Surpresas em Cairo e Giza… e ah, pirâmides!
May 12 2013
Chegamos em Cairo vindo de Johannesburgo e fomos recepcionados pela sempre presente névoa de areia e poluição. Lá do alto só víamos uma nuvem bege, e duas pontinhas de pirâmides :-)
Como descobriríamos em breve, couchsurfing no Egito na real é uma forma fácil dos locais ganharem algum dinheiro em cima de turistas, mesmo mochileiros. Isso pra não dizer “especialmente em cima dos mochileiros” claro. Logo de cara nos ligamos que quem nos hospedaria em Cairo (mais especificamente em Giza) sempre cobrava alguma coisa meio mascarada. Comida e bebida? Na faixa, mesmo insistindo muito pra pagarmos. Hospitalidade árabe e tal. Carona pra casa dele? De graça, claro, mas no último dia tem uma continha com tudo acumulado pra pagar a gasolina e afins. No fim percebemos que couchsurfing por aqui é: você tem onde dormir, qualquer saída pela cidade vai custar alguma coisa porque “na minha mão é mais barato”, se é que me entende. De repente até é, mas aí soma o valor de um almoço “cortesia”, uma água “grátis” e já viu. Acabamos estourando o orçamento em Cairo e Giza. Cuidado pra não confundir cortesia e hospitalidade com pagamento a posteriori.
Enfim, de qualquer forma, a região é impressionante. Do lado leste do Nilo é Cairo, do lado oeste é Giza, mas tudo é uma coisa só. Se fosse resumir a cidade numa palavra: lixo. Em duas: lixo e bagunça. Em três: lixo, bagunça e muito pó (de areia com poeira e escombros). É triste de ver mas Cairo, e principalmente Giza, parecem cenários de guerra. Tudo bem, teve revolução ano retrasado, mas você percebe que aquilo ali é assim há décadas e não há um ou outro ano. É prédio desabando com escombros pra tudo que é lado, favelas verticais, córregos de sacolas e restos onde não se vê nada da água a não ser lixo boiando, e o caos total no trânsito que sobrevivemos com gente dirigindo na contra-mão e sem cintos mesmo em alta velocidade e superlotação nos carros.
Foi já em Cairo e Giza que notamos a capacidade excepcional dos egípcios de fazer tramóias. Sempre tem alguém tentando te passar a perna. Me lembrou muito um certo país que conheço, mas conseguem ser ainda pior aqui. Nada tem placa, e quando tem só em árabe. Nada tem preço, é tudo na base do “deixa ver se vou com a sua cara”. Ninguém dá recibo ou comprovante de nada. Telefone pega até no deserto e 3G é uma beleza, mas não existe máquinas de cartão em lugar nenhum! Aí todo mundo se perde em montanhas de notas em árabe que acabam gerando problemas. Principalmente quando absolutamente qualquer coisa precisa de barganha, até oxigênio aqui precisa de barganha. Cansa barganhar por qualquer coisinha a todo instante, às vezes por centavos.
Parece que tudo no Egito foi feito e é mantido pensando em dificultar pros estrangeiros visitando o país. Tudo, e tudo mesmo, gera algum troco pra eles. Isso é bonitinho, engraçadinho e tal nos primeiros dias. Você simpatiza até: país pobre, povo sofrido, muito pra se ver, saindo de crise e guerra civil… mas no fim da primeira semana você (eu, Caio, pelo menos) sente vontade de tacar fogo no país inteiro e fugir de tão cansativo que é mentalmente e fisicamente.
Acho que a Danielle pode falar melhor isso que eu, mas realmente aquela coisa de mulher não andar sem homem do lado ou sem cobrir os braços ou cabeça não é de se ignorar. Ela se comportou como uma egípcia por vários dias e nada de engraçadinhos mexendo com ela. Foi andar “normal” uma dia e putz, choveu piadinhas na rua, olhares estranhos e gente querendo que eu trocasse ela por objetos.
Ainda assim, se botar na balança as surpresas boas e ruins daqui, eu diria que vale uma visita pelo menos uma vez na vida, mas a lista de cuidados e condições seria bastante grande pra esse post, eu não recomendaria a qualquer um mochilar por aqui. Embora esses problemas sejam um saco, o Egito como um todo é fantástico porque você tá todo tempo lembrando que ergueram uma civilização fodida no meio do deserto há 5 mil anos. Qualquer ruínazinha tem uma história incrível por trás. O que sobrou hoje, mesmo que sejam escombros, ainda é lucro! O que se tem pra ver e fazer ainda é muito bonito e impressionante se conseguir aguentar os lados negativos do país hoje.
Nosso couchsurfer pelo menos tinha contatos e sempre estávamos fazendo algo diferente dos turistas (e sempre pagando um por fora também, óbvio). Se não fosse por esse esquema não teríamos entrado em ruínas e tumbas de Saqqara que turistas não entram, nem conhecido Dashour como quiséssemos. Ou andado de camelos sozinhos por trás do deserto até as três grandes pirâmides em Giza, ou entrado em tumbas do complexo que mesmo lotado de turistas do lado de fora só a gente entrou. Tudo custa uma gorjeta, ou baksheesh, mas tá valendo pela experiência. Até quando o baksheesh tá muito próximo da propina e não da gorjeta, se é que me entende…
Falando em camelos, camelos! Camelos! São muito legais, sério. A sensação de andar neles é melhor que a de andar em cavalos. Os bichos são gigantes e muito ágeis. O meu era o último na caravana e pedi numa parada pra ficar solto e poder andar por conta. Prenderam a Danielle em mim e pro azar dela eu queria dar uma galopada, o bicho saiu voando por uns metros e ela entrou em pânico heheh. Depois ela foi presa na caravana pra eu poder brincar sozinho, foi animal aprender a fazer ele sentar e subir sem ajuda de ninguém :-D
A foto nossa com as pirâmides e os camelos ficou bonita, mas ninguém sente o cheiro do vômito de um deles na minha roupa. Quando se sobe neles as rédeas machucam e eles reclamam e gemem um monte. O barulho que fazem é tipo gargarejo com o pasto que fica na garganta, e às vezes eles vomitam… sabe como é, vida de beduíno.
Outra surpresa legal foi que nosso couchsurfer na cidade é dono de uma cafeteria, então pudemos tomar na faixa um café egípcio (que achei ruim, muito espesso), um chá com ervas muito bom e o espetacular sahlab com leite, coco, amêndoas e canela. Vimos outro couchsurfer que divida o apartamento com a gente, um americano, pintar um olho de Horus enorme na parede da cafeteria também. Hippie, mas diferente. Quando ele foi embora pra Turquia dividimos a casa depois com um americano e uma canadense que dão aulas de inglês na Hungria. A cara do moleque subindo de elevador sem portas e com vão pro fosso ainda é impagável.
Tivemos uma noite especial também que nem todo turista parece aproveitar. Todas as noites por volta das 7:30 tem um show de luzes nas pirâmides em Giza e na esfinge. Como nosso couchsurfer morava em Giza, era pertinho e ele conhecia um cara que morava de frente pro sítio e pudemos ver o show de graça no terraço do prédio dele :-) foi ali que antes de escurecer vi as pirâmides pela primeira vez dias antes, e confesso que uma gota de suor masculino quase desceu o rosto. O show em si, à noite, é palha… mas a projeção das cores originais da esfinge é muito legal.
Infraestrutura pra turistas nas pirâmides praticamente é inexistente, pra não dizer que é uma puta falta de sacanagem. Primeiro que é longe do centro de Cairo, afinal não se chamam pirâmides de Giza à toa, mas é muito complicado chegar lá sem um local ajudando. Muitas vielas, passagens por becos e ruas bizarras. Na entrada não tem sinalização falando que é ali o lugar, mas pelo número de turistas e estrume de camelo você imagina. Onde compra as entradas e tal é meio favela e sempre tem alguém se dizendo policial ou guia mas sem crachá ou uniforme, se prepare pra ter que confiar no sistema dos caras ou pagar um local pra ser o seu guia.
Bom, foi mais ou menos isso nos primeiros dias. Depois de andar de barco pelo Nilo no meio de Cairo, e dar um bom rolê de carro pelo centro, ou o que seria centro numa cidade normal, deu pra ter uma baita idéia do que é Cairo e Giza. Saímos satisfeitos mas um pouco mais pobres pro sul do Egito, rumo a Aswan e Luxor e talvez ao deserto ou mar vermelho.
Voltaremos pro Cairo e Giza em breve antes de saírmos do país, pra podermos ver algumas múmias no clássico Museu Egípcio e ir no planetário e tal. Aguardem :-)