Visitando as ilhas gregas: Ios

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Quando começamos a pesquisar pra onde ir uma vez estando na Grécia, não demorou muitos segundos até que pensássemos em dar um pulo numas ilhas, é óbvio! Porém, sempre vendo capa de revista e reportagens (agora) idiotas na televisão, imaginávamos que era quase impossível e no mínimo caríssimo ir pras ilhas gregas. Só de falar “ilhas gregas” já é meio tenso no bolso, só de imaginar…

Decidimos pesquisar e achamos algumas ilhas perto de Atenas (em termos, claro) que ficavam no grupo das Cíclades, o conjunto de ilhas mais povoado e próximo do continente. Na real é o grupo de ilhas que importa, são mais de 200 só ali na região. Eu, Caio, queria muito ir pra uma ilha mais isolada e com alguma vida local, a Dani queria ir pra uma ilha mais paradisíaca porque essa parte da viagem também serviria como lua-de-mel. No fim das contas descobrimos que Santorini, embora muito cara, a mais famosa e absurdamente turística, seria uma delas. Descobrimos que Ios era um pouco menor e tinha além da suposta tumba do Homero, uma praia que foi usada como locação pra Imensidão Azul. Elas duas ficavam na mesma rota, então seriam elas mesmas!

Reservamos os bilhetes mais baratos da Blue Star Ferries através do Greek Ferries e fomos pro porto de Piraeus em Atenas antes do sol nascer pra pegar nosso navio. O terminal turístico do Piraeus impressionou. Não sei se foi o sono ou o costume com portos sujos do Brasil, mas Piraeus parecia um aeroporto. Letreiros eletrônicos ainda na rua, bem sinalizado, guichês pra venda na hora de bilhete, todos bem arrumados e com uniformes falando inglês, navios impecáveis e tudo no horário. O navio da Blue Star Ferries era bem bom, não era simplesmente um ferry boat como se imaginaria. Pegamos lugares no convés mesmo e foi tudo bem. Os assentos ao ar livre pareciam de uma praça de alimentação, e os nossos ainda eram acolchoados porque fomos uns dos primeiros a embarcar e pegamos eles.

Umas 5 horas depois desembarcamos em Ios, a primeira ilha a ser visitada. No portinho da vila você encontra uma praia calma mas movimentada em volta por causa dos embarques e desembarques. A vila ali é pequena mas tem mercado, padaria etc. Dali, subindo, você chega na Chora, a vila da ilha propriamente. É onde você vê a vida local e tem mais infraestrutura e onde as casas das pessoas ficam mesmo. Acabamos descobrindo por acaso que Ios é uma ilha de baladas e zona no verão, cheia de jovens bêbados, mas a época tava boa e pegamos a ilha ainda vazia na região de Mylopotas, a baía da putaria no alto da temporada. Essas são as partes relevantes de Ios, o resto são praias e regiões afastadas e praticamente ninguém vivendo ali. Mas é incrível que uma ilha fantástica como essa, com restos de uma civilização (a Cicládica) de 5.000 anos atrás, é mais lembrada pelas garotas bêbadas com tetas de fora.

O que tem de civilização em Ios, em branco

O que tem de civilização em Ios, em branco

Ficamos na área de acampamento do Far Out, uma rede de hotel, bar, restaurante, sei lá o que mais da ilha. Devem ser donos de metade dela. Pegamos uma barraca que era mais que suficiente pra dias na praia. Do lado de fora parecia uma cela pra presidiários, camas pequenas e grudadas, com estrado saltando pelo o que eles chamavam de colchão. Era bem simples, tudo pequeno e não muito limpo… mas nosso, e barato :-)

A praia de Mylopotas é realmente a que tem mais gente, mas é bem boa: longa, areia clara e relativamente fina, poucas ondas e mar bonito. É o melhor custo e benefício se não tiver transporte próprio lá. Vimos muitos americanos por ali, demais. Devia ser a pré-temporada deles ou coisa parecida. E ah, na praia tem wifi grátis aparentemente, então tchau tchau idéia de ilha pequena isolada… ou não!

Pelo horário de chegada gastamos só a nossa primeira noite por ali. Fomos andando pra Chora (uns 3km da barraca) e na volta, com pôr-do-sol incrível com sol enorme e laranja, paramos quase por acidente num restaurante pequeno logo na bifurcação do atalho pra voltar pra praia à pé (é tudo ladeira em montanhas, então ajuda). Era de um senhor que era o dono, o garçom e também o cozinheiro. Tudo ao mesmo tempo.

Sério, até hoje lembramos com água na boca. Comemos a melhor moussaka das nossas vidas ali. Eu, Caio, já tinha comido umas antes, e acabamos comendo várias na Grécia, mas a moussaka do “seu mario” como passamos a chamá-lo entrou pra história. Víamos ele fazer ela na hora, vinha borbulhando pra em alguns minutos o creme solidificar e… e… rapaz, coisa de outro planeta! Moussaka idolatrada salve salve. E por módicos 4 euros! Fizemos até questão de botar o lugar no mapa e criar entrada pra lá no Foursquare com fotos e tudo!

Se vir esse lugar, entre e peça uma moussaka

Se vir esse lugar, entre e peça uma moussaka

Caro senhor-faz-tudo do “Sea View Marios” (uma placa meia em grego meia em inglês dizia isso): você deveria ganhar um prêmio gastronômico. Jamais esqueceremos uma das comidas mais alucinantes de todos os tempos!

Turbinados pela moussaka mor, no dia seguinte alugamos por 15 euros (mais outros 15 de gasolina) um daqueles quadriciclos. Fomos até a tal tumba de Homero, que na realidade é um tipo de mirante com umas ruínas de pedras e só recomendo se tiver o mínimo de conhecimento de quem foi o cara pra ter algum sentido ir ali, senão não vai gostar mesmo.

Indo pra suposta tumba do suposto Homero

Indo pra suposta tumba do suposto Homero

Seguimos então pra umas quebradas da estradinha e caímos em Agia Theodotis.

♥ Agia Theodotis ♥

♥ Agia Theodotis ♥

Pausa para Agia Theodotis. Finalmente um pedaço isolado duma ilha grega, sem turistas e com vida local! A praia é simplesmente linda, pra mim Caio a mais bonita de todas que vimos na Grécia. Água totalmente transparente, virtualmente sem ondas, areia meio grossa bem estilo grego e paisagens bucólicas em volta como um barquinho de pesca balançando com a corrente e gaivotas por cima. Acabamos não ficando tanto tempo assim ali porque apareceu um cachorro ou carente ou com problemas mentais que avançava pulando em todo mundo querendo brincar, mas que acabou enchendo o saco :-) enfim, vá pra Agia Theodotis se puder!
A praia em Agia Theodotis é assim

A praia em Agia Theodotis é assim

Seguimos o passeio de quadriciclo atravessando toda a ilha de Ios, uns 30km por causa do desenho da estradinha e o caminho que fizemos contornando picos entre 500m e 700m e poucos. Paisagens que não consigo descrever de tão bonitas e insólitas. Montanhas altíssimas, de pura rocha, com sol escaldante e o mar claro e de azul perfeito lá embaixo. Vento na cara por mais de 1h.
De quadriciclo por aí, pensa...

De quadriciclo por aí, pensa…

No outro extremo de Ios fica a praia de Maganari, onde filmaram partes de Imensidão Azul. Não é o ponto mais isolado de Ios, mas é o que ainda vai ter alguma infraestrutura pra você, se precisar. A praia é bem bonita, mas estava com água muito gelada na hora e acabamos depois de comer uma moussaka (não tão boa como a do Seu Mario!) tirando uma soneca no sol mesmo, sob uns guarda-sóis que haviam ali.

Devolvemos o quadriciclo no dia seguinte, por pura preguiça e clima ruim fora da barraca, com uns 30% de gasolina no tanque ainda. Pena, mas não valeria a pena arriscar em trilhas muito longas pois a ilha só tem um único posto de gasolina, perto do porto.

O limite de velocidade não foi muito respeitado

O limite de velocidade não foi muito respeitado

O dia que aproveitaríamos mais acabou ficando todo nublado, nem tivemos muito o que fazer fora da barraca, então aproveitamos pra adiantar o planejamento do resto da viagem, mandar alguns couch requests e até vimos um filme de terror que ficou ainda mais legal pelo vendaval insano que teve durante a madrugada :-)

Nosso último dia foi de vadiagem na praia antes de fazer checkout do acampamento. Acabamos indo um pouco mais cedo pro lado da ilha com o porto e ficamos enchendo a barriga com sorvete e frutas de um mini Carrefour que tem por ali. A viagem pra Santorini se mostraria até bem rápida depois, algo como 1h, mas se pudéssemos mudar o planejamento pra ficar mais em Ios, certamente faríamos isso com gosto! Dava pra aproveitar muito mais, outras praias ficaram só na vista do alto das montanhas, infelizmente. Quem sabe um dia a gente não volta durante uma parada entre outras ilhas diferentes…

Tchau, Ios...

Tchau, Ios…