Dia 7: Danaque → Temang → Koto → Chame, 2709 metros

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Depois da noitada dos locais no refeitório da pousada fomos dormir entupidos de carboidratos pra trilha até Chame. Esperávamos algo pior, acho que o corpo já tá bem com a pauleira diária. Foram 4h sem muitos problemas, sem cansaço. Até passamos 8 pessoas hoje! Incluindo um senhor americano de 80 anos super em forma. Era alpinista, os filhos até escalaram o Everest. Ele escalou a cadeia do Annapurna 40 anos atrás, morreu metada do grupo dele e ele acabou virando monge budista. Tava com roupa de monge e tudo pela trilha, barba branca enorme. Ele nos incentivou indiretamente a ir pela trilha superior, via Thanchowk, ao invés pela mais fácil. Nem doeu, chegamos inteiros. Chame nem parece central do distrito. O portal com rodas de oração é bacana, a pousada é de longe a melhor de todas, até melhor que onde ficamos em Kathmandu! Tem uma lan house do lado. Mandamos notícias pra família. Fora novidades de mais uma guerra no horizonte, o mundo fora daqui parece continuar igual. Do quarto vimos as montanhas rapidamente, mas nuvens encobriram tudo, claro. Isso tá me frustrando, a época do ano tá meio ruim ainda pra vistas magnânimas que queríamos e vimos em fotos em todos os lugares. Acho que ficaremos um dia extra aqui, machuquei a virilha, e aproveitamos o clima melhorar um pouco. Temos tempo de sobra. Estamos à 2.700 metros agora, mas as coxas aguentaram bem até aqui! Os mapas não foram nada confiáveis, entretanto. Se não fosse uns carregadores e locais nos perderíamos, altitudes conflitantes, sem sinalização etc. NATT pecou demais hoje. Aqui tá consideravelmente mais seco e mais frio, talvez compremos luvas e gorros de lã pra aguentar. Muitas pessoas com carregadores por aqui… e a Danni arrancou nove pêlos brancos da minha barba, mas o plano de dois meses sem me barbear ainda estão de pé! — Caio

Saímos de Danaque quase 8h, depois de comer um pão Tibetano no café da manhã (muito bom por sinal!). Estávamos preocupados em como seria andar quase 5 horas depois de dois dias de “descanso” andando somente 2,5 horas, mas fiquei orgulhosa da gente! O caminho foi tranquilo, o primeiro trecho até Temang é de matar, trilhas no meio da mata e subidas super íngremes, mas o restante não judiou muito. O que judiou mesmo foi a falta de sinalização. Passamos por vários locais com mais de uma opção de caminho sem indicação nenhuma e tivemos que escolher, não nos perdemos por sorte. Hoje cruzamos com vários trilheiros, entre eles um monge budista de 80 anos e seu filho na casa dos 60, ambos americanos e fazendo a trilha juntos! O senhor manda super bem (melhor que o filho e que a gente) e deixou todos do grupo de queixo caído quando ultrapassou todo mundo em uma parte íngreme da trilha em mata fechada e desapareceu na frente! Acho que vou começar a fazer meditação. Hehe. Quando conseguimos alcançá-lo ele começou a contar que ele é ex-montanhista e esteve no Nepal pela primeira vez há 40 anos, quando metade do grupo que estava com ele morreu em uma avalanche próximo ao Everest. Tenso!!! E por falar em tragédia, parte da trilha de hoje teve uns trechos bem perigosos, se tivesse chovendo hoje eu ficaria preocupada. Muitos deslizamentos de terra no caminho e alguns desvios na trilha que você via que era por que a terra deslizou e a trilha original não existia mais! Já estamos à 2.700m e já está começando a ficar friozinho! Chame é uma vila grandinha e tem umas lojinhas vendendo de tudo, chocolate, biscoito, roupas… Amanhã vamos atrás de umas luvinhas de frio que esquecemos de comprar em Kathmandu. Tomamos a decisão de ficar 2 dias em Chame porque o Caio está com a virilha machucada por causa das caminhadas, e eu é que não vou reclamar, pois vai ser bom pra descansar! Apesar de ficarmos isolados e sem comunicação com o mundo, a rotina que estamos vivendo durante a trilha tem me feito muito bem. Eu gosto da simplicidade disso tudo, a gente cansa pra caramba mas chega no vilarejo e pode escolher uma guesthouse onde você será bem recebido, terá uma cama limpinha, comida fresca e bem preparada, e ainda observa a vida local. Todo o dia a gente respira ar puro, faz exercícios, come bem (tudo da horta da família), dorme cedo, acorda cedo… Não tem muita coisa pra fazer depois de comer, tomar banho e conhecer o vilarejo onde você está (que no geral são bem pequenos). Com isso sobra um tempo danado pra você mesmo, pra pensar na vida, refletir, escrever, ler, conversar com as pessoas. Pra mim está sendo bom fazer um balanço desses 6 primeiros meses da nossa viagem, perceber o quanto eu sou privilegiada por estar vivendo e sentindo tudo isso, e melhor ainda, do lado de uma pessoa que eu amo muito. É uma paz muito boa. Pronto, fim do momento filosófico! Hehe. — Dani

Dia 6: Dharapani → Danaque, 2208 metros

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Nunca saberemos como se escreve o nome das vilas. Todas tem grafias variando entre placas dentro das próprias vilas. Danaque, Danakyu etc. Sei lá. Trilha hoje foi bem curta pela mudança de trajeto, só 2h andando, mais parada pra tomar água em Bagarchap. Saiu sol! Secou quase tudo menos as botas, mas como tava tudo sujo o fedor ficou foda. As nuvens ainda cobrem o Manaslu, que daria pra ser visto daqui da pousada em teoria. Bateria do celular tá em 60% após uma semana, nada mal, economia de guerra pra ter alarme de manhã, relógio e gravar os vídeos, só. A paisagem nas montanhas mudou de vez, acabou cachoeiras, agora sim só tem pinheiros. Parada relâmpago na vila. — Caio

A noite de ontem em Dharapani foi tensa. O vilarejo estava vazio, acho que só a gente de trilheiros, e às 18h, quando escureceu, decidimos descer para jantar. Estávamos trancados!!! Como já estava escuro e almoçamos tarde, a senhorinha dona da pousada deve ter achado que dormimos e resolveu dormir também. Consegui pular a janela para acessar o restaurante, mas tava tudo apagado (na verdade o vilarejo todo) e nem sinal dela. Por sorte tínhamos umas barrinhas de cereais na mochila, foi nossa janta! A parte dois da noite não foi menos pior: não deu tempo das roupas secarem lá fora e improvisamos um varal dentro do quarto bem perto da lâmpada (olha o desespero). O que os dois espertões não pensaram é que a nossa seria a única lâmpada acesa no vilarejo inteiro, o que chamou TODOS os insetos para o nosso quarto! Às 2h da manhã acordamos com o teto, a nossa cama, as roupas, a janela e todas as demais superfícies existentes no quarto tomadas por mosquitinhos, tipo mosquito de banana! A nossa sorte é que à essa altitude não tem mais pernilongos chatos, já pensou… Saímos hoje mais tarde (entre 9h e 10h) porque o trajeto seria curto. Não teve nada de especial no caminho de hoje, pois é só seguir pela estrada, mas é bem íngreme! O cansaço está começando a pegar forte com essas subidas e estou preocupada com amanhã, que deve ser umas 5 horas até Chame. Danaque em si é bem pequena e sem muitas opções boas de guesthouse. Está cada vez mais difícil encontrar chuveiro quente pela trilha. Sabemos que isso é um luxo e essa falta de chuveiros já era esperada, mas é a única coisa que estamos exigindo até agora, ajuda a manter o corpo são e renovado, já que as trilhas não têm descanso! — Dani

Dia 5: Tal → Dharapani, 1979 metros

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Acordamos cedo só pra tomar uma sopa de macarrão com vegetais, gordos, voltamos a dormir e acabamos saindo só 10:30. Muita névoa de água pelas cachoeiras em volta. Trilha foi normal, um terço por uma estradinha, mas com rios cobrindo tudo, tivemos que tirar as botas até. Paramos por raiva num lugar e tava tão coberto de água e perigoso que metemos as botas dentro d’água e foda-se. Por isso decidimos parar em Dharapani, antes do planejado no mapa. Duas pontes depois dali a humidade caiu e ficou seco o clima, então a parada serviu mais pra secagem de roupas e das nossas mochilas. Passar para os 2.000 metros só amanhã agora. Ah, fizemos nossas primeiras ultrapassagens: um casal e outros dois caras que começaram todos mais cedo a andar. Os postos de controle são uma piada, à propósito. Nosso quarto em Dharapani é fofo! Muito nepalês, tudo de pedra e madeira exposta, um vão curto entre as camas estreitas, corredores de teto baixo. Bem como estávamos esperando. Muita merda e mosca desde o caminho de Tal. Isso não esperávamos. Contamos doze moscas em mim e na minha mochila, e enquanto andava. Já tá menos mata aqui, mais pinheiros em encostas agora. — Caio

Hoje o dia foi mais tranquilo, somente 2 horas e meia de trilha. Decidimos fazer isso porque a umidade em Tal deixou tudo o que tínhamos completamente molhado, mesmo as roupas dentro da mochila. Não tínhamos como ficar por lá mais um dia mas também não queríamos andar muito hoje porque amanheceu chovendo novamente, então escolhemos parar em Dharapani. O caminho de hoje foi levíssimo comparado com os dois últimos dias, alguns trechos em pedras no meio da mata mas grande parte em estrada. Pela primeira vez tivemos momentos “não conta lá em casa”, pois tivemos que atravessar muitas cachoeiras com correnteza forte por causa das chuvas dos últimos dias. A primeira delas tiramos a bota para não entrar água, na segunda não teve como e na terceira as pedras estavam tão instáveis que precisei de um tempo para recuperar os batimentos cardíacos depois que atravessei. O tenso é que as cachoeiras são na borda da montanha, a água cai direto no desfiladeiro, lá em baixo, e às vezes as únicas pedras onde é possível pisar sem a correnteza te arrastar ficam bem na borda. Argh! Continuamos a trilha com os pés e calçados molhados (como se já não bastasse todas as roupas) e na companhia de muitas moscas, tanto que chegou a irritar. A parte boa é que em Dharapani encontramos uma guesthouse no estilo que estávamos esperando encontrar na trilha: de madeirinha, tudo limpinho, bem simples e uma comidinha bem boa preparada por uma senhorinha dona daqui. E o melhor de tudo é que Dharapani é menos úmido que Tal, acho que hoje as roupas dos últimos dias têm chance de secar. — Dani

Dia 4: Jagat → Chamche → Tal, 1702 metros

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Saímos meio tarde pra andar, 9h. Preguiça. Dia tava abrindo da chuva do dia anterior todo. Caminho até Chamche foi fácil, meio estradinha até. Depois da ponte fodeu geral porém. Subidas de pedra meio paisagem Mordor. Coxas estão moídas, dor no abdômen pelo esforço de subir tanto forçando. Às vezes levantava o joelho até a cintura pra subir. Pelo menos a dor no ombro do primeiro dia (pela viagem longa apertado na van) já passou. Entramos no distrito de Manang, um vale bonito, nem parece que estamos altos, até praia sem onda tem na beira do rio. O portal de boas vindas é bem legal, o corpo até relaxa após a subida pesada quando se vê o vale e a vila dentro do portal. Nossa katadyn tem se provado MUITO útil! Podemos pegar a água de qualquer lugar, quando tem cachoeirazinhas aproveitamos. Já minha bota voltou a descolar a sola na frente e àtras e tá entrando água sempre, não aguento mais os pés cozidos. Maldita superbonder francesa que não funcionou. Chuveiro da pousada horrível, pior banho de toda RTW pra mim até agora. Comi e repeti dal bhat, tava bom demais, com uma erva local no meio que lembra gengibre. Roupas estão todas molhadas, pensando em como secá-las nesse tempo húmido. Acho que o pior de cansaço já passou na trilha, em breve será 2.000 metros e começa a pegar altitude, o corpo já estará acostumado a andar. Cada vez mais orgulhoso da Dani. Ela reclama muito, mas sempre dá conta. Melhores comidas do Nepal foram aqui em Tal, nham! — Caio

Começamos mais tarde hoje, decidimos que merecíamos dormir um pouco mais depois do cansaço de ontem. Comemos cereal com leite no café da manhã e saímos às 9h em direção à Chamche. Essa primeira parte do caminho teve bastante subidas e é no meio da floresta, muita vegetação, muita umidade e alguns trechos tensos passando por cachoeiras super escorregadias. Chegamos em Chamche após 1 hora e meia de trilha, descansamos um pouco e logo seguimos viagem, pois o clima estava perfeito pra trilha: nubladinho e com vento, não podíamos perder! A segunda parte da trilha de hoje foi marcada por duas coisas desagradáveis. A primeira delas foi cocô, muito cocô. Logo antes de nós acho que passou uma caravana de burros que minou o caminho todo, e assim foi de Chamche a Tal, o que deixou o caminho minado, fedido e com muitas moscas. A segunda coisa foram as pedras! O caminho é uma subida íngreme em pedras, quase uma escadaria! A paisagem realmente compensa, conforme você vai subindo a vista dos vales vai melhorando e vai dando pra ver várias cachoeiras e lá em baixo o rio. O problema é que com tanta subida e cansaço comecei a sentir muito enjôo, acho que o cereal com leite do café da manhã não foi uma boa opção (o Caio parou o dele na metade, eu mandei ver até o final), tivemos que fazer várias pausas pra respirar melhor e passar a vontade de vomitar. Depois de muito subir veio a chuva para baixar nosso ânimo… É incrível como começa tudo a doer quando a chuva vem! No trecho final nosso joelho não aguentava mais subir, até que finalmente chegamos! Tal fica à 1600m de altitude, mas nem parece, já que fica na borda de um rio (o mesmo que alimenta as dezenas de cachoeiras que enfrentamos no caminho). O vilarejo é bem bonito e encontramos um lugar limpinho e com quarto de graça! Aqui conhecemos uma brasileira casada com um israelense (ela mora em Israel) e conversamos bastante em português, foi bom pra matar as saudades! O único problema aqui de Tal é a umidade, pra nosso desespero. Já é o segundo dia que molhamos todas as nossas roupas e não vamos conseguir secar, até o quarto está cheirando cachorro molhado… Ah! O achievement do dia foi os dois terem pegados sanguessugas por causa das cachoeiras que tivemos que atravessar. O Caio viu a dele e tirou na hora e eu não cheguei a ver a minha, mas a minha meia estava completamente cheia de sangue quando tirei a bota e tinha um machucadinho do meu pé! Ui! — Dani

Dia 3: Ngadi → Bahundanda → Ghermu → Syange → Jagat, 1329 metros

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Dia também longo, bastante duro, chegamos quase à exaustão e a trilha mal começou. Dia de batismo acho. Comemos só chá e um omelete de manhã, saímos às 7 da manhã e só chegamos 4 da tarde em Jagat. Foda. Trilha sob-e-desce demais, infernal, mas muito bonita de qualquer forma. Tempo tava bom no primeiro terço do trajeto, calor com sol forte no segundo e chuva ininterrupta no final, pra castigar mesmo. Encontramos uma caravana de burros na trilha e paramos antes da hora em Bahundanda. A vista lá no topo é ótima e parecia uma ótima opção de parada intermediária pelos lugares perto da árvore grande no meio da vila. Dica hein. De lá até Syange todos sofreram. As vistas dos terraços enormes de arroz compensa. Continuamos na região de floresta verde tropical ainda. Pouca novidade pra quem é do Brasil. Todas as placas e caminhos apontam pra Manang já. Dani tremia de cansaço, eu me arrastei com a coluna dobrada e ensopado. A chegada em Jagat é espetacular. Vista de uma vila encrustada na lateral da montanha estilo Indiana Jones. Comi dal bhat até explodir. Sono. Tem wifi de novo aqui! Nuvens passam por dentro da vila, muito legal! — Caio

A noite passada foi bem boa, ficamos horas conversando com o Kedam (israelense) e o Micha (alemão) e dormimos muito bem devido ao cansaço. Hoje pela manhã comemos omelete com chá e partimos os 4 juntos em direção à Jagat (de onde os dois meninos seguiriam viagem mais adiante). Choveu bastante a noite e estávamos preocupados com segurança na trilha, mas não encontramos nenuhum lugar realmente perigoso. O caminho de Ngadi a Bahundanda seria uma subida, elevação total de 420m, então já esperávamos que seria pesado. O caminho é espetacular, cheio de plantações de arroz e tivemos nossa primeira vista de um dos Annapurnas coberto de neve, muito lindo! Mas o que era pra ser uma subida pesada se tornou ainda pior, pois fomos zigue-zagueando nas montanhas entre subidas e descidas, super cansativo. Apesar disso, foi a primeira vez que escapamos da estrada e fizemos trilha de verdade, passamos por cachoeiras, alagamentos, muitas pedras e pegamos nosso primeiro congestionamento de burros em um desfiladeiro, super emocionante! Hehe. Chegamos em Bahundanda bem cansados devido a todo o sobe-desce de 2 horas e fizemos uma pausa para descansar e comer um biscoito. Segundo nosso guia de bolso estávamos em 1 terço do caminho e a ida até Ghermu e depois Jagat deveria ser mais tranquila e levar mais 3 horas. Great! Seguimos viagem até Ghermu e o sol resolveu dar o ar da graça para atrapalhar um pouco e o sobe-desce não diminuiu. A paisagem continuou igualmente linda, mas quando alcançamos Ghermu já estávamos sentindo bastante dor na planta dos pés por causa das pedras, nas costas por ficar inclinados nas subidas e a fome começava a chegar. Mesmo assim, nada de desânimo, pois o guia de bolso dizia que faltava somente uma hora e meia de caminhada até Jagat! Acho que essa foi a pior parte do caminho, pois eram degraus de pedra que não acabavam mais, e continuamos indo pra cima, pra baixo, pra cima, pra baixo… Jagat deveria ser mais alto que Ghermu, e não ganhávamos altitude nunca, começou a ficar estranho. Passamos por mais 3 vilarejos pequenos e os 3 se chamavam “Ghermu”. Ok, se tem mais de um Ghermu, de qual deles o guia está falando? Chegou um momento em que as pernas já tremiam, as costas estavam duras e eu comecei a sentir tontura de fome, pois já passava de meio dia… Mas seguimos andando, Jagat já devia estar próximo e iríamos almoçar, tomar banho e relaxar. Andamos, andamos, andamos… até que avistamos um vilarejo lá longe. Nessa hora já deu vontade de tirar a mochila das costas e correr pro abraço! Ufa! Até que nos aproximamos e passamos uma placa que dizia “Welcome to… SYANGE”. Oi??? Syange? WTF é Syange? O nosso guia de bolso nem sequer citava esse vilarejo! Abrimos nosso mapa grande e estava lá, Syange, entre Ghermu e Jagat. E o pior: o mapa dizia que o tempo de caminhada entre Syange e Jagat seria de 2 horas! Tiramos as mochilas, exaustos, e eu decidi: “vou dormir aqui. não aguento caminhar mais 2 horas até Jagat”. Tivemos que esperar 1 hora até o nosso almoço chegar, todos famintos. Durante a espera, olhamos com calma e detalhes o mapa e o guia de bolso e descobrimos que as distâncias, altitudes e tempo citados neles eram totalmente diferentes e que o guia de bolso não fazia sentido nenhum. Lição do dia: nunca mais confiar no guia de bolso! Depois do almoço e mais descansada, decidimos seguir viagem hoje mesmo, não seria bom dormir em Syange, isso atrapalharia muito nosso roteiro. Os 3 meninos fizeram um bom trabalho em me convencer disso. O que poderia piorar? Em 5 minutos, encontrei a resposta: começou a chover!!! Sem muita escolha, com dor no corpo inteiro e encharcados, seguimos caminho. Descemos até o nível do rio para cruzar uma ponte e começamos a longa subida, que é um interminável zigue-zague montanha acima, e uma vista que fazia a dor diminuir um pouquinho. Trinta minutos antes de chegarmos em Jagat chegamos em um ponto onde era possível ver o vilarejo ao fundo: um vale com cachoeiras descendo até o rio e lá, no meio das montanhas, o vilarejo. “Foi exatamente isso que eu vim buscar aqui”, pensei. A chuva engrossou, tivemos que tirar as botas para passar por algumas cachoeiras, até que finalmente chegamos a Jagat! Pra fechar o longo dia com chave de ouro encontramos uma pousada com chuveiro quente e uma vista maravilhosa, que ofereceu o quarto de graça se jantássemos e tomássemos café da manhã aqui. Perfeito! Agora, depois de um banho tomado e um dal bhat devorado, consigo fazer o balanço do dia: 1) não confiar no guia de bolso. Ele é bom para ter noção das altitudes por vilarejo, mas parece que faz o trajeto e estima os tempos pela estrada, e não pelas trilhas 2) comer mais carboidratos, pois só o omelete não segurou nada e a fraqueza bateu forte. Por aqui a chuva continua… estamos com nossas melhores roupas de trilha e nossas botas molhadas. Amanhã decidiremos o caminho que iremos fazer, pois as 7 horas de hoje foram tensas demais e seguir molhado vai ser bem chato. No fim do dia conhecemos um casal de americanos que também estão dando a volta ao mundo e ficamos um tempão conversando com eles e trocando ideias sobre destinos futuros. Boa noite! — Dani

Dia 2: Besisahar → Kudi → Buhlbule → Ngadi, 930 metros

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Dia mais longo que planejado, de 10km fomos pra 13km, com muita água na trilha, cachoeiras, poças e rios cobrindo o caminho. Saímos não muito cedo, 8h, não suficiente pra fugir do sol forte. Chegamos na hora do almoço, muita construção de estrada e pontes no caminho. Já encontramos um gringo, um coreano falador com carregador pŕoprio, mas ficou pra trás. Um cachorro nos seguiu por boa parte do caminho, até correu e latiu na frente pra assustar um grupo de macacos na trilha pra gente! Deveríamos ter parado na pousada azul do lado da cachoeira grande antes de entrar na vila. Lá era MUITO melhor que o barraco de compensado e metal em que estamos. Conhecemos um israelense e um alemão gente boa, moleques, deram ótimas dicas pra Nova Zelândia! Foi duro dormir com tanta cigarra apitando. — Caio

Finalmente iniciamos a trilha! A caminhada de hoje foi bem tranquila, apesar de mais longa do que imaginávamos e me deixou mais calma quanto a minha principal preocupação: o peso da mochila. Cada um de nós está carregando perto de 10 kgs, minha mochila é de 34L e a do Caio é de 42L, ambas Deuter. O caminho hoje foi bastante plano, isso facilita bastante, mas não senti dor nas costas em momento algum! Já estamos carregando elas há mais de 5 meses, mas nunca tínhamos andado tanto com ela nas costas… vamos ver como será quando a inclinação começar a aumentar. Bom, falando da trilha em si, esta primeira parte segue uma estrada de Besisahar a Buhlbule, então nada de grandes dificuldades, só seguir. A temporada está começando ainda, então estamos sendo recebidos no caminho com muitos sorrisos e “namastês”, que na verdade significam “turista querido, que saudades, por que você não fica aqui na minha pousada?”. A trilha está tão vazia que encontramos no caminho somente um outro trilheiro, um coreano e seu carregador, e também um cachorro que nos acompanhou por boa parte do caminho. O vilarejo onde paramos, Ngadi, é bem pequeno (deveríamos ter ficado em Buhlbule onde tinha mais opções de pousada), mas encontramos um guesthouse decentinho, um quarto bem simples (e cheio de teias de aranha, bem começo de temporada) por 2 dólares! Ainda não sabemos se teremos energia elétrica à noite, mas estamos tão cansados que se tivermos que dormir assim que o sol se pôr não vamos reclamar. A pousadinha fica às margens de um rio e a mesa onde servem a comida fica ao ar livre, bem gostoso. O dono do lodge já veio perguntar duas vezes se queremos uma cerveja, que custa 3,5 dólares (um dos itens mais caros do menu), valor que daria pra ele passar a semana por aqui… sinto que os donos das pousadas vão nos odiar, pois nosso plano é sempre comer as comidas locais e nada de coisas caras (refri e cerveja nem pensar). Agora pouco chegou um israelense e um alemão aqui, teremos companhia por hoje! — Dani

Dia 1: Kathmandu → Besisahar, 831 metros

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Pra chegar no início da trilha em Besisahar pegamos um microbus (uma van, mas é como eles chamam) na rua de fora da estação de ônibus, norte de Thamel, na Ring Road. Foram 450 NPR por pessoa pra 7h de viagem. Foi tenso, calor absurdo, mas não choveu pelo menos. Dani pareceu sofrer mais. Tive viagens piores no Egito, não deu pra reclamar dessa vez. Música nepalesa alta, motorista estilo lotação no Brasil, mas os gringos exageram nas descrições ainda assim. Paramos em frente ao posto do TIMS na chegada à vila, ficamos numa pousada do outro lado da rua e comemos arros e chá e finalmente conhecemos nossa primeira privada squat mas ei, tem até wifi aqui, e uma montoeira de pássaros fazendo bagunça no pôr-do-sol :-) — Caio

Para chegar ao ponto inicial do circuito, decidimos pegar o micro-ônibus local (USD 5) em vez do ônibus turístico (USD 20). As duas cidades ficam a 180km uma da outra, mas pela qualidade ruim das estradas a viagem leva 8 horas, e foi TERRÍVEL. Quatro pessoas por fileira, na nossa fila 2 locais espaçosas além de nós, um calor do inferno, estrada sinuosa, música alta e um menino que pediu uma sacola para vomitar (minha paz acabou nesse momento, pois tenho pavor disso! no final ele nem vomitou, mas cada curva era uma expectativa). Essa foi de longe a pior viagem que tive na nossa RTW, pior até que as do Egito. Quase chorei de emoção quando chegamos e pude novamente mexer as pernas, ombros e sentir a circulação sanguínea fluir novamente. Para nossa surpresa, Besisahar é mais civilizada do que esperávamos, apesar de pequena. Ficamos em um hotel com wifi em frente ao check-post, simples mas limpo, com nossa primeira privada squat. Ah como eu queria ter piu piu nessas horas, só mirar e relaxar… vou sofrer até acostumar. Jantamos arroz frito com chá e cereal no café da manhã no hotel e a conta do quarto mais refeições para duas pessoas saiu 11 dólares. Depois da longa viagem, hora de dormir o sono dos justos e nos preparar para iniciar amanhã a nossa longa caminhada! — Dani

Fomos andar nas montanhas, voltamos logo!

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Pelos próximos 30 dias ficaremos andando as trilhas do Circuito Annapurna, no meio norte do Nepal. Por enquanto não temos o que dizer, a não ser que estamos incrivelmente ansiosos (e até com medinhos) pra ver os Himalaias de perto à 5.416 metros de altura em Thorung La, o ponto mais alto da nossa trilha, que se tivermos sorte (ou não!) estará coberto de neve ainda.

http://en.wikipedia.org/wiki/File:Chaine-annapurna.jpg

Cadeia de picos na região do Annapurna, vista de uma trilha

Na volta dizemos como foi tudo e passamos nossas dicas e explicamos exatamente como fizemos pra nos organizar e fazer as trilhas. Até daqui algumas semanas, ou menos se formos rápidos nas pernas! :-)

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