Dia 13: Manang, 3566 metros

Sem comentários

Resolvemos ficar mais um dia. Dani foi no médico local e tem parasitas de água no corpo, está tomando remédio mas já come melhor. Não como os israelenses que são como gafanhotos. Passam em caravanas com seus guias e carregadores cheios de tranqueiras de marca e só sabem comer hamburguer, fritas, pizza e coca-cola. Em uma trilha. No Nepal. São uns imbecis que reclamam da lentidão da internet no alto dos Himalaias e exigem chá orgânico, pra espanto dos donos das pousadas. Babacas nas montanhas. Gastamos todas as baterias dos eletrônicos, teremos que pagar pelas recargas. Amanhã iremos ao Ice Lake e de lá direto pra Tilicho, acho, a Dani melhorando mais ou não. Estamos atrasados. Preocupação. Meninos locais gritaram comigo e mostraram os dentes, como cachorros, quando quis tirar fotos deles sem dar chocolate em troca… — Caio

Ontem depois que escrevi no diário comecei a piorar do estômago. Almocei só batatas de novo, mas mesmo assim passei muito mal, não conseguia ficar em pé de tanta dor e enjôo! Dei “sorte” porque Manang é uma vila maiorzinha e tem um posto de saúde. Decidi arriscar e passar lá pra ver no que dava, sem muita esperança, mas fui atendida super rápido, em inglês, e saí com remédio na mão! O posto é super simples, tinha alguns locais esperando para ser atendidos mas fui chamada logo. Expliquei meus sintomas e o médico disse que é um protozoário transmitido pela água (peguei mesmo com todos os cuidados que estamos tendo, até escovo os dentes com água filtrada). Ele não cobrou a consulta e nos deu 2 cartelas de remédios, 1 dólar cada uma, que comecei a tomar ontem mesmo. A noite de ontem ainda foi bem difícil e eu passei muito mal, mas hoje acordei com uma fome de leão! Consegui comer bem e bastante, estou nova. O único problema foi que tivemos que ficar um dia a mais em Manang, mas isso é o de menos, temos tempo! :-) Amanhã pegaremos a trilha até o Ice Lake, que tem tudo para ser maravilhosa, mas ida e volta somam 6 horas! Espero estar bem recuperada! — Dani

Dia 12: Ngawal → Bryaga → Manang, 3566 metros

Sem comentários

Chegamos na tal capital da trilha. O vale de Manang de fato é muito bonito, e a vila tem meio que de tudo nela realmente. Porém ela em si não tem nada de especial. Talvez vamos no “projection hall” que tem aqui, no fim do dia. Parece que passam Sete Anos no Tibet lá por 3 dólares, haha. A estação de água tava fechada, pânico. A trilha foi fácil, não deu 3h e só foi descida ou plano. Caminho meio enrolado, mas sem problemas. Muita, muita poeira, tudo seco demais aqui. Só arbustos de frutinhas vermelhas cheios de espinhos. O céu ajudou pra algumas fotos. Ah, o chocolate aqui é mais barato, vou aproveitar! Precisaremos pagar por internet também, pra trocar as datas dos nossos vôos e adiar a voltar pra casa após replanejar o tempo na Ásia e Oceania. Acho que faremos a trilha pro Ice Lake na volta de Tilicho, não sabemos com certeza ainda. — Caio

A noite passada foi longa. Motivo? Ratos!!! Não exatamente no nosso quarto, ainda bem, mas logo acima dele, no forro! Pelo jeito é uma ninhada, pois dava para ouvir vários correndo no teto e o barulhinho que eles fazem, argh! Ficamos acordando toda hora com a impressão de que eles iriam cair na nossa cabeça a qualquer momento. Mas sobrevivemos! O caminho de hoje foi muito susse, plano e no fundo do vale, sem montanhas pra subir. Foram só 3 horas e meia até Manang, mas por não estar conseguindo comer direito e pela dificuldade de respirar eu sofri um pouco. Senti muita fraqueza, estou começando a ficar preocupada pois daqui pra frente o caminho começa a ficar mais puxado e eu preciso ficar forte logo! Está sendo bem difícil também lidar com o meu enfermeiro (Caio), pois ele tem um jeito meio briguento de cuidar (briga porque como, porque não como, porque eu não consigo explicar o “tipo” de enjôo que tô sentindo, porque respiro, porque me mexo). É o jeito dele, e aqui nas montanhas somos só nós dois, então eu tenho que me adaptar. Mas é foda a sensação de culpa que isso traz, além de não estar me sentindo bem fisicamente eu tenho a pressão de ficar boa, e logo! Difícil hein… Bom, mas entre trancos e barrancos finalmente chegamos ao “grande” vilarejo de Manang. Aqui não tem nada de especial, esperávamos um lugar maior dada a sua importância, pois é como se fosse a capital do Annapurna Circuit. Estava ansiosíssima pra encher nossas garrafa na estação de água potável daqui, mas estava fechada, ponto negativíssimo. Mas pelo menos Manang tem duas coisas boas: a vista é bem legal, com montanhas com picos de neve para todos os lados, e tem internet! Hoje é aniversário do meu irmão Eduardo, vai ser bom pelo menos mandar um alô pra ele. A saudade dos meus queridos está começando a bater, essa parte é ruim ficar isolado, espero que esteja tudo bem com eles. — Dani

Dia 11: Ngawal, 3662 metros

Sem comentários

Não fizemos muito hoje. Lavei mais roupas com a água mais gelada que toquei na vida. Vimos um filme à noite pra matar tempo. Acabamos não indo na caverna famosa que tem aqui pertoo. Venta muito, desanimamos pra subir até lá passando frio, e a Dani está muito mal do estômago pra sair agora. À noite pedi dal bhat e torci pra ser bom. Os donos da pousada viajaram pra Besisahar e deixaram o filho de 14 anos e a filha da mesma idade tocando tudo, até a cozinha. Tava frio demais, então pedimos pra ficar do lado do fogão à lenha vendo eles fazerem a janta. Demorou quase 2h mas saiu! O menino fez tudo sozinho, do zero. Muito caprichado e limpo, vai pra lista de melhores refeições na trilha. Noite bem local conversando sobre futebol com outros moradores, claro, em volta da lenha queimando :-) — Caio

O dia de hoje foi de descanso absoluto debaixo das cobertas (pois já está friozinho) e comendo purê de batata e arroz, só o que fica no meu estômago. Pretendíamos fazer um hiking até uma caverna que tem aqui, mas a minha condição não deixou… Pelo menos os dois dias que passamos aqui em Ngawal foram proveitosos. Na noite de ontem ficamos conversamos com o monge americano e ele nos contou sobre como decidiu virar monge após a primeira visita dele ao Nepal, como é a vida dele, etc. Na noite de hoje pedimos um dal bhat e nos demos conta que só o filho de 14 anos da família estava tocando o guesthouse! Perguntamos se ele tinha certeza que dava conta de tudo (pois seria arroz, lentinha, curry de vegetais e mais a minha batata cozida) e ele riu e disse que sim. Ficamos na cozinha com ele, nos esquentando no fogão a lenha, e o menino mandou super bem! Demorou umas 2 horas pra fazer tudo, tadinho, mas foi feito no capricho, acompanhamos do começo ao fim. Essa proximidade com a vida local é uma parte muito boa do circuito, estou adorando! — Dani

Dia 10: Upper Pisang → Ghieru → Ngawal, 3662 metros

Sem comentários

Acordei e vi a foto que a Dani tirou de mim após a trilha e agora acredito como estou magro, pernas só osso, barriga sumiu. Hoje conseguiu ser ainda melhor que o dia anterior. Café da manhã campeão, panquecas de maça e sopa de legumes. Saímos mais tarde pra descansar bem na altitude, por volta das 9h. As primeiras 2h foram quase vida ou morte. Todo o ganho de elevação do dia em uma única subida até um vilarejo no topo do vale. Vistas de tirar o fôlego. Tudum-pá! A trilha superior aqui na região é realmente mil vezes mais linda, valeu a pena! Se vê tudo daqui, até as montanhas que do fundo do vale parecem encobertas. No resto da trilha fomos nos arrastando por penhascos lindos, já que as coxas tinham parado de funcionar e já faltava ar nos pulmões. Chorei quando a Dani falou que agora finalmente me entendia por querer ter vindo pra cá. Sensação de pequenez forte. A chegada em Ngawal foi comemorada. A vila é muito bonita. Bem tradicional, novamente tudo de pedra e madeira, e locais estão construindo um monumento budista na nossa frente. Encontramos aquele senhor de 80 anos novamente, almoçando na entrada da vila. Resolvemos ficar na mesma pousada dele. Vista da sacada fora do quarto é direto pra cadeia do Annapurna! Sol forte, lavamos algumas roupas inclusive. Ventania ridiculamente forte após o almoço, durou até o começo da noite. Ficaremos dois dias nesse paraíso, pra aclimatação. — Caio

Saímos de Upper Pisang mais tarde na esperança de ver as montanhas, mas a vista não ficou muito diferente de ontem, uma pena! Saímos às 9h, em direção a Ghieru, que fica 400m acima de Upper Pisang, mas olhando no mapa fica super perto. Ou seja, já sabíamos que deveríamos esperar subidas inclinadíssimas. Não deu outra! A primeira meia hora do caminho foi tranquila, até chegar em um morro MUITO ALTO com um zigue-zague infinito até o topo. Velho, que subidão! Foram 2 horas inteirinhas de ladeira, sempre avistando Ghermu lá no alto, mas parece que não chegava nunca! Enfim alcançamos os 3.700m e uma vista impecável! Tem um mirante lá no alto e uma senhora vendendo snacks e bebidas. Não resistimos e compramos um chocolate para brindar o momento e repor as energias. Recompostos, seguimos caminho até Ngawal, caminho este que é uma estreita estradinha em volta da montanha com vista para Lower Pisang, Upper Pisang, Ghermu e várias montanhas altonas ao fundo, por mais 2 horas. É energizante, faço sorrindo essas trilhas. Na chegada de Ngawal encontramos aquele monge americano e seu filho novamente, eles estavam ficando 2 dias em Ngawal para aclimatar, e nos deu uma boa idéia… Quando vimos como o vilarejo era e a vista que teríamos decidimos que era ali mesmo que ficaríamos dois dias (a ideia original era Manang, a próxima vila, mas Ngawal é ainda mais alto e melhor pra aclimatar com a altitude). Estamos em uma pousada onde da nossa varanda dá pra ver uma montanha de pico nevado e bate um sol maravilhoso (aproveitamos pra lavar roupa!). Eu cheguei hoje muitíssimo bem, animada, pedimos nosso almoço (um noodles delicioso), ficamos de boa conversando sobre o roteiro dos próximos dias até que… BUM! Bateu um negócio, um mal estar, comecei a me sentir mal, tontura, enjôo… A princípio achei que podia ser a altitude, mas comecei a piorar, veio diarréia e muito enjôo. Bendita hora que decidimos ficar 2 dias em Ngawal, sem chance de eu conseguir seguir assim! Vou comer batata cozida hoje e torcer pra ficar no meu estômago :-( — Dani

Dia 9: Chame → Dukur Pokhari → Upper Pisang, 3320 metros

Sem comentários

Que dia! Tudo perfeito hoje, pra ficar 100% mesmo só se as nuvens nos picos fossem embora também. Mal sei por onde começar. Trilha super perigosa saindo de Chame, 4 ou 5 deslizamentos por cima do caminho pra atravessarmos. Deu medo de verdade. A vila Dukur Pokhari é linda, cheia de pousadas novas, vai detonar na alta estação. Saindo dela vimos o massivo de rochas característico da região. Uma montanha absurdamente alta e larga, totalmente lisa e inclinada, no formato de uma tigela de sopa, fantástica! Parecia artificial quase. Pena que o topo dela tava encoberto, espero que as fotos tenham ficado legais. Entrar no vale de Pisang e Upper Pisang foi foda. Chegamos bem cansados. Estamos agora à 3.300 metros :-) e o vale é lindo demais, tudo que imaginei ver na trilha vi hoje finalmente. Perderia dois dias aqui fácil. Bastante seco, montanhoso, vegetação mais rasteira porém BASTANTE florida de vermelho e rosa. No alto em Upper Pisang o céu tá abrindo, já conseguimos ver parte do Annapurna, com neve e tudo, mas ainda nublado. Fome, e os dal bhat que não chegam. Que trilha, que dia. Feliz, a frustração diminuiu um pouco. O estilo da vila é muito legal, tudo meio medieval, ou mais antigo que isso ainda. Pouca pintura, tudo rústico, vielas de pedras subindo a montanha. Silêncio total. Mas parece que ainda tem sinal de celular aqui! — Caio

Gente, essa trilha tá cada dia melhor! Já estamos à 3.300m :-) Iniciamos hoje às 7h da manhã, pois sabíamos que o caminho seria longo. O dia de descanso nos fez um bem danado (e os Dorflex que tomamos também) e o caminho de hoje, mesmo longo, foi super bem feitinho, estou orgulhosa! Até Dukur Pokhari a trilha foi bem parecida com os outros dias, caminhos de pedra bem inclinados e no meio de bastante vegetação. A sinalização nessa parte foi péssima, quase não encontramos sinais, e os deslizamentos de terra são imensos, hoje deu até um medinho, passamos rápido por várias partes. Em uma parte do caminho decidimos, pela primeira vez, seguir pela estrada em vez da trilha, por segurança. A trilha seguia por um morro onde era possível ver vários pontos já deslizados e outro escorrendo água pelo meio da montanha. No way! Dukur Pokhari é um vilarejo bem lindinho que pelo jeito está começando a se desenvolver agora, e a partir de lá a trilha muda completamente! Pra mim foi um marco: depois de Dukur Pokhari o ar fica mais seco, a temperatura cai, e a paisagem… Meu deus, que coisa mais linda! Os vales ficam mais abertos, a vegetação muda, aparecem mais pinheiros, e se não fossem as nuvens de hoje daria até pra ver os Annapurnas ao fundo! O Caio tá meio frustrado com todas essas nuvens, mas eu tô curtindo mesmo assim. Bom, se o caminho até Upper Pisang é lindo, o vilarejo então, nem se fala! O estilo das guesthouses é diferente, mais rústico, pedra e madeira, e de lá se tem uma vista maravilhosa do vale e das montanhas. Estamos torcendo para amanhã as nuvens sumirem um pouco e a vista melhorar, vamos até sair mais tarde por isso. Nessa última parte do caminho a altitude começou a pegar e estamos começando a ficar mais cansados, com a respiração mais pesada, mas nada grave. Chegamos no guesthouse hoje mais cansados e famintos que nunca, implorando por um dal bhat, um banho e descanso. O dal bhat foi resolvido rapidamente (e com uma vista linda do dinning hall), mas o banho foi uma novela… o chuveiro estragou, enrolaram e enrolaram a gente e só à noite, quando já tínhamos aceitado que iríamos dormir daquele jeito, vieram avisar que o problema foi resolvido. Fechamos o dia com chave de ouro: quentinhos, de banho tomado e assistindo filme em baixo das cobertas. Ahhh como eu tô amando essa vida! — Dani

Dia 8: Chame, 2709 metros

Sem comentários

Nada diferente hoje. Estamos bem descansados agora. Visitamos a vila e compramos chocolate! Chocolate! E luvas e gorros pro frio. Nossa dieta tá bem pesada, mas mesmo assim estou emagrecendo visivelmente. Após trilhas geralmente como: dois pratos de dal baht e água. Na janta: sopa, ou momos, ou arroz frito. No café da manhã: pão com chá ou água. Deu pra recarregar todos nossos eletrônicos, e até vimos um filme no computador. — Caio

O dia hoje não foi muito cheio de atividades, pois foi dedicado a descansar e a sarar a virilha machucada do Caio. Mesmo assim, saímos para dar uma volta por Chame, que é maior do que imaginávamos, fomos até a hotspring que tem aqui (por sinal, decepcionante, eles encanaram a água quente, hehe), e encontramos um lugar com internet pela primeira vez, pra mandar notícias pra família. Meio caro, 10 centavos de dólar por minuto, mas pra mandar um e-mail rapidinho serviu! — Dani

Dia 7: Danaque → Temang → Koto → Chame, 2709 metros

Sem comentários

Depois da noitada dos locais no refeitório da pousada fomos dormir entupidos de carboidratos pra trilha até Chame. Esperávamos algo pior, acho que o corpo já tá bem com a pauleira diária. Foram 4h sem muitos problemas, sem cansaço. Até passamos 8 pessoas hoje! Incluindo um senhor americano de 80 anos super em forma. Era alpinista, os filhos até escalaram o Everest. Ele escalou a cadeia do Annapurna 40 anos atrás, morreu metada do grupo dele e ele acabou virando monge budista. Tava com roupa de monge e tudo pela trilha, barba branca enorme. Ele nos incentivou indiretamente a ir pela trilha superior, via Thanchowk, ao invés pela mais fácil. Nem doeu, chegamos inteiros. Chame nem parece central do distrito. O portal com rodas de oração é bacana, a pousada é de longe a melhor de todas, até melhor que onde ficamos em Kathmandu! Tem uma lan house do lado. Mandamos notícias pra família. Fora novidades de mais uma guerra no horizonte, o mundo fora daqui parece continuar igual. Do quarto vimos as montanhas rapidamente, mas nuvens encobriram tudo, claro. Isso tá me frustrando, a época do ano tá meio ruim ainda pra vistas magnânimas que queríamos e vimos em fotos em todos os lugares. Acho que ficaremos um dia extra aqui, machuquei a virilha, e aproveitamos o clima melhorar um pouco. Temos tempo de sobra. Estamos à 2.700 metros agora, mas as coxas aguentaram bem até aqui! Os mapas não foram nada confiáveis, entretanto. Se não fosse uns carregadores e locais nos perderíamos, altitudes conflitantes, sem sinalização etc. NATT pecou demais hoje. Aqui tá consideravelmente mais seco e mais frio, talvez compremos luvas e gorros de lã pra aguentar. Muitas pessoas com carregadores por aqui… e a Danni arrancou nove pêlos brancos da minha barba, mas o plano de dois meses sem me barbear ainda estão de pé! — Caio

Saímos de Danaque quase 8h, depois de comer um pão Tibetano no café da manhã (muito bom por sinal!). Estávamos preocupados em como seria andar quase 5 horas depois de dois dias de “descanso” andando somente 2,5 horas, mas fiquei orgulhosa da gente! O caminho foi tranquilo, o primeiro trecho até Temang é de matar, trilhas no meio da mata e subidas super íngremes, mas o restante não judiou muito. O que judiou mesmo foi a falta de sinalização. Passamos por vários locais com mais de uma opção de caminho sem indicação nenhuma e tivemos que escolher, não nos perdemos por sorte. Hoje cruzamos com vários trilheiros, entre eles um monge budista de 80 anos e seu filho na casa dos 60, ambos americanos e fazendo a trilha juntos! O senhor manda super bem (melhor que o filho e que a gente) e deixou todos do grupo de queixo caído quando ultrapassou todo mundo em uma parte íngreme da trilha em mata fechada e desapareceu na frente! Acho que vou começar a fazer meditação. Hehe. Quando conseguimos alcançá-lo ele começou a contar que ele é ex-montanhista e esteve no Nepal pela primeira vez há 40 anos, quando metade do grupo que estava com ele morreu em uma avalanche próximo ao Everest. Tenso!!! E por falar em tragédia, parte da trilha de hoje teve uns trechos bem perigosos, se tivesse chovendo hoje eu ficaria preocupada. Muitos deslizamentos de terra no caminho e alguns desvios na trilha que você via que era por que a terra deslizou e a trilha original não existia mais! Já estamos à 2.700m e já está começando a ficar friozinho! Chame é uma vila grandinha e tem umas lojinhas vendendo de tudo, chocolate, biscoito, roupas… Amanhã vamos atrás de umas luvinhas de frio que esquecemos de comprar em Kathmandu. Tomamos a decisão de ficar 2 dias em Chame porque o Caio está com a virilha machucada por causa das caminhadas, e eu é que não vou reclamar, pois vai ser bom pra descansar! Apesar de ficarmos isolados e sem comunicação com o mundo, a rotina que estamos vivendo durante a trilha tem me feito muito bem. Eu gosto da simplicidade disso tudo, a gente cansa pra caramba mas chega no vilarejo e pode escolher uma guesthouse onde você será bem recebido, terá uma cama limpinha, comida fresca e bem preparada, e ainda observa a vida local. Todo o dia a gente respira ar puro, faz exercícios, come bem (tudo da horta da família), dorme cedo, acorda cedo… Não tem muita coisa pra fazer depois de comer, tomar banho e conhecer o vilarejo onde você está (que no geral são bem pequenos). Com isso sobra um tempo danado pra você mesmo, pra pensar na vida, refletir, escrever, ler, conversar com as pessoas. Pra mim está sendo bom fazer um balanço desses 6 primeiros meses da nossa viagem, perceber o quanto eu sou privilegiada por estar vivendo e sentindo tudo isso, e melhor ainda, do lado de uma pessoa que eu amo muito. É uma paz muito boa. Pronto, fim do momento filosófico! Hehe. — Dani

Dia 6: Dharapani → Danaque, 2208 metros

Sem comentários

Nunca saberemos como se escreve o nome das vilas. Todas tem grafias variando entre placas dentro das próprias vilas. Danaque, Danakyu etc. Sei lá. Trilha hoje foi bem curta pela mudança de trajeto, só 2h andando, mais parada pra tomar água em Bagarchap. Saiu sol! Secou quase tudo menos as botas, mas como tava tudo sujo o fedor ficou foda. As nuvens ainda cobrem o Manaslu, que daria pra ser visto daqui da pousada em teoria. Bateria do celular tá em 60% após uma semana, nada mal, economia de guerra pra ter alarme de manhã, relógio e gravar os vídeos, só. A paisagem nas montanhas mudou de vez, acabou cachoeiras, agora sim só tem pinheiros. Parada relâmpago na vila. — Caio

A noite de ontem em Dharapani foi tensa. O vilarejo estava vazio, acho que só a gente de trilheiros, e às 18h, quando escureceu, decidimos descer para jantar. Estávamos trancados!!! Como já estava escuro e almoçamos tarde, a senhorinha dona da pousada deve ter achado que dormimos e resolveu dormir também. Consegui pular a janela para acessar o restaurante, mas tava tudo apagado (na verdade o vilarejo todo) e nem sinal dela. Por sorte tínhamos umas barrinhas de cereais na mochila, foi nossa janta! A parte dois da noite não foi menos pior: não deu tempo das roupas secarem lá fora e improvisamos um varal dentro do quarto bem perto da lâmpada (olha o desespero). O que os dois espertões não pensaram é que a nossa seria a única lâmpada acesa no vilarejo inteiro, o que chamou TODOS os insetos para o nosso quarto! Às 2h da manhã acordamos com o teto, a nossa cama, as roupas, a janela e todas as demais superfícies existentes no quarto tomadas por mosquitinhos, tipo mosquito de banana! A nossa sorte é que à essa altitude não tem mais pernilongos chatos, já pensou… Saímos hoje mais tarde (entre 9h e 10h) porque o trajeto seria curto. Não teve nada de especial no caminho de hoje, pois é só seguir pela estrada, mas é bem íngreme! O cansaço está começando a pegar forte com essas subidas e estou preocupada com amanhã, que deve ser umas 5 horas até Chame. Danaque em si é bem pequena e sem muitas opções boas de guesthouse. Está cada vez mais difícil encontrar chuveiro quente pela trilha. Sabemos que isso é um luxo e essa falta de chuveiros já era esperada, mas é a única coisa que estamos exigindo até agora, ajuda a manter o corpo são e renovado, já que as trilhas não têm descanso! — Dani

Posts anteriores Posts recentes