Preparativos pro Circuito Annapurna

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…ou “Guia Rápido para Trekkers Independentes no Circuito Annapurna” :-) Se você ainda não está cansado em ouvir a gente falar sobre nossas trilhas no Nepal, quem sabe até já pensou em um dia fazer o mesmo, sei lá. Não tema, fiel leitor! A seguir tudo o que você precisa fazer pra se meter no frio, na sujeira e estupidez de paisagens bonitas que é o Nepal, sozinho, sem guia, sem carregador, independente de ve6rdade!

Logo de cara a parte do visto não tem muito segredo, é na chegada no aeroporto mesmo. Ou rodoviária. Ou escola abandonada. Enfim, é onde disserem que é o aeroporto, acredite que é o tal lugar. Normalmente ninguém fica menos que 30 dias no Nepal (40 dólares por pessoa), mas resolvemos pegar o visto mais bacana de 3 meses pra fazermos o que quisermos, sem pressa, mesmo porque planejamos 38 dias aqui, então… morreram 100 dólares por pessoa. Recomendo levar em USD de casa, além das fotos de passaporte de costume. O caixa e casa de câmbio que tem lá são pegadinha do malandro pra arrancar dinheiro de você, não os use!

Como chegar em Kathmandu propriamente é a hora de mostrar suas habilidades de “não vou deixar ninguém perceber que é minha primeira vez aqui” então saia do aeroporto e faça cara de manolo pros táxistas esperando pra te assediar. Normalmente uma corrida de táxi (com 2 ou 3 pessoas) não deve custar mais que 400 NPR, ou 4 dólares, até o Thamel, o bairro de mochileiros e turistas. Mais que isso é roubo, menos que isso o cara vai tentar algum truque no caminho. Desconfie. Combine o preço pro táxi todo antes de entrar nele, e tenha o valor trocado já. Em teoria daria até pra ir andando pro Thamel, são só uns 5km acho, mas você não quer fazer isso nem que tenha que ficar mais tempo parado no trânsito, como possivelmente irá.

Falando em custo de táxi, nós previmos gastar pra 3 semanas de trilhas algo como 650 dólares. Acabamos esticando pra 4 semanas com um pouco mais de grana, 900 dólares. Se quiser detalhes de custos esperados na trilha, veja o nosso post especificamente sobre isso! Agora, pensando de forma mais prática, se prepare pra andar com bolos de notas como se tivesse acabado de sair de uma missão do GTA de assalto a banco. Caixas e agências de câmbio no Nepal costumam cobrar 4 dólares por saque, e os saques nunca podem ser maiores que 100, 200 ou 250 dólares por vez. Diziam que era possível sacar até 300, mas não achamos nenhum no país todo que deixasse. Normalmente deixam 100 e acabou. Faça as contas das taxas agora.

À propósito, você não vai querer ir pras montanhas com notas de 1000 rúpias nepalesas. São lindas e novas, e só saem elas dos caixas, mas as pessoas pobres no interior mal usam notas de 500, imagine de 1.000. Casas de câmbio, ou melhor, portinhas ou quiosques nas ruas, trocam até 10.000 pra você em notas de 500, sem problemas. Bancos nepaleses trocam valores maiores, e sem perguntar muito te dão tudo em notas pequenas de 100, que são o ideal. Essa é a parte do GTA. Perto da pousada Trekker’s Home no Thamel tem uma agência grande no terceiro andar dum prédio que parece abandonado. Vá lá que é receita de sucesso.

Se por acaso você já tá no Thamel e esqueceu de trazer aquela cueca da sorte, sem problemas, você tá no paraíso das bugigangas de trilha. Pela proximidade da China você imagina a autenticidade, mas se precisar comprar uma blusa da North Fake aqui é barato. Só lembre de pechinchar ao máximo. Os vendedores indianos sempre curtem um jogo de quem passa a perna no outro melhor, então eles topam pechincha. Os nepaleses e tibetanos não gostam muito, ficam até ofendidos. Em geral a cada 5 dólares você consegue 1 ou 2 de desconto dependendo do item e da sua cara pro vendedor. Tente parecer brasileiro e não europeu. Sei lá como.

Kit de roupa limpa pra nanar fofinho todo dia após trilha

Kit de roupa limpa pra nanar fofinho todo dia após trilha

Ah, então vou aproveitar pra comprar os remédios especiais pra AMS e altitude e… e… hmm não precisa. Uma vez ouvimos de locais rindo da gente, quando perguntamos disso, que o melhor e único remédio pra problemas com altitude se chama descer. Desça a trilha que melhora na hora, experiência própria da Dani inclusive. E eu não sei se confio em remédios chineses vendidos nas ruas de Kathmandu… e o mesmo digo pros mapas que vai encontrar em todo canto. Certamente precisará de um, mas veja nosso FAQ sobre o Circuito Annapurna que lá falamos melhor de mapas. A única dica marota pra isso é ir no Pilgrims Book Shop no Thamel, que é enorme e tem ótimos preços e tudo tipo de livro, revistas e mapas, é claro.

Burocracia resolvida, mapa e botas à postos!

Burocracia resolvida, mapa e botas à postos!

Mas pra você dizer que é trekker independente no Nepal ainda falta a sua quota de burocracia de país pobre, que como bom brasileiro deve conhecer. Pra andar por aí você vai precisar da sua TIMS, ou carteira do Trekkers’ Management Information System. Basicamente é um papel cartão com sua foto que é carimbado nas trilhas pra saberem por onde você tava quando morreu e deixou sua família chorando sem saber onde localizar o corpo. É uma grande falcatrua, ninguém carimba nada, como esperado. Mas é uma relíquia de trilha, e é obrigatória e custa 20 dólares por pessoa.

Já pra fazer o Circuito Annapurna especificamente você também precisa de uma licença pra entrar no santuário Annapurna, que é uma área ambiental protegida. Sua licença ACAP, de Annapurna Conservation Area Project, também custa 20 dólares. Se a polícia ou guardas florestais te pararem, geralmente é ela que eles querem ver, porque se não tiver uma vai ter que deixar uma grana na mão deles. Geralmente o dobro do custo da licença, dizem.

Ambos papéis você consegue por contra própria no escritório de turismo da capital, não precisa de agência nem guia como tentarão de convencer no Thamel. Demora no máximo 30 minutos pras ter as duas na mão, ainda ganha mapinhas e panfletos informativos. Foram super educados conosco no escritório de turismo de Kathmandu, pediram nossas fotos e pra preencher uns formulários (com inclusive dados de seguro viagem). Nem precisou mostrar passaportes.

Aí chega a hora da dica mor: onde ir nesse diabo de fim de mundo. Em Kathmandu você precisa saber onde ficam 3 lugares apenas, e somente eles. Todo o resto vai estar em volta, e eles 3 são seus pontos de referência. Primeiro, onde é o Thamel, seu bairro turístico favorito em verde no mapa abaixo. Segundo, onde é o escritório de turismo pra pegar a papelada, em azul no mapa abaixo. Finalmente, onde que tem que ir pra pegar o transporte até o começo da trilha, a estação de ônibus em vermelho no mapa abaixo. Se quiser ir de táxi pra esses lugares tente não pagar mais que 100 rúpias nepaleses pela corrida, brigue mesmo. Ou vá a pé, como recomendamos e fizemos, é super divertido brincar de Pitfall na cidade passando por cima de leprosos e merda e trânsito. Sério, não falo isso com maldade, é uma experiência malucamente interessante, vale a pena pelo menos uma vez andar fora do Thamel, que é uma bolha pra estrangeiros. Agência vão forçar a barra um monte.

Aliás, todo cidadão nepalês tem laços com alguma agência, se não tiver a própria. Em geral tentam te convencer a contratar um guia e carregador. O preço varia com a sua cara de inocente, mas pode começar em 30 dólares por dia e cair até uns 10 dólares. Isso por pessoa contratada, além dos seus custos particulares. Não caia no pânico que vão tentar te inflingir, não precisa de nada disso e é muito caro. Vá na raça como a gente que é firmeza!

Bilheteria pra comprar passagem até começo das trilhas

Bilheteria pra comprar passagem até começo das trilhas

Vá pra tal estação de ônibus New Bus Park Station, mais exatamente pra rodovia antes de entrar na estação, e pergunte por microbus pra Besisahar. Besisahar é o começo oficial da trilha. Se perguntar por ônibus, van, transporte ou alguma palavra similar você pode se enrolar. Existem ônibus chiques e privados para estrangeiros (como os da Greeline, saindo do Thamel e custando 20 dólares), mas de microbus, vulgarmente conhecido como lotação no Brasil, é mais divertido e confortável quase igual. A diferença é ser 1/4 mais barato que outro transporte, não mais que 5 dólares por pessoa por 8h de viagem.

Mas antes de subir no transporte da sua vida, talvez queira comprar provisões de emergência, já que podem custar uma grana na trilha. Procure no Thamel algum lugar com snickers e barras de cereais baratas. Qualquer coisa abaixo de 100 rúpias é bom, e barras de cereais costumam vir em pacotes de 8 ou 10 por não mais que 350. Recomendamos a continha de 1 unidade pra cada 2 ou 3 dias de trilha planejado, pra dias de fome extra ou falta de energia no meio do nada ou isolado. Papel higiênico só se bater pânico, no Nepal eles também cagam. Bom, até usam as mãos e água gelada pra se limpar, mas tem papel em qualquer lugar sim… e vou só deixar uma idéia solta no ar: rolo de silver tape e rolo de fio de nylon. Nunca se sabe.

Finalmente, o maior conselho pra preparativos que consigo pensar, e fico feliz de termos seguido ele à risca por uma semana inteira de sair, é: coma. Não embace nem deixe seu corpo na expectativa, mande logo pra dentro várias comidas locais, sem ser estúpido de comer derivados do leite, carne ou coisas sensíveis à higiene assim. Isso serve pra te testar e acostumar ao que comerá por semanas à fio três vezes ao dia. Tão logo seu corpo acostume com o tempero e ingredientes locais melhor, você não quer uma diarréia usando duas camadas de roupas com uma mochila de 10kg nas costas enquanto sobe uma ladeira com chuva… ou quer?

É isso, e agora é só começar a andar. Como nós fizemos :-)