Conhecendo Bangkok mas não conhecendo

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A Tailândia foi o ponto inicial e final da nossa passagem pelo sudeste asiático. Nosso vôo chegava e saía de Bangkok, dando liberdade pra viajarmos o quanto quiséssemos entre uma coisa e outra. Quando chegamos na cidade não a aproveitamos porque queríamos ir logo para as ilhas para pegar o tempo bom pra mergulhar, e no final acabamos enrolando nossa volta devido às manifestações contra a primeira ministra da Tailândia, que estavam pegando fogo por lá e já haviam matado pelo menos 5 pessoas. Acabamos tendo somente dois dias de verdade na cidade, e eles foram um misto de despedida com zica.

formigueiro da Khao San Road à noite

formigueiro da Khao San Road à noite

Compramos bilhete do ônibus de Siem Reap, no Cambodia, pra Bangkok por 11 dólares por pessoa e a viagem foi longa, 10 horas no total. A passagem pela fronteira foi feita sem problemas, mas foi super cansativo. As filas para saída do Cambodia e entrada na Tailândia ficam à uns 250m uma da outra, mas a distância pareceu multiplicada por 10 com o calor, mochilas e filas intermináveis. Sobrevivemos a isso e ainda tivemos que enfrentar as últimas 4 horas de viagem na primeira fileira de uma van, do lado do motorista. Chegamos na Khao San Road moídos!

Respiramos fundo e encontramos o último resquício de energia que nos restava para ir até o centro de Bangkok para o encontro semanal de couchsurfers da cidade. Não queríamos perder ele pois fazia tempo que não víamos pessoas do CS. Só que foi zica do começo ao fim… foi bem difícil negociar preço de tuk tuk porque a cidade estava parada com os preparativos do aniversário do rei no dia seguinte, ninguém queria nos levar pelos preços normais. No final encontramos um que topou desde que a gente aceitasse visitar a loja de um amigo dele, no meio do caminho, só olhar e sair, pra garantir uma comissão pra ele. Jogada clássica.

Agora imagine a situação: dois mochileiros suados, cansados depois de viajar o dia todo, sem banho, entrando em uma loja de alfaiataria fina e olhando o preço de cintos, que foi a única coisa que achamos ali que seria admissível um casal nessas condições estar comprando em uma loja desse naipe. Sério, situação constrangedora, ficamos os 5 minutos que o motorista pediu e saímos. É ridículo isso mas tem por toda a cidade, os lojistas pagam alguns motoristas de tuk tuk uma comissão para eles levarem as pessoas ali mas não faz o menor sentido. O mais bizarro é que se eles fazem isso é porque tem gente que compra…

A zica continuou quando o tuk tuk nos deixou na estação errada de trem (uma após a cerca) e andamos por 1 hora até descobrir isso, porque a pessoa que passou o endereço do encontro deu nomes de loja como referência, em vez de nomes de rua.

Caio diz... não só isso, mas as referências dela TAMBÉM batiam com as do lugar errado! zica absurda

Chegamos no encontro 1 hora atrasados e com todo mundo enturmado já, mesas todas cheias sem espaço, acabamos ficando deslocados. A única parte legal foi conhecer um canadense filho de uma chinesa e depois de um tempo de conversa descobrir que ele fala português, pois a mãe dele nasceu na China mas foi criada do Brasil! Ficamos um tempinho lá mas acabando indo pra casa cedo, não foi nosso dia de sorte.

Muito viscoso, mas muito gostoso!

Muito viscoso, mas muito gostoso!

No dia seguinte era o aniversário do rei e a cidade inteira estava em clima festivo. Filmes na TV rodavam em torno da imagem dele. As ruas todas decoradas todas de dourado. Todo mundo vestindo alguma peça de roupa amarela, e à noite todos os locais na Khao San Road pararam para cantar para o rei, todos os vendedores com uma vela amarela na mão e no final um show de fogos de artifício impressionante digno de festas de Ano Novo. Foi bem bonito, e nosso jeito de entrar na festa foi finalmente comer insetos pra experimentar! O potinho com três tipos diferentes custa 3.5 dólares, exceto barata d’água e escorpião que são bem mais caros e à parte. Escolhemos grilos, gafanhotos e larvas fritas.

Eu, Caio, sou suspeito pra comentar porque adorei. Tínhamos comido formigas no Cambodia e achei elas deliciosas, dão um sabor de tempero na carne e são crocantezinhas. Os grilos são normais, nada muito legal, meio sem gosto por serem pequenos mas salgadinhos. Gafanhotos são super crocantes, gostei muito, mas evitamos comer a parte final das pernas abaixo das juntas dos “joelhos” porque tem muitos pêlos duros tipo espinhos que espetavam. Agora, as larvas fritas, malandro… são MUITO boas! Bem crocantes, claras, com sabor suave e até lembram aqueles Salgadinhos Torcida, manja? Viscoso, mas gostoso! Recomendadíssimos :-)

É nóis pagando de turista

É nóis pagando de turista

Decidimos, mesmo com pouco tempo, visitar o mercado flutuante de Damnoen Saduak que fica uns 100kms de Bangkok parece, mas pela primeira vez nos arrependemos. Pacote turístico tinha que ter algo ruim no meio, senão não seria pacote turístico. Pagamos 10 dólares por pessoa pela viagem mais 5 dólares por pessoa pelo barco a remo para andar pelo mercado, saindo às 7h da manhã e voltando às 13h. Vieram nos buscar em uma moto e fomos eu, Dani, o Caio e a menina piloto na mesma scooter até o local onde a van estava esperando. Mais de duas pessoas na moto é bem normal por lá, mas não achei que íamos experimentar isso! Depois de 2 horas de van, pegamos o barco a motor pra chegar lá, mas estava muito estranho, tudo vazio. Passamos por um portal que dizia “welcome to the floating market” mas estava tudo fechado. Provavelmente por ser no dia seguinte ao aniversário do rei, o mercado estava acontecendo somente em uma rua. Foi o que chutamos.

Vendedor local

Vendedor local

Trocamos de barco para fazer o passeio e pegamos um barco a remo que iria andar com a gente por lá por 30 minutos. Só que foram 10 minutos andando e outros 20 parados no congestionamento com a borda dos outros barcos batendo nas nossas cabeças ou costelas. A gente não tinha ido ali pra comprar, mas se tivéssemos ido com essa intenção teria sido ainda pior, porque com toda essa muvuca era impossível acessar qualquer barco vendendo coisas.

Vendedores puxam turistas com ganchos lá

Vendedores puxam turistas com ganchos lá

Não acredite se disserem que o mercado flutuante é um passeio local, pois de local não tem nada. Não vimos absolutamente nenhum local comprando nada por lá, apenas vendendo bobagens. Todas as bugigangas e comidas que encontramos lá tinha na Khao San Road por menos da metade do preço, e é bem esse o esquema deles. Nessa muvuca, se você se interessar por alguma coisa não dá tempo nenhum de negociar preço, é pegar e soltar o dinheiro. Só que infelizmente o lugar é cheio de turistas asiáticos (chineses especialmente) que infelizmente não se importam de pagar o preço de for por 30 minutos de glamour estúpido.

No começo do passeio o pessoal do barco tirou uma foto de cada um no barco (ou casal, no nosso caso), e na saída de lá jogaram mais uma super estratégia de vendas: eles imprimem a foto de TODO MUNDO em pratinhos de louça decorados para a pessoa comprar, um por pessoa! Eles ficam observando quem está saindo do mercado e, num passe de mágica, aparecem com o pratinho com a sua foto na mão. Dá até um tilt no cérebro “no, thank… oi? eu?” que dura uns segundos até entender a jogada. Obviamente nós não quisemos, mas nos 10 minutos que ficamos esperando na hora de ir embora vimos umas 3 pessoas comprando, mais pela surpresa de ver uma foto sua do que qualquer outra coisa. Apostamos que duas chinesas caíriam no esquema e pagariam o preço sem nem negociar. Ficamos olhando elas chegarem e foi tiro e queda. Turistas chineses são todos iguais.

Embora caras demais as comidas que vendem lá parecem ótimas

Embora caras demais as comidas que vendem lá parecem ótimas

Fomos embora de lá super arrependidos. Não apenas pelo dinheiro, mas também porque disperdiçamos um tempo que já não tínhamos! O passeio é fotográfico, as fotos que tiramos de lá ficaram ótimas, mas é só isso. E na realidade pras fotos ficarem boas você tem que ser insistente e tentar sempre uma posa diferente até que os turistas sumam da frente da lente, porque é tanta gente no lugar que as fotos quase não ficam boas. Triste. Nada local, preços ruim, congestionamento de barcos, só turistas sem noção… não recomendamos :-(

Olhando assim nem parece que é uma zona de gringos né

Olhando assim nem parece que é uma zona de gringos né

Como nosso tempo foi bem corrido, acabamos não saindo muito da região da Khao San Road, a avenida dos mochileiros de Bangkok. Por um lado lá é muito bom: se tem tudo à mão, comidas são muito boas e relativamente baratas, preços sempre negociáveis e tudo funciona até de madrugada. Por outro lado: é uma rua absurdamente baladeira com músicas altas se misturando o tempo todo a ponto de à noite não ser possível nem conversar na rua, e por isso os hotéis ali são barulhentos (além de caros). Tendo conhecido as ilhas de duas regiões da Tailândia, é impossível não notar a diferença no jeito das pessoas, o pessoal de Bangkok não tem aquela simpatia e receptividade que encontramos nas ilhas, parece que não aguentam mais turistas. São todos os mais curtos e grossos quanto possível, pra não dizer mal educados mesmo. Se tivéssemos passado apenas por ali a impressão do país teria sido totalmente diferente, mas sabemos que os tailandeses de forma geral, fora da capital, são receptivos e simpáticos.

Outra coisa que nos deixou com uma impressão meio ruim da cidade foi a quantidade de mulheres locais “acompanhando” os gringos e pessoas oferecendo drogas pra gente em cada esquina, descaradamente mesmo. No hotel em que estávamos, todos os dias vinha uma tailandesa com cara de viciada que acabou de sair de uma rehabilitação com braços marcados e pele toda manchada, que acompanhava um turista até o quarto e depois descia sozinha, muito foda. Se tem isso ali na Khao San Road é porque tem turista filho da puta que quer. Se você acha isso bonitinho e bacaninha pra aura de “país da fantasia” da Tailândia, você é outro filho da puta, porque é um baita país que não precisa dessas coisas. O mesmo vale, infelizmente, pro Brasil.

Para completar nosso adeus à Ásia acabamos ficando em um hotel bem ruim porque não encontramos lugar em outros que conhecíamos. Era meio sujo até pros padrões asiáticos, com chuveiro gelado (um dos piores da viagem toda, pior que no Nepal) e a internet não funcionando direito com a gente precisando ver várias coisas pra nossa chegada na Nova Zelândia. Não foi fácil manter o bom humor, mas já era fim da Ásia e de passeios bem legais, tava valendo…

Sobre as manifestações que fizeram a gente adiar a nossa chegada, vimos assim que pousamos na Nova Zelândia que dissolveram o parlamento e convocaram eleições assim que saímos do país, mas nao vimos nada nas ruas antes disso. Pode ser que eles esconderam bem e blindaram as áreas com turistas, ou pode ser que foi tudo meio nos bastidores por causa do aniversário do rei, não sabemos. A região dos protestos e brigas com polícia e exercíto não era tão perto da Khao San Road, era mais próxima da área universitária, mas como trocentos prédios do governo já haviam sido tomados pela cidade, talvez pudesse chegar algo ali, mas não chegou. A imagem do rei, o com maior tempo de coroa no mundo, é venerada quase como deus por todo o país. Os manifestantes ainda não estão contentes e pedem pra ele intervir na bagunça com a primeira ministra, mas ele é tão velhinho que quase dá dó.

É uma pena que depois de um longo período viajando pela Ásia a gente tenha terminado o continente com esses dias meio azedos. Não sabemos se foi por falta de sorte, falta de tempo, passeio mal escolhido ou se a cidade simplesmente não agradou a gente. Sabíamos que havia lugares diferentes pra visitar, mas já estávamos cansados de templos, ruínas e parques. Considerando que foram só 2 dias no total de 106 que passamos na Ásia, achamos que fechamos com um saldo bastante positivo :-)