Dia 37: Ghorapani → Poon Hill → Ghorapani, 3210 metros

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Ae! Poon Hill, quem diria. Tava de rosca a subida pra lá. Demoramos praticamente uma semana toda aqui na vila esperando o clima melhor. Na realidade ainda está meio ruim, muitas nuvens, névoa e a chuva voltou. Mas ao menos deu pra ir até Poon Hill, ver as montanhas e voltar seco apesar de batendo o dente. Nunca passei tanto frio na vida quanto hoje. Foram 2 ou 3 horas, desde à noite, no vento gelado até o topo à 3.210 metros, e por estar bem magro agora acho que fiquei sensível ao frio. Sofri… desci correndo pra voltar pro fogo na pousada e não saí daqui mais. A vista de Poon Hill de fato é linda, se vê toda a cadeia dos Annapurnas e mais, mas acho que por ter feito todo o circuito esperava mais. É tudo muito longe, e quando você tá lá andando do ladinho das montanhas você aumenta o nível da coisa toda! De qualquer forma vamos ficar ainda mais aqui pra voltar em Poon Hill amanhã, quando oficialmente segundo a previsão do tempo teremos sol pela primeira vez na semana. Do almoço até à janta fiquei escrevendo os quase quarenta posts pendentes de toda a trilha, acho que nunca escrevi tanto na vida revisando, corrigindo e editando tudo pra botar online. Deixei o celular carregando bem porque volto a ler 2312, um baita livro de ficção científica que não acredito que não conhecia até hoje. Ótimo passatempo pra descansar a cabeça e o corpo hoje. Praticamente fechamos nosso programa de trilha hoje com a subida, o resto agora é protocolar. — Caio

Finalmente subimos Poon Hill1! Como todos os outros dias de espera, o relógio despertou às 4h30 para checarmos o tempo, e pela primeira vez não estava chovendo. Já tínhamos esquematizado tudo, se não tivesse chovendo nós subiríamos, mesmo nublado, só pra ver como é. Saímos da pousada perto das 5h da manhã, tudo escuro e usando lanternas. Ontem chegou um grupo grande por aqui, a maioria alemães, e praticamente fechou a pousada, só ficaram eles e a gente. Aproveitamos o embalo e subimos com eles. A subida até o topo é de degraus de pedra, obviamente cansativo, mas não leva mais do que 45 minutos, então não foi tão sofrido. Chegamos lá no alto antes do sol, como planejado, e o tempo estava meio nublado mas sem neblina, o que era um ponto super positivo! Ficamos esperando o nascer do sol lá em cima na maior friaca, surpreendentemente mais frio que o dia da passagem, acho que porque como aqui é mais úmido suamos muito mais e quando paramos de andar o corpo todo gelou! Quando o dia começou a clarear conseguimos ver as cadeias de montanhas ao fundo, embora nublado muito bonito! Deu tempo de tirar algumas fotos, só que antes que o sol pudesse sair de trás das montanhas, uma pesada neblina se aproximou e acabou com a festa, questão de minutos branqueou tudo! Tomamos um chá lá em cima só para esquentar (o chá mais caro até hoje no Nepal) e decidimos que não fazia sentido ficar ali esperando, estamos vendo essa neblina há dias e sabemos que ela não vai embora tão rápido quando vem! O Caio desceu na frente pra acabar logo com o frio (ele foi pouco agasalhado) e eu fui mais devagar atrás, joelho mandou lembranças! Amanhã o plano é o mesmo, pois a previsão do tempo está melhorando, só que não vamos tão cedo, não vimos necessidade. Dá pra sair perto das 6h pra não ficar tanto tempo esperando o sol chegar lá em cima e não passar tanto frio. Descobrimos que no mirante da vila a vista é bem boa e dá pra ter uma idéia de como estará lá em cima, bem melhor do que ter que subir tudo pra descobrir que a neblina veio. Agora é sentar e esperar… só mais um pouquinho! — Dani

Dia 36: Ghorapani, 2869 metros

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Dia de pouca novidades, pessoas novas na pousada enquanto esperamos o tempo melhor, nada muito além disso. Falando em tempo melhorar, o grupo que chegou hoje de 35 alemães era barulhento. Não por falarem alto nem nada, mas por não deixarem eu me concentrar em outra coisa que não o clima. Do meu lado, em frente ao fogo da pousada, tinha umas nove gurias alemãs empolgadas mostrando fotos umas pras outras do dia da passagem em Thorung La etc. Caralho! Que fotos lindas, pegaram um tempo perfeito! Fiquei morrendo de inveja e só pensei nas fotos delas a noite toda. Thorung La completamente branca de neve, só se vendo a placa comemorativa de lá. Céu claro e limpo nas montanhas altas. Acho que pegamos o clima no meio do espectro, nem bom de estar calor e limpo nem bom de estar nevando e limpo também, pegamos meio termo com boa quantidade de nuvens. Não tem problema, mas é que dá invejinha. E amanhã não choverá mais, parou já, então vamos pra Poon Hill de qualquer forma, finalmente. — Caio

Aquele grupo de ontem foi todo embora e mais uma vez só ficamos nós por aqui. Acordamos de novo de madrugada para checar o tempo e estava com chuva… Segundo a previsão do tempo o clima vai melhorar até domingo, quando abre um pouco. Acho que será nossa melhor chance, o que significa que temos dois dias de espera ainda! Hoje finalmente a chuva deu uma pausa e eu saí para dar uma volta pelo vilarejo. Entrei em uma vendinha onde tinha uns livros à venda e encontrei o segundo livro do Game of Thrones, que eu estava procurando!!! Fiquei bem feliz, nunca esperaria encontrar isso aqui, muito menos a um preço acessível (paguei 9 dólares). Vai ser um bom passatempo para os próximos dias! — Dani

Dia 35: Ghorapani, 2869 metros

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Quando o dilúvio que cai do céu parar eu aviso, mas não será hoje. O dono da pousada nem se importa mais com a gente, acha que somos loucos por perder tanto tempo acho. Já meio que viramos referência pras pessoas que aparecem pedindo dicas ou comentários sobre o clima que estamos vendo. Acho que batemos o recorde de tempo em uma mesma vila que antes era de Thorung Phedi, em situações bem diferentes. Pelo menos aqui dentro tá quente, enquanto escrevo do lado do fogo, e a internet é toda nossa! Nossa! Praticamente voltamos à civilização, e estamos trocando dias de Pokhara por Ghorapani, então tudo bem, vai dar na mesma no fim. Mas o que sofri pra subir até aqui não vou desperdiçar com tempo ruim. Espero o que for. A previsão do tempo é de sol e sem nuvens… pra daqui três dias só. O grupo de hoje na pousada é um dos mais diversos. Encontramos uma guria de Curitiba até! — Caio

Acordamos 4 horas da manhã na esperança de que o tempo estivesse melhor, mas continuava chovendo. Ontem chegou um grupo grande de chineses aqui na guesthouse e hoje pela manhã acordaram a pousada inteira quando estavam se preparando pra sair, ligaram música e ficaram gritando no corredor. É chato generalizar, mas chineses e coreanos são um tipo de turista 100% mala, sempre que dá a gente tenta evitá-los, é sempre essa falta de educação quando eles tão por perto. Depois dessa manhã desastrosa, dormimos até tarde (obviamente só depois que os chineses saíram). Estávamos considerando mudar de guesthouse pra dar uma refrescada nos ares, mas decidimos que aqui está muito bom, internet funcionando bem e o fogareiro esquenta a gente, apesar da comida não ser das melhores. Hoje a guesthouse está cheia de novo, dessa vez com um grupo bem distinto. Em volta do fogo hoje tinha alemães, neo-zelandeses, australianos, americanos, belgas, ucranianos, espanhóis, nepaleses e fora os que não perguntamos! Encontramos inclusive uma brasileira, pela segunda vez (a primeira foi em Tal) e a surpresa foi descobrir que ela era de Curitiba também! — Dani

Dia 34: Ghorapani, 2869 metros

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Mais chuva, indo e vindo. Desisti há tempos de fechar todas as trilhas em 30 dias redondos. Digamos que não obtive colaboração e precisei de dias extras descansando, e agora a chuva que não dá trégua piorou tudo, então vamos acabar batendo recorde de tempo nas montanhas acho. Conhecemos duas gurias americanas estudando nepalês em Kathmandu, simpáticas, extremamente jovens, cara de meninas, uma delas até já fez uma disciplina de linguística e ficamos falando disso um tempo. Bom pra espantar o frio. O tempo hoje até ameaçou abrir um pouco. No fim do dia fui dar uma volta na vila ver o céu em várias direções e parecia que daria pra ir, deu pra ver um pôr-do-sol dourado até, algumas montanhas e tal. Veremos, despertador vai apitar 4 da madrugada pra analisarmos. — Caio

Continua a chuva por aqui, segundo dia de espera. Que sorte que por aqui tem internet, pois não pára de chover um minuto sequer e ia ser uma tortura ficar aqui esperando se não fosse isso! Ainda não consegui nem dar uma volta pelo vilarejo de tão chuvoso que está. A guesthouse que estamos está bastante movimentada, à noite enche de gente em volta do fogareiro, pelo menos a gente consegue se distrair um pouco conversando com o pessoal. — Dani

Dia 33: Ghorapani, 2869 metros

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O dia todo chovendo, e com neblina pesada lá fora. Meu passatempo favorito hoje foi mandar mensagens pra amigos enquanto é madrugada no Brasil, pra ficar apitando celulares deles. E botar mais lenha no fogo pra aquecer os pés. Passei boa parte do dia no notebook programando o mais que podia estando offline. A internet ia e vinha, não ajudava muito pra tirar dúvidas, mas foi divertido. De resto nada de muito novo, pessoas vindo e indo pra Poon Hill mesmo com o tempo mais feio da história, nada pra ver na cegueira branca da neblina, à quase 3.000 metros onde estamos não vale a pena acordar de noite pra ver neblina e voltar molhado de chuva. Ficaremos aqui até melhorar, só é uma pena a comida da pousada não ser muito boa… — Caio

O dia hoje amanheceu super feio, chuvoso e totalmente fechado pela neblina, até as montanhas que conseguíamos enxergar ontem desapareceram completamente. Ontem no jantar conhecemos um casal de vietnamitas que mora em Singapura que nos convidou para ficarmos na casa deles se formos pra lá, e uma família da Macedônia que vive na Austrália, com dois filhos pré-adolescentes, todos trilhando juntos. Acho legal quando encontramos famílias assim, não foi muito normal no circuito porque o trajeto é meio perigoso pra crianças, mas ao que parece Ghorepani e Poon Hill são um destino mais família, poucas pessoas que vemos por aqui fizeram o Annapurna Circuit todo. Essa família veio só pra subir Poon Hill e não tinha tempo de esperar, então tiveram que subir a montanha assim mesmo, com chuva e tudo. Coitados! Passamos a tarde toda descansando em volta do fogareiro que tem no restaurante daqui, e no final do dia pude conversar com a minha mãe, amigos e minha sogra. Ahhh como é bom o contato humano, mesmo que online, hehehe. A chuva por aqui não parou até agora, e o pior é que não tá com cara de que vai passar logo. Ainda bem que temos bastante tempo no Nepal para ficarmos aqui esperando o quanto for necessário. — Dani

Dia 32: Tatopani → Shikha → Chitre → Ghorapani, 2869 metros

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Após achar um sapateiro trabalhando na calçada em Tatopani, totalmente por acaso enquanto procurávamos uma pousada no dia, consertei minha bota! Duas xunxadas de silver tape com linhas de nylon depois ela não aguentava mais, as duas. O sapateiro costurou todas as bordas e botou cola de verdade, parecem novas! Estavam prontas pra subir a pior das subidas. Quem vem do circuito Annapurna pra subir até Poon Hill via Tatopani merece todo meu respeito. Na primeira hora eu já suava como um porco, encharcado por completo, a subida muito inclinada em zigue-zague com um calor tropical infernal. Parei várias e várias vezes, algo incomum pra mim. Tomei pelo menos 3 litros de água fresca que comprei no caminho, a Katadyn já não dava conta após tantas semanas em trilhas. Tive que parar pra comer até! Algo impensável pra mim. Meu corpo estava quebrando no meio do caminho, eu cerrava os dentes pra subir cada passo. Achei que ia desmaiar em um momento, mas cheguei. Nunca achei que ia bater o fundo do poço de exaustão do meu corpo assim. Por um lado, também bastante triste por ter que chegar nisso. Assim que chegamos começou a chover, vai ser uma longa noite pra dormir com dores e frio. Mas, tem internet pra matar o tempo, e o fogo no centro do refeitório é muito bom. — Caio

Acordei morrendo de dor no joelho, sorte que ontem encontrei uma joelheira compressora em uma vendinha em Tatopani, ajudou pra caramba a manter o joelho estável e diminuiu um pouco a dor. Saímos umas 7h30 da pousada e segundo o mapa a trilha até Ghorepani levaria 5 horas. Talvez para o superman. Tatopani fica à 1200m de altitude, e Ghorepani à 2870m. Isso é muita coisa para subir em 5 horas, a gente devia ter suspeitado desde o começo. Sempre que falávamos que íamos subir Poon Hill as pessoas diziam “nossa, foda, boa sorte”, e a gente achava que era a subida à montanha em si. Mas não, a cara de dó que a galera fazia era por causa de hoje, o caminho até Ghorepani. Eu não chamaria de caminho, nem de trilha, chamaria de escadaria. Isso mesmo, infinitos degraus em pedra, uma escada de 1600m de elevação. Não sei como você imagina que é isso, mas seja como for, imagine pior! Eu não tô exagerando, o dia da passagem pelo Thorung La foi de 11 horas de trilha, reconhecidamente o pior dia de todo o Annapurna Circuit, mas o que passamos hoje foi muito, muito pior. Na primeira parte, subimos 3h30 de degraus até Shika e tivemos que parar por lá para almoçar e descansar. 1 hora depois seguimos em frente, mas o corpo já estava cansado, foi terrível. Como o caminho era subindo, o joelho não incomodou tanto, mas para os músculos e para o quadril foi super puxado! Depois do descanso de Shikha o Caio puxou pra caramba o ritmo e quase me matou, e digamos que quase cometeu suicídio também, pois no final nem ele aguentava mais. Duas horas depois de sairmos de Shika chegamos em Chitre, um vilarejo bem pequeno onde tivemos que parar mais uma vez. Ali o clima começou a fechar, além da umidade que nos acompanhou desde o começo fazendo a gente suar em bicas, veio uma neblina pesada e colocamos até a capa nas mochilas, nos preparando para chuva. Saindo de Chitre são mais 2 horas até Ghorepani, e que 2 horas infernais… Degraus, degraus, degraus… Além de tortos, pra acabar com o tornozelo, os degraus são altos, pra fazer a gente fazer bastante força… foda. As 2 últimas horas foram totalmente picadas, subíamos um pouco e nos obrigávamos a parar para recuperar o fôlego e aliviar os músculos. Chegamos em Ghorepani completamente moídos, exaustos, e 8 horas depois de deixar Tatopani! Ainda não visitamos o vilarejo, mas parece ser legal e grandinho até, bem diferente do que eu esperava. O melhor de tudo é que tem wifi! Pessoas, vou falar com pessoas, conversar, descontrair, ufa!!! Com o Caio bravo comigo há vários dias, estou muito carente de bater um papo! A gente conversa com pessoas na trilha, mas é muito diferente de falar com os amigos que deixamos no Brasil. Os assuntos com quem não conhecemos são sempre os mesmos (de onde somos, quais países já visitamos, quais vamos visitar, o que estou fazendo no Nepal, etc etc etc), chega uma hora que cansa! O tempo por aqui não está dos melhores, completamente nublado, e não temos a mínima condição de subir Poon Hill amanhã depois do que passamos hoje. Pelo jeito amanhã o dia será de descanso! — Dani

Dia 31: Ghasa → Tatopani, 1242 metros

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Um dos piores dias de briga da minha vida, mas roupa suja se lava em casa e não em público. Post censurado. — Caio

Nada é tão ruim que não possa piorar. Saímos de Ghasa andando mesmo, o Caio não quis pegar o transporte. Na saída do vilarejo eu fui buscar água, que fica mais pra dentro da vila, não na estrada, e ele não quis esperar. “Você me alcança, estamos indo para o mesmo lugar”. Beleza, peguei as garrafas, busquei a água e voltei pra estrada., apertando bem o passo para alcançá-lo. O que eu não sabia é que a saída para a estrada depois da estação de água é mais pra frente e ele voltou para ver porque eu estava demorando, então eu saí na estrada na frente dele! E saí bem louca, apertando o passo. Meu coração congelou quando eu vi a bifurcação entre a trilha, que era do outro lado do rio, e a estrada. “Ferrou, e agora, por onde ele foi?”. Resolvi seguir o bom senso e ir pela estrada, que é o que estávamos fazendo nos últimos dias, e perguntei para uma mulher sentada em uma guesthouse se ela o tinha visto, e ela confirmou. Ufa, estou no caminho certo. Segui no meu ritmo galopante por uma meia hora e nada de encontrá-lo. Comecei a ficar nervosa e brava por ele não ter me esperado, e depois com muito medo de acontecer alguma coisa comigo, com ele, de não encontrá-lo e não sei mais o que. Comecei a perguntar para as pessoas no caminho se tinham visto ele e para meu desespero começaram a dizer que não. Merda. A única resposta que veio na minha cabeça é: ele só pode ter ido pela trilha! Comecei a procurar pegadas, não achei. Comecei a ficar desesperada, não sabia se ficava na trilha ou seguia pela estrada, se voltava pra trás. Que raiva, raiva, raiva! Decidi que eu precisava procurar uma ponte e entrar na trilha. Pelo número de pessoas que disseram não ter visto ele, ele com certeza tinha ido por ela e eu estava bem avançada, pois a trilha é sabidamente mais difícil do que o caminho pela estrada. Demorou, mas achei uma ponte que ligava a estrada à trilha e eu fui por ela, era a única coisa que fazia sentido! Pensei “perfeito, se ele foi pela trilha ele está atrás de mim, vou entrar aqui e esperar até ele aparecer”. Alcancei a trilha e fiquei ali, esperando, até que que vi ele andando, de longe… PELA ESTRADA! Oi??? Nessa hora fez um nó na minha cabeça, como diabos ele poderia estar atás de mim indo pela estrada?! O foda é que eu tava muito longe, no outro lado do rio… tentei gritar mas não tinha como ele me ouvir, e foi uns 15 minutos até eu descer na trilha, achar a ponte e conseguir voltar pra estrada. Dali pra frente eu praticamente corri (pense na louca correndo pela estrada, suada, com um sol de rachar e uma mochila de 10 kgs nas costas), mas só uma meia hora depois encontrei ele, sentado me esperando em uma venda, obviamente puto. O que aconteceu dali pra frente dispensa relatos, um mais irritado e cansado que o outro, uma baixaria daquelas. Andamos mais uns 40 minutos até Tatopani, em silêncio, não vendo a hora de chegar e acabar com o pior dia de trilha de todos. Estou cansada, triste e com dor no joelho pela correria que foi hoje, um dia pra esquecer. Estou bem preocupada com o dia de amanhã, pois dizem que o caminho de Tatopani a Ghorepani é pesado e meu joelho dói pra caramba. O Caio deve estar mal também, pois se foi difícil pra mim foi muito pior pra ele, minha esperança é ele querer passar o dia descansando amanhã e não ir pra Ghorepani, vou torcer. Dani—

Dia 30: Ghasa, 2181 metros

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Ainda descansando em Ghasa. Minhas pernas, abdômen e coluna doem demais. Terceira ou quarta noite dormindo quase nada pelas dores. Desisti de pegar transporte, vou andar tudo nem que seja rastejando por estradas toscas e sem graça, comendo poeira só pra jogar na cara da Danielle que consegui. Andar por aqui, onde todos já pararam na trilha, é totalmente estúpido e só serve pra orgulho e narcisismo quando ninguém mais se importa. Mas vou andar. Foda-se. Não sei como estarei em Tatopani. — Caio

Mais um dia de silêncio absoluto. Acordamos, tomamos café, voltamos para o quarto e eu comecei a arrumar a mochila para irmos. Só quando eu terminei e avisei que estava pronta para sair é que o Caio avisou que não iríamos hoje. Nem perguntei se o motivo do descanso é para irmos andando para Tatopani amanhã, mas provavelmente sim. Dia chato hoje, a única coisa que eu fiz foi buscar água na estação de Safe Drinking Water (que fica em Ghasa, mas bem afastado), valeu como passeio. Hoje a tarde me dei a alegria de devorar um pacote de biscoito de coco e acabei de acordar de uma soneca. Em altitude não dava pra descansar à tarde porque não é bom pra adaptação do organismo à altitude ficar respirando em um ambiente fechado, então eu passava a maior parte do tempo ao ar livre. Agora que estamos mais baixos acho que posso voltar à me dar este prazer! Saudades gigantescas da família e dos amigos hoje. — Dani

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