Muita coisas ficam para trás em uma viagem RTW, afinal não tem como dar uma volta no planeta todo sem simplesmente esquecer da sua vida anterior. A lista de coisas pode ser material, emocional, grande, longa, enfim. Varia de pessoa pra pessoa, naturalmente.
Para mim, Caio, tentei deixar para trás o mínimo de segurança para quando voltássemos; sim, embora muitos duvidem, nós voltaremos, eventualmente. Procurações para tomarem conta de nosso apartamento, nos ajudarem com bancos e até com burocracia das faculdades já que saímos do Brasil pouco tempo antes de recebermos nossos diplomas. Até nossas plantas, que simplesmente adoramos, vão ficar bem cuidadas por alguém. Nossas contas de condomínio etc, idem. Nossos móveis que compramos pensando a longo prazo vão ficar. Nossos livros vão ser abandonados. Nossas roupas, doadas. Tudo fica para trás, menos o que cabe em uma mochila.
Sair do trabalho foi mais complicado que eu esperava, me senti mal em deixar pra trás um pessoal tão bom e um ambiente tão legal e estimulante (após algum tempo me fodendo por aí). Eu jurava que não sentiria falta do trabalho, mas me enganei, gostaria de um dia até voltar pra lá. Coleguinhas, vocês sabem quem vocês são :-)
As nossas coisas materiais mesmo não foram problema. Fizemos bazares, doamos muitos itens pros porteiros daqui do prédio etc, foi fácil. Nossos pais toparam dividir as caixas de coisas pra guardar inclusive, facilitou um monte as nossas novas vidas, e que bom que eles tinham espaço pra acumular tanta caixa de papelão. No início pensamos em alugar um contâiner para deixar tudo lá, mas não sentimos segurança nas empresas que fazem isso aqui. Infelizmente a cultura do “self storage” americana não colou ainda no Brasil. No fim das contas, pais são sempre mais confiáveis.
Pelo lado emocional, e até psicológico, ficam nós mesmos. Uma RTW não é algo ao qual sua personalidade sobrevive, sinto muito. Sabemos que o Caio e a Dani que irão voltar não são os mesmos que saíram. A enorme quantidade de despedidas que tivemos foi maior do que as de conhecidos que foram morar fora do país até, mas faz sentido, eles continuarão os mesmos, nós não. De certa forma aproveitamos pra nos despedirmos da gente mesmo, até cansar.
Na realidade, tudo pode dar tão errado que precisaremos voltar dentro de alguns poucos meses, sei lá, e aí sim voltamos nós mesmos, mas absolutamente frustrados. É uma possibilidade real… mas à princípio seremos completamente diferentes em questão de valores depois de quase um ano mochilando. Meu medo não é voltar diferente desse jeito, meu medo é voltar antes da hora, só isso.
Minha natureza mais ou menos estóica facilitou um bocado pra mim, acho. Não sei pra Dani. Ter na sua cabeça a certeza que tudo um dia perderá seu valor, tudo um dia vira pó e que é mais uma questão de como você aproveita as coisas e não como se recorda delas, às vezes triste em um quarto. Isso ajuda bastante dentro de você. Dito isso, se parar para pensar bem, praticamente nada fica para trás, afinal esse medo todo está só na sua cabeça. O mundo não se importa.
O que fica enfim são as nossas famílias, fantásticas, e amigos, que nos apoiaram em tudo, absolutamente. Todos esses nós vemos em breve :-)
Antes de falarmos dos nossos colegas couchsurfers e porque vamos viajar assim, se liga nesse vídeo muito animal que fizeram. Ilustra bem o que é couchsurfing!
Entramos em 2008 no CouchSurfing.Org por comentários de amigos que participavam e logo pareceu uma idéia legal: receber pessoas do mundo todo viajando querendo conhecer culturas, e também ser recebido igualmente. Muita gente desconfia e tem medo, mas os viajantes do site precisam de um mínimo de informações públicas no perfil, além de dar mecanismos de segurança. Não é como encontrar um estranho na rua e convidá-lo para entrar na sua casa. Você vê o perfil da pessoa antes e decide se as informações que ela forneceu são suficientes pra te deixar tranquilo. Se sim, libera o sofá!
Basicamente você entra no site, se cadastra, cria um perfil, confirma seu endereço através de uma taxa única no cartão de crédito e espera alguém pedir seu sofá emprestado pra uns dias. Se a experiência for legal, rola recomendações públicas, se for muito legal, rola uma espécie de voucher dizendo em outras palavras “essa pessoa é muito legal e confiável”. Tudo de graça, pra conhecer lugares através dos locais. Sem abuso, na camaradagem.
Não recebemos muitas pessoas até hoje, mas foram todas marcantes por algum motivo: um paulista simplesmente querendo um hotel barato sem muito papo, um francês ligado em 220v, um casal polonês dando uma volta ao mundo ainda mais animal, dois parceiros viajando o brasil numa moto velha (um argentino e outro australiano), e uma sueca de família iraniana.
Nossa primeira experiência, o tal paulista, nos marcou simplesmente por ser uma demonstração de como não fazer couchsurfing. Couchsurfing não é hotel, não é pousada barata. Tem que conversar, conhecer, se enturmar de alguma forma, qualquer forma. Pra quem quer surfar um sofá sem ser um mala, fica a dica: pesquise no perfil ou nas fotos da pessoa que vai te hospedar informações sobre o que ela gosta de fazer, puxe assunto, converse, pergunte, seja curioso. Nenhum host é obrigado a ficar olhando pra sua cara em silêncio enquanto assiste TV. Seja um surfer gente boa!
Esse perfil de surfer agradável era exatamente o perfil do Lou Alundra, o tal francês ligado no 220v. Ele ficou pouco tempo na nossa casa mas era um cara alto astral, super gente boa, engraçadíssimo. Fomos escalar com ele, levamos ele na feirinha do bairro onde nos divertimos com ele berrando “merda” em francês, achando que ninguém entenderia e mijamos de rir vendo Charlie The Unicorn, que ele nos mostrou pela primeira vez. Esses dias, porém, foram meio tristes. Só agora, quando fomos atrás dele pra nos hospedar em Paris, ficamos sabendo que ele morreu, um ano após ter ficado na nossa casa, e de um jeito bizarro demais pra falar aqui… ficamos bem chocados. Ele era um cara que sem dúvidas iríamos curtir encontrar de novo, uma pena :-(
Esse é o Lou com a mãe dele, que se tudo der certo visitaremos.
Já os poloneses Mateusz e Ania são talvez a outra força por trás da nossa vontade em viajar. Eles fizeram uma RTW ainda mais alucinante que a nossa, acampando mesmo, coisa de amor pra toda vida o cara levar a menina pra dormir sobre rochas pontiagudas numa montanha da Nova Zelândia no frio absurdo, onde filmaram Mordor nos filmes do Senhor dos Anéis! Os dias com eles foram bem tranquilos, eles estavam bem cansados e foi divertido fazer coisas banais como jogar video game, comer pastel e conversar. A idéia de montarmos um site, ir atrás de patrocínio e fazer a viagem como mochileiros veio deles :-)
O Exequiel e o Tom, argentino e australiano, também foram uma forma de inspiração para viajar, mas nos deixaram com a sensação de que a nossa viagem é a mais segura e bem planejada possível: eles estavam viajando juntos pelo Brasil, indo do sul ao norte numa Honda CG dos anos 80 (sério). Chegaram em casa encharcados de chuva, tremendo de frio, tinham sido quase atropelados na estrada, foram assaltados por policiais, ambos meio que fugindo de problemas em casa. Dois pivetes. Triste e alegre ao mesmo tempo.
Nossa última experiência foi a Sima, sueca de família iraniana que tava estudando Curitiba e queria vir pra cá entrevistar pessoas pra faculdade de planejamento urbano dela e experimentar a região sem romantismo e markenting da TV. Se virou bem andando sozinha de ônibus, teve algumas noites movimentadas (cof cof) e aprendeu até a cantar funk e dançar tango no meio da rua. Bem louquinha e engraçada, fomos seus primeiros hosts no esquema de couchsurfing!
Se você um dia pensa em fazer uma viagem com couchsurfing, disponibilize seu sofá antes. Muitas pessoas pensam em couchsurfing como uma maneira de economizar dinheiro e acham que basta entrar no site, pedir um sofá e a noite de sono tá garantida, mas não é bem assim… vale a pena receber as pessoas antes pra entender o esquema e pegar o jeito.
Já falamos, mas não custa repetir: couchsurfing não é hotel! Nós escolhemos viajar com couchsurfing pra conhecer pessoas legais, trocar experiências e, principalmente, dicas do lugar onde você está, pois isso vale ouro. Só um local vai saber te dizer onde realmente é barato comer, como é a forma mais rápida de chegar em determinado lugar e mostrar pra você aqueles lugares fantásticos que não aparecem em guia turístico.
Nós tentamos ser hosts legais para nossos surfers, mas agora é a nossa vez. Esperamos que dê tudo certo :-)
Quando a notícia de que iríamos dar a volta ao mundo começou a se espalhar, algumas pessoas se espantavam quando eu dizia que estava tudo pronto e que os bilhetes estavam emitidos. “Nossa, mas vocês já emitiram os bilhetes para todos os trechos?”. Sim, e isso só foi possível graças ao bilhete RTW.
Basicamente, existem duas formas de panejar sua viagem de volta ao mundo: comprando os trechos separadamente ou optando por um bilhete RTW, que é um tipo de bilhete emitido por alianças de companhias aéreas que possibilita a compra de todos os trechos da viagem em um só ticket, respeitando algumas regras com relação ao número de países, milhas, direção da viagem etc. As três principais alianças que emitem este tipo de bilhetes são a One World, a SkyTeam e a Star Alliance.
As duas opções têm seus benefícios, mas financeiramente e dor-de-cabeça-mente falando o bilhete RTW da Star Alliance foi a melhor opção pra gente. Ao longo ano, vamos passar por no mínimo 25 cidades em 11 países, e o nosso transporte não vai ser exclusivamente aéreo (pela Europa vamos viajar principalmente de busão, como falaremos em um próximo post). Conciliar tudo isso é uma logística e tanto, por isso optamos por ter o esqueleto da viagem bem engessado e as regras do bilhete não nos incomodaram nem um pouco. A flexibilidade que você quer ter na viagem, o número de países que gostaria de conhecer e quais companhias aéreas voam para estes países são somente alguns dos inúmeros pontos que devem ser levados em consideração na escolha da sua opção. Esperamos que este post possa dar uma ajudinha :-)
Regras
Para se enquadrar na categoria RTW, a sua viagem precisa durar de 10 dias a 1 ano, cruzar o Atlântico e também o Pacífico ao menos uma vez, viajar sempre em um único sentido no globo, leste-oeste ou oeste-leste (a SkyTeam é a única das três alianças que não tem esta exigência) e começar e terminar na mesma cidade (no nosso caso, São Paulo). O limite máximo é de 15 destinos além da sua cidade de origem, mas existem regras específicas de cada aliança que devem ser observadas, como por exemplo o limite de 4 paradas por continente da One World e um número limite de conexões no caso da Star Alliance (à princípio metade do número de destinos).
As escalas contam como dois vôos, por isso vale muito a pena observar se as companhias aéreas que fazem parte da aliança escolhida possuem vôos diretos para os destinos escolhidos, pra não correr o risco de ver o seu limite de destinos cortado pela metade devido a vôos “pinga-pinga” que também contam na distância total da viagem.
Companhias Aéreas
A escolha da aliança pra emitir o bilhete RTW é importante porque, obviamente, nem todas as empresas tem operação em todos os continentes. Logo, se sua RTW vai focar em um continente em particular talvez uma aliança com muitas empresas daquela região sejam uma boa. Pra nós, vôos intercontinentais confortáveis eram prioridade, já que dentro dos continentes daríamos um jeito com vôos menores ou ônibus mesmo. Aparentemente a Star Alliance é a que tem mais companhias primeiro nível com vôos longos e boa reputação. Nela estão, por exemplo, a TAM (até ano que vem, provavelmente), Lufthansa, United e outras menores de países por onde passaremos (como África do Sul, Tailândia e Nova Zelândia).
Quanto custa?
A não ser que você seja um viajante muito experiente, com disposição para buscar sempre os melhores preços de passagem e suficientemente bem planejado e sortudo para conseguir comprar com o timing perfeito, o bilhete RTW será a melhor opção custo/benefício.
No geral, as três alianças têm preços muito parecidos e o que determina quanto vai custar a sua viagem é o número de milhas percorridas. O preço varia de acordo com faixas de milhas (até 26, até 29, até 34 e até 39 mil milhas), e vai de USD 4.000 a USD 6.000 na classe econômica. As alianças não cobram taxas para remarcações de dias e horários, mas alterações no itinerário tem um custo de USD 125. Isso é uma boa notícia caso esteja gostando ou odiando um lugar e querendo ficar mais ou menos tempo, decidindo na última hora, desde que não queira mudar de cidade.
Bom, muito melhor do que ficar imaginando quanto a sua viagem dos sonhos custaria é botar a mão na massa e utilizar os simuladores de cada aliança. Nós usamos e abusamos do simulador da Star Alliance, e na hora de emitir o preço ficou idêntico, então pode confiar. Mas atenção, esses simuladores são uma ameaça à sua produtividade, prepare-se para perder horas e horas neles… você foi avisado :-)
A nossa passagem fechou em 9 países, ficou dentro do limite de 34 mil milhas e custou USD 5.625 por pessoa + taxas de embarque. Nada mal pra uma volta ao mundo, né?
Caio diz... Aliás, a nossa ficou até cara porque estamos passando por todos os continentes, mas experimente simular uma menor por menos lugares, é mais barato que você imagina! Sério :-)
Como comprar?
Definido o seu roteiro, a emissão do seu bilhete pode ser feita diretamente pelo site das alianças ou através de alguma agência de viagens. No nosso caso o coeficiente de cagaço falou mais alto e nós optamos por emitir a passagem através de uma agência, pois pra quem vai passar longos meses fora de casa ter um contato aqui no Brasil para o caso de algum problema, emergência ou alteração de última hora pareceu mais seguro.
Nós recebemos a indicação da agência através de um blog e iniciamos o contato bem cedo, quando ainda nem tínhamos fechado o roteiro, o que foi muito bom para tirarmos dúvidas e esclarecermos como funcionava o bilhete. Numa dessas idas à agência, por exemplo, descobrimos que existe uma classe de vôo que é só para bilhetes RTW, e todos os vôos das alianças tem um número de assentos destinados a este tipo de viagem (se não estou enganada, 2 assentos por vôo, parece que ou classe M ou H). Isso significa que é praticamente impossível não conseguir assento disponível no vôo que você quer! Nós emitimos a nossa passagem em dezembro, com data de embarque prevista para abril, mas graças a estes assentos o bilhete pode ser emitido alguns dias antes, sem nenhum problema, pelo menos segundo as agências. Só que eu duvido que você aguente esperar :-P
Aqui em Curitiba nós indicamos o Bruno, da RKBC Turismo, que manja pra caramba. Ele nos recebeu muito bem desde nosso primeiro contato, meses antes da emissão, tirou todas as nossas dúvidas e nos passou muita segurança. Cansamos de checar detalhes com ele, sempre atencioso. Contato de ouro:
Bruno Canalli
RKBC Turismo
Av. João Gualberto 1673 – Sala 23
Curitiba – PR – Brasil – Cep: 80.030-001
Tel: 55 41 3019 8696 – Tel/Fax: 3022 4184
Em resumo, indicamos fortemente a utilização do bilhete. Acho que deu pra ver que embora cheio de regras ele é uma opção segura e confiável, basta analisar bem certinho qual é a aliança que se encaixa melhor no seu roteiro. Por isso, mãos à obra: use e abuse dos simuladores e, se preferir, converse com alguma agência desde já.
Viu como dar uma volta ao mundo já começa mais fácil que pensava?
Escolher pra onde queríamos ir foi menos complicado do que pensávamos. Claro que todo mochileiro quer ir pra todos os lugares, aí a lista começa com 100 países e termina com 10, é normal, mas meio que sabíamos (por estudar o assunto) caminhos mais ou menos comuns em viagens de volta ao mundo (RTW) ou que seriam fáceis de fazer.
O difícil ao montar o roteiro da sua viagem RTW acho que é fazer tudo encaixar: datas com lugares, com estações do ano, com tempo de permanência, com dinheiro e com disponibilidade de hospedagem. Acho que mudamos pouco a lista abaixo; o segredo é sempre ir validando seu roteiro em ferramentas e simuladores de bilhetes RTW, que vamos falar em outro post como funciona.
Mas tá aí! Nossa criaçãozinha, o roteiro da nossa volta ao mundo.
Confirmados: África do Sul, Egito, Grécia, Itália, Suíça, França, Espanha, Nepal, Tailândia, Nova Zelândia, Estados Unidos. Talvez: Portugal, Inglaterra, Alemanha, Austrália
África faremos os extremos, mas sem passar pelo miolo do continente por questão de segurança (uns 50%) e falta de grana (outros 50%, queríamos ir pra Tanzânia). Alguns dizem que a África de verdade é o miolo mas pffft… na Europa faremos uma espécie de circuito sul-oeste (de ônibus), porque estamos limitados no tempo sem visto no continente então a idéia é literalmente fazer a volta nela começando e terminando na Suíça, que tem boas conexões de vôos. Ásia infelizmente não conheceremos muito: Japão e China são chatos demais pra vistos, acredite, nem sei se vale a pena por isso. Nepal e Tailândia tá bom o suficiente, parece ser como conhecer o Acre e a Fernando de Noronha deles. Oceania e América do Norte não tem segredo, vamos nos clássicos, mas se der certo faremos um pit-stop em Fiji pro aniversário da Dani. Torçam pra dar certo ou eu dormirei no sofá nos próximos anos!
Com relação às datas e tempo de permanência em cada lugar, tivemos sempre uma preocupação na cabeça: manter a bagagem leve. Isso significa não precisar carregar roupas e calçados pesados em nenhum dos nossos destinos. Baixamos as temperaturas e volume médio de chuva de cada uma das cidades que pretendíamos visitar (o site www.worldweather.wmo.int é bem simples mas pode ajudar nesta tarefa) e fizemos um trabalho de recorte e colagem no roteiro, tirando uma semana em um lugar e colocando naquele, tudo para visitar o máximo possível de países durante o verão. Como nem tudo são flores, acabaremos visitando o Nepal e Tailândia no finalzinho da época de monções, o que pode trazer certos problemas.
Nosso roteiro é um dos mais RTW que muitos por aí, podemos garantir. Muita gente fala que fez uma viagem RTW e quando vê é um americano indo pro sul da Ásia, ou uma européia que vem pra América do Sul e vai pra Oceania rapidinho. Fizemos questão de passar por todos os continentes… bom, menos Antártida, mas isso é pra férias futuras. Inclusive nosso planejamento já engloba férias mesmo, visto que com a quantidade de milhas que ganharemos poderemos facilmente dar uma outra viajada legal, nem que seja pra gastá-las no decorrer da RTW.
E ah! Falando em férias, se cada um desses destinos fosse um período de férias, isso significa que nossa RTW é praticamente uns 10 anos de férias, nada mal hein!
Claro que um roteiro desse nunca é perfeito. A gente queria ficar mais tempo na Europa pra ver mais lugares, mas não podemos pelo limite de 90 dias pra brasileiros, ou garantir lugares na Ásia e Oceania, mas não deu, paciência :-)
Montando o seu roteiro
Pra montar seu roteiro, sugiro seguir esses mandamentos abaixo. Não são os únicos, mas caso de paute por eles garantimos que não vai dar com os burros n’água :-)
Pense como uma transportadora: você tem que ir direto e num fluxo contínuo pelo mapa, nada de voltas e mais voltas ou cruzar o mesmo caminho várias vezes (i.e. vai aumentar muito seu custo).
Viaje leve: tente seguir a rotação do planeta (sim!), viajando na velocidade das estações do ano dos lugares, assim evita ter que cobrir muitos cenários diferentes como inverno, verão e sei lá o quê aonde.
Faça com tesão: se percebe que cortou demais, ou tá enrolado demais e não é o roteiro dos seus sonhos, pare e comece de novo, uma viagem RTW é pra gastar muita energia e recursos, se o roteiro não estiver minimamente legal pra você…
Diversifique: não vá pra lugares onde já foi… se precisa ir por algum motivo, vá pro outro lado do país, passe por lugares bem diferentes entre si, conheça coisas, afinal é essa a graça da viagem.
Risque e rabisque: imprima um mapa se você não é familiarizado com geografia (sério!), use Google Maps, rabisque, olhe em um globo, experimente assim. Acredite, desenhar roteiros ajuda bastante a prever problemas na rota, além de usar o Google pra ver se é viável.
Dito isso, eu diria que um roteiro RTW bastante natural é, sem falsa modéstia, o nosso. Ele não é longo, passa por lugares variados, segue um fluxo contínuo no mapa e num sentido só do planeta, ou seja, vamos aproveitar praticamente um ano todo de verãozinho :-)
Num próximo post explicamos melhor como você pode viajar numa RTW, por avião, ônibus, à pé etc, e como fazer pra organizar e comprar um bilhete específicos para mochileiros dando a volta ao mundo, é mais fácil que você imagina.
Quando eu, Caio, virei pra Dani e falei sobre dar uma volta ao mundo, nós já havíamos viajado pros EUA duas vezes, uma vez pra Europa e outra pro Peru. Não é muito, mas é bem mais que a maioria das pessoas. Lembro que estávamos cogitando mesmo morar fora do país, mas a Dani tinha exigências altas demais pra isso e necessidades que eu não tinha… e acabei chutando o balde e falando “se é pra continuar aqui vamos pelo menos dar uma volta ao mundo pra gastar esse dinheiro” e ela topou :-)
Isso já seria uma resposta: gastar o dinheiro que guardou durante um bom tempo. Dinheiro envelhece, não foi feito pra ficar acumulando e você punhetando os números aumentando na sua conta sem ter onde gastá-lo. E pra mim gastar dinheiro é basicamente fazer e conhecer coisas que jamais poderia.
O que mais tem hoje em redes sociais é gente frustrada com a vida, emprego etc que fica postando imagens e pensamentos bonitos sobre como a vida é legal, mas está num cotidiano medíocre e tem medo de fazer algo diferente, quando muito vivem através dos outros, ou com inveja ou dando curtidas em links. Eu quis fazer diferente, nem que pudesse me dar mal por isso.
Tem gente que mal sai de casa, que acha viajar um porre ou que não serve pra nada, e tem os que acham que sem viajar você não é nada. Vou tentar ficar no meio termo, não pretendo virar hippie mas acredito realmente que sem ver natureza ou paisagens você não é absolutamente nada. Você é só um monte de poeira que acha que vive. Se você assistiu Na Natureza Selvagem, leu On The Road, curtiu Walt Whitman e Thoreau e gosta de ver timelapses de paisagens no Youtube, então acho que talvez devesse considerar dar uma volta ao mundo. Se você é nacionalista, acha que dinheiro bom é dinheiro rendendo, tem ritual ao acordar e dormir pra ficar bem penteado, é melhor ficar em casa mesmo.
Eu não sei justificar direito porque eu quero dar uma volta ao mundo. Minha recordação mais antiga sobre “lugar longe” era quando eu tinha unas 12 anos e um amigo de um tio voltou da Austrália estudando, trabalhando, sei lá, algo assim. Porra, no mapa é do outro lado, isolado! Sério, olha o mapa mundi aí, veja onde é sua cidade, olha no Google Maps. Dê zoom pra longe, mais, mais. Mais um pouco. Mais, mais, mais. Provavelmente você ainda nem consegue ver seu continente todo… tem muita coisa pra ser vista por aí!
Enfim… não gosto de pessoas, sou ranzinza, e irritável, mas ao mesmo tempo não aguento rotina longa demais, topo qualquer coisa e simplesmente adoro esse planeta, preciso aproveitar ele antes que o pouco que sobrou desapareça, vamos ver no que vai dar :-)
Quando o Caio diz que propôs uma volta ao mundo e eu aceitei, até parece que foi assim, pergunta e resposta na mesma hora. Na verdade, foi preciso muita paciência da parte dele até que eu entendesse o que uma viagem como essa significava.
Eu, certinha como sou, dando uma volta ao mundo? Não conseguia visualizar. A única imagem de vida que eu conhecia era aquela em que você acorda de manhã, vai trabalhar, vai pra faculdade, volta pra casa, dorme e no dia seguinte faz tudo isso de novo. Passar 8 meses viajando pra mim não se chamava vida, se chamava “insanidade” :-P
O fato é que eu era como a maioria das pessoas, e a maioria das pessoas se adapta muito bem à rotina que lhes é imposta, sem perceber ou sem se importar muito com o mundo à sua volta. E aí a gente fica ali, vivendo no nosso mundo particular, com nossos preconceitos, frustrações e egoísmos. Não acho que exista problema em ter uma rotina definida, trabalhar pra caramba e se esforçar para fazer as coisas bem feitas. O problema é quando essa rotina suga suas forças ou suga você pra dentro de uma redoma onde só existe trabalho, faculdade, compromissos, gerentes e deadlines.
É mais ou menos como fala a propaganda do supermercado: “o que faz você feliz?”. Conquistei muito do que queria nesses anos de esforço e trabalho levado a sério, não posso falar que não. Fiz bons amigos, cresci profissionalmente, me formei com boas notas, guardei uma grana… mas é isso que me faz feliz? Definitivamente, não. Me faz feliz o que eu faço depois das 18 horas e nos finais de semana… me faz feliz conhecer lugares novos, estar com o Caio, brincar com o meu sobrinho, poder receber quem eu gosto na minha casa pra comer pizza brotinho </inside joke>, chegar em casa antes do pôr-do-sol pra dar uma corrida. Em resumo, me faz feliz curtir a minha juventude, coisa que eu não tenho feito muito nos últimos dois anos. É hora de correr atras do prejuízo!
Mas Dani, por que ir tão longe pra se curar disso? Por que é a forma mais bonita :-)
O mundo é muito, muito, muito maior e mais interessante do que percebemos. Há muito mais lugares, culturas, pessoas, conflitos e diferenças do que conseguimos imaginar. Viajar e estar em contato com tudo isso faz com que você exercite o respeito e a curiosidade de uma forma única. Uma blogueira, dentre os vários blogs de viagem que eu acompanho, disse uma coisa muito interessante: “imagine que você, lá do universo, está olhando para a Terra e vendo todos os lugares por onde você anda, agora perceba como a gente aproveita uma parte muito pequena da Terra!”. E não é verdade? Há tanto para ser visto, para ser sentido, e está a nossa disposição… e a gente prefere a nossa redoma!
Eu não sou uma mochileira experiente, não sou desapegada e muito menos despreocupada. Que fique claro que isso não é pré-requisito para uma volta ao mundo. Pré-requisito para uma volta ao mundo é a curiosidade e a vontade. O dinheiro é uma questão de planejamento e do tipo de viagem que você espera. A coragem, vem com o tempo, enquanto você dedica horas e horas planejando, pesquisando e sonhando com a viagem que quer fazer.
Termino o post sobre motivação com uma música que eu adoro e que se encaixa perfeitamente neste momento de decisão.