As ruínas, templos e a cidade de Luxor
May 22 2013
Quando chegamos em Luxor decidimos que ficaríamos próximos a estação de trem, porque é uma região central e sabíamos que tinha um ponto de informação pra turistas ali. Ficamos só uma noite, o hotel Anglo era muito ruim, além do que sempre tinha tipo uns 10 caras fumando na recepção e éramos um grupo de eu de homem, a Dani e as seis alemãs viajando conosco…
Fomos, por indicação de um conhecido, pro albergue Bob Marley, numa viela ainda mais no centro de Luxor. Valeu a pena, terraço animal que dava pra ver o banco oeste onde ficam as ruínas, e o wifi funcionava até no quarto no terceiro andar! A tia que cuidava do lugar era belga casada com o dono, meio velha louca dos gatos do Simpsons, mas o albergue foi até agora o melhor do Egito todo.
Do albergue pra qualquer lugar era um pulo, coração da cidade mesmo, íamos andando pra qualquer lugar. Conseguimos ficar 5 dias em Luxor e só andamos à pé. A cidade é bem mais amigável pra turistas do que Aswan. Claro, ainda faziam piadinhas com a Dani, mas a infraestrutura era perceptivelmente melhor. Não tem como ser melhor do que ter 2 dos maiores templos do Egito no meio da cidade, acho :-)
Éramos pra ficar com um couchsurfer na cidade, mas ele tava ocupado com o casamento da irmã dele. Ele nos convidou pra festa, mas chegamos na noite seguinte, pena. Ele, por acaso (cof cof), é egiptologista e conhece tudo das tumbas, altas referências entre couchsurfers. Bom, combinamos que pagaríamos ele pra ser nosso guia no banco oeste, todo mundo sairia ganhando.
Saíamos às 05:30 da manhã numa van bem modernosa com o couchsurfer, o motorista e a gangue do albergue. O dia todo de visitas às ruínas, transporte e o nosso guia deu 37 pounds por pessoa. Isso dá uns 10 reais. Acho que valeu a pena, né?
Primeira parada era pra ser na ponte que liga as duas partes de Luxor, mas ninguém quis tirar foto ali. Queríamos ir logo pras ruínas pra aproveitar que tava claro o dia mas ainda não havia esquentado, e a luz tava linda. Ficamos um pouco vendo os Colossos de Mêmnon, que antigamente guardavam a entrada de um complexo de templos gigante e agora são as únicas estátuas que restam ali. Tinha uma área de arqueólogos alemãs trabalhando, então talvez descubram algo ainda. É tenso ali só de imaginar o que tinha. Me lembrou as estátuas do poema de Shelley sobre Ozymandias, que na verdade foi inspirado no Ramesseum que tem ali perto em Luxor e foi uma puta pena não termos visitado.
Dali fomos correndo pra Hatshepsut, o que eu mais estava esperando havia dias. Hatshepsut foi uma rainha do Egito que era pintada e tratada como homem, de tão foda que era. Naquela época isso era suficiente pra ter seu próprio templo. Só que ela não sabia brincar, então decidiu cronstruir o dela direto nas montanhas, e resolveu fazer tudo gigantesco e de frente pra onde o sol nasce. Ela tinha bom gosto.
As cores das colunas e paredes em Hatshepsut são de outro planeta. Acostumados com as ruínas de Aswan, ficamos impressionados. A escadaria e rampas na entrada também são bem imponentes. A rainha (ou melhor, faraó) foi uma das que mais construiu templos no Egito, e tudo que vimos era realmente impressionante.
Não dava pra ver, mas o templo pro marido dela acho que é anexo mas todo destruído e ainda tão vendo se reconstroem. O melhor de tudo mesmo foi sermos os primeiros a entrar no lugar, porque era cedo e os turistas começaram a chegar só quando estávamos indo embora.
Fomos na sequência pro Vale dos Reis, parada obrigatória em Luxor. Vale dos Reis é um dos três vales de Luxor, junto com os das Rainhas e dos Nobres. Resumindo: queriam enterrar todo mundo que era foda antigamente num lugar só, que durasse pra sempre e fosse inviolável e perto de alguma capital. No caso a capital era Luxor, do outro lado do Nilo. Antigamente uma das maiores cidades do Egito, Tebas.
O problema do Vale dos Reis é que nem todas as 63 tumbas estão abertas pra visitação. Fazem uma espécie de rodízio quando estão mexendo em algumas e também pra variar pros turistas. Segundo nosso colega tivemos alguma sorte, porque a tumba de Merenptah é uma das maiores e tava aberta.
Infelizmente, e por motivos óbvios, não era possível levar câmera dentro das tumbas mas dei jeito de usar o celular. A diferença de tamanho das tumbas ali merecia várias fotos, dava pra andar de pé dentro delas, com corredores de até 3 pessoas de tão espaçoso que é lá no fundo.
Sequência de fotos do celular, não lembro cada câmara pelo nome:
A tumba de Merenptah é a KV8 e recomendo fortemente que use o Theban Mapping Project se gosta de egiptologia. Os caras tem um site inacreditável que tenta documentar todas as tumbas e ruínas dali. Tem mapa com profundidade, visita em 3D, filmes, fotos das paredes, história de cada buraquinho. Foda. Clique aqui pra ver tudo sobre a tumba KV8 de Merenptah.
Fomos também na tumba do Ramsés III, a KV11. Era consideralmente menor que a Merenptah, mas bonita também, e qualquer tumba de qualquer pessoa chamada Ramsés é certeza de público. Clique aqui pra ver tudo sobre a tumba KV11 do Ramsés II.
A última tumba que nossa entrada no vale dava direito (80 pounds pra 3 visitas) foi a KV2 do Ramsés IV. Lembro que nessa as cores nas paredes e teto eram absurdamente vivas. Algumas pareciam feitas ontem, tanto que algumas pessoas tavam discutindo se eles retocavam pros turistas ou não heheh. O azul e preto do teto, imitando o céu à noite com estrelas em amarelo e branco, era muito bonito. Deu pra ver também várias pichações e graffitti em grego! Pena que não leio grego. Dizem que havia em Latim também, mas não achei nenhuma quando procurei. No máximo umas portuguesas e espanholas de 1800 e alguma coisa. Clique aqui pra ver tudo sobre a tumba KV2 do Ramsés IV.
Mas embora qualquer tumba do Vale dos Reis valha a pena, sem dúvida, dá uma tristeza visitar o lugar. A falta de preservação, pra não dizer a facilidade com que se pode depredar o lugar, é incrível. Quase criminosa. Basicamente você e outros milhões de turistas anualmente andam por qualquer área ali, toca qualquer coisa que quiser, passa a mão em qualquer pintura, a qualquer momento. Pense nisso ao longo dos anos. Não é surpresa que tá tudo desaparecendo. A única tumba que vimos alguma proteção foi na do Ramsés IV, a última. Em algumas partes ela tinha proteção de acrílico entre as pessoas e as paredes durante a descida na tumba. Pena que não adiantou pro desastrado aqui. Arranquei um teco da pintura num esbarrão sem querer.
Se um dia voltamos pra cá gostaria de fazer a trilha que dá no topo do Vale dos Reis, acima do templo da Hatshepsut. Já vi fotos dali então dá pra subir, só tem que ser cedo pra não morrer queimado :-)
De volta a Luxor, tivemos uma surpresa boa indo no museu da cidade. Extremamente bem cuidado e limpo, nem parecia algo egípcio se é que me entende. A coleção deles é fantástica e tem até 2 múmias bem expostas, várias estátuas bem bonitas e em uma parte mostram como se fazia papiros antigamente.
Na minha opinião o templo principal de Luxor em si não vale a pena. Ele fica bem no meio da praça da cidade, McDonald’s do outro lado da rua e tal, dá pra ver ele todo sem pagar só dando uma volta nele, que dura uns 30 minutos. Não é tão fantástico assim acho que por ser no meio do lixo da cidade, e terem construído uma mesquita no meio do lugar, então é meio zoneado… mas à noite vale uma olhada.
Agora, o templo de Karnak… malandro! Fomos andando, é longinho, dava uns 5km do albergue. Chegamos lá loucos porque sabíamos que era grande, mas não sabíamos o quanto. É muito foda, muito gigante, colunas absurdamente altas, grossas e massiças, coloridas com todas as cores que puder imaginar. Pela forma como o templo tá hoje, chuto que ele tinha uma cobertura de madeira ou talvez panos, pra proteger as pessoas ali.
Ainda estão escavando e restaurando Karnak, então nem todos as áreas são transitáveis, mas vendo a maquete do que tem e do que tinha (fica logo na entrada), dá pra se ter uma noção.
Karnak era ligado ao templo de Luxor por uma via de pedra em linha reta, com esfinges dos dois lados, sem parar, até o final. Dá pra ver algumas ruas no centro fechadas porque estão escavando esfinges até hoje, e removendo moradores dali por preservação. Alucinante pra quem gosta de história.
Se quiser comer algo além de comida de rua, já que pode tá cansado de koshari como a gente ou não queira ficar 2 dias doente no quarto com diarréia depois de comer um shawerma ruim como eu, recomendamos uma parada no Sofra. É meio difícil chegar lá porque ruas não tem nome e casas não tem número, mas olhe num mapa que vale a pena. Eles tem tipo um rodízio de mini porções de comidas típicas. Dá pra provar de tudo um pouco, até sobremesas, por 80 libras. Dá pra duas pessoas tranquilamente.
Caso prefira algo menos turístico, dá pra visitar Luxor como fizemos nos dias extras lá. Andando pelas ruas se vê muita coisa, só precisa aguentar o assédio de engraçadinhos e vendedores realmente insistentes. A cada 30 segundos alguém aparece com um “felucca? sunset? maybe later? hello?” ou “horse carriage? you know the price? maybe later? hello?”. Os caras das carruagens, típicas de Luxor, são muito chatos mesmo sendo barato (5 libras 1 hora de passeio). Ah, em 30 minutos você anda a orla do Nilo toda, vale a pena porque é bem bonita. Ou em metade do tempo se chega ao bazaar da cidade, o souk, como chamam.
No último dia encontramos um australiano numa RTW também, que queria ir pra Hurghada como a gente. Fomos pra região na costa do Mar Vermelho, no leste, pra descansar mesmo. Estávamos precisando e lá teríamos um couchsurfer. Contamos depois :-)