Perguntas e respostas do Circuito Annapurna
Oct 06 2013
Algumas coisas que queríamos sempre perguntar pra alguém que já fez o Circuito Annapurna, mas nunca pudemos por motivos óbvios como não conhecer ninguém com essa experiência, nos levaram a montar um mini FAQ com essas informações. Conforme fôssemos descobrindo íamos processando a informação e vomitamos aqui fácil e formatado :-)
Quanto preciso levar de dinheiro nas trilhas?
Um casal comendo 3 refeições diárias, sem pagar hospedagem (sempre negociável) gasta em média entre 15 e 25 dólares nos trechos do circuito. Se for beber álcool ou refrigerantes e chocolate, ou seja, comidas não locais, some 50% extra no total, desde que purifique sua própria água. Comprar água no Annapurna é burrice financeira e ecológica. Fizemos um posto detalhando todos os custos nas vilas que paramos e que dá uma idéia bem boa do custo total da trilha por 1 mês. Aliás, leve muitas notas de 100 e de 500. Evite notas de 1.000, a não ser que pretenda gastar sempre perto de múltiplos disso. Bancos e trocentos quiosques de câmbio em Kathmandu trocam pra você de boa. E veja o nosso post sobre todos nossos custos anotados!
Quanto custa um quarto nas pousadas?
Varia muito com a altitude e época do ano, mas um truque comum se a trilha não estiver lotada (logo o equilíbrio de oferta e demanda tá do seu lado) é oferecer pra comer 3 refeições e ganhar o quarto de graça, mas em geral o valor do quarto acompanha o preço de uma refeição normal, quartos mais chiques acompanham o preço do dal baht. Nunca é mais que isso, a não ser que queira banheiro privado com chuveiro solar próprio, custando o dobro do preço médio.
Preciso de um guia e porter?
Todo mundo em Kathmandu vai tentar te convencer que sim, mas não, não precisa de nenhum dos dois. O guia é interessante se for um grupo de pessoas, ele conhece a região e pode servir como contato com locais e explicar algo sobre qual montanha é qual etc, mas indivíduos só perdem dinheiro contratatando um. Usar carregador, porter, vai contra nossa filosofia de trekking, mesmo porque o dinheiro que se paga em um raramente fica todo com o coitado. Carregamos 10kg cada e não tivemos nenhum problema, mas é preciso conhecer suas necessidades e sua mochila pra só andar com o essencial. Se quiser mesmo um porter, prefira contratar um direto nas vilas na trilha, é mais barato e mais justo com eles.
Quais vilas valem a pena?
Besisahar é obrigatória se for começar a trilha do marco zero, mas se não comecar ali já vale a pena parar em Bahundanda pela vista. Jagat tem uma atmosfera legal de Indiana Jones. Tal é um vale muito bonito, meio sombrio pelas cores e nuvens etc. Chame vale a pena por ser maiorzinha, tem internet e dá pra se reabastecer de coisas se precisar. Dhukur Pokhari é logo no início do vale de Pisang, na base da montanha em formato de tigela, super nova com pousadas impecáveis e com internet aparentemente. Upper Pisang é muito mais legal que Lower Pisang, a vista é fantástica e a vila é bem tradicional. Ngawal é ainda melhor que Upper Pisang e aclimata bem! Tilicho Lake não é uma vila, embora tenha um base camp, mas vale muito a pena, quase parada obrigatória. Você não quer ir pro Nepal sem ir no Tilicho, acredite! High Camp tem uma atmosfera incrível, mirante no topo do assentamento, mas só se tiver bem aclimatado pra ir. Muktinath é um retorno a civilização após tanta trilha. Ghorapani é muito jeitosa e te rende uma medalha pela façanha de chegar lá, e está logo nos pés de Poon Hill, pra fechar o circuito todo.
Preciso de mapa?
Mas é claro! Em Kathmandu e todas as vilas de tamanho médio você encontra mapas de todos os tipos. Recomendamos pegar um com bastante informação além-trilha e outro pra conferência, eles raramente batem um com o outro em distâncias e mesmo altitudes. No escritório de turismo na capital, quando pegar a licença de trekking, lá tem um mapa de altitudes útil também, e grátis. Nosso mapa é da Hymalayan Map House e o código dele é NA504 e inclui trilhas do NATT pra não precisar andar por estradas. Lembre-se que qualquer mapa é só referencial, todos que vimos possuem erros. Você está no Nepal, não na Suíça.
Onde devo começar?
O começo oficial é em Besisahar, e recomendamos começar ali, você vê a mudança de clima e vilas desde o começo. Porém é meio sacal, então pode querer começar em Bulbhule como a maioria, indo de jipe até lá. Algumas pessoas começam em Syange, indo de jipe também, é bem avançado na trilha mas só vale a pena se o tempo for curto, o caminho até ali é bem bonito e você vai perdê-lo. O que os locais chamam de estradas, vão até Jagat e Tal, depois param um pouco e voltam até Chame, então é possível pagar jipe até lá, mas perde muito da graça. Se um dia voltarmos aqui, quem dera no inverno, começaríamos em Chame direto porque já vimos o que tem antes.
Tem internet na trilha?
Surpreendentemente sim, tem, a cada 3 dias víamos algum lugar oferecendo internet. Geralmente lan houses custando 1 dólar por 10 minutos, caríssimo por padrões da trilha. Algumas vilas, como Dhukur Pokhari, ofereciam até wifi mas não sabemos se funciona nem quanto custa. Se for necessário, compre um chip local, vimos que sinal de celular e 3G funciona até bem adentro na trilha, vimos pessoas usando smartphones em vilas à 3.500m. Vilas com wifi ou lan houses que vimos são: Besisahar, Jagat, Chame, Dhukur Pokhari, Thorung Phedi, Muktinath, Jomsom, Ghorapani.
É seguro tomar água na trilha?
Sim, se for de cachoeiras grandes e claras e você tomar a água por um filtro, como fizemos com nossa Katadyn. A maioria das pessoas simplesmente compra água em garrafas de 1L e paga caro por isso (preço de uma refeição, além de ter que carregar lixo por aí). Algumas vilas, em média a cada 3 dias você encontra uma, possuem estações de água filtrada à venda, geralmente o litro custa entre 35 e 60 centavos de dólar por litro. Qualquer outra forma de tomar água precisará fervura e pastilhas de iodine.
Qual a idade limite pra fazer esses percursos todos?
Aparentemente não tem. Vimos desde crianças (que quando muito cansadas usavam cavalos pra subir) até idosos de 60 e 80 anos subindo sem problemas. A maioria, naturalmente, era na casa dos 20 anos. Alguma porcentagem na casa dos 30. Todos sofriam com graus variados de preparo físico. Evidentemente o que importa é seu ritmo, e se tiver tempo na região pode demorar quanto for e subir devagar. A única restrição não é nem de idade, mas saúde física. Pessoas obesas demais ou com problemas pra se movimentar por muito tempo não devem vir na nossa opinião… é puxado.
Tem eletricidade e chuveiro quente nos lugares?
Sim, a maioria das vilas tem chuveiro quente, o que implica ter eletricidade também. A maioria delas tem chuveiro aquecido a energia solar, mas o conceito local de água quente é bem discutível. Algumas pousadas anunciam ter chuveiro a gás, e geralmente são bem bons, melhores que chuveiros elétricos em muita casa brasileira. Não ache que é possível tomar banho frio nem no verão aqui, você não tem idéia como água vindo de uma geleira é gelada. Quando não tem chuveiro tem sempre um balde de água quente fervida pra te salvar. De vez em quando você encontrará tomadas no padrão europeu (antigo brasileiro) dentro dos quartos, mas não conte muito com isso, em geral a cada 3 ou 4 dias vai conseguir recarregar seus eletrônicos, mas quase todo dia consegue fazer isso nos refeitórios das pousadas, mas tem dividir com os outros e pagar por isso. Costuma ser 1 dólar por hora de recarga. Mantenha em mente que você está nos Himalaias e quedas repentinas e longas de energia são comuns, não deixe nada carregando sem supervisão e espere janelas de tempo quando se pode usar eletricidade de forma segura (fim da manhã até começo da noite).
Dá pra lavar roupa se me molhar ou sujar demais?
Difícil… até cruzar a barreira dos 3.000 metros a umidade é muito alta e é muito difícil secar até mesmo a roupa usada no dia na trilha, quanto mais lavar uma muda toda de roupa. O sol não fica o dia todo queimando forte, então só se tem algumas horas por dia pra secagem, e se deixar algo à noite pendurado é provável que amanheça molhado. Após os 3.000 o sol é bastante forte acima das nuvens e a umidade é baixa suficiente pra lavar e secar em horas. Talvez só tecidos grossos como meias de trilha precisem de mais tempo. Dê preferência a tecidos sintéticos.
Qual o tamanho de mochila que preciso usar?
Não carregamos mais que 10kg cada um a trilha toda, isso já incluindo um computador, sacos de dormir e uma camera DSLR, além de 1L de água. O uso vai depender da pessoa, mas uma mochila maior que 35L provavelmente é exagero já. A não ser que tenha uma justificativa boa, como carregar um saco de dormir maior e mais confortável, que ocupa espaço. Fique tranquilo, até 10kg você aguenta carregar.
Onde vou dormir?
A qualidade geral das pousadas é bem maior que se imagina, mesmo quando são casas simples de pedra e madeira não pintada. Sao até bem estilosas. Os quartos costumam ser pra duas pessoas com camas até bastante confortáveis e bem feitas dada a realidade. Só não espere roupa de cama limpa no dia, parece que as camas estão feitas há meses esperando a temporada começar. Não se passa frio algum dentro dos quartos, mesmo em alta altitude, pois te dão mantas, ou edredons, ou cobertores pesados. Já onde vai cagar, esteja preparado pra tudo.
O que se tem pra comer nas pousadas?
É incrível, mas tem de tudo, tudo mesmo. Obviamente se você comer a comida local vai economizar horrores. Bebidas e comidas importadas custam de 3 a 4 vezes o valor dos outros itens nos menus, que costumam ser padronizados por províncias. Não se preocupe que na mesma vila o menu e preço é igual pra todas as pousadas sempre, não corre-se o risco de ser roubado nessa hora, mas também não se permite barganhar por comida. Quer manteiga de amendoim? Tem. Coca-cola e refrigerantes e Red Bull? Tem. Barras de chocolate, pizza, lasanha e tortas de maça? Tem. Mas que tal comer comidas locais, baratas como dal bhat, sempre frescas feitas na hora, sem químicos e muito gostosas?
Quanto tempo preciso pra completar o Circuito Annapurna todo?
Algumas pessoas fazem entre 10 e 15 dias, mas é muito corrido e puxado pro corpo e pra ver tudo, além de correr um risco desnecessário com a alta altitude e pouco tempo pra adaptação. Pra se aproveitar cada parada nas vilas e ter tempo de tirar fotos, descansar e aclimatar a altitude, recomendamos 3 semanas Pra passeios alternativos talvez até precise de uns dias extras na conta caso não tenha um ritmo bom. Essas 3 semanas incluem o Tilicho Lake e Poon Hill, pontos obrigatórios no circuito na nossa opinião. Fizemos em mais tempo por vários imprevistos somados, e preguiça, naturalmente. Íamos devagar propositalmente.
É muito puxado? Vou aguentar?
Depende de quanto tempo e dinheiro você tem. Se você quiser, pode começar o circuito depois da primeira cidade e terminá-lo antes da última, algo que funciona bem pra você ir parando mais vezes no meio do caminho e gastar o mesmo tempo. O tempo médio nas trilhas é de 4 a 5 horas por dia, com geralmente 2 paradas rápidas pra beber algo e descansar. É possível dividir o dia em 6 ou até 8 horas, com 2 tempos de trilha de 3 ou 4 horas cada, com um almoço e descanso no meio, mas depende de cada um aguentar isso todos os dias. A gente prefere não andar com sol na cabeça nem barriga cheia, então saímos 7 da manhã e parávamos logo após o horário do almoço. Se estiver muito difícil, a cada 2h andando se encontra pousadas, mas o nível delas varia muito então esteja preparado pra paradas de emergência por causa do cansaço e conte esses dias no seu total no circuito.
É seguro?
Depende. As trilhas e vilas em si são sempre muito seguras, nunca ouvimos relatos de roubo ou assalto. No passado havia radicais maoístas pedindo propina de viajantes, mas nem sinal deles a não ser em adesivos e pôsteres espalhados pelas vilas. Já a condição geral das trilhas varia bastante e pra quem tem medo de altura e afins é preciso se preparar. É comum cruzar pontes de cabos balançando sobre rios altos ou precipícios, quando não se anda em trilhas sobre deslizamentos na beira da montanha. Recomendamos não mostrar fotos pra nenhum pai ou mãe antecipadamente. Claro, ter noções básicas de primeiros socorros não é paranóia, é sempre útil. Nepal não é um parque de diversões. É preciso se aclimatar a altitude pra ficar em segurança física, mas basta seguir as instruções gerais de qualquer site ou pessoa ou panfleto sobre o circuito, tudo senso comum suficiente. Mesmo andando sozinho é quase impossivel se perder nas trilhas, elas são bem marcadas por pegadas dos outros, e geralmente tem marcações de tinta indicando o caminho. No pior dos cenários os locais te dizem sempre pra onde ir. Lembre-se também que o país depende quase exclusivamente de turismo e são budistas, além disso o circuito é super popular, as chances de catástrofe são pequenas.
Qual a melhor época do ano pra fazer o circuito todo?
O pico de visitantes no Nepal é entre setembro e novembro. Setembro é um mês barato porque ninguém está fazendo trilhas, você passa dias sem ver alguém no caminho e consegue-se negociar preços de hospedagem. Por outro lado, é fim das monções, então em alguns dias pegará chuva e boa parte do tempo, senão quase ele todo, o topo das montanhas mais bonitas estará sempre encoberto com nuvens. Ainda assim vale a pena. Outubro tem clima perfeito e montanhas prontas pra fotos, porém é extremamente lotado. É o pico da estação e pousadas lotam, espere não conseguir negociar preço algum, e já agradeça se conseguir uma cama. Novembro é o final da temporada e tem pouco menos gente nas trilhas, mas o clima é ainda mais perfeito porque o inverno está chegando e o céu fica impecável, se vê tudo sempre. É quando tiram fotos promocionais que você vê por aí, mas espere um frio bem mais rigoroso que nos meses anteriores. Se fôssemos fazer o circuito novamente, possivelmente faríamos em novembro, sem sombra de dúvidas. Os locais dizem que imediatamente antes das monções é muito bom também, mas eu desconfio porque eles tem gostos estranhos pra dizer o que é bom na trilha.