Conhecendo Bangkok mas não conhecendo

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A Tailândia foi o ponto inicial e final da nossa passagem pelo sudeste asiático. Nosso vôo chegava e saía de Bangkok, dando liberdade pra viajarmos o quanto quiséssemos entre uma coisa e outra. Quando chegamos na cidade não a aproveitamos porque queríamos ir logo para as ilhas para pegar o tempo bom pra mergulhar, e no final acabamos enrolando nossa volta devido às manifestações contra a primeira ministra da Tailândia, que estavam pegando fogo por lá e já haviam matado pelo menos 5 pessoas. Acabamos tendo somente dois dias de verdade na cidade, e eles foram um misto de despedida com zica.

formigueiro da Khao San Road à noite

formigueiro da Khao San Road à noite

Compramos bilhete do ônibus de Siem Reap, no Cambodia, pra Bangkok por 11 dólares por pessoa e a viagem foi longa, 10 horas no total. A passagem pela fronteira foi feita sem problemas, mas foi super cansativo. As filas para saída do Cambodia e entrada na Tailândia ficam à uns 250m uma da outra, mas a distância pareceu multiplicada por 10 com o calor, mochilas e filas intermináveis. Sobrevivemos a isso e ainda tivemos que enfrentar as últimas 4 horas de viagem na primeira fileira de uma van, do lado do motorista. Chegamos na Khao San Road moídos!

Respiramos fundo e encontramos o último resquício de energia que nos restava para ir até o centro de Bangkok para o encontro semanal de couchsurfers da cidade. Não queríamos perder ele pois fazia tempo que não víamos pessoas do CS. Só que foi zica do começo ao fim… foi bem difícil negociar preço de tuk tuk porque a cidade estava parada com os preparativos do aniversário do rei no dia seguinte, ninguém queria nos levar pelos preços normais. No final encontramos um que topou desde que a gente aceitasse visitar a loja de um amigo dele, no meio do caminho, só olhar e sair, pra garantir uma comissão pra ele. Jogada clássica.

Agora imagine a situação: dois mochileiros suados, cansados depois de viajar o dia todo, sem banho, entrando em uma loja de alfaiataria fina e olhando o preço de cintos, que foi a única coisa que achamos ali que seria admissível um casal nessas condições estar comprando em uma loja desse naipe. Sério, situação constrangedora, ficamos os 5 minutos que o motorista pediu e saímos. É ridículo isso mas tem por toda a cidade, os lojistas pagam alguns motoristas de tuk tuk uma comissão para eles levarem as pessoas ali mas não faz o menor sentido. O mais bizarro é que se eles fazem isso é porque tem gente que compra…

A zica continuou quando o tuk tuk nos deixou na estação errada de trem (uma após a cerca) e andamos por 1 hora até descobrir isso, porque a pessoa que passou o endereço do encontro deu nomes de loja como referência, em vez de nomes de rua.

Caio diz... não só isso, mas as referências dela TAMBÉM batiam com as do lugar errado! zica absurda

Chegamos no encontro 1 hora atrasados e com todo mundo enturmado já, mesas todas cheias sem espaço, acabamos ficando deslocados. A única parte legal foi conhecer um canadense filho de uma chinesa e depois de um tempo de conversa descobrir que ele fala português, pois a mãe dele nasceu na China mas foi criada do Brasil! Ficamos um tempinho lá mas acabando indo pra casa cedo, não foi nosso dia de sorte.

Muito viscoso, mas muito gostoso!

Muito viscoso, mas muito gostoso!

No dia seguinte era o aniversário do rei e a cidade inteira estava em clima festivo. Filmes na TV rodavam em torno da imagem dele. As ruas todas decoradas todas de dourado. Todo mundo vestindo alguma peça de roupa amarela, e à noite todos os locais na Khao San Road pararam para cantar para o rei, todos os vendedores com uma vela amarela na mão e no final um show de fogos de artifício impressionante digno de festas de Ano Novo. Foi bem bonito, e nosso jeito de entrar na festa foi finalmente comer insetos pra experimentar! O potinho com três tipos diferentes custa 3.5 dólares, exceto barata d’água e escorpião que são bem mais caros e à parte. Escolhemos grilos, gafanhotos e larvas fritas.

Eu, Caio, sou suspeito pra comentar porque adorei. Tínhamos comido formigas no Cambodia e achei elas deliciosas, dão um sabor de tempero na carne e são crocantezinhas. Os grilos são normais, nada muito legal, meio sem gosto por serem pequenos mas salgadinhos. Gafanhotos são super crocantes, gostei muito, mas evitamos comer a parte final das pernas abaixo das juntas dos “joelhos” porque tem muitos pêlos duros tipo espinhos que espetavam. Agora, as larvas fritas, malandro… são MUITO boas! Bem crocantes, claras, com sabor suave e até lembram aqueles Salgadinhos Torcida, manja? Viscoso, mas gostoso! Recomendadíssimos :-)

É nóis pagando de turista

É nóis pagando de turista

Decidimos, mesmo com pouco tempo, visitar o mercado flutuante de Damnoen Saduak que fica uns 100kms de Bangkok parece, mas pela primeira vez nos arrependemos. Pacote turístico tinha que ter algo ruim no meio, senão não seria pacote turístico. Pagamos 10 dólares por pessoa pela viagem mais 5 dólares por pessoa pelo barco a remo para andar pelo mercado, saindo às 7h da manhã e voltando às 13h. Vieram nos buscar em uma moto e fomos eu, Dani, o Caio e a menina piloto na mesma scooter até o local onde a van estava esperando. Mais de duas pessoas na moto é bem normal por lá, mas não achei que íamos experimentar isso! Depois de 2 horas de van, pegamos o barco a motor pra chegar lá, mas estava muito estranho, tudo vazio. Passamos por um portal que dizia “welcome to the floating market” mas estava tudo fechado. Provavelmente por ser no dia seguinte ao aniversário do rei, o mercado estava acontecendo somente em uma rua. Foi o que chutamos.

Vendedor local

Vendedor local

Trocamos de barco para fazer o passeio e pegamos um barco a remo que iria andar com a gente por lá por 30 minutos. Só que foram 10 minutos andando e outros 20 parados no congestionamento com a borda dos outros barcos batendo nas nossas cabeças ou costelas. A gente não tinha ido ali pra comprar, mas se tivéssemos ido com essa intenção teria sido ainda pior, porque com toda essa muvuca era impossível acessar qualquer barco vendendo coisas.

Vendedores puxam turistas com ganchos lá

Vendedores puxam turistas com ganchos lá

Não acredite se disserem que o mercado flutuante é um passeio local, pois de local não tem nada. Não vimos absolutamente nenhum local comprando nada por lá, apenas vendendo bobagens. Todas as bugigangas e comidas que encontramos lá tinha na Khao San Road por menos da metade do preço, e é bem esse o esquema deles. Nessa muvuca, se você se interessar por alguma coisa não dá tempo nenhum de negociar preço, é pegar e soltar o dinheiro. Só que infelizmente o lugar é cheio de turistas asiáticos (chineses especialmente) que infelizmente não se importam de pagar o preço de for por 30 minutos de glamour estúpido.

No começo do passeio o pessoal do barco tirou uma foto de cada um no barco (ou casal, no nosso caso), e na saída de lá jogaram mais uma super estratégia de vendas: eles imprimem a foto de TODO MUNDO em pratinhos de louça decorados para a pessoa comprar, um por pessoa! Eles ficam observando quem está saindo do mercado e, num passe de mágica, aparecem com o pratinho com a sua foto na mão. Dá até um tilt no cérebro “no, thank… oi? eu?” que dura uns segundos até entender a jogada. Obviamente nós não quisemos, mas nos 10 minutos que ficamos esperando na hora de ir embora vimos umas 3 pessoas comprando, mais pela surpresa de ver uma foto sua do que qualquer outra coisa. Apostamos que duas chinesas caíriam no esquema e pagariam o preço sem nem negociar. Ficamos olhando elas chegarem e foi tiro e queda. Turistas chineses são todos iguais.

Embora caras demais as comidas que vendem lá parecem ótimas

Embora caras demais as comidas que vendem lá parecem ótimas

Fomos embora de lá super arrependidos. Não apenas pelo dinheiro, mas também porque disperdiçamos um tempo que já não tínhamos! O passeio é fotográfico, as fotos que tiramos de lá ficaram ótimas, mas é só isso. E na realidade pras fotos ficarem boas você tem que ser insistente e tentar sempre uma posa diferente até que os turistas sumam da frente da lente, porque é tanta gente no lugar que as fotos quase não ficam boas. Triste. Nada local, preços ruim, congestionamento de barcos, só turistas sem noção… não recomendamos :-(

Olhando assim nem parece que é uma zona de gringos né

Olhando assim nem parece que é uma zona de gringos né

Como nosso tempo foi bem corrido, acabamos não saindo muito da região da Khao San Road, a avenida dos mochileiros de Bangkok. Por um lado lá é muito bom: se tem tudo à mão, comidas são muito boas e relativamente baratas, preços sempre negociáveis e tudo funciona até de madrugada. Por outro lado: é uma rua absurdamente baladeira com músicas altas se misturando o tempo todo a ponto de à noite não ser possível nem conversar na rua, e por isso os hotéis ali são barulhentos (além de caros). Tendo conhecido as ilhas de duas regiões da Tailândia, é impossível não notar a diferença no jeito das pessoas, o pessoal de Bangkok não tem aquela simpatia e receptividade que encontramos nas ilhas, parece que não aguentam mais turistas. São todos os mais curtos e grossos quanto possível, pra não dizer mal educados mesmo. Se tivéssemos passado apenas por ali a impressão do país teria sido totalmente diferente, mas sabemos que os tailandeses de forma geral, fora da capital, são receptivos e simpáticos.

Outra coisa que nos deixou com uma impressão meio ruim da cidade foi a quantidade de mulheres locais “acompanhando” os gringos e pessoas oferecendo drogas pra gente em cada esquina, descaradamente mesmo. No hotel em que estávamos, todos os dias vinha uma tailandesa com cara de viciada que acabou de sair de uma rehabilitação com braços marcados e pele toda manchada, que acompanhava um turista até o quarto e depois descia sozinha, muito foda. Se tem isso ali na Khao San Road é porque tem turista filho da puta que quer. Se você acha isso bonitinho e bacaninha pra aura de “país da fantasia” da Tailândia, você é outro filho da puta, porque é um baita país que não precisa dessas coisas. O mesmo vale, infelizmente, pro Brasil.

Para completar nosso adeus à Ásia acabamos ficando em um hotel bem ruim porque não encontramos lugar em outros que conhecíamos. Era meio sujo até pros padrões asiáticos, com chuveiro gelado (um dos piores da viagem toda, pior que no Nepal) e a internet não funcionando direito com a gente precisando ver várias coisas pra nossa chegada na Nova Zelândia. Não foi fácil manter o bom humor, mas já era fim da Ásia e de passeios bem legais, tava valendo…

Sobre as manifestações que fizeram a gente adiar a nossa chegada, vimos assim que pousamos na Nova Zelândia que dissolveram o parlamento e convocaram eleições assim que saímos do país, mas nao vimos nada nas ruas antes disso. Pode ser que eles esconderam bem e blindaram as áreas com turistas, ou pode ser que foi tudo meio nos bastidores por causa do aniversário do rei, não sabemos. A região dos protestos e brigas com polícia e exercíto não era tão perto da Khao San Road, era mais próxima da área universitária, mas como trocentos prédios do governo já haviam sido tomados pela cidade, talvez pudesse chegar algo ali, mas não chegou. A imagem do rei, o com maior tempo de coroa no mundo, é venerada quase como deus por todo o país. Os manifestantes ainda não estão contentes e pedem pra ele intervir na bagunça com a primeira ministra, mas ele é tão velhinho que quase dá dó.

É uma pena que depois de um longo período viajando pela Ásia a gente tenha terminado o continente com esses dias meio azedos. Não sabemos se foi por falta de sorte, falta de tempo, passeio mal escolhido ou se a cidade simplesmente não agradou a gente. Sabíamos que havia lugares diferentes pra visitar, mas já estávamos cansados de templos, ruínas e parques. Considerando que foram só 2 dias no total de 106 que passamos na Ásia, achamos que fechamos com um saldo bastante positivo :-)

Siem Reap e os templos de Angkor

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A idéia toda de ir pro Cambodia girava em torno dos templos que eles tem no noroeste do país, em Siem Reap, e finalmente visitamos tudo por lá! Compramos o bilhete de ônibus de Phnom Penh para Siem Reap por 12 dólares por pessoa no hotel onde estávamos hospedados. A viagem durou 7 horas e foi terrível! Pela primeira vez pegamos um ônibus apertado e desconfortável (até pra mim, Dani, que sou pequena, pro Caio então nem se fale). Pra completar o super evento, um local no banco da nossa frente vomitou a viagem toda. E na parada que o ônibus fez, depois de já ter passado mal, o cidadão foi almoçar ainda. Lógico que deu merda. Foi foda, coloquei meus fones de ouvido com uma música alta, joguei a jaqueta na cabeça e fui meditando a viagem toda pra não ouvir a sinfonia.

Primeira noite em Siem Reap? Ruas bonitinhas

Primeira noite em Siem Reap? Ruas bonitinhas

Viajando é que deu pra ver como o Cambodia é plano, não tem ladeira nenhuma em parte alguma, nada de colinas. As estradas que ligam uma cidade a outra são uma linha reta só com plantações de arroz em volta, nada mais, e quando você olha pra frente não consegue ver o fim da estrada! É uma paisagem bonita, e em alguns momentos a vegetação se parece muito com o Brasil.

Devido ao Parque Arqueológico de Angkor Wat, Siem Reap é uma cidade muito mais turística do que a capital Phnom Penh. Dá pra ver que é disso que a cidade vive. O fato de ter um aeroporto em uma cidade tão pequena e de ter uma avenida em linha reta que liga o aeroporto ao templo de Angkor Wat mostra que eles pelo menos estão tirando algum proveito disso, o que é bem bacana. O centrinho da cidade tem uma atmosfera legal que lembra muito a Khao San Road de Bangkok, com sua feirinha noturna bem movimentada e cheia de boas opções pra comer comida local barata e repleta de lojinhas e hospedagem camarada. Por ter mais vegetação os insetos incomodam mais e até o clima por lá muda, faz frio de madrugada e de manhã. Até assustamos acordando na madrugada quase congelando sem cobertor.

Quando planejamos nossa ida a Siem Reap, nosso principal interesse era visitar o templo de Angkor Wat, o mais famoso lá, mas não fazíamos ideia da imensidão do parque todo. Não se trata apenas de um templo, mas sim de um parque arqueológico mesmo, de uns 400km quadrados, patrimônio da UNESCO e tudo. Lá é onde estão concentradas as ruínas dos grandes e mais importantes templos do Império Khmer, que dominou a região do Cambodia do século 9 ao século 15.

Quer ruínas, toma ruínas! Essa é Bayon, acho...

Quer ruínas, toma ruínas! Essa é Bayon, acho…

O bilhete para entrar no local custa 20 dólares por 1 dia, 40 dólares para 3 dias ou 60 dólares para 1 semana. Conhecer os templos andando é um ato de coragem, considerando que o menor circuito, passando somente pelos templos mais importantes, tem 17km (fora a caminhada a ser feita dentro dos templos). E lembrando que o sol que faz na região é de matar. Mas ok, é possível!

Caio diz... é totalmente possível, mas dobra o tempo de visitação fácil, e tem que ter um bom mapa offline do lugar
Uma ruína (dentro ou do lado) do complexo do palácio real

Uma ruína (dentro ou do lado) do complexo do palácio real

Nós escolhemos visitar o parque em 1 dia apenas, com um tuk tuk que cobrou 12 dólares a diária para fazer o circuito pequeno passando pelos templos de Bayon, Royal Palace, Elephants Terrace, Angkor Wat, Ta Prohm, Banteay Kdei e deveria também ter incluído ver o pôr-do-sol em Phnom Bakeng mas o motorista inventou uma história estranha sobre ter número limitado de pessoas e termos perdido a hora, o que nos pareceu uma desculpa esfarrapada, mas como estávamos mega cansados depois do dia inteiro andando sem parar no sol aceitamos terminar o passeio por ali mesmo. Já visitamos muito pôr-do-sol e nascer de outros tantos por aí pra não ficarmos muito tristes com a perda :-)

Coisa de turista, mas bonitinhos pra aparecerem nas nossas fotos :-)

Coisa de turista, mas bonitinhos pra aparecerem nas nossas fotos :-)

A estrutura do parque é impressionante, tudo muito organizado, fazem até uma carteirinha impressa com foto que tem que ser mostrada na entrada de todos os templos. Nos templos maiores tem alguns painéis informativos com informações sobre o templo e às vezes fotos de antes e depois de restaurações que eles fizeram. Por todo o parque é possível encontrar lugares para comer, não somente lanche, mas restaurantes a céu aberto vendendo todo o tipo de comida. E o preço é muito normal, o que para um local turístico desse porte é surpreendente! Óbvio que tem os restaurantes com cara de mais chiques vendendo a mesma comida por três vezes o valor normal, mas por esses passamos reto. Ah, e a cada esquina tem gente vendendo frutas fresquinhas! Compramos um abacaxi inteiro descascado por 1 dólar como lanche da tarde!

Caio diz... um parque lindo e enorme, cheio de natureza, com templos no meio do nada, eu esperava ser uma zona, mas é incrível como aguentam o tranco com turistas
Angkor Wat por dentro

Angkor Wat por dentro

A visita aos templos é realmente espetacular. Angkor Wat é o templo mais famoso deles, mas nenhum dos outros deixa a desejar. Nosso favorito, inclusive, é o templo de Bayon. Ele tem uma fachada linda e é animal por dentro, achamos o mais bonito de todos. Só não é legal pra quem não gosta de ser observado, pois Bayon é marcado por rostos esculpidos por todo o templo, desde as torres até as paredes! Os muros externos são todos decorados com relevos retratando as guerras do povo Khmer.

Todo mundo que visita Angkor tem uma foto ali, então...

Todo mundo que visita Angkor tem uma foto ali, então…

Outro local que chama atenção é o Ta Prohm, cujas ruínas foram tomadas pelas grandes raízes de árvores em volta do local, tornando o cenário lindo! Em alguns locais tem uma raiz de árvore saindo pela janela do templo ou atravessando um muro, em outros parece que a árvore está escorrendo por cima da janela. É nesse templo que realmente cai a ficha de quanto tempo faz que essas construções estão ali.

Detalhe das paredes com relevos nas ruínas

Detalhe das paredes com relevos nas ruínas

A cereja do bolo, Angkor Wat, tem uma fachada cinematográfica e imponente.

Caio diz... se você imaginar que os tapumes de restaurações não estão ali ajuda um bocado :-P

Seguimos uma dica de visitá-lo entre 13h e 14h, quando a luz é a melhor pra fotografia, e o resultado foi bem bacana. Ele é o mais alto de todos os templos, mas para subir lá no alto tem que estar de calça comprida e não pode usar chapéu, pois apesar de ser apenas ruínas ainda é um templo budista respeitado.

Angkor Wat

Angkor Wat por fora, já indo embora

Uma curiosidade sobre isso é que ele foi construído originalmente como um templo hindu em homenagem a Vishnu (além de ser um mausoléu para o rei), mas quando o império se converteu para o budismo todas as estátuas de Vishnu foram substituídas pelas de Buda, que estão lá até hoje. O que não está mais lá é o ouro e as pedras preciosas que dizem que ornamentavam os templos há milhares de anos atrás. Hoje eles são só pedras e ainda são magníficos, imagine quando foram construídos!

Crianças brincando nas ruínas (enquanto os pais trabalham)

Crianças brincando nas ruínas (enquanto os pais trabalham)

Angkor Wat foi especial porque finalmente o Caio pode fazer o que ele veio até o Cambodia fazer: brincar de Rayden com chapéu estilo indochina e tudo, em frente ao Angkor Wat, o cenário do filme do Mortal Kombat. Fizemos um videozinho desse momento tão importante e ficou sensacional! :-)

Caio diz... sério, ser arrastado pra uma ditadura no sudeste asiático e ir pra ruínas de templos? tinha que compensar! :-D
Rayden wins!

Rayden wins!

Só uma coisa nos deixou chateados no parque: ao chegar lá, descobrimos que naquele dia estava acontecendo a meia maratona anual de Angkor, uma corrida dentro dos parques que passa pelos templos. E a gente não sabia… não sei se estaríamos preparados para correr 21km, mas participar de uma corrida em um lugar desses teria sido inesquecível. Mais uma vez ficamos com aquela saudade incontrolável de nossas corridinhas!

Caio diz... como ruínas não sei, mas o parque é muito bonito e absurdamente grande, uma meia maratona de manhã cedo ali deve ter sido incrível… perdemos
Uma das entradas no Mercado Noturno

Uma das entradas no Mercado Noturno

Após a visita ao parque, ficamos mais uns dias por ali pra aproveitar um pouco mais a cidade. O Caio passou o aniversário na cidade, que rendeu até um café da manhã surpresa com os cookies preferidos dele, frappuccino da Starbucks que eu encontrei em um mercadinho daqui, um Skittles e um cartãozinho. Estando longe de casa é o que eu podia oferecer.

Caio diz... cookies com dobro de chocolate amargo da Pepperidge Farm, nham nham

Ah, e pra aliviar o peso da idade, ele aproveitou o preço baixo (3 dólares por meia hora), e experimentou a massagem aqui do Cambodia, que segundo ele é muito diferente da massagem tailandesa que experimentamos em Koh Phi Phi, mas igualmente boa. Eu fiz meia hora de massagem nos pés e saí de lá flutuando!

Caio diz... peso da idade é a sua bunda!
Uma avenida paralela ao rio, bem arborizada e limpa

Uma avenida paralela ao rio, bem arborizada e limpa

No nosso último dia na cidade encontramos um restaurante em um shopping, super por acaso, que era um buffet livre daqueles de esteira, tipo alguns que tem no Brasil servindo comida japonesa. Era barato, 6.5 dólares por pessoa, e resolvemos experimentar. Só que é um negócio muito diferente, em vez da comida pronta a esteira traz ingredientes crus (incluindo carnes e frutos do mar)! Cada pessoa escolhe o caldo que quer: normal, agridoce ou apimentado. Na sua frente fica uma panela em um fogãozinho e os ingredientes vão vindo na esteira, pra montar a própria sopa. Genial!

Tinha de tudo, vários tipo de peixe, camarão, lula, porco e carne vermelha, vegetais de todos os tipos, ovos, uns três tipos de cogumelos, macarrão, bolinhas de carne e peixe, sushi, folhas de tempero etc. E refrigerante, frutas e saladas à vontade! O limite de horário é de 80 minutos, mas depois de 1 hora já estávamos redondos de tanta sopa e nem usamos nosso tempo até o final. Uma delícia e diversão garantida! :-)

Caio diz... estou a salivar lembrando…

Em tempo, vale dividir a nossa percepção sobre negociação de preços no Cambodia. De longe aqui é o país que mais reduz o preço quando se negocia. Nos outros países da Ásia a gente jogava o preço pra 50% e no final acabava pagando 80%. Aqui, a gente joga o preço pra 50% e acaba pagando 60%. Em alguns casos a gente joga pra 50% e o cara já vende. Negocie, negocie muito, que dá pra conseguir baixar bastante os preços de tudo no Cambodia!

"Que diabos ela tá fazendo dentro do meu chapéu?!"

“Que diabos ela tá fazendo dentro do meu chapéu?!”

O Cambodia foi massa! Até o Caio, que não estava muito empolgado de início, disse ter gostado do país e ter ficado positivamente surpreso pela qualidade do turismo e estrutura que eles tem hoje já. Agora era hora de se mexer e voltar pra Bangkok, curtir nossos últimos dias em território asiático.

Caio diz... tá… dou o braço a torcer: visite o Cambodia, é da hora!

It’s a holiday in Cambodia!

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E vai chegando ao fim nossa jornada pelo sudeste asiático. Estamos no último país da Ásia antes de partirmos para a Oceania (ou somente Nova Zelândia, pra ser específico).

Não, não. Cambodia é bem diferente hoje, vamos tentar de novo.

A vontade de conhecer o Cambodia era principalmente pelos templos do Parque Arqueológico de Angkor, em Siem Reap. O plano era viajar diretamente pra lá, partindo de ônibus via Bangkok, porém encontramos um vôo super barato saindo de Singapura por 40 dólares por pessoa já com taxas, só que parando na capital Phnom Penh. Barato, evitando uma volta enorme no mapa, pra conhecer uma cidade a mais… por que não?

Tiramos o visto na chegada ao aeroporto, sem crise, 20 dólares por pessoa válido por um mês. O Caio estava sem foto e teve que pagar mais 2 dólares pra tirarem uma foto dele na hora. O aeroporto é pequeno e do lado de fora está o usual mar de taxistas e motoristas de tuk tuk te esperando pra te levar pro hotel do “primo” deles, que é sempre o melhor da cidade.

É bem assim, no sudeste asiático todo mundo tem um primo que tem um hotel, um primo que tem uma agência de viagens, um primo que é motorista e um outro primo que é guia. Incrível, tudo o que você precisa tem um primo que faz. Às vezes quando é um serviço que precisa de mais credibilidade, não é primo, é irmão. Que família grande eles tem!

Fugimos do mar de taxistas na porta e pegamos um tuk tuk do lado de fora do aeroporto mesmo. O preço para a cidade é de 7 USD por tuk tuk, e isso não adianta negociar porque é tabelado. Se você pegar o primeiro motorista que se apresentar eles podem querer cobrar 9 dólares, mas aí é só negociar. Mas menos que 7 não vai rolar a não ser que o hotel tenha mandado alguém te esperar lá (por 5 ou 6 dólares).

Frente do palácio no fim do dia.

Frente do palácio no fim do dia.

A primeira impressão de Phnom Penh como cidade foi muito boa, avenidonas largas e relativamente limpas e, apesar do trânsito caótico característico das cidades asiáticas, eles pelo menos respeitam a mão da via, que no Cambodia é do lado direito como no Brasil. O que não é tão bom é a poeira, pois o ambiente ali é bem seco e todos os locais usam máscaras para andar na rua, porque incomoda bastante. É bom sempre andar com um lenço e, no pior dos casos, óculos escuros. Saindo das avenidonas principais a coisa fica mais confusa e caótica, nem as ruas sequencialmente numeradas ajudam a se encontrar por lá! Melhor ir devagar pra não se perder.

Não tínhamos reserva de hospedagem quando chegamos na cidade, mas já tínhamos feito uma pesquisa prévia e pedimos para o tuk tuk nos levar ao Happy Backpacker, que custava 10 dólares por dia e tinha ótimas referências no Hostel World. Chegando lá, cansados da viagem e sem banho há mais de 24 horas, pediram pra gente esperar 1 hora até o quarto ficar pronto. Ficamos esperando no terraço do hotel, onde tinha um bar cheio de gringos bebendo cerveja, jogando sinuca e tocava músicas da baladinha jovem. Não é muito a nossa cara. Uma hora de espera virou duas horas, e mais tarde, quando já estávamos instalados no quarto, pediram pra gente mudar pra outro porque no dormitório ao lado estava um grande grupo de excursão de uma galera bem novinha e eles não se sentiam confortáveis conosco dormindo no quarto ao lado! Gringos cuzões! Tudo bem que a gente tava sem banho, mas jamais esperaria que a nossa aparência de mochileiros cansados e suados seria ameaçadora. Deve estar feia a coisa mesmo!

Caio diz... o grupo era maioria meninas européias com cara de enjoadas, deve ser por isso

O ambiente muito ocidental, festinha, bebedeira e a nossa expulsão do quarto fez a gente decidir mudar de mala e cuia para outro lugar na manhã seguinte, umas quadras mais pra frente. Pratna Guesthouse, recomendamos! O ambiente que encontramos lá é bem diferente e pagamos os mesmos 10 dólares por um quarto bem fresquinho com banheiro próprio e até TV a cabo. O pessoal que trabalha no hotel são a simpatia em pessoa.

Uma das milhares de ruas movimentadíssimas de Phnom Penh

Uma das milhares de ruas movimentadíssimas de Phnom Penh

Aliás, taí uma coisa que encontramos no Cambodia e que gostamos muito: o povo é muito simpático! Eles são tímidos, chegam até a ser ingênuos em alguns casos, dão risada de tudo e te tratam muito bem! Tudo lá se paga depois, bem depois, eles confiam em você de olhos fechados. Na rua, mesmo com a onda de motoristas de tuk tuk e vendedores vindo te abordar, a gente sempre respondia com um “não, obrigado”, ao invés de simplesmente ignorá-los, dada a simpatia com que eles chegavam na gente. Ao menos na Ásia, as pessoas do Cambodia ganharam o prêmio de simpatia.

Na beiradinha do famoso rio Mekong

Na beiradinha do famoso rio Mekong

Esse jeito de ser dos cambodianos não é visto só no jeito que eles tratam você, mas no jeito que eles vivem mesmo. Um dos passeios mais legais que fizemos todos os dias na nossa passagem por Phnom Penh foi simplesmente caminhar pela orla do Mekong à noite, e lá é onde se encontram muitos locais após o pôr-do-sol. No primeiro dia vimos uma multidão mais à frente da orla, e pensamos que era uma festa ou algo assim. Chegando mais perto vimos que era um grupo enorme de senhoras fazendo ginástica ao som de música eletrônica bem animadas. Todos dançando sincronizados (alguns nem tanto) os passos ditados pelo professor lá na frente. Tinha umas senhorinhas que dançavam super desengonçadas, mas não tavam nem aí, era uma graça de ver. Por toda a orla se vê gente jogando petecas com raquetes, muito populares por lá, e outros apenas de bobeira curtindo um ventinho, já de pijama.

Nos programas de TV, que são para a gente muito engraçados, toda hora passa um programa de calouros cantando muito desafinados, acompanhados de dançarinos fora de sincronia, contentes de estar lá. Mas ninguém liga, porque eles são assim mesmo!

Caio diz... dado que são inocentes e vivem numa ditadura, acho melhor dizer que eles não tem muitas opções de mídia de massa heheh
Passeio na orla do rio

Passeio na orla do rio

Essa impressão do povo cambodiano faz a gente esquecer um pouco a triste realidade pela qual o país passou na década de 70, quando o regime comunista torturou e matou milhões de pessoas no país. As principais atrações turísticas da cidade são relacionadas com este período: o museu do genocídio, uma escola que foi transformada em presídio e local de tortura na época e os campos de execução, outro local isolado onde as pessoas contra o regime eram levadas para serem torturadas e mortas. O Caio não quis ir em nenhum dos dois locais e deixou a decisão na minha mão, e eu confesso que fiquei muito dividida. Ao mesmo tempo em que eu acho importante vivenciar isso, essa realidade triste e chocante ia mexer muito comigo e eu não sabia se queria que isso acontecesse. Cheguei a sair na rua pra procurar um tuk tuk pra ir no museu, mas acabei desistindo.

Caio diz... além de dar dinheiro de turismo mórbido pra políticos duvidosos né

Não é preciso visitar esses locais, porém, pra ver a dura realidade do país que vive em regime de ditadura até hoje. A pobreza é visível em todos os cantos, na falta de estrutura geral, pessoas pedindo dinheiro na rua e crianças vendendo coisas para os turistas, de manhã à noite. De longe, isso é o que mais me comove. Comprei uma pulseirinha de uma menina de uns 4 anos, que nem devia saber o que estava fazendo ali, mas essa é a vida que ela conhece e que foi imposta a ela desde o dia que ela nasceu, com pouca ou nenhuma chance de ser diferente, e isso é muito triste. O pior mesmo é ver a quantidade de gringos na rua com suas acompanhantes cambodianas muitos anos mais jovens do que eles, todas arrumadas e sendo ostentadas como um troféu, um acessório pra ser exibido por aí…

Caio diz... acho que essas cenas dos gringos com as locais foram as mais nojentas na viagem toda, dá vontade de socar esses caras, puta que me pariu
Entrada do mercadão

Entrada do mercadão

Fugindo das atrações turísticas relacionadas com o genocídio não sobra muito para se conhecer na cidade. Visitamos por fora o Palácio Real, que custava 5 dólares para entrar. Vale a pena a passadinha lá, pois é bem bonito e tem uma arquitetura muito característica do Cambodia. O Mercado Central é bacana pelas lojinhas mas o preço de tudo é BEM turístico, mesmo negociando não conseguimos chegar a um valor nem um pouco parecido com os preços da cidade como um todo, especialmente para comidas. Na saída da cidade passamos pelo Wat Phnom, um templo que não fomos porque tinha que pagar pra entrar, só que por fora o templo é lindo e é rodeado por um jardim bem legal, se soubéssemos teríamos ido pois ali é grátis passear!

Feirinha noturna da cidade

Feirinha noturna da cidade

Chegamos em Phnom Penh em uma terça-feira e iríamos ficar até quinta, mas quando pesquisamos sobre a feira noturna que rola na cidade às sextas e sábados, resolvemos extender nossa estadia em dois dias só pra poder participar. Comida, sabe como é. A gente ama feirinhas, são sempre uma das melhores coisas de toda cidade que passamos, e valeu a pena a espera! A feira é numa praça grande, e são várias barraquinhas vendendo de tudo, e depois de escolher o que comer as pessoas sentam em um tapetão enorme pra comer, todo mundo junto no chão, muito legal! Rola até um show ao vivo de calouros pra animar o local, e as comidas todas são muito baratas. Um prato de macarrão local ou arroz frito sai por USD 1.25 e eles vendem uma infinidade de espetinhos (de carne, frango, lula) e empanados variando de USD 0.25 a USD 1.5.

A comida do Cambodia é uma delícia e lembra um pouco a tailandesa, com a diferença que eles comem muito mais coisas fritas e empanadas. Na feirinha noturna encontramos desde o usual frango frito e camarão frito até as bizarrices brócolis frito, vagem frita, milho frito e os curiosos nata de leite frita e sorvete frito! E o pior: a comida já está empanada e frita, e quando eles perguntam se você quer que esquente a maneira de esquentar é… fritar de novo! Haja estômago!

Foi no Cambodia também que pela primeira vez experimentamos formigas e grilos. Jantamos um prato típico cambodiano de carne refogada com formigas vermelhas, que é uma delícia e as formigas dão um tempero, uma crocância, e de sobremesa biscoitos de grilo! O biscoito era doce e os grilhinhos quase não têm gosto dentro dele, é um lance mais de textura mesmo. A gente gostou!

Caio diz... parece coisa de miserável dizer isso mas cara, formigas refogadas com carne é MUITO bom! excelente!

Pra quem curte uma comida mais normal, experimentamos a sopa de frango com folha de bananeira e sopa de repolho com porco, ambas ótimas, e o Loc Lac que é aquele prato básico que em cada país da região tem um nome mas é tudo cópia um do outro: arroz, salada, ovo frito por cima e carne refogada. Ah, e pra acompanhar vale a pena comprar um chopp Angkor, que custa 50 centavos por caneca de meio litro e é uma delícia!

Falando em preços, o país inteiro aceita dólar, uma facilidade muito boa mas também muito perigosa. Eles tem duas moedas oficiais parece, e 1 dólar custa 4000 rieis. Normalmente transações são feitas em dólar, mas não existem moedas, então os centavos são devolvidos sempre em rieis. Se a conta deu USD 1.5, por exemplo, você paga com 2 dólares e recebe de troco 2000 rieis. É prático, mas tem que tomar cuidado, porque alguns lugares inventam a própria conversão de moeda pra poder cobrar diferente dos turistas, é sempre bom ficar de olho no preço em rieis e ver se a conta bate com o preço em dólar. Pelo menos é fácil dividir sempre por 4 o dólar e usar as notas de 1.000 deles como 25 centavos, se acostuma rápido.

Escurecendo em Phnom Penh...

Escurecendo em Phnom Penh…

Para uma cidade que caiu de páraquedas no nosso roteiro, Phnom Penh nos surpreendeu e nos ensinou muito. O Caio não tinha vontade de conhecer o Cambodia, foi o primeiro país que visitamos 100% por minha causa e não sabia como seria, mas encontrei em Phnom Penh muito mais do que eu esperava encontrar.

Caio diz... pra um país historicamente turbulento o Cambodia começou bem até, admito

Como estávamos guardando nosso dinheiro para a visita dos templos de Siem Reap, passamos 5 dias fazendo atividades simples, muito mais observação do que turismo, e pra mim isso foi suficiente pra dizer com gosto que eu conheço e vivenciei o Cambodia.

Nada mal hein!

Nada mal hein!

Agora, hora de partir pra Siem Riep pra completar essa experiência que começou muito bem em Phnom Penh!

Quatro dias na bolha que é Singapura

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Olha… a gente queria ter escrito menos sobre Singapura, mas não deu não. Aperta o cinto e vai com fé.

Singapura fuck yeah!

Singapura fuck yeah!

Uma viagem de 8 horas de trem separa Kuala Lumpur, na Malásia, de Singapura, mas a mudança de ambiente é inacreditável. Apesar de já ter feito parte do território da Malásia, os dois países só têm em comum a presença do mix cultural de malaios, chineses e indianos (sem falar na infinidade de gringos que vão pra lá pra se dar bem), mas em todo o resto entrar no território de Singapura é como entrar em uma bolha.

Pegamos o trem na Kuala Lumpur Sentral pagando só 11 dólares por pessoa pelo assento de segunda classe. E possível fazer o mesmo trajeto à noite por 25 dólares por pessoa em uma cabine com cama. Uma barganha! Até mesmo os locais acharam inacreditável o preço. O casal que nos hospedou em Singapura nem sequer sabia que existia um trem que fazia esse trajeto, ainda mais tão barato, veja só.

Logo na imigração na entrada do país já deu pra sentir o clima tenso de proibições e rédea curta de Singapura. Filas organizadas com muitos seguranças, tudo perfeitamente limpo (vale ressaltar que era uma estação de trem, que normalmente são imundas), regras e multas estampadas pelas paredes do saguão da estação. Todo mundo em silêncio absoluto sem se mexer quase. Deu até medo! Na minha vez, Dani, a atendente da imigração olhou os carimbos no meu passaporte e perguntou a quanto tempo eu estava viajando. Quando respondi, ela perguntou como meu chefe tinha deixado eu viajar por tanto tempo. Gelei! No final das contas era mais curiosidade dela, ela liberou minha entrada numa boa. Mas não sem antes soltar um “nossa, você pediu demissão só para viajar?” com aquele tom de reprovação. Desculpa, moça!

E é assim mesmo por lá, tudo parece girar em torno do trabalho. A população de estrangeiros vivendo pra trabalhar lá é 60% do total, a maioria vindo de outros países asiáticos mesmo, que chegam ao país para trabalhar e juntar uma grana e acabam não voltando mais pra casa. O salário mínimo é altíssimo, perto de 3 mil dólares, mas obviamente os custos de vida também. Segundo um pessoal que conhecemos, o custo de vida para manter uma família com dois filhos por lá é de aproximadamente 12 mil dólares por mês! E pra tirar a licença para dirigir por lá, antes mesmo de comprar o carro, é preciso pagar uma taxinha de 70 mil dólares. Barganha pra eles só se levar em consideração que Singapura tem a maior porcentagemm de milionários do mundo: 1 em cada 6 moradias tem mais de um milhão no banco, mas nem dá pra saber quem é e quem não é, milionários comem em botecos na rua e andam de metrô lá, é bizarro como são mão de vacas mesmo, e não “socialmente conscientes” como aprendemos mais tarde.

Mas não tem como não dizer que a cidade funciona. E funciona muito bem! É impressionante a limpeza do lugar, a boa sinalização e a organização. O transporte público é um dos mais impecáveis que já utilizamos, e com um preço justo pela qualidade que entrega, entre 1 e 2 dólares por viagem dependendo da distância. Para irmos para o aeroporto, que fica a 45 minutos de metrô, pagamos apenas 2 dólares por pessoa. E pra manter toda essa organização, é claro, muitas regras: não pode comer nem beber perto do metrô, não pode atravessar fora da faixa em rua alguma, em alguns lugares tem até regra não escrita de não poder rir alto, não pode nem mascar chicletes em público. E se fizer errado, multa! A multa por comer em local público, por exemplo, é de 1000 doletas. Mascou chicletes e alguém viu… 500 doletas. Ai meu bolso… porque lá multam mesmo, ou multavam e condicionaram bem as pessoas, porque todos andam MUITO na linha.

O que marcou bastante nossa passagem por Singapura foi a interação com os locais. Ficamos hospedados na casa de um casal de vietnamitas que moram lá há 11 anos e que conhecemos durante a trilha no Nepal. Passamos um fim de tarde conversando com eles e eles já nos convidaram para ficar na casa deles, super receptivos! Eles moram em Tiong Bahru, o primeiro bairro planejado da cidade, super tradicional e considerado até meio hipster, mas o que vimos foram só muitos prédios residenciais, grandes poleiros de alto padrão.

Na nossa primeira noite por lá eles nos levaram por um passeio a pé pela Marina Bay, onde tem o circuito de F1. Passamos até pela escultura do Pensador do Rodin que está em exposição no saguão de um prédio, sem proteção nenhuma. Eu, Dani, achei estranho essa ser a escultura original, pois eu tinha certeza que tinha visto a original no museu do Vaticano… pesquisando, descobrimos que a escultura tem 30 réplicas originais!

Caio diz... porra, foi incrível ver essa estátua no meio do vão entre prédios no centro, tocável! Sei lá como justificam ser uma dos originais, mas tá valendo
O tal prédio na esquerda com a ponte "DNA" e o museu de ciências

O tal prédio na esquerda com a ponte “DNA” e o museu de ciências

Na mesma noite, subimos no topo do Marina Sands Resort, aquele prédio famoso como um navio no topo. E o melhor de tudo, de graça! O preço normal para subir é 25 dólares, mas o casal sabia que naquela noite estava rolando um evento por lá e a subida era gratuita, uhul! A vista lá de cima é muito bonita, e é neste prédio que tem aquela piscina que não tem bordas e parece que a água cai na cidade abaixo e as pessoas estão nadando no céu.

O dia seguinte foi dia de encontrar mais locais! Já comentamos em outro post que decidimos ir para Singapura quando estávamos na Suíça e conhecemos um chinês que mora lá. Marcamos de encontrar ele e passamos um dia muito legal juntos! Começamos o passeio dando uma volta por Raffles, o distrito comercial de Singapura. Em seguida eles nos levou para almoçar em Chinatown para experimentarmos o chili crab, um caranguejo apimentado bem típico de lá, e tomar caldo de cana. Achamos o prato muito bom na hora, mas a pimenta quase nos matou no dia seguinte. À tarde fomos com ele no Gardens By The Bay, e fez questão de pagar as entradas caras porque a mãe dele trabalhava não sei onde que dava descontos. Ótimo! Aliás, fantástico!

Dentro de uma estufa do Gardens By The Bay

Dentro de uma estufa do Gardens By The Bay

Gardens By The Bay é simplesmente incrível. Eu, Caio, achei um dos parques mais legais que já visitei. As estufas deles são absurdamente enormes, em formatos de conchas, com plantas separadas por áreas continentais, tudo bem informativo e bem feito. Uma delas inclusive é tão alta que tem uma cachoeira de 7 andares de altura dentro e você passeia por através dela! Do lado de fora eles construíram estruturas tipo árvores do Avatar pra trepadeiras cresceram por elas. Cara, é demais.

Saída dos jardins com estufa e roda gigante (maior do mundo atualmente)

Saída dos jardins com estufa e roda gigante (maior do mundo atualmente)

Quando já estávamos indo embora, passamos pela concentração de uma corrida de rua, no fim da ponte da esplanada de lá. Ficamos um tempo vendo a galera e pra nós foi um momento nostálgico, deu muita saudade de correr e vontade de entrar no grupo e sair correndo junto. Saindo de lá, fomos encontrar o pessoal da casa e alguns amigos e irmãos deles em um restaurante onde comemos uma sopa de costelinha de porco muito boa.

Caio diz... pense em um caldo de água quente com tempero de porco e costelas, mais nada, simples porém muito foda… e gordo

O irmão da menina nos hospedando estava na cidade junto com sua “equipe” para competir em um campeonato nacional de dança de rua e durante o jantar eles ficaram encantados com a nossa viagem. No final, acabaram fazendo um video entrevistando a gente para incentivar os jovens vietnamitas a viajarem mais. Foi muito engraçado, eles se divertiram um monte às nossas custas! Das nossas conversas saiu até um bordão que eles adoraram e ficaram repetindo muitas vezes durante a noite: no idea is stupid as long as you make it true. É clichê, mas é verdade.

Nós inventamos bordões nas horas vagas

Nós inventamos bordões nas horas vagas

A noite continuou com a galera toda indo tomar vinho e papear em uma ponte perto do bairro de bares boêmios de lá. “Tomar vinho na ponte” não me pareceu combinar nem um pouco com o estilo de Singapura, mas não é que até isso é organizado? Os bares lá são caríssimos: USD 20 ou mais por uma coquetel, então é uma coisa comum entre eles sentar para beber ali fora na ponte turística mesmo. Mas só ali. Em outros lugares é proibido. Estava lotado de gente, não só locais como turistas também. Ficamos lá até 1 da manhã e voltamos andando pra casa, conversando, todos meio alegres menos o Caio que não bebe, hehe.

Dando continuidade a saga de encontros com locais, reservamos um tempinho para encontrar um couchsurfer nativo de Singapura que tinha mandado uma mensagem pra gente uns dias antes nos convidando para um almoço. Ele embarcando para o Brasil em alguns dias e estava apavorado com questões de segurança, coitado. O pior de tudo é saber que as preocupações dele fazem sentido… conversamos bastante com ele e demos várias dicas, acho que no final conseguimos tranquilizá-lo um pouco! Singapuranos são mais “ingênuos” com segurança pessoal na rua do que europeus, vai vendo só o que dá um deles ir visitar o Brasil.

Fim do dia lindo perto da esplanada em Marina Bay

Fim do dia lindo perto da esplanada em Marina Bay

Saindo um pouquinho sozinhos pela cidade fomos conhecer dois museus. O primeiro deles, o Centro de Ciências, parecia prometer pela idéia geral mas foi uma decepção. Caio quase foi embora assim que viu o que era o lugar: muito infantil, péssima organização das amostras que chega a ser caótico, e uma parte grande demais dedicada à ciência de guerra e destruição, o que foi bastante bizarro pra mim, Caio. Já o segundo, Museu das Civilizações Asiáticas, foi animal! Demos muita sorte, chegamos lá meia hora antes de começar um tour com guia grátis, o que foi muito explicativo e fez valer ainda mais a pena. Imperdível e uma ótima referência histórica pra quem está viajando por outros países da Ásia.

No final da nossa estadia na cidade ainda não havíamos encontrado a pulseirinha da Dani, que é sagrada (uma de cada país, obrigatoriamente). Resolvemos dar uma passada na Arab Street, o bairro com influência árabe que é provavelmente o único lugar onde é possível encontrar essas coisas na cidade. Singapuranos mesmo não gostam de andar com penducarilhos. Acabamos comprando a pulseira numa lojinha com artigos colombianos, de um romeno que morou nos Estados Unidos. Tudo isso em Singapura, com todos falando inglês enrolado.

Haji Lane no bairro árabe

Haji Lane no bairro árabe

Inglês, inclusive, é uma coisa curiosa lá. Todo mundo fala inglês, e as pessoas que tivemos contato falam inglês muito bem, mas existe um dialeto por lá que é muito curioso, o singlish. Basicamente, é uma mistura de inglês com sotaques e expressões das línguas da região. Por exemplo, em vez de “really?”, com espanto, eles falam “really lé” com entonação e a resposta afirmativa “really!” seria “really má!”.

Caio diz... na verdade singlish tá mais pra crioulo, é uma língua nativa deles e pelo jeito do povão, mistureba violentíssima de inglês com malaio, chinês e vocabulário de outros lugares, super difícil de entender

Como nenhuma visita é completa se não tiver comida envolvida, experimentamos além do tradicional chili crab outras duas sopas que entraram na lista das comidas que precisaremos fazer em casa: double fish e you mian. Double fish é sopa de macarrão asiático com peixe cozido, ervas, alho frito e vegetais e mais peixe, só que frito empanado. A you mian é um macarrão you mian (acho) com vegetais e ovos cozidos na sopa já pronta. Ao contrário do resto da Ásia, é muito difícil encontrar sucos de fruta por lá mas eu, Dani, fiz a festa com os diversos tipos de chá gelado que eles servem. O melhor de todos foi o bubble tea, ou chá com perl jelly como dizem, um chá de origem vietnamita que é servido com bolinhas pretas gelatinosas feitas de tapioca. Curioso e delicioso!

Caio diz... putz, quase vomitei só de lembrar, é escroto!
Prédios lá são sempre cheios de plantas e modernosos

Prédios lá são sempre cheios de plantas e modernosos

Mesmo sendo rápida, nossa visita a Singapura foi bem completa, como dá pra perceber pelo tamanho do post bem empolgado. Fizemos turismo, conhecemos muita gente local, nascidos no Vietnã ou na China ou em Singapura, experimentamos várias comidas, andamos muito a pé e muito de trem e saímos de lá com a sensação de dever cumprido. Terminamos o último dia andando pelo centro para dar tchau para a “fine city”, onde tudo é perfeito, às vezes até demais e acaba se transformando em multa no seu bolso.

Orla do rio com trocentos restaurantes e bares hipsters

Orla do rio com trocentos restaurantes e bares hipsters

No fim das contas fica esse sentimento meio estranho de Singapura: uma cidade tão certinha que muitas vezes parece artificial demais. Todos só sabem trabalhar 10, 12, 14 horas por dia, só juntam dinheiro, mas tudo funciona bem, e ninguém se lembra de aproveitar a própria cidade. Os nativos até parecem evitar se comportar fora do padrão por pura “pressão” do que tá a sua volta, como se estivesse sempre andando numa loja de cristais. Por outro lado, é o centro financeiro da Ásia, uma das cidades (estado) mais ricas da região e absurdamente diversificada em etnias, línguas e costumes que valeu a pena conhecer. Se quiser saber mais sobre esse sentimento estranho de Singapura, leia sobre o artigo do William Gibson sobre a cidade: uma Disneilândia com pena de morte (sim, é isso mesmo).

O mix cultural de Kuala Lumpur

2 comentários

Engraçado como as coisas acontecem. Nem Malásia e nem Singapura estavam no roteiro original da nossa passagem pela Ásia, que inicialmente incluia somente Nepal e Tailândia.

Caio diz... talvez eu sou em partes culpado pelo tempo curto inicialmente, não sou um cara pra Ásia, eu acho

Em junho conhecemos um chinês em Lauterbrunnen, no interior Suíça, e ele nos convenceu a visitar Singapura, onde mora. E durante nossa trilha no Nepal, lá no alto, conhecemos um malaio com quem ficamos conversando por horas e nos deixou sonhando com comidas diferentes que eles tem. Já que estávamos indo para Singapura, por que não dar uma paradinha na Malásia também e encher o bucho?

Compramos o trajeto saindo de Krabi, na Tailândia, por 28 dólares por pessoa, incluindo uma van até Hat Yai, ainda na Tailândia, e um ônibus noturno até Kuala Lumpur. A viagem foi super tranquila, apesar de longa: foram 5 horas de van até Hat Yai, 2 horas de espera na cidade, e mais 8 horas de noite no ônibus até KL.

Kuala Lumpur do alto da torre do planetário

Kuala Lumpur do alto da torre do planetário

O ônibus noturno foi um dos melhores ônibus que já pegamos, poltrona larga (só 3 por fileira, bem espaçosas), super inclinável, com ar condicionado, cobertor e filminho. Infelizmente a gente não deu muita sorte com a poltrona que pegamos, ficamos nas últimas, que não deitavam completamente e balançavam pra caramba, mas a qualidade do ônibus e serviço, por esse preço, dá uma surra em qualquer viagem no Brasil. Aqui eles sabem viajar de ônibus, mesmo que os cobertores tenham acabado antes de chegar a nossa vez de pegá-los, então passamos um frio danado à noite!

Passar na fronteira foi rápido e tranquilo, tanto na saída da Tailândia quanto na entrada da Malásia. Brasileiros não precisam de visto para entrar nesses países, o que torna as coisas bem mais fáceis. Acho que se ficamos 10 minutos em cada imigração foi muito!

Chegamos em KL às 4 horas da manhã na Pudu Sentral, a principal estação de ônibus da cidade. Ela fica bem localizada (especialmente pra mochileiros), do lado de Chinatown. Vimos vários restaurantes abertos, os dois famintos depois de tanto tempo viajando, mas nenhum lugar aceitava cartão e todos os ATM que encontramos estavam fora do ar, e a gente sem um centavo no bolso! Conversando com algumas pessoas descobrimos que os ATMs param de funcionar de madrugada e voltam somente às 8h, por segurança. O jeito foi esperar amanhecer pra poder ir andando pro hotel, a refeição teria que ficar pra outra hora.

Chinatown

Chinatown

Ficamos em dois lugares diferentes em KL, por questões logísticas. O primeiro bairro que ficamos foi Chinatown, que é muvucado mas é bom para mochileiros porque tem tudo perto, comidas de rua, restaurantes, lojas de conveniências e, pra quem ainda tem espaço na mochila, barraquinhas vendendo todo tipo de bugiganga Made In China! Por ali também é fácil de acessar transporte público, então recomendamos sem medo. É uma área bem diversificada culturalmente, cheio de malaios, indianos, chineses e outras etnias. Como a Malásia toda é. Os ares são de centro velho, meio sujo e bagunçado, mas você se acostuma. KL parece toda ser assim, tirando um centro de negócios modernoso que é o que botam em fotos com lojas de marcas caras.

Depois de uns dias em Chinatown “nos mudamos” para Little India, em um hostel bem pertinho da KL Sentral, a estação central de trem, o que foi muito conveniente pra gente posteriormente. É bem legal conhecer o bairro pra ver a outra cara da cidade, pois o local é dominado por indianos e o comércio em volta é bem diferente, mas não gostamos muito não. Dá pra se virar, também tem a comodidade de ter tudo perto, mas Chinatown é bem mais amigável e “walking distance” de mais coisas!

Crianças teletubbies de uma escola muçulmana, Jardim Botânico

Crianças teletubbies de uma escola muçulmana, Jardim Botânico

O que mais chama atenção em Kuala Lumpur é o contraste entre as 3 diferentes culturas que convivem no país (e outras menos representadas). A divisão entre malaios, chineses e indianos está em absolutamente tudo! Quando você entra em um bairro ou um restaurante explicitamente chinês/indiano/malaio, parece que você está em outro país, a língua é diferente, a comida completamente diferente, o trato com os turistas, a limpeza, a organização, os gestos, tudo. Não tem como ir para a Malásia esperando encontrar uma cultura homogeneamente malaia. O que marca o país é exatamente essa diversidade impossível de não saltar aos olhos. É como se o país fosse um entreposto e todos decidiram ficar ali ao mesmo tempo e passaram a morar no mesmo lugar.

Essa divisão cultural tornou a nossa comunicação por lá complicada, mas às vezes até divertida. Nas ruas, estações de trem etc, as coisas estão escritas em inglês, malaio e chinês. Quando precisam se comunicar entre eles, quando de outra cultura, utilizam o inglês. Mas quando se afasta um pouco do grande centro, é muito normal encontrar pessoas que só falam a própria língua. Teve um dia que passamos meia hora traduzindo um menu de restaurante no Google Translate, pois era só em malaio e os donos não falavam uma palavra sequer em inglês num bairro isolado da cidade! Isso aconteceu nos primeiros dias, e foi ótimo para aprendermos as principais palavras que precisávamos saber na hora de pedir uma comida :-)

A parte central de KL tem cara de cidade grande, com todos aqueles prédios altos, grandes avenidas e, claro, as Petronas Towers. Mas no geral a cidade é caótica e não respeita muito os pedestres. Mesmo curtas distâncias são difíceis de andar por lá porque às vezes não se acha calçadas, mesmo perto de pontos turísticos importantes. Pra chegar ao Jardim Botânico, por exemplo, tivemos que dar uma super volta e atravessar uma rodovia à pé!

KL é isso aí, tudo junto e misturado

KL é isso aí, tudo junto e misturado

Usamos transporte público todos os dias durante a nossa passagem por lá. Achamos super bom, rápido, funciona, só que é confuso entender os trajetos e tem pegadinhas com baldeação, na hora de comprar tem que ficar esperto senão perde uma boa grana. Pra se ter idéia, uma viagem custa em média 50 centavos de dólar, mas se no trajeto tiver que trocar o trem a passagem quase dobra de valor, mesmo que seja só por uma estação. Compensa muito descer uma estação antes e ir andando pra não ter que pagar o dobro! Um dia fomos longe na cidade e custou 8 moedas locais, sendo que com o truque da baldeação por contra própria poderíamos ter pago não mais que 4.

Petronas ainda de dia

Petronas ainda de dia

Turisticamente, foi muito legal ver as Petronas de perto mas não subimos porque achamos caro demais (USD 25 por pessoa!), quase um roubo. Chegamos lá no final da tarde pra pegar elas de dia e à noite, e a diferença é brutal, é bem legal ter as duas vistas.

Petronas de noite, bonitosas!

Petronas de noite, bonitosas!

Fomos também conhecer a feira gastronômica de Kampung Bharu, ou melhor, achamos que fomos! É um bairro inteiro que da noite de sábado até a manhã de domingo se enche de barraquinhas vendendo todo tipo de comida local. Kampung Bahru é uma vila tradicional enclausurada no meio da cidade mas que não é tocada por empreedimentos, então as casas, comidas, pessoas vivem como há decadas atrás entre arranha-céus do distrito comercial rico em volta. É bem legal, mas a gente chegou no bairro e achamos as barraquinhas e tal, mas fomos pra casa achando meio fraco. Achamos internet e descobrimos que a gente chegou até duas ruas antes de onde a feirinha bombava forte, ou seja, não tava fraco não, a gente é que não andou o suficiente! Foi legal e vimos bastante coisas, mas só podemos imaginar como seria se tivéssemos andado ainda mais.

Bairro tradicional de KL no meio do centro, Kampung Bahru

Bairro tradicional de KL no meio do centro, Kampung Bahru

Uma visita legal pra fazer é o Jardim Botânico Perdana, bem pertinho do Planetário Negara. Cara, temos visitado vários planetários ao redor do mundo e esse foi de longe o melhor de todos!

Caio diz... vi o filme Journey To The Stars no AMNH em NYC anos atrás e foi ótimo revê-lo, é o melhor pra planetários com certeza

O filme foi bem legal, a qualidade do planetário em si é ótima, mas o melhor de tudo é a exposição gratuita que tem no local, com várias atividades e jogos interativos muito bacanas. É para ensinar crianças, mas os adultos se divertem! Tem uma tabela periódica do tamanho da parede, onde cada elemento é uma janelinha onde tem um objeto feito daquele elemento, tem uma balança que diz o seu peso em vários planetas, e dá até pra brincar de pilotar um robozinho em marte! Heheh.

Caio diz... prêmio melhor planetário vai pro de KL, empatado com o de NYC! me diverti horrores lá, parecia uma criança, bem divertido e modernoso
Entrada do super planetário de KL

Entrada do super planetário de KL

Se a gente tivesse mais dinheiro e mais espaço na mochila, a gente ia fazer a festa com compras em KL! No bairro de Bukit Bitang o que não falta é shopping cheio de coisinhas baratas. Visitamos o Low Yat Plaza, um shoppingzão de eletrônicos famoso na Ásia, pra comprar um cartão de memória que estávamos precisando. Achávamos que íamos encontrar tipo um camelódromo cheio de coisas falsificadas e seria até perigoso de comprar, mas não, é um shopping de lojas mesmo, e a maioria que a gente visitou era de produtos originais. Tem até lojas da Intel, Samsung, Acer, Sony… muito bom! São 7 andares entupidos de gente e lojas de tudo que é eletrônico e coisas pra fotografia e vídeo.

Ah, e claro que não poderíamos deixar de falar de comida, que foi um dos motivos que nos fez parar em KL, depois da conversa com o malaio no Nepal. A influência mais forte pelo país é a chinesa, então tem miojos e carne de porco até dizer chega, mas um prato que tem em todo o canto e é considerado o mais tradicional é o nasi lemak: arroz branco com um ovo frito por cima, frango frito empanado e vegetais com molho pimenta. E que pimenta! Por lá eles gostam muito, e é mais forte que na Tailândia, deve ser o tipo de pimenta… e também experimentamos uma sopa tom yum de frutos do mar que, cara, foi hardcore comer! O laksi, um frango no molho agridoce, também é tradicional e bem bom, mas diferente dos sweet & sour que provamos na Tailândia pois não vai abacaxi nele, o molho que é doce mesmo. Estranho… “viscoso mas gostoso” :-)

Se curtir uma sobremesa, vai gostar do tambun biscuit, um biscoito que é uma bolinha de uma massa parecida com empadinha só que é doce, e tem em diversos sabores. Cai bem com um café da Old Town Coffee, uma cafeteria famosa estilo Starbucks que tem por toda a Malásia e é bem boa (com preços populares, tem até em bairros mais povão) para experimentar o white coffee, a mistura malaia de café que é uma delícia! Pesquisamos aqui e descobrimos que ele é feito com grão de café tostado em margarina e adoçado com leite condensado. Ok, acho que é por isso que era tão bom.

Caio diz... e gordo né! Tomamos o teh tarik também, mas achei uma droga de amargo, argh :-(

Gostamos muito de ter visitado Kuala Lumpur, foi uma visita rápida de 4 dias mas cheia de atividades! Se tivéssemos mais dinheiro, teríamos subido nas Petronas, visitado o aquário deles que é simplesmente inacreditável (pelas fotos, você passa em túneis dentro dos áquarios e tem tubarões) e talvez até as Batu Caves, umas cavernas com templos que ficam próximas à cidade. Mas mesmo não tendo muita grana, a diversidade cultural de KL chama tanta atenção que simplesmente passear pelas ruas fez da cidade um destino especial. Se não tivéssemos encontrado o malaio naquele final de tarde, no alto das montanhas do Nepal…

Jardim Botânico de KL, difícil de chegar mas um paraíso verde no centrão

Jardim Botânico de KL, difícil de chegar mas um paraíso verde no centrão

Aniversário especial em Koh Phi Phi

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As ilhas Phi Phi são, sem dúvida, as ilhas mais famosas da Tailândia. Muito por conta do filme A Praia com o Leonardo Di Caprio ainda jovem. Nenhuma das ilhas é grande, na verdade são minúsculas se comparadas com Koh Lanta, e a concentração de pessoas, restaurantes e hotéis fica mesmo em Koh Phi Phi Don, a única ilha habitada do arquipélago. As demais ilhas são visitadas somente durante o dia.

Koh Phi Phi Don, a ilha principal vista do mirante

Koh Phi Phi Don, a ilha principal vista do mirante

A viagem de barco de Koh Lanta a Koh Phi Phi Don demora perto de 2 horas, e não reservamos hospedagem com antecedência. Os preços de hospedagem no Hostel World estavam altíssimos e as notas dos locais terríveis, então resolvemos arriscar e chegar lá no susto, pois desde que chegamos na Tailândia as abordagens dos agentes nos portos, terminais de ônibus, etc têm funcionado muito bem e garantido boas negociações justas. E assim foi!

Pisamos no píer e já veio um agente oferecer um lugar bacana, mas que estava acima da nossa expectativa de preço. Ele então nos levou até o tourism office na entrada da ilha e apontou para uma parede onde estavam colados cartazes com fotos e preços de literalmente mais de uma centena de opções de hospedagem, começando em 600 bahts e indo ao infinito e além. Apontávamos para a que queríamos, o moço ligava e confirmava a disponibilidade, quando encontramos o que queríamos ele ligou para o hotel e 5 minutos depois veio uma pessoa para nos acompanhar até lá e levar nossa bagagem em um carrinho. Simples assim!

Encontramos um quarto por 700 bahts (22 dólares) com café da manhã incluso e desconto de 10% em massagens no spa deles. Um achado se for comparar com o que dizem no Wikitravel e Hostel World, ponto pra nossa insistência! Se tivéssemos passado reto e ido procurar um lugar para ficar por nossa conta talvez até encontrássemos uma oferta um pouco mais baixa, mas considerando que a ilha estava cheia e o calor que estava fazendo tava demais, achamos que 700 bahts estavam super bem pagos, afinal a ida até lá foi um presente pro meu aniversário :-)

Vista de dentro d'água (ultra rasa) pra praia em que ficamos

Vista de dentro d’água (ultra rasa) pra praia em que ficamos

Koh Phi Phi Don é bem mais movimentada que Koh Tao e Koh Lanta. Muita, muita gente nas ruas estreitas, restaurantes de todas as culinárias imagináveis, centenas de agências de turismo, casas de massagem, barraquinhas de presentes, artesanatos, etc. Bem o que a gente imaginou encontrar por lá por ser turística. A ilha não tem transporte motorizado (só os barcos) e é preciso dividir espaço com as bicicletas dos locais que buzinam insistentemente tentando se locomover em meio à galera. A regra é simples: está à pé é turista, está de bike é local.

Os preços de alimentação não são tão exorbitantes, tomada a devida dose de cuidado pra não entrar em um local muito ocidental e cheio de gringos, que é óbvio que vai ser caro. É possível achar restaurantes bons com preços pagáveis, e foi ali que finalmente matamos nossa vontade de comer peixe! Por 5 dólares um peixão bonito que alimentava tranquilamente uma pessoa, coisa que não encontramos em nenhuma das outras ilhas!

Chegamos já no final da tarde e fomos direto conhecer a praia de Loh Dalum Bay. Era final do dia e a maré estava alta, achamos uma praia bonita mas nada de excepcional. No dia seguinte fomos para a mesma praia de manhã e levamos um susto! A paisagem havia mudado completamente, pela manhã a maré fica bem baixa, o mar recua e vira uma piscininha de água cristalina e morna, uma paisagem linda de se ver e uma delícia pra curtir! É bem calminho e dá pra ficar horas boiando lá.

Um barco afundado na praia olhando pra Loh Dalum Bay

Um barco afundado na praia olhando pra Loh Dalum Bay

A praia de Tonsai Bay, onde fica o píer, é bonita e tem uma vista legal das rocas da ilha, mas achamos meio suja pela quantidade de barcos chegando e saindo. Pra nadar não é a mais legal, mas dá pra passar um bom tempinho por ali. Ah, e se quiser ter uma visão bem legal das duas praias e da ilha, vale a pena pagar os 20 bahts e subir nos dois mirantes a caminho de Rantee Beach, a vista é linda! Falar de Koh Phi Phi e não usar a palavra “paraíso” não pode né!

Caio diz... objeção! Paraíso mesmo é Koh Lanta, Koh Phi Phi é o nordeste brasileiro na Tailândia e só

No dia do meu aniversário fizemos uma coisa que não fazemos quase nunca, compramos um passeio turístico para conhecer e fazer snorkeling em Koh Phi Phi Lee, onde fica Maya Bay, a tal praia famosa do filme. Passamos pela Viking Cave, uma caverna enorme em uma das encostas da ilha, e logo depois paramos em Pileh Bay para fazer snorkeling. O cenário sem si já é um paraíso, a cor da água é um azul inexplicável e cristalino, e já da superfície já dá pra ver os corais e alguns peixes coloridos lá em baixo. Quando eu e o Caio afundamos a cabeça pela primeira vez a gente voltou rápido pra fora da água e soltamos uma risada, foi até engraçado! São muitos cardumes, muitos peixes coloridos, alguns que já tínhamos visto em Koh Tao e outros totalmente novos! Corais lindos! Foi muito legal, pena que não tínhamos mais dinheiro para fazer mergulhos de tanque, pois pela concentração de peixes ali as vistas devem ser animais. O Caio até achou um kit de máscara e snorkel preso num dos corais e mergulhou pra pegar, tava novinho, e além de fazer uma boa ação agora temos um kit de snorkeling.

Passando pelas cavernas à caminho de Maya Bay

Passando pelas cavernas à caminho de Maya Bay

Infelizmente essa foi a única parada para snorkeling durante o passeio, achamos que íamos descer novamente em Loh Samah Bay, mas o barco acabou só entrando na baía para visitarmos e tirarmos umas fotos, sem mais snorkeling naquele dia. Depois de Loh Samah Bay chegou a hora de conhecer Maya Bay, e vamos falar a verdade: o lugar é maravilhoso, realmente um paraíso, mas é preciso imaginação pra conseguir visualizar o local vazio e paciência pra conseguir tirar uma boa foto.

:-D

:-D

Poucas pessoas visitam Phi Phi e não vão até lá, o local é bastante famoso e totalmente lotado de turistas! Na minha opinião, Dani, vale totalmente a visita, mas já tem que ir esperando isso pra não se estressar!

Caio diz... já dá pra imaginar que na minha opinião NÃO vale a visita né?
Bronze tailandês

Bronze tailandês

Terminamos nosso passeio passando pela Monkey Beach, que é isolada e habitada apenas por dezenas de macaquinhos. Fomos avisados para tomar cuidado porque eles são agressivos, tem bastante incidência de pessoas procurando atendimento médico devido a mordida deles. Nos disseram que eles mudaram o comportamento e passaram a atacar as pessoas depois da tsunami de 2004, pois ficaram chocados ou coisa assim. Triste! E triste também foi a nossa saída da praia dos macacos, quando o nosso barco ficou enroscado em um dos enormes corais que tem próximo à praia e o capitão, nervoso e sem paciência, ficou indo para frente e pra trás com o barco, batendo no coral, até o barco se soltar… isso aconteceu mais de uma vez durante o nosso passeio, fora as jogadas de âncora nos corais, imagine isso ao longo de anos com as centenas de barcos que fazem o mesmo trajeto diáriamente… foda!

Barcos em Maya Bay (o nosso é o da direita)

Barcos em Maya Bay (o nosso é o da direita)

O passeio custou 400 bahts (12.6 dólares) por pessoa, e durou perto de 4 horas. Para descer em Maya Bay é preciso pagar mais 100 bahts (3.3 dólares), mas se quiser pode esperar no barco pra economizar.

Cor absurda da água (as sombras são corais)

Cor absurda da água (as sombras são corais)

Depois de tudo isso, não podia faltar experimentarmos a famosa massagem tailandesa! Pagamos 150 bahts (menos de 5 dólares) por meia hora e sem happy ending pro Caio, hehe. Eles oferecem todo tipo de massagem por lá, mas escolhemos a técnica local, que é uma mistura de massagem pressionadora e alongamentos, tudo faz crec e crac o tempo inteiro. Nós gostamos tanto que no final estávamos considerando pular uma refeição pra poder fazer de novo, de tão bom que foi! :-P

Nunca estávamos sozinhos, todo mundo quer um pouco do paraíso

Nunca estávamos sozinhos, todo mundo quer um pouco do paraíso

Depois desses três dias maravilhosos, encerramos nossa temporada de praias pela Tailândia! Foram 25 dias que passaram voando, foi difícil dizer tchau mas o resto da Ásia ainda nos espera.

Tchau, Tailândia!

Tchau, Tailândia!

Paraíso de Koh Lanta (e paradinha em Krabi)

Sem comentários

Depois de tirarmos nossa certificação de mergulhadores e passarmos 10 dias descansando na ilha de Koh Tao, era hora de… mais praia! Em vez de seguirmos para a turística ilha de Koh Samui, vizinha de Koh Tao, preferimos diversificar e conhecer outra parte do país, e a escolhida foi a ilha de Koh Lanta.

Praia exatamente em frente onde estávamos em Koh Lanta, dia típico sem nuvens e sol bom!

Praia em frente onde estávamos em Koh Lanta, dia típico sem nuvens e sol bom!

O único probleminha é que para isso precisaríamos cruzar a Tailândia de costa a costa, saindo do Golfo da Tailândia para a região do mar de Adaman, no sudoeste. Fizemos muita pesquisa online e tínhamos já esquematizado na nossa cabeça um caminho lógico e quanto mais ou menos isso custaria. A nossa surpresa foi descobrir que o nosso hotel vendia um bilhete combinado de Koh Tao direto para Koh Lanta pela empresa Songserm (que opera no país todo pelo jeito), por um preço que surpreendentemente batia com nossa expectativa de custo para os trechos isolados. Parecia bom demais pra ser verdade, mas resolvemos arriscar.

Não poderíamos ter feito escolha melhor. O bilhete combinado deles incluía tudo, tudo mesmo! Táxi até o porto de Koh Tao, barco até o porto de Surat Thani (com 3 paradas), ônibus até Krabi, táxi até o hotel para dormir em Krabi, no dia seguinte táxi até o porto de Krabi, van até o porto da balsa pra Koh Lanta, e a mesma van nos deixou na porta da nossa pousada na ilha sul de Koh Lanta. Pagamos 36 dólares por pessoa para um serviço de porta à porta impecável!

Pra fazer toda essa maratona tivemos que passar uma noite em Krabi, e foi um ótimo lugar para um pit stop. A cidade é grande, parece menos turística que Bangkok ou as ilhas, e o centro, onde ficamos, é repleto de lojinhas, restaurantes locais e barraquinhas de comida de rua. Não sabemos explicar o porquê, mas achamos que a cidade lembra muito cidades brasileiras. Bangkok já nos lembrou muito São Paulo, e Krabi lembrou muito algumas cidades litorâneas. Sei lá porque, talvez pelo desenho das ruas, os tipos de construções, o tipo dos camelôs e calçadas, a aparência geral. O “look and feel” é muito de cidade brasileira, mas com asiáticos nela. E um templo branco enorme e bem bonito, mas isso é um detalhe…

O detalhe...

O detalhe…

No centro de Krabi, próximo aos semáfaros decorados com estátuas dos homens das cavernas, acontece todos os dias uma feira de comidas baratíssimas e saborosas. Tem desde pratos prontos de arroz com porco, pad thai, arroz frito, friturinhas como rolinhos primavera, espetinhos de tudo quanto é tipo (o Caio provou um que era uma lula inteira), panquecas, pães, frutas e sucos fresquinhos. Foi lá que eu finalmente pude provar a popular dragon fruit, ou pitaia em português, que depois eu descobri que apesar de popular no sudeste asiático é originária da América Latina e é uma fruta de cacto que tem no Brasil!

Feirinha de Krabi

Feirinha de Krabi

Conhecemos um casal de brasileiros no barco saindo de Koh Tao, e eles nos acompanharam até Krabi e ficaram na mesma pousada que a gente. Eles também estão viajando por aí depois de terem ficado uns meses estudando em Londres e foi muito bacana passar a noite conversando e trocando impressões sobre os lugares comuns por onde passamos. No dia seguinte tivemos que nos despedir, pois nós iríamos pra Koh Lanta e eles para a turística Koh Phi Phi, que até então não estava nos nossos planos. Mais sobre isso adiante!

A chegada em Koh Lanta veio com um alivio muito bom. Estávamos querendo uma ilha não muito movimentada para passar uns dias tranquilos já que a Tailândia é uma grande balada festeira disfarçada de país, mas estávamos com medo que isso implicasse em poucas opções de lugares para ficar ou comer e consequentemente preços mais altos. Que nada! Sem fazer muito esforço, encontramos um lugar com bangalôs de bambu completos alguns metros da areia à 10 dólares! Não tinha luxo, mas tinha uma cama confortável com mosquiteiro, internet grátis, um chuveiro quente e uma varandinha massa com cadeiras pra passarmos o tempo como desejássemos :-)

Vista do bangalô no fim do dia

Vista do bangalô no fim do dia

Caio diz... à propósito, wifi na Tailândia é um absurdo de rápido e funciona bem em qualquer buraco, tá louco, banda larga na beira duma ilha baixando torrents o dia todo

Ficamos em Long Beach (junto de Phra Ae), a maior praia da ilha sul. Uma praia longa com bastante areia branca e um mar azul, calmo e quase sem ondas (que quando aparecem às vezes quebram até pra trás, veja aqui), e foi onde passamos a maioria dos nossos dias. Graças a esse mar calmo o Caio pode me dar umas aulas de natação. Eu sempre gostei do mar, mas tinha pânico de colocar a cabeça embaixo d’água e, com um pouquinho de aulas por dia eu fui acostumando e aprendendo a nadar. No último dia eu, Dani, já tava até plantando bananeira. Que evolução! :-)

Mãe, olha eu!

Mãe, olha eu!

O mar de Long Beach é bom porque é fundo e gostoso de ficar nadando, o único problema são as águas-vivas no final do dia. Deu quatro da tarde é começar a sentir queimadas na pele, mas dá pra aguentar, são minúsculas e o paraíso do lugar compensa. Passeamos pouco pela ilha, pois ela é grande e queríamos fazer apenas trechos em que pudéssemos ir à pé, nosso objetivo era relaxar e não fazer turismo desenfreado.

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Finalzinho da Long Beach

Em um dos dias andamos até a praia Hat Khlong Dao, mais ou menos 1 hora andando, pois parecia ser uma praia legal pra passar o dia, mas não gostamos muito porque a água é super rasinha, não chega nem nos joelhos e é cheia de pedras com milhares de filhotes de caranguejos na beira. Íamos matá-los sem querer até, não pareceu um bom lugar pra ficar. A parte boa foi que no caminho pra ela acabamos encontrando uma feira de comidas locais repleta de frutas, frutos do mar, verduras e comidinhas frescas e baratíssimas! Comemos um milho cozido que entrou pra nossa lista de melhores comidas da viagem! Ficamos empolgadíssimos com essa opção e voltamos lá no dia seguinte (e olha que era longe), só que descobrimos que ela só funciona na segunda-feira, foi sorte de termos ido lá justo no dia, mas só uma vez, pena…

Falando em comida, comparando com Koh Tao estivemos muito bem servidos em Koh Lanta! Os preços são bem mais baixos e, se estiver a fim de andar, dá pra achar boas barganhas. Perto da nossa pousada tinha um restaurante super simples, tocado por mãe e filha, que faziam uma comida bem preparadinha e os pratos custavam 1 dólar e meio, e um copão de batida de fruta natural por outro 1 dólar. Viramos clientes desde o primeiro dia!

Caio diz... puta merda, ah aquele frango sweet & sour, e o suco de maça!
Caminho diário

Caminho diário, tuk-tuk de guarda

Conhecemos também a praia Klong Khong, uma prainha pequena mais isoladinha onde passamos uma tarde bem gostosa, mas decidimos não voltar nos outros dias porque a nossa é de longe a melhor praia. Que sorte :-)

Caio diz... sorte é um restaurante duns suecos inaugurar na nossa chegada e termos um jantar chique de graça, com luz de vela e música ao vivo na areia :-D

Foi um total de 12 dias maravilhosos em Koh Lanta. A gente fica pensando no que fez dessa ilha tão especial pra gente, e por que 12 dias passam tão rápido que nem percebemos. Estando longe de casa por tanto tempo, rotina começa a fazer falta, e levei um susto como percebi o quão rigidamente seguimos a rotina que, sem querer, criamos naquela ilha. Parece louco dizer isso, que rotina faz falta, mas acompanhe comigo… acordávamos todos os dias no mesmo horário (o Caio lá pelas 8 já tava de pé); eu saía parar caminhar enquanto o Caio nerdeava no computador; depois íamos para o mar até perto do meio dia; almoçávamos quase sempre no mesmo lugar da mãe e filha; à tarde tinha a hora de comer uma fruta; depois mais praia com o sol já mais baixo; depois a hora do banho e o jantar; à noite assistíamos um filme e íamos dormir. Querendo ou não isso traz um conforto, o corpo relaxa, é só seguir o fluxo! Tem rotina mais doce que essa? :-)

Caio diz... tudo bem que nossa rotina era basicamente comer muito, ir no mar e se bronzear, comer mais e dormir
Agora a coisa ficou séria: ISSO sim é um pôr-do-sol!

Agora a coisa ficou séria: ISSO sim é um pôr-do-sol!

Quando já estávamos nos preparando para deixar essa vida de praia e seguir viagem, minha mãe me deu um presente de aniversário direto na minha conta bancária pra eu escolher aí sim o presente que quisesse. Não pensei duas vezes e tratei de convencer o Caio a visitar a famosa e badalada Koh Phi Phi. A gente já tinha pensado em dar uma passada por lá para conhecer as praias paradisíacas que a cercam, mas quando começamos a consultar os preços de hospedagem e alimentação por lá acabamos desistindo, não teríamos dinheiro para isso. Mas os planos mudaram de novo!

Ciência na praia: ondas que quebram pra trás

6 comentários

Atenção hein, esse não é um post normal pra esse blog. Mas eu não pude resistir em anotar essas coisas e como aconteceu durante a volta ao mundo… paciência! Se não gostar, pule pra outros posts que garanto serem mais interessantes :-)

Eu acabei de ler o livro “Surely You’re Joking, Mr. Feynman! Adventures of a Curious Character” — uma espécie de auto-biografia do Richard Feynman, um dos físicos do Projeto Manhattan que criou a bomba atômica (entre outras coisas, um fodalhudo clássico entre nerds e ganhador de um Nobel) — e devo ter ficado empolgado com o tom das histórias dele. Acho que andei prestando atenção em algumas bobagens do dia-a-dia, sem pensar muito, mas fiquei tão curioso que uns dias depois fui pesquisar e encontrei o que escrevi abaixo. De uma observação banal que não ficaria mais que cinco minutos na minha cabeça eu relembrei coisas de anos atrás da época da escola, ou aprendi coisas novas simplesmente pela minha vida toda ter sido um aluno de exatas absolutamente péssimo. Foi divertido até!

Estava lá eu e a Dani no mar em Koh Lanta, Tailândia, boiando felizes da vida pensando em como somos sortudos e de repente meu cérebro apitou. Ei! Mas que porra é essa? As ondas estavam quebrando ao contrário?! Ondas mesmo, não marolas, vindo pra trás, pro mar, quebrando com espuma e tudo!?

Passei boa parte da minha vida morando há uns quarteirões da praia e nunca havia visto ondas quebrando ao contrário. Que tipo de bruxaria nova era essa eu não entendi. Mas pelos risos da Dani vendo eu ficar encantado sorrindo pras ondas deve ter sido uma bruxaria muito boa. Fiquei observando as ondas quebrando ao contrário até elas desaparecerem, uns 10 ou 15 minutos depois. Vi várias, umas quebrando só fazendo um pouco de espuma, outras que quebravam e continuavam a correr pro fundo por vários e longos segundos. Incrível pra mim.

Cara… ONDAS AO CONTRÁRIO! Se isso não dispara um alarme na sua cabeça quando você está na praia eu não sei o que mais pode te assustar. Ainda mais quando isso se dá numa praia que não tem ondas normalmente, tá tudo calmo e de repente a paisagem fica terrivelmente alienígena :-)

https://open.abc.net.au/projects/snapped-action-47dq0na/contributions/hopkins-mouth-meet-ocean-with-backward-breaking-waves-05hf2ze

Essa é MUITO diferente em natureza e tamanho, mas já dá uma idéia…

Se não acredita em mim, dê um pulo nas coordenadas 7.61599 e 99.02911 de latitude e longitude e venha fazer uns experimentos aqui. A praia onde estávamos, como mais tarde fui aprender, era perfeita pra esse fenômeno que, de novo, como alguém que sempre morou em praia eu simplesmente não conseguia entender porque era novidade.

O leito do mar aqui é super plano, sem depressões ou objetos, só areia branca e reta no fundo. O contorno da praia é extremamente reto também. De vez em quando barcos passam em alta velocidade paralelamente à orla, então acho que eles que causaram toda a brincadeira.

Eu sou tão enferrujado (ou inepto) em física que nem lembrava se hidrodinâmica era o equivalente a aerodinâmica na água ou se havia um termo mais… err, correto. Até isso discuti com a Dani antes de pesquisar sobre as ondas que quebram ao contrário. Mas enfim, ao básico!

Como falei, o leito dessa praia é totalmente liso, e aqui venta muito, muito pouco. Além disso, não existe nada no formato da costa que poderia causar ondas, o que faz a área um ótimo exemplo de uma superfície lisa. Todas superfície lisa de líquidos como a água são horizontais a não ser que exista algo pra estragar o equilibrío dela, quase exatamente onde estávamos boiando tomando sol. Aprendi que em um mundo imaginário sem vento ou interferências geográficas, a gravidade faria os oceanos serem perfeitamente lisos, o que é até bastante óbvio, e isso afeta como as ondas que quebram pra trás atravessavam as ondas de sentido normal que eu tava vendo, sem serem destruídas.

A praia das ondas que quebram pra trá

A praia das ondas que quebram pra trás (em um dia sem rampa de areia)

Pesquisando sobre porque isso seria importante, aprendi sobre o John Russel, um engenheiro naval que desenvolveu o conceito de ondas de translação quando observava um barco passando pela orla elevando uma massa de água que do ponto de vista de quem estivesse dentro da água pareceria provavelmente como uma tsunami com o nível da água acima de você, em uma praia normalmente sem ondas. Essas ondas também são conhecidas como ondas solitárias, pelo que descobri.

Achei que isso tivesse a ver com solitões, um tipo de onda solitária ou pulso de água que aprendi que mantém a sua forma enquanto viaja em velocidade constante durante um bom tempo na superfície da água. Hmm mas aparentemente solitões são mais especiais. E o que isso tem a ver com as ondas que quebram ao contrário? Parece que esse tipo de onda aparece somente quando não se tem efeitos dispersivos no meio pelo qual correm (como a água é, nesse caso), gerados por, por exemplo, objetos na água ou desenho geográfico e leito do oceano que não seja liso. Exatamente como tem aqui. Legal! Palavras novas pra algo que vi acontecer!

Procurando sobre dispersão de ondas achei uma nota sobre o que acontece em águas rasas, como no mar onde estávamos. Notei que quando as ondas quebravam ao contrário, por causa do princípio físico de superposição que também aprendi, elas não se destruíam. Um princípio básico de ondas, mas quando várias ondas quebravam no sentido normal e uma quebrava ao contrário, era simplesmente lindo ver como esse princípio ocorria na prática.

No meu caso, as ondas se anulavam só um pouquinho. E isso era por causa da amplitude da onda quebrando ao contrário estar diminuindo. Ela quebrava ao contrário sempre na frente de umas duas ou três marolas vindo ao contrário após ela, e embora a frequência delas não parecesse diminuir, a amplitude era visivelmente menor após colidir com as ondas no sentido normal. Tanto que era nessa hora que a onda parava de quebrar e virava só uma marola com espuma. Isso batia com o conceito de meio dispersivo. A água é um meio dispersivo, então fazia sentido a onda que quebra ao contrário mudar seu formato (amplitude, no caso). Legal de novo!

http://www.acs.psu.edu/drussell/demos/superposition/superposition.html

Exemplo de duas ondas, uma ao contrário, se colidindo em meio não dispersivo

Mas então… afinal, como diabos essas ondas quebravam ao contrário, pra trás e não pra frente da praia, e por quê? Bom, aí que a coisa complica porque até agora não precisei pensar em cálculo algum. Porém achei um artigo bastante interessante sobre isso que demonstra precisamente como e quando as ondas quebram ao contrário. Me esforcei pra entender ele.

Já falei sobre como é o mar e o leito do oceano onde estamos, mas não falei da praia em si. A faixa de areia é notadamente mais alta que o “normal” pra mim. Se você ficar na divisa da água com a areia e olhar pra areia, percebe o quão inclinada ela está (ou é, pode ser algo de temporada). A rampa de areia que a onda precisa subir quando quebra na beira é bastante inclinada portanto, e bastante lisa porque a areia é nem muito fina nem muito grossa, mantendo bem a lisura sem se desgastar demais. Se alguém fica na beira da água e outra pessoa no topo da rampa, parece que a pessoa no alto está na altura do pescoço da outra, e isso em coisa de cinco metros entre elas.

Quando o tal pseudo-solitão, a tal onda solitária, vinha vindo, ela vinha na mesma velocidade por todo o mar desde a linha dos barcos que passavam no fundo. Por algum motivo na divisa da água com a areia existia uma depressão, um buraco que afundava até a altura da coxa. Como não entendo lhufas de sedimentos e depressões, dei um grande foda-se pra esse problema e segui em frente. Por isso, a onda vinha como uma massa única sem quebrar até o último instante quase pra encostar na rampa. E ela não quebrava nem antes nem no contato com a rampa, ela quebrava com muita força imediatamente quando encontrava o buraco. Afinal, é assim que ondas quebram.

Assim, a onda subia a rampa sempre com o máximo de energia que tinha na hora que quebrou e, na volta da água pro mar, graças a inclinação anormal dessa rampa (maior que um valor limite incompreensível pra mim no tal artigo), ela devia ter energia suficiente pra quebrar pra trás por causa da dispersão que ocorreu. No caso da onda antes dela quebrar na praia, a altura dela (variável H nas fórmulas mágicas pra ondas do mar, não pra ondas comuns) precisa estar num intervalo 2.0 e 3.0 pra ela quebrar pra trás. Se tá abaixo disso, ela é só uma onda solitária que quebrará abaixo da superfície se houver um objeto afundado. Se for igual ao limite do intervalo, ela até quebra pra trás, mas também pra frente quase ao mesmo tempo, lembrando do princípio de superposição que descobri. Se for maior que o intervalo, qualquer coisa acima de 0.30, a onda quebra somente pra frente. De umas 8 configurações que a onda pode ter pra quebrar na praia, pra trás é só uma delas em um intervalo específico de altura da onda. Algo assim, ainda não tenho certeza. O tal artigo menciona como tudo isso funciona e explica em detalhes que alguém versado em física e cálculo deve conseguir entender. Como não é meu caso, fiquei com a melhor aproximação que pude inventar traduzindo pra língua normal.

Se quiser saber melhor os detalhes recomendo ler o artigo “Characteristics of Solitary Wave Breaking Induced by Breakwaters” que explica a pornografia das ondas. Especialmente a seção “Free Surface Evolution and Breaking Types” e as menções a “backward” e “BB” nele. Esses artigos parecem sempre lidar com a dinâmica das ondas batendo em objetos na beira da praia, como quebra-mares, possivelmente porque as pessoas estão mais interessadas em se proteger de tsunamis e coisas parecidas do que simplesmente perder tempo entendendo como diabos fenômenos ondulatórios funcionam.

O mais curioso mesmo foi pesquisar online e não ter visto descrição de ondas quebrando pra trás a não ser na beira da água e todas bem pequenas. As que eu vi eram DENTRO do mar já, após o quebra mar, e tinham pelo menos três palmos de altura acima da superfície! Não achei vídeo ou foto que fosse minimamente semelhante na internet…

E essa foi a história de quando vi uma onda quebrar pra trás pela primeira vez! Aparentemente não é algo comum, mas não sei quão raro é, só sei que é bem difícil de se observar. Acho que dei sorte de ter todas as variáveis num só lugar e momento! Quanta coisa legal se pode aprender fazendo observações tão bobas, fico imaginando a empolgação e sentimento de realização das primeiras pessoas que notaram esses fenômenos e conseguiram criar explicações realmente científicas com fórmulas etc pra isso tudo. E eu aqui, pesquisando isso tudo na beira de uma praia paradisíaca!

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