Coisas que ficam para trás…

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arvore

Muita coisas ficam para trás em uma viagem RTW, afinal não tem como dar uma volta no planeta todo sem simplesmente esquecer da sua vida anterior. A lista de coisas pode ser material, emocional, grande, longa, enfim. Varia de pessoa pra pessoa, naturalmente.

Para mim, Caio, tentei deixar para trás o mínimo de segurança para quando voltássemos; sim, embora muitos duvidem, nós voltaremos, eventualmente. Procurações para tomarem conta de nosso apartamento, nos ajudarem com bancos e até com burocracia das faculdades já que saímos do Brasil pouco tempo antes de recebermos nossos diplomas. Até nossas plantas, que simplesmente adoramos, vão ficar bem cuidadas por alguém. Nossas contas de condomínio etc, idem. Nossos móveis que compramos pensando a longo prazo vão ficar. Nossos livros vão ser abandonados. Nossas roupas, doadas. Tudo fica para trás, menos o que cabe em uma mochila.

Sair do trabalho foi mais complicado que eu esperava, me senti mal em deixar pra trás um pessoal tão bom e um ambiente tão legal e estimulante (após algum tempo me fodendo por aí). Eu jurava que não sentiria falta do trabalho, mas me enganei, gostaria de um dia até voltar pra lá. Coleguinhas, vocês sabem quem vocês são :-)

As nossas coisas materiais mesmo não foram problema. Fizemos bazares, doamos muitos itens pros porteiros daqui do prédio etc, foi fácil. Nossos pais toparam dividir as caixas de coisas pra guardar inclusive, facilitou um monte as nossas novas vidas, e que bom que eles tinham espaço pra acumular tanta caixa de papelão. No início pensamos em alugar um contâiner para deixar tudo lá, mas não sentimos segurança nas empresas que fazem isso aqui. Infelizmente a cultura do “self storage” americana não colou ainda no Brasil. No fim das contas, pais são sempre mais confiáveis.

Pelo lado emocional, e até psicológico, ficam nós mesmos. Uma RTW não é algo ao qual sua personalidade sobrevive, sinto muito. Sabemos que o Caio e a Dani que irão voltar não são os mesmos que saíram. A enorme quantidade de despedidas que tivemos foi maior do que as de conhecidos que foram morar fora do país até, mas faz sentido, eles continuarão os mesmos, nós não. De certa forma aproveitamos pra nos despedirmos da gente mesmo, até cansar.

Na realidade, tudo pode dar tão errado que precisaremos voltar dentro de alguns poucos meses, sei lá, e aí sim voltamos nós mesmos, mas absolutamente frustrados. É uma possibilidade real… mas à princípio seremos completamente diferentes em questão de valores depois de quase um ano mochilando. Meu medo não é voltar diferente desse jeito, meu medo é voltar antes da hora, só isso.

Minha natureza mais ou menos estóica facilitou um bocado pra mim, acho. Não sei pra Dani. Ter na sua cabeça a certeza que tudo um dia perderá seu valor, tudo um dia vira pó e que é mais uma questão de como você aproveita as coisas e não como se recorda delas, às vezes triste em um quarto. Isso ajuda bastante dentro de você. Dito isso, se parar para pensar bem, praticamente nada fica para trás, afinal esse medo todo está só na sua cabeça. O mundo não se importa.

O que fica enfim são as nossas famílias, fantásticas, e amigos, que nos apoiaram em tudo, absolutamente. Todos esses nós vemos em breve :-)