Dia 25: Muktinath, 3675 metros

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Hoje foi pura vadiagem. Até fizemos um passeio pela vila, compramos água fresca que o corpo pedia e até chocolate. Vi bastante fósseis de amonitas em pedra negra em barracas nas ruas, são comuns na região, mas acabei não achando nenhum “perfeito” pra valer a compra, caríssimos 1 dólar cada. Ficamos mesmo enfurnados na pousada. Ofereciam wifi grátis, por que não aproveitar? Tiramos o atraso de tudo online até esgotarmos as baterias dos celulares e notebook. Resolvemos pendências da viagem também, e mandamos notícias pra casa e amigos. Foi um dia preguiçoso ouvindo músicas legais no refeitório da pousada. Ótimo pra relaxarmos o corpo e a cabeça. — Caio

Sim, realmente gostamos de Muktinath! Tanto que resolvemos ficar mais um dia por aqui, já que as 11h de caminhada do dia da passagem judiaram mesmo da gente. A nossa única preocupação é dinheiro, pois com todos os atrasos estamos ficando sem grana e precisamos chegar logo em Jomsom, onde dizem que tem ATM. A solução que encontramos foi prolongar o caminho de amanhã e ir direto para Jomsom ao invés de parar em Kagbeni como era o plano original. O nosso dia de descanso hoje praticamente se resumiu em internet, vadiagem total! Estávamos com saudades disso e nos permitimos passar bastante tempo online colocando as coisas em dia. Demos uma volta pela vila também, coisa rápida porque não estávamos a fim de ir até o complexo de templos do vilarejo, que é a principal atração daqui. Parte boa do dia: com a queda de altitude volta a ser possível encontrar coisas baratas. Compramos água mineral à 60 rúpias (chega uma hora que sugar a água do filtro enche o saco e faz falta tomar água em golões) e biscoitos de coco à 30 rúpias! Eu adoro comer saudável, mas confesso que estava morrendo de saudade de uma comidinha industrializada, hehe :-) — Dani

Dia 24: Thorung Phedi → High Camp → Thorung La → Muktinath, 3675 metros

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Senta que hoje tem história! Finalmente partimos pra Thorung La, a maldita passagem à 5.416 metros! Eram 3 da manhã e o céu, como eu magicamente previra, estava limpo sem uma única nuvem. Começamos a subida no escuro mas sem vento algum, até estava mais quente que durante o dia. A lua tava cheia, era noite de equinócio inclusive, mal usei lanterna de tão claro que estava, dava pra ver os picos com neve das montanhas refletindo a luz dela, enquanto as rochas escuras ficavam ocultas. Parecia cena de filme de fantasia com montanhas de neve flutuando no ar. Agora só andar. E botar os pulmões pra fora logo nas 2h inicias. Foi ótimo subir a montanha do começo, 500 metros, no escuro e só com a Dani. Muito bonito e quieto. Bem quieto. Mais 3h, pelo menos, até o topo na passagem. Fiquei tranquilo e mesmo cansado foi tudo bem pra mim. Dani não estava aguentando, mas nunca ficava muito pra trás. Uma hora voltei na trilha até ela, peguei ela pela mão e falei “vamos descansar ali” e ela chorou quando viu que tínhamos chegados nas bandeiras de oração que marcam a passagem lá no alto. Ficamos 1h lá passeando e vendo tudo. Bonito pra caralho ver o sol nascendo nas montanhas daqui, sem palavras. Tiramos muitas fotos hoje, bateu o paparazzi na gente, mas nenhuma vai dar a mesma dimensão de ver com os olhos. A melhor foto que tiramos é a pior vista que vimos ao vivo. Nem nosso desprezo pelos que subiram à cavalo e com carregadores bateu nossa empolgação hoje. São 5.416 metros, porra! O mais alto que estarei na vida, acho. Bom, quem sabe não. A descida prometeu e cumpriu ser dura. Subimos 1.000 e descemos 2.500 hoje, em 11h cravadas. Joelhos não doem mais, passaram desse ponto já, mas o corpo como um todo tá pedindo uma overdose de Dorflex e cama. A vila de Muktinath é bem jeitosa até, quase civilização, nos surpreendeu tanto que ficaremos um dia extra pa aproveitar e descansar bem. Merecemos. Ainda temos Poon Hill e umas duas semanas de trilhas. — Caio

FINALMENTE! Não consigo nem descrever o quanto estou feliz e aliviada. Acordamos às 3 da manhã como planejado, nos vestimos, tomamos o chá e o pão com mel que o Kumar deixou, tudo sem olhar lá fora. Sairíamos de qualquer maneira. Às 3h40 abrimos a porta e o alívio veio: o tempo estava bom! Poucas nuvens e uma lua cheia linda iluminando o caminho, tanto que o Caio nem usou lanterna. A subida até o High Camp foi menos gelada do que o teste que fizemos de dia 2 dias antes, mas a falta de ar judiou da gente. Não tava tão gelado para respirar, mas muito mais difícil de puxar o ar, cada curva do zigue-zague era um descanso. A parte boa é que a vista das montanhas de madrugada, só com a luz da lua, é INCRÍVEL!!! Às vezes só a neve no topo das montanhas fica visível e parece que o pico da montanha está flutuando no céu, coisa de outro mundo. Se foi a falta de ar ou o tempo contemplando a vista eu não sei, mas chegamos ao High Camp uns 30 minutos depois do esperado! Descansamos um pouco no High Camp e logo seguimos viagem para a segunda etapa do dia: mais 3 horas de subida até o Thorung La. Quando saímos do High Camp o dia já estava clareando, mas nada de sol… Cara, que friaca! Foi tenso, muito tenso… O caminho é um loooongo zigue-zague subindo (não tão inclinado como a primeira parte até o HC), mas interminável. Quando andávamos, não conseguíamos respirar, quando parávamos pra respirar o corpo gelava e não aguentávamos de frio. Eu não sentia os dedos dos pés mais. As pessoas foram nos passando no caminho e eu pensando “será que tem algo de errado comigo? será que eu tô passando mal e não sei?”. O Caio também sofreu, mas a falta de ar pra mim pegou muito mais, eram 10 minutos andando e 5 parados pra recuperar a respiração. Logo chegou o sol pra diminuir um pouco o frio, o que ajudou bastante. Seguimos caminhando e em um momento começou a dar uma fraqueza e tivemos que parar pra comer uma barra de cereais. A vista do caminho é um espetáculo a parte, quanto mais alto íamos chegando mais nos aproximávamos dos picos com neve das montanhas e no silêncio dá até pra ouvir o som do sol derretendo o gelo, um crec crec. 3 horas e meia depois de deixarmos o High Camp eu estava exausta e gelada, encontrei uma pedra e sentei pra descansar. O Caio pegou a minha mão e falou “não pára agora, vamos descansar ali na frente”. Levantei sem força nenhuma e continuei. Quando olhei pra frente, ali estavam as bandeirinhas. “Chegamos”, ele falou. Chegamos. CHEGAMOS!!! Eu não conseguia acreditar. Chorei, claro que chorei! Toda a espera, o nosso retorno a Phedi, a perna machucada, o clima que não melhorava, a falta de ar, cansaço, o frio… tudo acabava ali. Chegamos! Foi lindo! Na mesma hora veio uma energia não sei de onde, eu estava a 5.416m de altitude, na passagem mais alta do mundo, eu tinha que aproveitar! Ficamos uma hora lá no alto, tiramos várias fotos, comemos o chocolate que tínhamos levado pra brindar e depois, recuperados e felizes, iniciamos a 3a fase do dia: 5 horas de descida até Muktinath. A trilha até lá é longa e constante, desde o começo da trilha já dá pra ver o valezão onde o vilarejo fica, na região de Mustang (hoje deixamos a região de Manang). O solo é bem seco (mas pegamos um pouco de neve derretida no começo da trilha, fez até um barro) e a descida em pedras dá até dó dos joelhos, coitados. Em um trecho é preciso passar por uma estrada de pedras, umas pedronas terríveis de andar e pra torcer o pé ali é 2 palitos. Perto das 4 horas de descida, sempre com a mesma vista do vale ao fundo, chegamos em Charabu, uma vila bem pequena mas perfeita para almoçar e recarregar as energias. Depois do pit stop seguimos descendo e mais ou menos 1 hora depois tivemos uma baita surpresa: o tamanho de Muktinath! De longe já chama atenção o número de prédios, templos e o movimento na rua, exatamente como achei que Manang ia ser, mas não foi! Ontem o Kumar nos disse que tem um complexo de templos ali e isso tem chamado muitos peregrinos pro local. Quando chegamos à vila entendemos o quanto de desenvolvimento isso trouxe, pois a exigência deles não é a mesma dos mochileiros do Annapurna Circuit. Eu não posso reclamar, pois depois de tanto tempo isolados em Phedi sem energia elétrica, comendo os mesmos pratos (os únicos baratos do menu), tomando banho de balde (quando tomava), um pouco de civilização foi muito bom! Tomei um banho quentinho de chuveiro, usei o banheiro sentada, comi um hamburguer de Yak pela primeira vez, pois os preços aqui são mais baixos do que no alto, e, pasmem, chequei meu e-mail com conexão WIFI! Por essa não esperávamos, nenhum mapa dizia que teria internet em Muktinath. Foi muito bom poder dar um alô pro mundo. Só não sei se quero que continue assim daqui pra frente, esse isolamento tava me fazendo tão bem… — Dani

Dia 23: Thorung Phedi, 4537 metros

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Mais um dia na prisão. Na verdade nos preparamos pra sair às 3 da manhã porém fiquei responsável em checar o tempo antes. Acordei às 4 e meus poderes climatológicos diziam que a neve e chuva iriam parar e valia a pena esperar mais um dia, via alguns pontos de céu limpo de madrugada. Passamos o tempo jogando Jenga (que surpreendentemente mata o tempo mesmo, nos divertimos bastante) e reparamos que pela primeira vez Thorung Phedi tava vazia, exceto por nós e os donos da pousada super simpáticos. Enquanto jogávamos Jenga estavam de olho rindo pela tensão da disputa e até botaram The Good, The Bad and The Ugly pra tocar nas caixas de som haha. Conversamos muito sobre nossos países (Nepal, Brasil e África do Sul). Até ganhamos chás e café da manhã grátis, pra boa sorte! Não importa o que aconteça agora, amanhã temos que cruzar a passagem. — Caio

Conforme previsto, o clime por aqui ainda não melhorou o suficiente e mais uma vez ficamos para trás. Acordamos às 3:30 da manhã e o Caio foi lá for a ver como estava o clima. Dava para ir, mas não estava perfeito. A chuva tinha passado, mas havia ainda muitas nuvens… nós sabemos como é o céu em um dia perfeito para a passagem (que foi o que perdemos porque fiquei mal), e não era aquele. Depois que amanheceu eu achei muito preciosismo da nossa parte não ter ido e começo a pensar que fizemos cagada, principamente porque ao longo do dia algumas nuvens apareceram e agora está bem nublado, tô com medo de chover amanhã e termos que ir mesmo assim, pois não temos mais dinheiro para ficar mais tempo em Phedi. Sem contar que o pessoal daqui está até achando graça nisso, ninguém fica tanto tempo assim no mesmo lugar! Falando nisso, esqueci de comentar como é o lodge que estamos ficando! Não é nada comum, totalmente fora do padrão nepali. O dono daqui é o Kumar, um nepali que usa dread locks, óculos Ray Ban e um chapéu tipo Indiana Jones. Junto com ele (além dos locais da cozinha) trabalha a Kate, uma sulafricana branca que veio fazer trabalho voluntário no Nepal, conheceu o Kumar, se apaixonou e decidiu ficar! O resultado disso tudo é um guesthouse nada normal, com um dinning hall bem decorado (meio zen) e com uma trilha sonora muito boa como som ambiente (vindo ditreto de um macbook pro, jamais esperaria encontrar um nas montanhas do Nepal). Sério, aqui toca Eddie Vedder (trilha do Into de Wild), Bob Dylan e umas músicas alternativas de vários países! Quando começou o dia hoje, meio nublado, comecei a imaginar o tédio que seria mais um dia ali. Mas ficamos jogando Jenga um tempão, enquanto a galera vinha e saía, e no fim do dia só sobrou a gente, o Kumar e a Kate! Acabamos ficando conversando com eles até tarde, ele ofereceu um chá de graça e acabou mandando até um café da manhã de graça pra comermos antes de sairmos pra passagem amanhã. Acho que não aguenta mais a nossa cara, hehe. E amanhã é o grande dia, faça chuva ou faça sol (literalmente). — Dani

Dia 22: Thorung Phedi → High Camp → Thorung Phedi, 4800 metros

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Não foi dessa vez. Acordamos de madrugada com o barulho da chuva forte, não enxergávamos nada do lado de fora. Desistimos de ir pra passagem. Choveu 12h seguidas desde ontem à noite! Muita neblina e frio. Aparentemente todos que dormiram na pousada desistiram também, menos uma família inglesa com uma filha adolescente com AMS que insistiu em subir na chuva e com dor. Espertos. Fomos pro High Camp à tarde para ver se lá, acima da linha das nuvens, estava melhor. Não tava, tava muito pior. Lá ainda tava até nevando e chovendo, alternadamente. Não víamos nada quase, mas pra variar a atmosfera lá estava ótima e até comemos com o pessoal do dia. Paciência, era o que dava pra fazer… ouvir a empolgação de todo mundo lá no High Camp, e nos resignar. Dani melhorou de vez acho, mas vamos esperar o tempo abrir agora. Depois do que vimos dois dias atrás no High Campo nos recusamos a ir com esse clima feia. Minha bota abriu de vez, completamente, dá pra ver os miolos de tecido da sola. Fodeu, modo emergência agora. Farei uma cirurgia nela com silver tape logo mais. Tudo ou nada pra coitada. E pros meus pés nesse frio. Difícil tirar fotos pra dar uma idéia do clima lá fora. — Caio

Ontem fomos dormir cedo, alimentados, empolgados e preparadíssimos para acordar às 3 horas da manhã para fazer a passagem. Assim que deitamos, começamos a ouvir chuva e eu achei legal, pois isso talvez indicasse neve no alto da passagem, o que seria bacana. Porém, a chuva não parou… 21h, 22h, 1 da manhã… cada vez que eu acordava estava pior. Com a altitude o sono fica quebrado e deu pra acompanhar o clima piorando cada vez mais. Quando o despertador tocou às 3 da manhã, o mundo desabava lá fora! Pensamos até em sair mais tarde, esperamos um pouco, mas nada de melhorar. Acabamos voltando a dormir e acordamos às 8, e descobrimos que quase ninguém foi, só quem realmente estava com o tempo apertado. O clima parecia cenário de Silent Hill, neblina pesada, muito frio e garoa. Droga, no mínimo mais um dia de castigo por aqui! O pior de tudo é que parece que não vai melhorar para amanhã, então talvez sejam DOIS dias de castigo! Para aclimatar um pouco e espantar o frio, resolvemos subir até o High Camp e passar um tempinho por lá. Por causa do frio a subida foi bem pesada, a respiração difícil e muito cansaço. Mas até que foi um bom teste para saber o que vestir e o que mudar no grande dia, já que faremos o mesmo caminho à noite, mais frio e sem luz. Quando chegamos lá no alto, descobrimos que o clima lá estava pior ainda, mais neblina, mais frio e em alguns momentos chegou até a nevar! Ficamos umas 2 horas lá, comemos um macarrão caseiro com molho de tomate e queijo (o melhor de todo o circuito) e descemos novamente até Phedi. Com esse “castigo” está cada vez mais difícil querer comer dal bhat e outras comidas locais, já são 21 dias de trilha e vai dando uma saudade de comer coisas diferentes! Saudades e preocupação com a família e amigos também, pois é um longo período sem conseguirmos dar ou receber notícias. Bate um medinho de ter acontecido algo e a gente não ter nem ficado sabendo! Essa sensação já era esperada, mas como o dia da passagem está mais enrolado que novela mexicana, vai batendo uma ansiedade… — Dani

Dia 21: Thorung Phedi, 4537 metros

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Primeiro dia completo do castigo aqui. Sol ameaçou ir embora mas deu até pra lavar algumas peças de roupas e tomar banho de balde. Nada mal. Bobeamos parte do dia e vimos pessoas chegar e sair. À noite quando fomos dormir começou a chover, após termos feito nossas mochilas para a passagem e separar duas batatas e dois rolinhos primavera de lanche pra trilha. Se dermos sorte nevará hoje lá no topo. Vamos ver se agora vai. Dani está bem melhor já. Acordaremos às 3 da madrugada pra sair. — Caio

Acordei hoje de manhã me sentindo infinitamente melhor! Dormi com a perna elevada e acordei sem inchaço nenhum e sentindo bem pouca dor. A dor de cabeça também passou, acordei com um incômodo mas ao longo do dia sumiu completamente. Ao que tudo indica amanhã é o grande dia da passagem! Descobri que estou “famosa” no circuito, algumas pessoas vieram me perguntar se era eu a tal menina que foi para o High Camp e teve que voltar. Uma família inteira decidiu ficar em Phedi ao invés de ir ao High Camp depois que conversou com a gente e contamos o ocorrido. A gente tava se sentindo de castigo porque as coisas não tinham dado certo para a nossa passagem, mas hoje veio um helicóptero até Phedi buscar uma pessoa que passou realmente mal esta madrugada, não sei se no High Camp ou durante a passagem. Ser evacuado de helicóptero custa 2.500 dólares! Seria o fim da nossa viagem! Pensando assim, ficar 2 dias esperando ficar boa não é lá uma coisa tão terrível assim. Vamos ver o que acontece amanhã, 4 horas de subida e 5 de descida. Vamos lá perninha!!! — Dani

Dia 20: Thorung Phedi, 4537 metros

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Que dia e noite de cão tivemos. Achamos que eu que não estaria bem de manhã, mas foi a Dani que acordou com a cabeça explodindo de dores na frente e na nuca. Sinal de AMS. Pena. Tava mal se mexendo de dor quando acordou, um por um foram saindo pra trilha e nós ficando pra trás. Triste. O dia, pra nos castigar mais, estava simplesmente lindo, o melhor da trilha até hoje, sem nuvens alguma até 10 da manhã, céu azul. No caminho pra descer até Thorung Phedi, e aliviar AMS, a Dani ainda caiu. A perna dela parecia ter uma batata dentro da canela onde bateu numa pedra. Se não fosse a dor de cabeça a perna nos atrasaria mesmo assim. Eu deslizei e arrebentei meus chinelos. Chegamos com fome e pagamos caro num prato horrível e tosco de comida. A única coisa boa que nos aconteceu hoje foi que ganhamos chocolates russos de um senhor… mas nós voltaremos! Recuperados. Todos que conhecemos na trilha já foram, mas não tem problema, o que importa é irmos bem para a passagem pelas montanhas e estarmos seguros. Thorung Pheedi é sem graça, mas vai ter que servir de base para uns dois dias. — Caio

Hoje não foi um dia bom. Não mesmo! Fui dormir pensando “tomara que o Caio esteja bem amanhã para fazermos a passagem”, mas na verdade quem não acordou boa fui eu :-( Nosso despertador tocou às 4 da mahã para sairmos às 5h e a primeira coisa que eu senti quando abri os olhos foi a pior dor de cabeça que já tive na vida! Tentei sentar na cama e senti uma pontada que quase me derrubou. Deitei de novo, não conseguia me mexer de tanta dor, parecia um pesadelo! Mantive a calma e pensei “ok, tive uma noite ruim, talvez por causa do frio, mas vou levantar devagar, tomar café da manhã, respirar ar puro e vou melhorar”. Não deu. Consegui levantar e ir comer, mas até para mastigar a dor era intensa. No café da manhã o clima foi triste, uma a uma as pessoas que conhecemos ao longo da trilha iam se despedindo e saindo para o grande dia, preparados e empolgados. Às 5:30 o High Camp estava vazio: restaram só eu, o Caio e os locais trabalhando para preparar o lugar para o novo grupo que chegaria dali a pouco. A sensação era de termos ficado de castigo, coitado do Caio que acordou super bem para a passagem. A minha dor nem sequer diminuiu nesse meio tempo e a decisão foi a mais segura: vamos descer. Descansamos um pouco e começamos a inclinada descina até Thorung Phedi. Aquele caminho foi feito para subir, não para descer, e foi bem difícil manter a concentração para não escorregar em meio a tanta dor de cabeça. O Caio escorregou umas 5 vezes, arrebentou o chinelo dele e eu lá, firme, forte e concentrada. Deu uma meia hora de descida e finalmente conseguimos avistar a vila. Nessa hora a dor de cabeça já estava diminuindo (é incrível como o alívio é instantâneo quando se começa a descer), eu relaxei porque estávamos chegando e… pronto! Tropecei. Não apenas tropecei, mas tropecei e levei o maior pacote de todos os tempos, caí pra frente e dei com a canela em uma pedra! Sério, em minha defesa eu tenho a dizer que não estava no auge do meu estado físico e mental, mas nem eu consegui entender como consegui cair desse jeito a apenas uns metros de Phedi, quando o pior do caminho havia passado. Gênia. Senti a perna latejar mas não imaginei que fosse nada grave, apenas uma batidinha, mas rapaz… Quando chegamos em Phedi eu levantei a calça e parecia que tinha uma batata dentro da minha perna, de tão inchada que estava! Eu não podia estar mais ferrada: dor de cabeça e uma perna que não ia garantir dias de trilha muito promissores. E o Caio não poderia estar mais compreensivo: não sabia se perguntava da dor de cabeça ou se buscava gelo para a perna. Ao longo do dia foram chegando mais pessoas vindas de Yak Kharka e Ledar e acabamos conhecendo um casal de americanos gente finíssima, em lua-de-mel (sem banho nos himalaias, mas ok), que emprestou uma pomada e uma faixa compressora para ajudar com o inchaço. Fiquei com a perna para cima o dia todo e ufa, o inchaço diminuiu e agora tenho na perna só um hematoma e um arranhão. À noite conhecemos uma enfermeira de Zurich e comentamos sobre minha dor de cabeça e se deveria ou não tomar remédio, pois estávamos com medo de esconder os sintomas do AMS, e ela não só ajudou como explicou que é melhor tomar Ibuprofeno do que Paracetamol e de repente apareceu com um comprimido! Fui muito bem cuidada hoje, nao tenho do que reclamar! Amanhã passarei o dia com a perna pra cima, em repouso, e espero estar melhor da dor de cabeça. Lição de hoje: Traga Ibuprofeno e um kit de primeiros socorros, nunca se sabe o que pode acontecer. Quanto à dor de cabeça, além de uma propensão natural eu acho que pequei em não abusar da água, que ajuda pra aclimatar (agora estou fazendo isso), pois no frio dá menos sede, e o que também percebi é que a dor aumenta assim que entro em lugares fechados. Estou passando mais tempo ao ar livre, onde se respira melhor, e prestando atenção para não bloquear a respiração com o cobertor enquanto durmo por causa do frio. Talvez se eu tivesse prestado atenção nisso desde o começo nós estaríamos agora em Muktinath comemorando a nossa passagem com um hamburguer de Yak e uma coca gelada! :-/ — Dani

Dia 19: Ledar → Thorung Phedi → High Camp, 4800 metros

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Finalmente chegamos no ponto mais alto antes da passagem, 4.800 metros! Ou 4.900 metros se contar o mirante que tem perto e pelo que os GPS estavam falando. Vista espetacular! High Campo tava lotado, é o único lugar com cama lá, todo mundo fica junto e sai a partir das 4:30 da madrugada. Fomos os últimos a sair de Ledar. Fui fazer backup das fotos e vídeos e o disco externo deu trocentos erros de I/O… pânico de gelar a espinha. Uma hora depois, uns fscks e depois de cópias manuais de segundos backups que tenho por paranóia, saímos. Até chegar em Thorung Phedi foi tudo bem, dali voltou a dor no abdômen igual nos outros dias, tirei a barrigueira e carreguei a mochila nos ombros só. Melhorou um pouco, mas os ombros não aguentaram muito tempo e tive que carregar a mochila com as mãos mesmo no final, foi sofrido. Medo pra amanhã por causa dessa dor. Comida aqui em cima é ótima, alto surpreendente mesmo pela altitude e isolamento. Qualquer lugar que se olha é foda, 24h por dia. Não sabemos que horas (nem se) sairemos amanhã. Minha mente diz pa ir, meu corpo quer ficar, mas quem dirá se estarei bem é a Deuter nas minhas costas. — Caio

Cansada e com muito frio! Mas finalmente chegamos ao High Camp, última parada antes da passagem. Saímos às 9h, mais tarde do que o esperado, porque ficamos resolvendo uns problemas com nosso backup pro HD externo, e comemos muito bem pela manhã (com a passagem chegando não queremos correr o risco de ter fraqueza, precisamos estar fortes!). A primeira parte do caminho, até Thorung Phedi, não foi difícil, demoramos menos de 2h, e chegamos lá nos reencontramos com o resto do grupo que saiu antes de nós, exceto o casal de franceses que não estava se sentindo bem e ficou em Ledar mais um dia. Em Phedi, tiramos um longo descanso, pois de lá deu pra ver que a colina que nos aguardava ia judiar da gente! E realmente, ali o bicho pegou! O caminho de Phedi até o High Camp é inclinadíssimo e conforme íamos avançando o ar ia ficando mais gelado e cada vez mais difícil de respirar. Eu sofri mas aguentei, só que o Caio está tendo bastante dificuldade com isso desde o Tilicho, ele tem sentido dor de estômago por causa da barrigueira da mochila e com isso não consegue puxar o ar direito, aí vem fraqueza e o corpo inteiro sofre! Saímos todos juntos mas chegamos por último no High Camp por causa disso, e chegamos até a considerar não fazer a passagem amanhã pra ele descansar melhor, o que seria uma pena porque nos separaríamos do restante do grupo com o qual nos identificamos muito bem. Vamos pensar nisso ainda dependendo de como nos sentirmos até a noite. O High Camp é super frio, não tem luz e ninguém nem sequer citou banho de balde, então ficaremos mais um dia sem banho (not nice), mas aqui tem uma atmosfera bem bacana. O dinning hall está cheio, todo mundo empolgadíssimo com amanhã, o ponto alto do trekking. Isso é muito legal na trilha, você acaba conhecendo um monte de outros trekkers e no fim todo mundo acaba se conhecendo! Um dia você ultrapassa o “casal de americanos” e quando decide descansar um dia mais em algum vilarejo lá estão eles de novo. Ou vai falar com alguém sobre uma pessoa que conheceu e ele diz “ah sim, eu encontrei esse cara também”. Hoje ficamos a tarde inteira jogando cartas e conversando em volta da mesa de acho que umas 10 pessoas que se conheceram em Ledar e foram juntas pro High Camp. Demos muita sorte com esse grupo, tomara que dê pra irmos amanhã com eles! :-) A vista daqui é animal, dá pra ver muitas montanhas, entre elas o Chulu e 2 dos Annapurnas. Estou me preparando psicologicamente para o frio que enfrentaremos à noite e amanhã. Está quase na hora de irmos dormir e no momento estou sentindo uma dorzinha de cabeça bem fraquinha, não sei se da altitude ou do fato de não estar dormindo direito nos últimos dias por causa do frio, cansaço ou falta de banho! — Dani

Dia 18: Sheree Kharka → Yak Kharka → Ledar, 4222 metros

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Quase morri hoje, e não sei porque. O ajuste da coluna da mochila tá ruim, por causa disso a barrigueira fica alta pressionando meio que no diafragma. Junte à isso a Dani enchendo o meu saco pra não gastar muito com comida mas ao mesmo tempo falando que tô magro e perdendo peso. Foram 6h de trilha puxada de sob-e-desce interminável, sem comer nada desde que acordei. Fiquei totalmente exausto, mal dava pra me arrastar. O problema era a dor na boca do estômago, como se tivessem me dando socos ali o tempo todo quando andava. Eventualmente chegamos em Yak Kharka, nossa parada original, mas mudamos os planos pra ir com o grupo do dia anterior até Ledar (e nem pretender mais parar em Thorung Phedi, ir pro High Campo direto). De Yak Kharka pra Ledar foi 1h horrível por meio de pedras enormes, mas deu tudo certo, exceto pelo balde de água quente pro banho, tão caro que pulamos o banho pela primeira vez no Nepal. E pelo vento rachando meus lábios apareceu uma herpes, quem diria. Faltando pouco para o dia da passagem e pras milhares de fotos de comemoração que gostaríamos de tirar. Eu mereço. — Caio

O dia de hoje foi a maior trollagem do Annapurna até agora! Saímos de 4.070m de altitude para 4.200m, então a subida deveria ser mais tranquila… Pegadinha do malandro! Tivemos que subir por quase 1 hora (super inclinado), descer tudo o que tínhamos subido por mais 1 hora, cruzar o rio e depois subir mais 1 hora até chegar em Yak Kharka. Foi mega cansativo, um dos piores dias até agora! O Caio sofreu pra caramba, não sei se não se alimentou direito nos últimos dias ou o quê (ontem ele reclamou que tem comido menos do que o desejável por causa da minha preoupação com o budget… parei), mas achei que ele não ia aguentar chegar até Ledar! Demoramos 5 horas para o trajeto todo e chegamos a Ledar mortos! Saímos com aquele grupo legal que encontramos ontem, passamos eles no caminho mas no final acabamos ficando no mesmo guesthouse, que bom! Ledar tem só uns 3 hotéis e quase não dá pra chamar de vilarejo, está mais para uma rua… O frio está aumentando bastante por aqui e a infra-estrutura diminuindo, aqui não só não tem chuveiro pra tomar banho como o balde é super caro (vamos pular banho hoje), e eletricidade então nem pensar! A noite de hoje foi bem boa, ficamos todos juntos durante a noite jogando cartas e conversando. Faltam só dois dias para a passagem pelo ponto mais alto da trilha, o Thorung La, e estou feliz que não estamos tendo nenhum problema com altitude até agora, parece que a ida ao Tilicho foi uma ótima aclimatação :-) — Dani

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