Sul do Egito, rumo à Aswan

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Depois de Cairo e Giza, sabíamos que o que viria até o fim do Egito seria realmente aventura, mas não tínhamos noção do parto que seria passar por algumas coisas :-)

Primeiro que deixamos a capital já nos sentindo roubados, de novo. Nosso couchsurfer falou que compraria nossos bilhetes de trem pra pagar preço pra egípcios e voltou com eles em um preço diferente. Tínhamos visto no site que egípcios compram o bilhete por metade do valor, mas ele voltou falando que não dava e com preço de turista mas que não batia o online. Deve ter embolsado algum… enfim.

Pegamos o trem na estação de Giza, rumo Aswan no sul do país, desertão. O trem é excelente, serviço de bordo que te deixa até envergonhado. Foi algo como 410 pounds, ou 60 dólares, por pessoa. Caro pra cacete pros padrões do Egito, mas incluia jantar e café-da-manhã caprichados e era nossa única opção pra atravessar o país com mínimo de conforto e descansar. Foi bem melhor que o trem na África do Sul, embora a viagem tenha durado só metade do tempo. De qualquer forma, recomendamos!

Aswan parece uma vilazinha ao longo do Nilo absolutamente lotada de navios de cruzeiro e barcos de passeio pra turistas. Diz a lenda que foi uma das cidades mais afetadas pela crise e pela revolução. A julgar pela ferocidade dos locais em conseguir que topássemos fazer algo, eu acredito que foi mesmo. Na maioria das vezes eles mais irritavam que outra coisa, andar pela Corniche vendo o Nilo é um inferno de gente tentando conseguir um trocado seu. Ah, ali tem um McDonald’s se bater o pânico.

Pelo menos a vista do hotel (mais pra albergue, pela qualidade) era foda. Dava pra ver o Nilo e o pôr-do-sol da janela, e as ruínas das Tumbas dos Nobres que de noite ficavam iluminadas.

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Vista do “albergue”

Fizemos um esquema com o pessoal do lugar pra ir no tour pra Abu Simbel, deu 80 libras por pessoa. Abu Simbel fica ainda mais ao sul do país, quase na fronteira com o Sudão. Foi hardcore…

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Templos e ruínas de Abu Simbel, lado de fora

Estando em Aswan é totalmente esperado que se vá pra Abu Simbel, uns 300km dentro do deserto. Ver o sol nascer na planície de areia é muito legal. Lá é onde ficam os últimos templos de Ramsés II e Nerfertari, cabulosamente isolados do resto do planeta no meio do nada com estátuas gigantes. Pra chegar lá antes do sol forte, e pela distância, saímos 3AM numa van apertada que era parte de um comboio policial com outras vans e ônibus que fazem o tour ao mesmo tempo, por segurança. Lá pelas 9AM já tínhamos visitado tudo, e não preciso falar que é fantástico e muito bonito. Infelizmente não deixavam entrar com câmera nos templos, mas consegui tirar fotos com o celular e não estão acessíveis agora.

Na volta pra Aswan paramos na represa antiga e dividimos (20 libras por pessoa) um barquinho com outro brasileiro e uma sul-coreana pra visitarmos o templo de Philae que fica numa ilha no lago da represa. Philae é fora de série, por ser tão perto de Aswan e ser tão grande, eu diria que é melhor que Abu Simbel se não fosse pela importância história do Ramsés II e da Nefertari. Dali saímos e demos uma parada rápida e bem tosca no obelisco inacabado da cidade, que não vale a pena nem de graça.

Entrada do complexo em Philae

Entrada do complexo em Philae

Assim, valeu a pena, com certeza. Mas cara, falando como é bonito e tal é uma coisa, mas ficamos das 3AM até as 3PM do dia seguinte sem comer praticamente nada. Sem café da manhã ou almoço, a não ser água, uns amendoins e algumas bolachas que tavam na mochila. E o calor que é farto e sem custo. É muito, muito cansativo. Eu acho que não vale a pena ir pra Abu Simbel, tem que tá empolgado… vale mais a pena ir pra Philae e curtir o lugar e voltar.

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Dani curtindo os relevos das paredes de Philae

Aswan mesmo não tem muito o que ver, é o centrinho, umas ruas com vendas e a Corniche, que é uma rua paralela ao Nilo que praticamente toda cidade aqui tem com o mesmo nome. Aproveitamos uma noite mais calma e fomos jantar no Farahat perto do hotel, um lugarzinho bem modesto mas limpo e com o dono super atencioso. Você percebia que era um turista que ele não via há muito tempo. De prato em prato nos convenceu a gastar a, cof cof, fortuna do Tio Patinhas no lugar e comemos quase até explodir. Deu algo como 20 reais pro casal, com bebidas e gorjeta ;-)

Pra sair de Aswan estávamos pensando em pegar o trem local mesmo, mas aí pensamos em ir de felucca até Luxor! Feluccas são um tipo de barco pequeno com uma única vela, quase uma jangada porque não tem exatamente um convés. O convés é uma superfície plana com colchões onde todo mundo viaja deitado e é isso aí, acabou. Ficamos sabendo na última hora que nossa felucca teria outro grupo de 6 meninas da Alemanha, e no último segundo ainda apareceu uma sul-coreana também. Meu harém por 2 dias num barco!

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Viagem de felucca com umas meninas alemãs

No segundo dia pegamos no meio do caminho um rapaz francês e então ficou assim: eu e o francês de homens, a Dani e a sul-coreana mais as 6 alemãs, e o capitão e o ajudante. Sim, 12 pessoas num barquinho a vela. Como tudo no Egito, a viagem de felucca também teve pegadinha. Normalmente uma viagem entre Luxor e Aswan demora 6 horas na época de ventos fortes, sem vento demora 7 dias. Mesmo assim, não iríamos pra Luxor direto e sim pararíamos em Kom Ombo, uma vila lá pelo um terço do caminho e com um templo famoso, de lá iríamos de van pra Edfu, onde tem outro templo, pra finalmente chegar em Luxor. Ou seja, a felucca é de Aswan até Kom Ombo, mas isso já sabíamos. O que não sabíamos era que eles enrolavam um monte porque o trajeto é muito curto! Dá pra fazer em uma tarde, tranquilamente. Independente do vento, que era a desculpa padrão pra enrolarem.

O passeio em si pelo menos foi bem legal, a comida que o capitão fazia era excelente e quando ele decidia finalmente velejar e não enrolar na margem do rio, ou zigue-zaguear demais, a festa era geral. Barco inclinado, brisa forte, sol não muito quente. Nem o fato de ficarmos sem banho ou banheiro por 2 dias desanimou. Se fosse pra fazer a viagem de felucca de novo eu faria em 1 noite e não 2 como pagamos. Aproveita-se mais e se aborrece de menos. Deu 300 libras egípcias pro casal as 2 noites e quase 3 dias, uns 45 dólares na conversão de cabeça. Mais barato que albergue e alimentação pelo mesmo tempo.

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Na proa da felucca

O único porém mesmo foi que o ajudante do capitão era meio escroto e as meninas alemãs, na casa dos vinte anos e sozinhas, foram roubadas numa noite em que só ele ficou no barco enquanto fazíamos fogueira e a janta na beira do Nilo. Pra todo mundo, foi ele que as roubou. Depois de muito discutir no trajeto final da viagem, chegamos em Luxor seguros e foda-se, ficou pra trás o problema. O nosso dinheiro pelo menos tava intacto.

Sobre os templos mesmo não sei falar. Ficamos esperando na van mesmo porque não tínhamos muita grana e já tínhamos visto fotos online. Kom Ombo e Edfu são, separados, o que Philae é num lugar só, mas claro que se tivesse dinheiro eu visitaria todos, só que tinha que escolher… :-)

Nossos dias seguintes ficamos em Luxor, a cidade pra quem realmente quer ver ruínas, a antiga Tebas que falamos depois.