Dia 21: Thorung Phedi, 4537 metros

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Primeiro dia completo do castigo aqui. Sol ameaçou ir embora mas deu até pra lavar algumas peças de roupas e tomar banho de balde. Nada mal. Bobeamos parte do dia e vimos pessoas chegar e sair. À noite quando fomos dormir começou a chover, após termos feito nossas mochilas para a passagem e separar duas batatas e dois rolinhos primavera de lanche pra trilha. Se dermos sorte nevará hoje lá no topo. Vamos ver se agora vai. Dani está bem melhor já. Acordaremos às 3 da madrugada pra sair. — Caio

Acordei hoje de manhã me sentindo infinitamente melhor! Dormi com a perna elevada e acordei sem inchaço nenhum e sentindo bem pouca dor. A dor de cabeça também passou, acordei com um incômodo mas ao longo do dia sumiu completamente. Ao que tudo indica amanhã é o grande dia da passagem! Descobri que estou “famosa” no circuito, algumas pessoas vieram me perguntar se era eu a tal menina que foi para o High Camp e teve que voltar. Uma família inteira decidiu ficar em Phedi ao invés de ir ao High Camp depois que conversou com a gente e contamos o ocorrido. A gente tava se sentindo de castigo porque as coisas não tinham dado certo para a nossa passagem, mas hoje veio um helicóptero até Phedi buscar uma pessoa que passou realmente mal esta madrugada, não sei se no High Camp ou durante a passagem. Ser evacuado de helicóptero custa 2.500 dólares! Seria o fim da nossa viagem! Pensando assim, ficar 2 dias esperando ficar boa não é lá uma coisa tão terrível assim. Vamos ver o que acontece amanhã, 4 horas de subida e 5 de descida. Vamos lá perninha!!! — Dani

Dia 20: Thorung Phedi, 4537 metros

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Que dia e noite de cão tivemos. Achamos que eu que não estaria bem de manhã, mas foi a Dani que acordou com a cabeça explodindo de dores na frente e na nuca. Sinal de AMS. Pena. Tava mal se mexendo de dor quando acordou, um por um foram saindo pra trilha e nós ficando pra trás. Triste. O dia, pra nos castigar mais, estava simplesmente lindo, o melhor da trilha até hoje, sem nuvens alguma até 10 da manhã, céu azul. No caminho pra descer até Thorung Phedi, e aliviar AMS, a Dani ainda caiu. A perna dela parecia ter uma batata dentro da canela onde bateu numa pedra. Se não fosse a dor de cabeça a perna nos atrasaria mesmo assim. Eu deslizei e arrebentei meus chinelos. Chegamos com fome e pagamos caro num prato horrível e tosco de comida. A única coisa boa que nos aconteceu hoje foi que ganhamos chocolates russos de um senhor… mas nós voltaremos! Recuperados. Todos que conhecemos na trilha já foram, mas não tem problema, o que importa é irmos bem para a passagem pelas montanhas e estarmos seguros. Thorung Pheedi é sem graça, mas vai ter que servir de base para uns dois dias. — Caio

Hoje não foi um dia bom. Não mesmo! Fui dormir pensando “tomara que o Caio esteja bem amanhã para fazermos a passagem”, mas na verdade quem não acordou boa fui eu :-( Nosso despertador tocou às 4 da mahã para sairmos às 5h e a primeira coisa que eu senti quando abri os olhos foi a pior dor de cabeça que já tive na vida! Tentei sentar na cama e senti uma pontada que quase me derrubou. Deitei de novo, não conseguia me mexer de tanta dor, parecia um pesadelo! Mantive a calma e pensei “ok, tive uma noite ruim, talvez por causa do frio, mas vou levantar devagar, tomar café da manhã, respirar ar puro e vou melhorar”. Não deu. Consegui levantar e ir comer, mas até para mastigar a dor era intensa. No café da manhã o clima foi triste, uma a uma as pessoas que conhecemos ao longo da trilha iam se despedindo e saindo para o grande dia, preparados e empolgados. Às 5:30 o High Camp estava vazio: restaram só eu, o Caio e os locais trabalhando para preparar o lugar para o novo grupo que chegaria dali a pouco. A sensação era de termos ficado de castigo, coitado do Caio que acordou super bem para a passagem. A minha dor nem sequer diminuiu nesse meio tempo e a decisão foi a mais segura: vamos descer. Descansamos um pouco e começamos a inclinada descina até Thorung Phedi. Aquele caminho foi feito para subir, não para descer, e foi bem difícil manter a concentração para não escorregar em meio a tanta dor de cabeça. O Caio escorregou umas 5 vezes, arrebentou o chinelo dele e eu lá, firme, forte e concentrada. Deu uma meia hora de descida e finalmente conseguimos avistar a vila. Nessa hora a dor de cabeça já estava diminuindo (é incrível como o alívio é instantâneo quando se começa a descer), eu relaxei porque estávamos chegando e… pronto! Tropecei. Não apenas tropecei, mas tropecei e levei o maior pacote de todos os tempos, caí pra frente e dei com a canela em uma pedra! Sério, em minha defesa eu tenho a dizer que não estava no auge do meu estado físico e mental, mas nem eu consegui entender como consegui cair desse jeito a apenas uns metros de Phedi, quando o pior do caminho havia passado. Gênia. Senti a perna latejar mas não imaginei que fosse nada grave, apenas uma batidinha, mas rapaz… Quando chegamos em Phedi eu levantei a calça e parecia que tinha uma batata dentro da minha perna, de tão inchada que estava! Eu não podia estar mais ferrada: dor de cabeça e uma perna que não ia garantir dias de trilha muito promissores. E o Caio não poderia estar mais compreensivo: não sabia se perguntava da dor de cabeça ou se buscava gelo para a perna. Ao longo do dia foram chegando mais pessoas vindas de Yak Kharka e Ledar e acabamos conhecendo um casal de americanos gente finíssima, em lua-de-mel (sem banho nos himalaias, mas ok), que emprestou uma pomada e uma faixa compressora para ajudar com o inchaço. Fiquei com a perna para cima o dia todo e ufa, o inchaço diminuiu e agora tenho na perna só um hematoma e um arranhão. À noite conhecemos uma enfermeira de Zurich e comentamos sobre minha dor de cabeça e se deveria ou não tomar remédio, pois estávamos com medo de esconder os sintomas do AMS, e ela não só ajudou como explicou que é melhor tomar Ibuprofeno do que Paracetamol e de repente apareceu com um comprimido! Fui muito bem cuidada hoje, nao tenho do que reclamar! Amanhã passarei o dia com a perna pra cima, em repouso, e espero estar melhor da dor de cabeça. Lição de hoje: Traga Ibuprofeno e um kit de primeiros socorros, nunca se sabe o que pode acontecer. Quanto à dor de cabeça, além de uma propensão natural eu acho que pequei em não abusar da água, que ajuda pra aclimatar (agora estou fazendo isso), pois no frio dá menos sede, e o que também percebi é que a dor aumenta assim que entro em lugares fechados. Estou passando mais tempo ao ar livre, onde se respira melhor, e prestando atenção para não bloquear a respiração com o cobertor enquanto durmo por causa do frio. Talvez se eu tivesse prestado atenção nisso desde o começo nós estaríamos agora em Muktinath comemorando a nossa passagem com um hamburguer de Yak e uma coca gelada! :-/ — Dani

Dia 19: Ledar → Thorung Phedi → High Camp, 4800 metros

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Finalmente chegamos no ponto mais alto antes da passagem, 4.800 metros! Ou 4.900 metros se contar o mirante que tem perto e pelo que os GPS estavam falando. Vista espetacular! High Campo tava lotado, é o único lugar com cama lá, todo mundo fica junto e sai a partir das 4:30 da madrugada. Fomos os últimos a sair de Ledar. Fui fazer backup das fotos e vídeos e o disco externo deu trocentos erros de I/O… pânico de gelar a espinha. Uma hora depois, uns fscks e depois de cópias manuais de segundos backups que tenho por paranóia, saímos. Até chegar em Thorung Phedi foi tudo bem, dali voltou a dor no abdômen igual nos outros dias, tirei a barrigueira e carreguei a mochila nos ombros só. Melhorou um pouco, mas os ombros não aguentaram muito tempo e tive que carregar a mochila com as mãos mesmo no final, foi sofrido. Medo pra amanhã por causa dessa dor. Comida aqui em cima é ótima, alto surpreendente mesmo pela altitude e isolamento. Qualquer lugar que se olha é foda, 24h por dia. Não sabemos que horas (nem se) sairemos amanhã. Minha mente diz pa ir, meu corpo quer ficar, mas quem dirá se estarei bem é a Deuter nas minhas costas. — Caio

Cansada e com muito frio! Mas finalmente chegamos ao High Camp, última parada antes da passagem. Saímos às 9h, mais tarde do que o esperado, porque ficamos resolvendo uns problemas com nosso backup pro HD externo, e comemos muito bem pela manhã (com a passagem chegando não queremos correr o risco de ter fraqueza, precisamos estar fortes!). A primeira parte do caminho, até Thorung Phedi, não foi difícil, demoramos menos de 2h, e chegamos lá nos reencontramos com o resto do grupo que saiu antes de nós, exceto o casal de franceses que não estava se sentindo bem e ficou em Ledar mais um dia. Em Phedi, tiramos um longo descanso, pois de lá deu pra ver que a colina que nos aguardava ia judiar da gente! E realmente, ali o bicho pegou! O caminho de Phedi até o High Camp é inclinadíssimo e conforme íamos avançando o ar ia ficando mais gelado e cada vez mais difícil de respirar. Eu sofri mas aguentei, só que o Caio está tendo bastante dificuldade com isso desde o Tilicho, ele tem sentido dor de estômago por causa da barrigueira da mochila e com isso não consegue puxar o ar direito, aí vem fraqueza e o corpo inteiro sofre! Saímos todos juntos mas chegamos por último no High Camp por causa disso, e chegamos até a considerar não fazer a passagem amanhã pra ele descansar melhor, o que seria uma pena porque nos separaríamos do restante do grupo com o qual nos identificamos muito bem. Vamos pensar nisso ainda dependendo de como nos sentirmos até a noite. O High Camp é super frio, não tem luz e ninguém nem sequer citou banho de balde, então ficaremos mais um dia sem banho (not nice), mas aqui tem uma atmosfera bem bacana. O dinning hall está cheio, todo mundo empolgadíssimo com amanhã, o ponto alto do trekking. Isso é muito legal na trilha, você acaba conhecendo um monte de outros trekkers e no fim todo mundo acaba se conhecendo! Um dia você ultrapassa o “casal de americanos” e quando decide descansar um dia mais em algum vilarejo lá estão eles de novo. Ou vai falar com alguém sobre uma pessoa que conheceu e ele diz “ah sim, eu encontrei esse cara também”. Hoje ficamos a tarde inteira jogando cartas e conversando em volta da mesa de acho que umas 10 pessoas que se conheceram em Ledar e foram juntas pro High Camp. Demos muita sorte com esse grupo, tomara que dê pra irmos amanhã com eles! :-) A vista daqui é animal, dá pra ver muitas montanhas, entre elas o Chulu e 2 dos Annapurnas. Estou me preparando psicologicamente para o frio que enfrentaremos à noite e amanhã. Está quase na hora de irmos dormir e no momento estou sentindo uma dorzinha de cabeça bem fraquinha, não sei se da altitude ou do fato de não estar dormindo direito nos últimos dias por causa do frio, cansaço ou falta de banho! — Dani

Dia 18: Sheree Kharka → Yak Kharka → Ledar, 4222 metros

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Quase morri hoje, e não sei porque. O ajuste da coluna da mochila tá ruim, por causa disso a barrigueira fica alta pressionando meio que no diafragma. Junte à isso a Dani enchendo o meu saco pra não gastar muito com comida mas ao mesmo tempo falando que tô magro e perdendo peso. Foram 6h de trilha puxada de sob-e-desce interminável, sem comer nada desde que acordei. Fiquei totalmente exausto, mal dava pra me arrastar. O problema era a dor na boca do estômago, como se tivessem me dando socos ali o tempo todo quando andava. Eventualmente chegamos em Yak Kharka, nossa parada original, mas mudamos os planos pra ir com o grupo do dia anterior até Ledar (e nem pretender mais parar em Thorung Phedi, ir pro High Campo direto). De Yak Kharka pra Ledar foi 1h horrível por meio de pedras enormes, mas deu tudo certo, exceto pelo balde de água quente pro banho, tão caro que pulamos o banho pela primeira vez no Nepal. E pelo vento rachando meus lábios apareceu uma herpes, quem diria. Faltando pouco para o dia da passagem e pras milhares de fotos de comemoração que gostaríamos de tirar. Eu mereço. — Caio

O dia de hoje foi a maior trollagem do Annapurna até agora! Saímos de 4.070m de altitude para 4.200m, então a subida deveria ser mais tranquila… Pegadinha do malandro! Tivemos que subir por quase 1 hora (super inclinado), descer tudo o que tínhamos subido por mais 1 hora, cruzar o rio e depois subir mais 1 hora até chegar em Yak Kharka. Foi mega cansativo, um dos piores dias até agora! O Caio sofreu pra caramba, não sei se não se alimentou direito nos últimos dias ou o quê (ontem ele reclamou que tem comido menos do que o desejável por causa da minha preoupação com o budget… parei), mas achei que ele não ia aguentar chegar até Ledar! Demoramos 5 horas para o trajeto todo e chegamos a Ledar mortos! Saímos com aquele grupo legal que encontramos ontem, passamos eles no caminho mas no final acabamos ficando no mesmo guesthouse, que bom! Ledar tem só uns 3 hotéis e quase não dá pra chamar de vilarejo, está mais para uma rua… O frio está aumentando bastante por aqui e a infra-estrutura diminuindo, aqui não só não tem chuveiro pra tomar banho como o balde é super caro (vamos pular banho hoje), e eletricidade então nem pensar! A noite de hoje foi bem boa, ficamos todos juntos durante a noite jogando cartas e conversando. Faltam só dois dias para a passagem pelo ponto mais alto da trilha, o Thorung La, e estou feliz que não estamos tendo nenhum problema com altitude até agora, parece que a ida ao Tilicho foi uma ótima aclimatação :-) — Dani

Dia 17: Tilicho Base Camp → Sheree Kharka, 4000 metros

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Acordamos cedo e eu ainda estava dolorido. Saímos com a intenção de já parar em Sheree Kharka porque estaríamos previsivelmente muito cansados, e sem joelhos e coxas pra sair do vale do lago Tilicho seria difícil com segurança. O caminho de volta foi mais rápido e fácil, já sabíamos o que esperar, chegamos e fomos para outra pousada dessa vez, pra variar um pouco. Passamos um bom tempo pegando todas as dicas possíveis da Tailândia e Malásia com um cara de lá muito gente fina. À noite um grupo chegou e pela primeira vez na trilha vimos um grupo interessante, todos engraçados, ninguém fútil e sabendo o que queria ali. Um casal francês de professores primários, um casal alemão estudantes de medicina, uma comerciante austríaca, um analista financeiro israelense. Combinamos de ir pra Ledar juntos no dia seguinte, fomos dormir quase às 10 da noite depois de conversar e rir muito. Foi o dia em que fomos dormir mais tarde até agora! — Caio

Ufa, o trecho perigoso passou! Cheguei a sonhar com isso, em passar de novo pelo caminho “fase de videogame”, de tão preocupada que eu estava! Mas no fim foi tranquilo, o caminho para cima dá mais aderência e não ficou tão escorregadio quanto a vinda. Chegando em Shree Kharka, escolhemos ficar em uma guesthouse diferente da primeira vez, onde conseguimos carregar todos os nosso eletrônicos e baterias de câmera de graça! À noite encontramos um grupo de 6 pessoas que se conheceram na trilha, o grupo mais legal que conhecemos até agora, são 2 franceses, 2 alemães, 1 austríaca e 1 israelense. A noite passou super rápido, ficamos conversando desde as 16h até as 21h em volta do fogareiro (hoje está bem frio), e amanhã acho que sairemos com eles pela manhã. — Dani

Dia 16: Tilicho Lake, 4949 metros

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Caralho! Hoje vimos umas das paisagens mais bonitas de todos os tempos. A trilha pra Tilicho é fantástica em imagens, sério, inesquecível. Acordamos meio atrasados e fomos os últimos a sair da pousada. Quase 1.000 metros pra subir chegando à praticamente 5.000 lá no lago Tilicho, o lago mais alto do mundo. Acabou que estávamos ótimos, eu parecia comer o ar mostrando os dentes quando abria a boca, pra dar conta de respirar, mas subimos ultrapassando muita gente. De respeito. A subida final é cheia de picos e montanhas que apenas começam ACIMA das nuvens! Em volta do lago é lindo. Tomamos um chá que vendiam no topo e fomos andar pra tirar fotos em volta dali. No caminho ouvimos barulho de trovões e vimos que a geleira tava desmoronando do outro lado do lago. Alucinante. Poderia ficar um dia todo lá no alto vendo isso, lindo demais. Na volta os joelhos doeram, e contei uns 90 yaks passeando e comendo. A dor passou, deve ser sinal de boa sorte. — Caio

Que dia massa!!! Estamos cansadíssimos, mas a trilha de hoje foi uma das melhores e mais bonitas desde o começo! Saímos do BC às 6:30 da manhã depois de um café da manhã reforçado e deixamos as mochilas no guesthouse, o que facilitou bastante as coisas, pois seriam mais de 3 horas de muita elevação e 2 horas pra descer. A trilha começa subindo a colina onde fica o base camp, subidinha já pesada. Chegando lá no alto já é possível ver o cenário que você vai seguir por grande parte da trilha: um vale enorme, rodeado de montanhas nevadas e glaciers, no fundo do vale o rio fazendo o barulho de fundo, e no lado do vale onde você está dá pra ver a trilha que segue atééé as pessoas desaparecerem no horizonte de tão pequeneninhas. E assim fomos acompanhando as montanhas, até alcançar um longo zigue-zague que leva até o alto. Olhando, o zigue-zague parece coisa de minutos, mas leva muito tempo porque a subida é SUPER íngreme, a parte mais difícil da trilha. Depois de quase morrer com aquilo finalmente alcançamos o alto da montanha. É muito estranho, pois o barulho do rio que ecoa no vale pelo caminho inteiro de repente desaparece e dá lugar a um silêncio absoluto! Lá no alto da montanha, caminhamos por meia hora até que de repente, à quase 5000m ele aparece, azul, lindo, e calmo! Que perfeição!!! Tanto o caminho quanto o lago em si renderam fotos magníficas. Ficamos 1 hora lá em cima curtindo a paisagem e observando as pequenas avalanches que acontecem o tempo todo no glacier. O barulho do gelo quebrando parece um trovão, a sensação de ouvir isso no silêncio absoluto que é aquele lugar é única! A paisagem da decida ficou ainda melhor com a luz, que mudou, mas foi bastante gelada e coitadinho dos nossos joelhinhos! Levamos 2 horas pra descer e quando voltamos ao BC estávamos morrendo de dor nos joelhos e com algumas bolhas nos pés. Me preocupa a volta a Shree Kharka amahã, pois aquele caminho é super perigoso e quero estar com os joelhos 100% para aguentar o tranco. Passamos o resto do dia de hoje descansando (depois do banho de caneca) e agora, 20h, já estamos exaustos e indo dormir. É o que a falta de energia e de carga nos eletrônicos não faz! Acho que amanhã pagaremos para recarregar algumas coisas em Shree Kharka, a gente merece! Hoje é aniversário do Leandro, meu irmão mais novo, e queria muito poder falar com ele. Pena que a próxima previsão de internet está pra daqui a muuuuitos dias! — Dani

Dia 15: Shree Kharka → Tilicho Base Camp, 4150 metros

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Prêmio turistas folgados vai para: israelenses e americanos. Prêmio turistas discretos para alemães e franceses. Totalmente sem noção e mal educados? Coreanos e chineses. Misantropia ajustada no nível máximo. A trilha hoje foi “mais mais” em vários sentidos. A mais perigosa: sem sombra de dúvidas. Trechos de dar medo mesmo, fotos pra não mostrar para os pais. Uma americana caiu do desfiladeiro duas vezes, começou a chorar e voltou pra trás parece. Pedras rolaram sobre a gente, do tamanho de um punho fechado, mas quando pegam velocidade parecem balas! A mais bonita: dia e céu abriram bem. Deu até pra ver os picos mais distantes, neve, tudo, pacote completo, foda! A mais puxada: de ter que ficar com o cérebro ligado o tempo todo, não só andando no automático. Ou não… já que não sinto absolutamente nada de AMS, mas também não dá pra respirar fundo mais. Pulmões não enchem, não importa a força que faça, então cansa subir e descer e subir de novo. A mais autêntica: vila inóspita, isolada. Sem energia elétrica, nem mesmo solar, paredes de barro e troncos com casca. Já dá pra ver a bordinha do lago no topo das montanhas, no fim da trilha saindo daqui. Ela parece bem marcada apesar de pesada. As fotos de hoje prometem. Um local riu ao ver eu penteando a minha barba :-) — Caio

O caminho de Shree Kharka até o campo base do Tilicho não tem muitas elevações e leva só 3 horas, mas cara… foram as 3 horas mais “close to death” desde o começo da trilha! Os alertas dos outros trilheiros e o cara com a perna machucada que encontramos outro dia fizeram muito sentido! A primeira hora de trilha é um sobe-desce até que simples, com alguns trechos mais íngremes mas nada de inesperado. Até que avistamos de longe o vilão, um paredão diagonal, aparentemente bem liso, e uma linhazinha no meio dele. Essa linhazinha é a trilha. Pânico nas colinas!!! Chegando perto, foi dando pra ver melhor do que se tratava: o paredão é formado por pedrinhas bem pequenas, quase uma areia vulcânica, e algumas pedras maiores. A trilha é estreita, inclinada, escorregadia pra caramba, e se você cair o paredão faz um escorregador até lá embaixo, terminando no rio. Legal né? Mas não acaba por aí! Como o paredão é um escorregador, quando bate um ventinho começa a cair umas pedras lá de cima até lá em baixo, e eventualmente caem umas pedras maiores, que se atingirem você, já era. Elas não são pedras enormes, mas acredite, vimos algumas cairem e a velocidade que elas alcançam é suficiente para fazer qualquer um perder o equilíbrio ou no mínimo machucar. Me senti em uma fase de jogo de videogame, na última (ou no caso, única) vida! Foram duas horas cautelosamente andando nesse terreno, mais pra frente a areia vai dando lugar a pedras maiores, o risco de deslizar diminui mas o de ser atingido aumenta, e finalmente entendemos o que aconteceu com o menino do pé machucado de ontem. Quando nos despedimos ele nos disse “cuidado com as cabras!”, e nós pensamos “ué, mas não foi uma pedra?”. Foi os dois! Na parte final encontramos umas cabras lá no alto, que por sorte estavam quietinhas, mas se decidissem andar derrubariam uma chuva de pedras em nós… foi o que houve com ele! Depois dessas horas de tensão finalmente chegamos ao Tilicho Base Camp! O lugar fica à 4.165m de altitude e logicamente não tem muitos lodges. O que ficamos não tem energia elétrica, o quarto é de parede de barro (gelado!) e o banho será de canequinha novamente! A única coisa ruim é que já estamos sem bateria em tudo, então não dá nem pra ver um filminho nesse frio. Daqui do BC dá pra ver parte da trilha que seguiremos amanhã até o lago, que fica a 4.900m. Ansiosa! :-) — Dani

Dia 14: Manang → Sheree Kharka, 4000 metros

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Ultimamente só temos pensado em comidas gordas e gostosas. Desejos! O dia foi meio chato, mas as vistas da vila no fim do dia valeram a pena. Abortamos o Ice Lake da manhã quando acordamos. Choveu à noite, tempo muito frio aqui no alto, não valeria a pena. Fomos pra Tilicho direto mas a Dani sentiu a altitude e cansaço e paramos antes de alcançar o Base Camp, cerca de 3h antes de lá. Primeiro banho de balde e caneca, até que demorou! Não senti nada de altitude até agora, e já estamos à 4.075 metros. O caminho pra cá foi ruim, cheio de bifurcações sem sinalização ou marcas. NATT ignora a região de Tilicho, uma pena. Mas já avistamos pra onde vai a trilha até Yak Kharka do alto. A trilha, pela data, está ficando perceptivelmente lotada. Estamos indo bem lentos. Sinto falta de sorvete com cobertura quente. Mais desejos! Vimos um cara sangrando por pedras terem rolado na trilha acima e machucado ele. Foi no trecho que andaremos amanhã. Se não tem deslizamento não é o Nepal. — Caio

O plano de ir para o Ice Lake hoje não deu muito certo. Acordamos com o dia nubladíssimo, as montanhas de Manang completamente encobertas! A graça do Ice Lake não é o lago em si, pois o Tilicho Lake (para onde vamos em alguns dias) é muito melhor, mas dizem que a vista do caminho é espetacular. Não faz sentido nenhum ir em um dia nublado. Decidimos então seguir caminho para o Tilicho, ou em direção a ele, pois é longe e demora alguns dias. Pretendíamos chegar hoje ao campo base do lago, que fica a 7 horas de Manang, mas a altitude e resquícios daquele querido parasita não deixaram :-( O caminho é bem íngreme, subimos quase 700m hoje, e a altitude pegou forte! Não conseguia respirar, o ar não vinha. Eu nunca senti algo parecido, qualquer subidinha e meu fôlego acabava como se tivesse dado um tiro de 100m sem preparo físico nenhum. Claro que o fato de não ter conseguido comer direito nos últimos dias piorou a situação. Para meu desespero, o Caio ainda não está sentindo nada, então novamente precisamos parar por causa de mim. Ele tá puto, compreensão zero, como se a culpa fosse minha. Eu até agora não entendi o motivo de tanta pressa, pois ainda temos 30 dias no Nepal. Hoje ele mereceu o troféu OGRO DO ANO quando falou “cala a boca e senta” quando eu tava passando mal do meio da montanha… foda. Isso é bom de aparecer no relato, estar na montanha a dois tem dessas coisas, as semelhanças ficam mais acentuadas, mas as diferenças também! Ogro na cidade é ogro na montanha, não tem jeito. Enfim, estamos agora em Shree Kharka, há 3 horas do base camp (o caminho era 7, paramos mais ou menos na metade) e já a 4.100m! Amanhã alcançaremos o base camp, e disseram para irmos preparados porque é bem perigoso. No caminho encontramos um rapaz que machucou a perna com uma pedra e não pôde chegar ao lago, estava mancando e com a perna enfaixada, coitado. Mais uma vez preciso me esforçar para estar 100% amanhã (já que a pressa aparentemente é mais importante que a minha saúde). Ah, para constar, tivemos hoje nosso primeiro banho de canequinha! Parece que daqui pra frente chuveiros vão virar lenda… — Dani

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