas atenção, esses simuladores são uma ameaça à sua produtividade, prepare-se para perder horas e horas neles… você foi avisado :-)
A nossa passagem fechou em 9 países, ficou dentro do limite de 34 mil milhas e custou USD 5.625 por pessoa + taxas de embarque. Nada mal pra uma volta ao mundo, né?
Caio diz... Aliás, a nossa ficou até cara porque estamos passando por todos os continentes, mas experimente simular uma menor por menos lugares, é mais barato que você imagina! Sério :-)
Como comprar?
Definido o seu roteiro, a emissão do seu bilhete pode ser feita diretamente pelo site das alianças ou através de alguma agência de viagens. No nosso caso o coeficiente de cagaço falou mais alto e nós optamos por emitir a passagem através de uma agência, pois pra quem vai passar longos meses fora de casa ter um contato aqui no Brasil para o caso de algum problema, emergência ou alteração de última hora pareceu mais seguro.
Nós recebemos a indicação da agência através de um blog e iniciamos o contato bem cedo, quando ainda nem tínhamos fechado o roteiro, o que foi muito bom para tirarmos dúvidas e esclarecermos como funcionava o bilhete. Numa dessas idas à agência, por exemplo, descobrimos que existe uma classe de vôo que é só para bilhetes RTW, e todos os vôos das alianças tem um número de assentos destinados a este tipo de viagem (se não estou enganada, 2 assentos por vôo, parece que ou classe M ou H). Isso significa que é praticamente impossível não conseguir assento disponível no vôo que você quer! Nós emitimos a nossa passagem em dezembro, com data de embarque prevista para abril, mas graças a estes assentos o bilhete pode ser emitido alguns dias antes, sem nenhum problema, pelo menos segundo as agências. Só que eu duvido que você aguente esperar :-P
Aqui em Curitiba nós indicamos o Bruno, da RKBC Turismo, que manja pra caramba. Ele nos recebeu muito bem desde nosso primeiro contato, meses antes da emissão, tirou todas as nossas dúvidas e nos passou muita segurança. Cansamos de checar detalhes com ele, sempre atencioso. Contato de ouro:
Bruno Canalli
RKBC Turismo
Av. João Gualberto 1673 – Sala 23
Curitiba – PR – Brasil – Cep: 80.030-001
Tel: 55 41 3019 8696 – Tel/Fax: 3022 4184
Em resumo, indicamos fortemente a utilização do bilhete. Acho que deu pra ver que embora cheio de regras ele é uma opção segura e confiável, basta analisar bem certinho qual é a aliança que se encaixa melhor no seu roteiro. Por isso, mãos à obra: use e abuse dos simuladores e, se preferir, converse com alguma agência desde já.
Viu como dar uma volta ao mundo já começa mais fácil que pensava?